Título: A Ave e seu Senhor
Autor(a): Lune Kuruta
Fandom: Saint Seiya – The Lost Canvas
Classificação: 18 anos
Palavras: 2047 (este capítulo)
Personagens/Casais: Kagaho de Benu x Alone (Hades). Participações de Radamanthys de Wyvern, Minos de Griffon, Aiacos de Garuda, Lune de Balrog, Zelos de Frog, Niobe de Deep, Pandora, Sui (irmão de Kagaho), entre outros.
Gênero(s): Yaoi, drama, romance, Universo Alternativo
Resumo: Uma marca em sua pele retira Kagaho de sua casa para se tornar cativo em uma estranha seita. E, por meio dela, encontrará braços que o buscaram por milênios.
Avisos: Lemon; dark lemon (non-consensual sex); violência. A autora prefere não fornecer avisos adicionais.
Disclaimer: "Saint Seiya: The Lost Canvas" é de propriedade de Shiori Teshirogi e Masami Kurumada, todos os direitos reservados. Esta fic não tem fins lucrativos.
Notas: História escrita para o Coculto, um amigo oculto de fanfics promovido pela comunidade Saint Seiya Superfics Journal.
*Localização temporal: Não estipulei uma data exata para os acontecimentos da fic. Imagino um período em meados do século XVI.
CAPÍTULO 1
Lá estavam eles novamente, usando suas longas capas arroxeadas. Formavam um círculo em torno da longa e baixa mesa de mármore negro, no centro do salão. Ao rapaz que adentrava o local naquele momento, parecia uma mesa de sacrifício, as velas e os archotes lançando sombras oscilantes. E de fato era.
Percebeu o círculo humano abrir uma pequena abertura para que pudesse passar pela barreira e se posicionar em seu lugar de direito. Kagaho suspirou e se adiantou, inteiramente nu, para se deitar sobre a mesa. Silencioso, dócil, obediente como um cordeiro a ser sacrificado.
Não que houvesse tal brandura em seu coração. Seu desejo mais íntimo era de quebrar todos os ossos daqueles que o rodeavam, fazê-los sentirem do que aquele corpo forte era capaz quando em plenas condições. Seus músculos sob a pele amorenada haviam sido talhados no campo e na vida rústica, e sua pouca paciência era célebre entre seus parentes. Poderia esmigalhar aqueles homens que mal disfarçavam os olhares indiscretos para o corpo cheio de cicatrizes.
Mas não podia. Em princípio, porque vidas estavam envolvidas e dependiam de sua resignação aos ultrajes que sofria. Aqueles homens podiam não ter a força física de Kagaho, mas, além de estarem em maior número, eram poderosos. E o Poder era o deus dos homens, pois reinava sobre a vida e a morte dos mais fracos.
Além disso... um outro motivo, por mais que Kagaho se esforçasse para impedir, parecia tolher o ódio e a revolta do rapaz. Um anjo em meio aos demônios...
A luz vacilante incidiu sobre a grande marca avermelhada em suas costas – uma queimadura que sofrera ainda criança e que assumira a curiosa forma de uma ave em chamas. Tal marca nunca significara nada para o rapaz, mas aparentemente simbolizava algo forte para aquele grupo, que o raptara um mês antes, no vilarejo em que vivia com sua mãe e seu frágil irmão.
Violência. Ameaças à família. Fora levado à força e encerrado em uma espécie de fortaleza; agradecia por ser uma agradável primavera, ou não duraria muito tempo encarcerado nu naquele lugar. A fortificação ficava em um local que não conseguira identificar. Talvez, a julgar pela paisagem, estivesse nos arredores de Roma. Um local um tanto irônico para um grupo pagão montar base, a poucas léguas do Papa e seu braço de ferro e fogo.
Não que a Inquisição se atrevesse a suspeitar daqueles homens que o circundavam, fitando sem pudores o corpo másculo que se estendia na mesa. Além das sombras que ocultavam seus rostos, Kagaho sabia estarem nobres de várias partes da Europa. Poder-se-ia destacar entre eles o visconde de Wyvern, Radamanthys, cujos olhos dourados exprimiam uma mescla de desejo e inveja. Ou o visconde de Griffon, Minos, que estivera à frente na missão "sagrada" de raptar Kagaho para a seita.
Homens acima de qualquer suspeita que decidiram se reunir para cultuar e invocar um deus pagão. Aquele que traria a luz através das sombras, que salvaria as almas do sofrimento e da angústia, que exterminaria o frio, a doença e a fome.
O deus do Mundo Inferior. Hades.
O recinto foi subitamente envolvido em uma música suave e cerimoniosa que sempre causava arrepios a Kagaho. O barão de Balrog tocava gentilmente uma enorme harpa dourada para sinalizar que o jovem sacerdote da seita havia acabado de ingressar no salão.
