SINOPSE: Você acredita em destino?

Você pode crer que duas pessoas foram predestinadas a estarem juntas?

Faça sol ou chuva.

Dia ou noite.

Ou Na Europa Latina.

Juntos.

Você crê?


1

FRANÇA

Pov Catherine

— Você chegou! — Eu suspirei quando ouvi a doce voz, que soava alegremente a me ver.

Havia sido um dia infinitamente difícil, eu não poderia colocar em uma folha de papel ofício a quão mentalmente desgastada eu estava. Todo meu emocional explodindo, como bolhas de sabão. Só que não era tão divertido quando parecia ser para uma criança. Não era nada divertido, na verdade.

— Oi garotinha! Você sentiu a minha falta? — Eu recebi um sorriso banguela.

As perninhas rechonchudas fizeram seu caminho até a mim, ajoelhei-me e inspirei o ar do meu pequeno apartamento. Se existia algo que valia a pena no meu mundo, este com certeza é o momento: voltar para casa e abraçar a minha pequena garotinha de quase quatro anos de idade.

— Eu senti mamãe! — Ela gritou tão animada e sincera.

— Que bom. Eu realmente ficaria triste se você me dissesse que não.

Tão rápido quando pudesse parecer, eu fechava meus braços ao redor do corpo pequeno. Eu a levantei no ar, rodando com ela. E sabia que não importava qual fosse o seu tamanho, eu sempre sentiria falta de tê-la assim. Bem próxima. Como se nada no mundo importasse além de nós duas.

— Ela se comportou perfeitamente bem, mamãe! — A voz que me cumprimentou voltou a se pronunciar.

— Tem certeza, Alice? — Eu deixei meu filhote de urso panda no chão e a vi correr rapidamente de volta para sua montanha de legos¹.

— É lógico que eu tenho certeza, Cathe. E como James lidou com você hoje?

Voltei a suspirar. Eu deixei minha bolsa no sofá bege, meio encardido e suspirei novamente. Encarei minha filha, que agora parecia bem alheia ao que fazia, e tentei entender como minha vida tinha chegado aqui. Eu realmente não gostava de pensar muito, sabendo que tudo não passava de um grande buraco negro até a chegada de Nora para minha vida. Eu ainda podia me lembrar de claramente... Acordando sozinha em um hospital, enquanto a pequena enfermeira pedia para eu manter a calma.

...

— Olá, querida — Eu ouço a voz, mas é prontamente difícil entender.

Minha cabeça dói, e em seguida uma longa pontada aguda em minha nuca surge. Eu sei que estou gemendo, tentando me mover.

— Não tente se levantar. Só vai piorar as coisas. Deite, por favor — A voz volta para mim.

Meus olhos estão procurando por ela e eu consigo focalizar a pequena mulher. Ela tem um chapéu branco em sua cabeça, bem pequeno e eu sei que é mais um adereço/enfeite, que realmente um chapéu. Ela está completamente de branco, assim como o ambiente ao meu redor.

— Eu sou a enfermeira Brandon, você pode me dizer seu nome? — Ela sopra na minha direção. E é tão gentil...

Eu fecho meus olhos com força. E ela está mexendo no apoio para minha cabeça. Que ainda dói. Meu nome? Meus olhos ainda estão pressionados, enquanto eu tento pensar em algo. Mas um bipe completamente alto me desconcentra.

— Você pode ficar calma, querida. Eu estou aqui com você. Pode me ouvir? Você consegue me entender? Olhe para mim...

— Eu...

Fico muda quando ouço o som da minha voz. Eu pareço tão assustada e sei disso pelos olhos castanhos e preocupados que me encaram. Então ela sorri, aquele sorriso que simplesmente me acalmou.

— Eu não sei... — Um nome. O meu nome.

...

"Qual é o seu nome?" ainda posso ouvir a pergunta de Alice em minha mente. E isso volta a mim, toda vez que encaro Nora, e pergunto silenciosamente "quem é o seu pai?".

— Como James reagiu? Oh. Não foi nada como nós duas imaginamos que seria, Alice — Eu simplesmente soltei o ar que eu segurava.

Como naquele dia, há quase cinco anos atrás, minha cabeça latejava. Nós deixamos Nora na sala e fomos à cozinha, onde eu tomei alguns dos meus comprimidos controlados para a maldita enxaqueca que nunca me abandonara. Alice suspirou pesadamente pela quantidade de remédios que eu precisava tomar para ter algum tipo de autonomia pela minha vida. Ou era isso, ou simplesmente morrer pela dor.

Eu voltei meu pensamento para James. Meu chefe e encarei a minha primeira amiga na cidade. E talvez a única.

— Ele acha um erro tão terrível assim irmos para os Estados Unidos? — Alice voltou a perguntar e parecia ressentida.

Eu voltei a suspirar, pela vigésima vez no dia.

Quando eu amanheci naquele hospital, sem saber nada sobre mim ou como eu faria para viver, quando tudo não passava de um borrão, o único apoio que tive foi Alice. Ela esteve comigo quando os médicos disseram sobre um provável acidente, onde eu tinha sofrido grandes lesões no cérebro e ficado em coma induzido por quase duas semanas. Eles falaram como havia sido milagroso que meu bebê – Nora – tivesse sobrevivido. E se Alice não tivesse ali para segurar a minha mão quando um médico aleatório me contou que eu seria mãe sete meses, eu provavelmente teria sucumbido ali mesmo.

