Disclaimer: Inuyasha não me pertence, assim como os personagens que usarei para minha humilde trama. Assim como a Sonata ao Luar e o Romance de Beethoven. E quaisquer recursos de ballet clássico. Já entenderam certo?
Um toque de sensibilidade
Inspirado(Não copiado) no fanfic "Save the Last Dance" de Maiden of the Moon. Dedicado a ela também.
Inspired (Not copied) on the fanfic "Save the Last Dance, by Maiden of the Moon. Dedicated to her too.
Proposta
Kagome já tinha perdido todas as esperanças. Não conseguia encontrar 'um' pianista que tocasse a música para seu espetáculo. Sabia que parecia excêntrico, mas, queria que o piano soasse ao mesmo tempo em que dançava... Não um simples cd, e sim, um piano de verdade.
A princípio, a disciplinada professora Kaguya não concordou com a idéia absurda de sua mais aplicada e brilhante aluna da Academia de Dança de Tóquio. Afinal, a tecnologia servia para ser usada, então, por que diabos a menina precisava de um músico para se apresentar?
Então, a garota desafiou-a a apresentar-se com os dois em sua frente, e, se não sentisse nenhuma diferença que fosse, concordaria em usar a música gravada na mostra. Kagome posicionou o violino no queixo e, as cordas a princípio rangeram desconfortavelmente devido a falta de prática... O número de ensaios deixou-a quase sem tempo para dedicar-se ao seu hobbie secundário: a música.
Mas, a medida em que foi adquirindo destreza, tocou perfeitamente um Romance que sabia que era favorito da professora. Kaguya submeteu-se a uma seqüência simples em comparação ao brilhantismo da música, entretanto, não tinha a intenção de ceder a um capricho. Assim que terminou sua dança com um perfeito salto para cair em atitude, a aluna sorriu de lado. Provaria à mestra que estava correta. Selecionou um dos seus cds e colocou no aparelho de som, sentou-se e esperou até que a professora terminasse de executar o mesmo número.
A vibração era diferente. Enquanto o instrumento parecia transmitir vida, as notas gravadas pareciam cordas de marionete em seu corpo, maquinalmente instruindo-a a mexer-se de forma ordenada e perfeita, de acordo com os anos de dança. Quando a pose final veio sem a mesma energia, Kagome adquiriu uma expressão marota e bateu palmas para o número. O olhar fuzilante de Kaguya não deixava dúvidas: poderia recrutar um pianista para sua apresentação individual.
E aí que vinha o problema... Não tinha ao menos um pianista que fosse na cidade toda que tivesse justamente o dia do espetáculo livre... Escolas de arte geralmente agendavam determinados dias juntos para apresentarem-se e deu o azar em todos os conservatórios que visitou.
Não que já não soubesse qual a sua coreografia... Executava-se com perfeição ao som gravado, mas, para da a vida que desejava, precisa encontrar e rápido seu pianista. Caso contrário, não poderia se apresentar.
Estava cansada. Sentou-se em um banco do parque com uma lata de chá verde na mão e suspirou. Seria ridículo anunciar no jornal que gostaria de contratar um pianista para tocar em uma apresentação de ballet. E ainda mais que cobrasse um preço baixo, por era uma música de apenas seis minutos...
Sim, era muito ridículo mesmo.
Sorveu os goles restantes e jogou a lata no respectivo lixo. Espreguiçou-se a fim de relaxar os músculos tensos e, quando sairia do parque, esbarrou com um homem alto de cabelos prateados e foi com tudo ao chão. Gemeu de dor e olhou para cima para praguejar contra o velhinho e...
Ele não era um 'velhinho'. Tratava-se de um rapaz não muito mais velho que ela, com cabelos prateados que tocavam os quadris e irritados olhos dourados, além de um par de orelhas demoníacas no topo da cabeça.
"Não olha por onde anda?" A voz grave e baixa fê-la despertar de seus devaneios e levantou-se sem a ajuda do estranho.
"Olho sim. E você, é mal educado mesmo?"
Ele simplesmente ignorou-a e, quando fitou o chão, falou um palavrão bem grosseiro. Kagome enrubesceu e mirou a mesma direção que a dele, reconhecendo, bem debaixo de seu tênis, uma folha levemente amarelada com várias linhas, e notas e... Uma partitura?
"Pare de pisar nisso, garota!"
Ela não deu ouvidos e pegou o papel. Assim que os olhos bateram no conteúdo, quase gritou em êxtase. Um pianista, bem a sua frente! Como o destino era infalível! "Você é um pianista!"