Kagaho prendeu a respiração ao ver o círculo humano novamente se abrir, dando passagem ao sacerdote. Este, usando uma túnica negra, aproximou-se imponente da mesa em que o rapaz jazia. Seus belos olhos azuis percorreram cada centímetro daquele corpo forte do camponês, detendo-se em todas as cicatrizes que ganhara naquele mês de cárcere.
- É chegado o momento – O jovem anunciou ao círculo de homens – Lorde Hades há de despertar e de se manifestar através de meu corpo. As estrelas não mentem, meus caros. Desta vez, nossa invocação não será vã!
O rapaz deslizou uma mão branca pelo rosto de Kagaho, que se mantinha inexpressivo.
- Como sempre, Milorde... - O rapaz prosseguiu em uma voz fervorosa – Oferecemos a ti o sangue, o suor e a semente da Ave da Ressurreição! Assim como este corpo que anseia por ser teu instrumento na reparação da Terra!
O jovem deixou cair a túnica negra revelando um corpo claro e esbelto, com longos e lisos cabelos dourados caindo pelas costas. Kagaho pôde divisar vários olhares de cobiça entre os homens que compunham o círculo de fiéis. Um deles, visconde Aiacos, adiantou-se com um punhal de prata entre as mãos, entregando-o ao jovem.
Kagaho fechou os olhos ao sentir o corpo nu do jovem, pouca coisa mais novo que ele, sobrepor-se ao seu. Já não tremia tanto quanto na primeira vez, quando descobriu que serviria de sacrifício humano àqueles homens. Mas sua paz de espírito de forma alguma se relacionava à seita.
Sentiu a fina lâmina de prata abrir pequenos talhos em seu peito forte e apertou os olhos. Não era fácil se acostumar à dor, pelo menos no início de cada ritual. Rilhava os dentes à medida que era seguidamente ferido, apertando as bordas da mesa de pedra para não emitir nenhum som. Abriu os olhos para fitar o jovem sobre si, que lhe sorria com doçura.
O jovem conde Alone. O belo rapaz que tanto se assemelhava a um anjo. Era ele o principal motivo pelo qual Kagaho se submetia à vergonha, à exposição, aos ferimentos em sua carne, à violação de seu corpo. Bastava fitar o rosto sereno de seu algoz para que a dor dos cortes se esvaísse como o sangue. Ali, esquecia-se das dezenas de homens que assistiam à cena. Esquecia-se de sua fé. Esquecia-se da Humanidade.
Sentia seu corpo ser talhado pelo punhal em delicados arabescos sobre as cicatrizes de seu corpo, linhas que confluíam como um estuário de sangue. Alone, com as gentis mãos de um artesão trabalhando a pedra bruta, parecia fazer do próprio corpo de Kagaho uma obra de arte. Cortava-lhe a pele o suficiente para sangrar, sem no entanto lhe provocar a morte ou sequer a perda completa da consciência.
Somente a voz macia e o olhar puro de Alone conseguiam convencer o rústico camponês de que aquele momento era, sim, sublime. O suave dedilhar da harpa ao fundo parecia envolver Kagaho na atmosfera sutil. Não sabia se a Terra seria salva com isso, mas com certeza se sentia no verdadeiro Paraíso. Um Paraíso lúbrico, banhado em sangue e...
O toque macio em seu rosto foi o sinal. Sentiu suas pernas serem delicadamente afastadas, seus quadris erguidos e algo macio, porém rijo, roçar em seu ponto mais íntimo, fazendo-o estremecer. Respirou fundo, tentando relaxar tanto quanto fosse possível, pois aprendera a duras penas que a dor seria tanto pior quanto mais tenso estivesse.
A violação se sucedeu como sempre: dolorosa, seca a princípio. Kagaho arquejava, tentando conter os gemidos de dor. Na primeira vez havia gritado muito, mas decididamente não pretendia dar outro espetáculo aos presentes.
Alone era até gentil a princípio, mas no decorrer do ato parecia entrar em uma espécie de transe – esperava-se que fosse a tão desejada incorporação do deus Hades, mas logo se percebia que era tão somente o êxtase carnal que se aproximava. As mãos delicadas estimulavam Kagaho de forma que também pudesse ser extraída a dita "semente da Ave da Ressurreição" que o jovem havia mencionado. A vergonha e a tensão se esvaíam enquanto Alone aumentava o ritmo, indo fundo, vez ou outra atingindo determinado ponto da anatomia de Kagaho que o fazia soltar um gemido extasiado e incontido...
