Então talvez eu goste dela.

Essas foram as cinco palavras que eu disse após acordar. Cinco bobas, mas importantes palavras, palavras que saíram de forma tão normal, que por um momento confundi com o muxoxo que solto todas as manhãs. Eu gostava dela. Provavelmente do jeito mais tolo e idiota que se podia gostar de alguém, mas afinal, como não gostar? Talvez todos gostassem ou pelo menos a maioria, até porque, como não gostar dela? E o quão louco seria não gostar? Eu poderia arranjar mais desculpas ou simplesmente fingir como havia fazendo há cinco anos, porém, o sussurro que soltava todos os dias na frente do espelho tentando me convencer do contrario não dava mais resultado, então por que não confessar logo toda essa sujeira? Por que não gritar a si mesma o verdadeiro? Por que não enfrentar e se sujeitar? Por que simplesmente não aceitar?

– Beleza é uma coisa tão relativa, sabe? Não sei o porquê de todo mundo ficar dando tanta moral para isso. Estereotipo é tão algo tão bobo quanto uma banda boba de rock dos anos 90. – Reclamou enquanto manchava os lábios com um tom amarelado de suco de laranja.

O motivo da reclamação? Uma lista feita entre o pessoal de direito que elegia as mais bonitas da faculdade. Fútil, idiota e pior: infantil.

– Às vezes acho que estamos nos anos 80 com você dando tantos discursos. – Ela revirou os olhos. – Quer dizer, não é como se você pudesse mudar o pensamento de todos sobre esse assunto.

– Mas é ridículo! Será que ninguém percebe isso?

– Talvez eles saibam, mas é melhor se agarrar ao estereotipo e parecer normal diante da sociedade.

– Isso é patético e quer saber mais? Nem eles estão no padrão de estereotipo da sociedade, então por que querer eleger "as mais bonitas"?

– Porque é algo bobo e pessoas bobas gostam de coisas bobas.

E ela sorriu concordando e eu sorri por ela concordar comigo. Eu gostava de quando ela me apoiava, fazia com que eu me sentisse a altura dela, tão inteligente e cheia de razão quanto ela. Mesmo eu sendo um pontinho tolo perto de sua altivez.

– Vai à festa hoje?

– Ainda não sei. Quer dizer, o ultimo semestre acaba só semana que vem, não vejo motivos para ser comemorado hoje.

– Talvez role alguma festa semana que vem também. – Remexi o canudinho do suco de abacaxi.

– Qual a necessidade de tantas festas? – Indagou enquanto juntava os livros sobre a mesa.

– Ficar bêbado.

– Eu odeio ficar bêbada.

– Eu gosto quando você fica bêbada. – Acendi um cigarro e o pendi entre os lábios.

– E por quê?

E por um momento pensei em responder:

– Porque você fica engraçada, seus lábios ficam abertos e mais vermelhos e isso me dá mais vontade de te beijar.

Mas apenas anulei essas palavras e respondi que era porque ela ficava mais engraçada. Ela apenas riu com os lábios grudados e respondeu que eu era previsível demais. E como a fumaça saída dos meus lábios, a conversa se dissipou.

x

– Você gosta dela. – Miley sussurrou ao meu lado numa afirmação que provavelmente era para ser uma indagação.

– Talvez. – Abri o livro fingindo ler, afinal, sabia que se olhasse nos olhos de Miley e tentasse mentir seria um completo desastre.

– Se talvez fosse sinônimo de sim ou não, qual deles você usaria?

Ela já sabia a resposta, mas eu também sabia que ela adorava confirmar. E por um segundo me passou pela cabeça admitir, mas aí lembrei que ela só era mais uma garota que me pediu uma caneta emprestada no primeiro dia de aula e agora se denominava minha melhor amiga.

– Não. – Respondi de forma simples porque esse era o jeito certo de se mentir.

– Você está mentindo. – Confirmou de forma sucinta. – Olha nos meus olhos e diz que não está mentindo. – Não olhei.

– Miley, eu tenho namorado e o amo.

E era verdade. Eu o amava, o amava tanto que chegava a doer, mas só não era mais apaixonada por ele; e da forma mais errada, boba e lascívia do mundo, era agora apaixonada por Selena Gomez, quebrando e estraçalhando todos os meus ensinamos bíblicos, me tornando tão suja e mundana quanto os que eu condenava.

Me tornando tão suja que nem eu mesma me suportava.