"E daí?" A voz continuava, e muito, irritada. "Quer devolver a maldita partitura?"
"Ei, qual seu nome?" Ela lhe entregou a folha e apertou os punhos quando ele simplesmente deu meia volta e começou a andar. Odiava ser ignorada. "Estou falando com você, moleque!"
"Sou bem mais velho que imagina." Ele parou mas não se preocupou em virar para fitá-la. Por alguma razão, aqueles olhos azuis fuzilantes não era exatamente o entretenimento que procurava naquela tarde... "Não que isso seja do seu interesse, claro."
"Eu só quero saber se você poderia tocar para mim." Logo, Kagome estava a sua frente e parecia estudá-lo atentamente.
"Tem muitos conservatórios por aqui, se não percebeu. Agora..."
"Eu vi, já fui em todos eles." Ela interrompeu-o bruscamente, com uma centelha de irritação. "Quero contratar um pianista para tocar em minha apresentação... Não vai ser de graça." Uma pequena ruga formou-se na testa de Kagome. Toda a mesada daquele mês seria aplicada... Não importava. Contanto que o rapaz aceitasse.
"E para que precisa de um pianista?" Ele cruzou os braços na frente do peito e suas sobrancelhas ergueram-se com um ligeiro interesse. Era um pedido bastante peculiar... "Existem cds hoje em dia, sabe?" Sua voz ligeiramente irônica fez o estresse tomar conta de vez de Kagome.
"É claro que eu sei, seu grande estúpido." Ela cerrou os punhos novamente. "Não sei como algo tão sensível quanto o piano pode ser tocado por alguém tão indócil quanto você!"
"Se todos os insultos que existissem fosse 'indócil', o mundo seria um lugar bem mais habitável." Ele riu ligeiramente com sarcasmo e então suspirou. "Mas ainda não me disse o porquê de querer um pianista se afirma saber da existência de cds."
Ela suspirou e sentou-se em um dos bancos. Não perceberam, mas, durante a calorosa discussão caminharam adentro do parque. "É difícil explicar... A todos que falei, acharam tolo." A garota estreitou os olhos novamente. "Um bom começo seria saber seu nome."
"Inuyasha."
"Kagome." Sorriu. "Então, senho..."
"Você já me chamou de... indócil. Dispenso esse título também."
"Okay... Bem, é o seguinte. A dança é minha vida... Desde que tenho 3 anos faço balé clássico, já me apresentei inúmeras vezes e, depois de ter conseguido uma determinada premiação na academia me concederam um espetáculo solo."
"Sei..." O seu ar era ligeiramente pensativo. "E daí?"
"Bem... Durante meu tempo livre fiz um tempo de violino e descobri que a minha segunda paixão é a música, ainda que não se compare em nada como dançar..." Os olhos azuis iluminaram-se mais e mais ao abrir seu coração sobre sua motivação. "E com o passar dos anos, percebi que a música e a dança são como irmãs... Juntas se completam, ainda que separadas sejam igualmente belas."
"Interessante..."
"E bem... Eu também me dei conta de que... Quanto mais ouvia as músicas, menos reais elas pareciam... Porque enquanto eu estudava e escutava os outros no conservatório, sentia uma energia diferente daquelas melodias gravadas..." Kagome abaixou a cabeça e torceu nervosamente as mãos. "Pode começar a rir agora..."
Mas não ouviu nenhum som sequer. Inuyasha prendera a respiração e olhou-a num misto de surpresa e admiração. Mordeu seu lábio inferior com tanta força que só liberou a pressão quando o gosto metálico do sangue tocou seu paladar. Quem era ela?
"Não há motivo para rir." Ele disse depois de alguns minutos, com a voz ligeiramente embargada.
"Bem... Então, você concordaria em tocar para mim?" Kagome pediu depois de um breve silêncio. "Como eu já disse, não precisa se preocupar com dinheiro que eu pago pelos minutos..."
"O que quer dançar?"
"A Sonata ao Luar de Beethoven." A garota ruborizou. "É minha música favorita desde pequena e me deu um pequeno trabalho para elaborar uma coreografia a altura."
"Certo, certo..." Ele franziu o cenho e continuou a observá-la com uma expressão indecifrável. "Quer me ouvir tocar antes de me 'contratar'?"
"Bem, se souber tocar essa partitura que acidentalmente pisei, acredito que não terá problemas. Parece bastante difícil. Ah sim! Desculpe..."
"Tudo bem. Fui eu quem compus essa música." Kagome deixou sua boca formar um pequeno 'o' e, diante de sua reação, Inuyasha esboçou um sorriso arrogante, entretanto, não conteve um ligeiro sentimento de constrangimento. Pigarreou. "Bem, vai querer me ouvir tocar ou não?"