Foram longos meses desde ali... Eu não sabia quem eu era ou se alguém procurava por mim. Eu tinha minha foto em jornais e até em alguns noticiários na TV, mas ninguém procurou por mim. E toda vez que eu me olhava no espelho, lembrava-me da mesma pergunta "qual é o seu nome?" e usava várias combinações e via que nada se adequava a mim. Absolutamente nada.

Catherine. Fora Alice que sugeriu no dia da minha alta. Eu era conhecida como a paciente 'N', de ninguém, e ria toda vez que me chamavam assim, mas quando eu finalmente iria sair do hospital e tentar a vida na enorme França, eu precisava ser alguém. Eu iria ter um bebê. E eu estava muito ferrada, pensando em que abrigo eu iria morar. Foi então que a minha enfermeira – única amiga na cidade – simplesmente me acolheu. O que eu faria sem ela?

Nada.

Eu sabia bem a resposta. E era por isso que eu estava deixando a vida na Europa, se Alice havia recebido a melhor oportunidade de emprego lá, no melhor hospital escola, para finalmente ser a médica pela qual era vinha estudando há anos, eu simplesmente poderia dizer a ela que Nora e eu não iriamos também? E é isso que leva a James. O irmão de Alice. A única pessoa que teve a coragem de empregar uma mulher sem memória e investir semanas nela, treinando-a para ser sua assistente pessoal, e também investindo dinheiro vivo em cursos e mais cursos, aperfeiçoando-me profissionalmente, para só então eu dizer que estava indo embora junto com a única família que ele tem.

— James simplesmente vai entender Cathe — Alice disse com pesar, eu assenti — E você realmente não está animada com isso? Fala sério!

Eu estava tão adaptada a minha realidade. Eu era uma cidadã francesa. Eu amava cada canto da minha cidade, Marselha, eu amava gastar os finais de semana em parques com Nora. Eu amava a vida que eu havia construído. Por mais que Alice falasse o tempo inteiro que eu tinha cara de nova-iorquina, eu sempre me senti alguém da França. Eu falava fluentemente francês, mas quando entrei para o curso de línguas e tentei inglês, descobri que talvez já estivesse conhecido algum lugar da América do Norte. O idioma fluía livremente pelos meus lábios e meu cérebro entendia cada palavra que o professor dizia, sem eu realmente estar ali por muito tempo. E quando eu fiquei em um intervalo de dois meses, James e Alice decididamente afirmaram que eu era uma garota viajada.

Então dizer que eu estava animada? Não. Eu realmente não estava. Eu estava morrendo de medo.

— James foi tão bom comigo, Allie. Eu odeio chateá-lo assim — Digo sinceramente.

— Eu vou ligar para ele esta noite e vamos garantir que ele esteja indo nos levar no próximo mês. Está tudo bem, Cathe. Merecemos isso. Foi tão difícil conseguir o visto, passamos por tanta coisa... Isso vai valer a pena, eu estou com a sensação de que é a melhor coisa que nós duas faremos na vida.

Dizer que ela estava mais que feliz seria um eufemismo. Mas eu não seria aquela a colocar minhas profundas inseguranças na caixinha de felicidade dela. Eu não tinha nenhuma boa impressão, e eu não queria ter que ir morar em um lugar tão diferente do qual nós vivemos. E isso não seria só difícil para nós duas. Tinha Nora, e tirá-la do seu habitat natural estava me preocupando também.

— Certo. Eu vejo você amanhã então — Eu sorri para ela, que deu a volta na mesa e me abraçou.

— Tenha bom animo mulher! Nossa vida vai mudar para melhor. E daqui a pouco seremos nós três novamente, não vai ser ótimo?

Eu sorri, ou fingi sorrir. Nora disse adeus a sua tia Alice e eu levei Alice até a porta, suspirando aliviada quando ela se foi.

Eu sorri para minha pequena filha, que empilhava seus legos¹ tão animada que eu não pude interrompê-la para seu banho antes do jantar. Eu voltei para a cozinha e tirei algumas vasilhas do congelador, enquanto agradecia mentalmente a minha ideia de congelar nossas refeições. Essa ideia havia surgido quando Nora ainda era um bebê e eu perdia horas fazendo suas papinhas, e no final do dia sempre estava exausta. Agora, eu cozinho uma vez por semana, uma quantidade para almoço de Nora e nossa janta e reservo tudo no meu freezer.

Eu voltei para a sala antes de colocar a mesa e previ o choro, quando avisei a minha garota teimosa que ela deveria ir para o banho agora. Não demorou muito, logo estávamos na mesa e Nora pareceu apreciar sua sopa de ervilha e torradas temperadas. Tinha um pouco de arroz com legumes, mas ela definitivamente não era fã de cenouras, então ela só ignorava os pontos laranjas em seu prato.

— Okay, garotinha. Você tem meia hora de TV enquanto a mamãe limpa a cozinha, tudo bem?

Um enorme sorriso e então ela estava deitada no sofá, após sua sobremesa, assistindo um desenho qualquer. Havia porquinhos nele e eu não sabia o que era tão engraçado, mas Nora parecia amar aquilo. Eu aproveitaria minha meia hora de paz para lavar a louça e pensar em como dizer para Alice que talvez eu devesse ficar na França.


¹- blocos de montar (brinquedo para crianças)