"Quero, sim!" A garota quase bateu palmas. "Quando poderei ouvi-lo?"
Ele tirou um cartão do bolso do casaco e entregou-lhe. Tinha apenas o essencial, dois números sendo que um deles era de celular e seu nome. "Ligue-me quando quiser e marcaremos um horário."
"Certo..." Ela segurava o papel entre os dedos ainda maravilhada.
"Tchau." Ele levantou-se, tirou um cigarro do maço e um isqueiro do mesmo bolso, acendeu-o e começou a andar na direção da entrada do parque.
Kagome não teve forças o suficiente para se despedir. Tinha o pressentimento que aquele homem extremamente talentoso era o pianista que procurava e faria de tudo para que tocasse em sua apresentação.
Tudo mesmo.
O.o.O.o.O.O.o.o
No dia seguinte, Kagome ligou para o estranho e misterioso Inuyasha e marcaram para o fim de semana, já que o músico dissera que era muito ocupado durante a semana.
No horário marcado, a garota de olhos azuis estava em frente ao endereço indicado. Franziu ligeiramente o cenho. Estava em frente a uma mansão tradicional... Será que aquele rapaz era dono dela? A resposta não tardou a vir, quando ele próprio abriu o portão, parecendo muito a vontade em jeans e camiseta escuros.
Quando adentrou à propriedade, observou com um encantamento quase indiscreto o jardim bem cuidado, a fonte de um riacho natural, uma grande cerejeira ao centro, oferecendo uma generosa sombra e, a casa térrea parecendo fresca e bem iluminada com a farta luz do sol. Não que estivesse espantada. As gerações demoníacas detinham um grande poder político e, naturalmente, vinha a fortuna. Seu avô detestava esses seres e evidenciava que deveria combatê-los por um poder lendário que tinha no sangue, mas nunca dera atenção à essas bobagens. Enquanto não a provocassem, não teria motivo para atacar nem mesmo a um inseto. Exceto baratas...
Kagome viu-se diante de uma ampla sala com um estilo bem mais ocidental, ainda que as portas de correr não deixassem esconder a tradição do país. Um grande piano alemão de cauda estava exposto no meio da sala arejada, outro eletrônico mais ao canto ligado a uma tomada e um grande armário com diversos livros e papéis ficava atrás de uma mesa de madeira escura. Sobre ela, um computador, mais alguns papéis e um telefone.
"Sua casa é bonita..." Quebrou finalmente o silêncio.
"Já almoçou?" Ele ignorou o elogio deliberadamente e tirou do armário um porta-cds.
"Já, obrigada."
"Ótimo." Ele abriu o compartimento do computador e clicou algumas vezes na tela. Então, finalmente, encarou-a. "Quer que eu demonstre a minha habilidade com qual música?"
"Com a que pretendo dançar." Ela deixou o profissionalismo tomar conta de sua voz. "Mas não me importaria de ouvir antes um pouco daquela música que você compôs."
"Certo..."
Ele sentou-se na frente do piano e fechou os olhos. Kagome franziu o cenho... Uma música tão difícil quanto aquela e Inuyasha não olharia sequer de relance a partitura? Tudo bem, ele compusera a música, mas, com tantas notas contrastantes que conseguira entender, será que não necessitaria nem mesmo um pequeno lembrete?
Sua resposta veio quando os dedos longos, e com garras – reparou somente naquele instante. – tocaram as teclas de marfim, preenchendo o aposento com um som grave e vibrante.
Então, os dedos trabalharam lentamente pelo centro ao agudo. Estridente. Grave, agudo, grave e agudo, calmo, voraz, incerto, insano, alto, forte, irreal. A expressão de Inuyasha acompanhava cada nota que subia e descia numa harmonia desconcertante, gritava, explodia, era indescritível! Semi-breves, agudas, graves, dós, sis, lás. Acordes, breves, semínimas. Som, ritmo, magia. E lentamente esvaía-se... Como um mar que se acalmava após a tempestade intensa. Um último acorde... Como um soluço e sua mão levantou-se no gesto universal. E abriu os olhos.
Quando fitou Kagome, sua expressão assumiu a de puro desespero. A garota chorava em soluços compulsivos, enterrava o rosto em suas pequenas mãos e os cabelos negros em desalinho grudava-se a face úmida. Seu pequeno corpo dava solavancos violentos e sequer conseguia entender qual a perturbação tão intensa que ela sentira.
Levantou-se do piano e, desajeitadamente, passou os braços envolta da figura frágil. "Que houve?" Mas ela não respondeu. Simplesmente deixou o pranto acalmar aos poucos e já não tinha as mãos em seu rosto e sim nos ombros de quem o amparava. "Kagome...?"
"Eu estou sem palavras." Ela disse depois de algum tempo, com a voz rouca pelo choro. "Eu... senti você tocar. Senti meus sentimentos formarem uma avalanche dentro de mim e..." Gesticulava, subitamente seu vocabulário tornava-se precário para descrever a sensação. "Meu corpo vibrou com cada nota e os sentimentos foram demais para que eu conseguisse lidar." Sorriu sem jeito e enxugou o canto dos olhos. "Desculpe-me se pareço tola... A música tem esse efeito sobre mim."
Entretanto, ele não via motivo para se desculpar. Os olhos azuis hipnoticamente focaram os seus e tomou uma decisão. "Quer que eu toque para você no espetáculo?"
"Claro!" Estremeceu levemente. "Espero apenas conter minhas lágrimas! Só não sei se terei dinheiro o suficiente para pagá-lo e..."
"Eu não quero que me pague." Ele interrompeu-a, ansioso. Apartou-se dela e pegou um cigarro e então guardou-o no maço, parecia insignificante fumar naquele momento. Estava tenso, nervoso por sentir tamanho efeito. Era emocionante, admitia sem falsa modéstia... Mas, tão arrebatador assim?
"Mas, se não quer dinheiro, o que quer?"
Queria sentir o mesmo que ela. Pelo que ela fazia.
"Bem... Está disposta a tudo?" Quando viu a afirmativa dela, sorriu. "Tocarei a música que quiser, com uma condição."
"Qual?"
"Quero tocar seu corpo enquanto dança."
"Como... é?" Ela arregalou os olhos e levantou-se de supetão com o pânico tomando conta de si. "Me tocar?" Afastou-se instintivamente dele, deu passos cambaleantes para trás com uma ligeira vertigem tomando conta de si. "Me... tocar?"
"Sim, eu quero tocá-la." Ele disse calmamente e pegou novamente o cigarro, bem mais calmo. Tragou lentamente e andou em sua direção com a mesma serenidade que fumava. "Vê algum problema? É um preço justo."
"Mas, mas, mas..." Ela engasgou em suas próprias palavras e então a suas costas tocaram a solidez da parede. E Inuyasha se aproximava, felino, cercando-a. "Como me tocar? Isso é obsceno!"
"Vou gravar a música e tocar seu corpo, ensaiará ouvindo minha performance. E no dia do show, tocarei ao piano conforme você queria."
"Não pode tocar o corpo de uma mulher deliberadamente!" Explodiu, subitamente perdendo o medo.
"Não é deliberadamente, Kagome." Ele explicou. "Quero tocá-la também, do mesmo jeito que me sentiu." E pousou as mãos em sua cintura. "Quero sentir seus músculos tensionarem-se a cada movimento que executa, ouvir sua respiração pesar com o esforço, estudar seu corpo com minhas mãos, conhecê-la, tocá-la."
"Se afaste." As lágrimas novamente encheram seus olhos e dessa vez não era emoção. "Por favor, pare de falar tais coisas tão sujas para mim."
"O que tem de sujo em eu querer sentir?" Ele apagou o cigarro em um cinzeiro próximo a uma mesinha e voltou a apertar levemente sua cintura. Subiu a mão pelas costelas e passou respeitosamente pelas suas curvas, tocou os braços e então tinha seus dedos em seu rosto, segurando-o entre as bochechas escarlate. "Não gosta de ser tocada?"
"Não!" Ela empurrou-o e correu na direção da porta, mas ele foi mais rápido e abraçou, para então segurá-la contra o peito. "Não quero ser tocada por alguém que não conheço! O seu talento não justifica minha vergonha!"
"Duvido que encontrará alguém a tempo e sem pagar." O hálito quente encostava-se à maciez de sua face e quase sentia vontade de ceder. "Pense bem, têm uma semana para decidir se quer ser tocada por mim... Com sua permissão." Ele sorriu de lado. "Sem ela, eu já o fiz."
Soltou-a e saiu da sala, deixando-a sozinha e atordoada.
O.o.O.O.o.o.O.o
Mais um fanfic, eu sei, eu sei T-T
Mas, esse é só três partes, ou assim espero, final definido. Obrigada Naru por ser minha cobaia e companheira de horas infindáveis.
E a você caro leitor cabe julgar se esse singelo trabalho é digno ou não de uma review.
Beijos
Lally