Ser possuído por seu anjo lhe parecia uma estranha forma de perversão. A noção de que eram assistidos por dezenas de outros homens se desvanecia à medida que a dor diminuía e os toques de Alone se tornassem mais frenéticos. Kagaho se entregou ao êxtase da carne ali, naquela mesa já manchada com seu próprio sangue, pouco antes do jovem conde.
O sangue, o suor e a semente.
Com o término do ritual, Alone se afastava, o corpo ainda maculado pelo sangue e pelo sêmen da Ave que sacrificavam em vão todas as sextas-feiras. Vestia-se com sua túnica e se recolhia a seus aposentos. O som da harpa finalmente cessava, o círculo de nobres se dispersava. Kagaho se permitia mergulhar por alguns momentos em sua própria languidez, antes que a dor – que era tanto física quanto moral – o trouxesse de volta à Terra, imerso em vergonha. Como sempre acontecia.
Com os olhos semicerrados, mal ofereceu resistência ao ser erguido brutalmente por dois criados da fortaleza.
- Ainda não entendo por que Lorde Alone insiste que este infeliz seja a Ave – Rosnou um deles, Niobe, homem não muito afeito à higiene pessoal, enquanto arrastava Kagaho para a câmara em que era mantido em cativeiro – Acho que o jovem conde gosta apenas de se divertir com a plebe...
- Não que esteja errado... – Zelos, para Kagaho um homem ainda mais asqueroso que o primeiro, fitou o corpo do prisioneiro com inegável luxúria – Belo pedaço de carne você é! Assim que Lorde Alone se cansar, pedirei a ele para me dar seus restos...
Um homem alto e imponente colocou-se no caminho dos três homens. Era um dos nobres que haviam participado da cerimônia – ainda trajava a veste púrpura.
- Visconde Minos! – Niobe fez uma mesura desajeitada, ainda contendo Kagaho.
- Lorde Alone solicita a presença da Ave em seus aposentos pessoais – Anunciou Minos sem muita emoção – Irei levá-la agora. Estão dispensados.
Os dois servos, não muito contentes com a perda de sua presa, foram obrigados a acatar, afastando-se frustrados. Minos poderia ser nobre de berço mas certamente era mais forte que os dois criados juntos, pois levava Kagaho pelos corredores sem tanto esforço. Permitia-se inclusive um ligeiro distanciamento do corpo nu do outro, receando macular seu magnífico traje com o sangue e o suor de um plebeu.
Kagaho não era tolo; em condições normais poderia facilmente subjugar aquele homem, mas estava demasiadamente fraco para esboçar qualquer reação. Além disso, outro pensamento o impedia de ir contra aquelas ordens.
Alone queria vê-lo.
Na antessala do aposento mais nobre encontraram o visconde de Wyvern conversando em voz baixa com Aiacos. Ao ver os recém-chegados, Radamanthys sorriu sarcástico.
- Lorde Alone convocou todos a seus aposentos reais, aonde nem nós, seus homens de confiança, tínhamos acesso. – A voz de Radamanthys era gélida – Pelo que vejo, até este plebeu terá acesso a esse nobre recinto...
- Foi-nos ordenado que ficássemos aqui, em guarda, como sempre ficamos – Ponderou Minos, impessoal.
- Que piada! – Lorde Aiacos se manifestou – Onde está a demonstração de confiança? E esse homem... crê mesmo que seja a Ave?
- Quatro rituais, Minos... – Radamanthys fixou os olhos na bebida – Todos fracassaram. Lorde Alone está apenas brincando com esse pobre coitado... – Sorriu inamistosamente para Kagaho – Um belo homem, sem dúvida, mas nada mais do que isso...
- Lorde Alone está perdendo tempo – Aiacos tinha as feições sérias – Os dias estão perigosos, o cerco está se fechando...
- Isso veremos depois – Cortou Minos, dirigindo-se às portas duplas com o prisioneiro em seus braços – Entre, Ave.
Kagaho respirou fundo, adentrando os aposentos pessoais de Alone e ouvindo as portas se fecharem atrás de si. Foi quando mordeu o lábio para conter um grito ante a cena mais tétrica que já vira em toda a sua vida.
Continua...
Notas adicionais (não reparem, costumo falar MUITO nesta parte):
Olá a todos!
Bom, gente... foi uma fic um tanto desafiante porque nunca tinha escrito com personagens de Lost Canvas antes (na verdade eu não li a série toda – ainda), então receio que os personagens tenham saído um tanto OOC. Kagaho ficou especialmente manso pro meu gosto... mas, pelas circunstâncias, não consegui fazer melhor. E sim, também achei "Ave da Ressurreição" meio tosquinho, mas relutei muito em usar "Benu" ou "Fênix"...
Por falar em Lost Canvas, talvez tenham percebido que se trata de um Universo Alternativo mas não tããão distante da série assim =P Talvez isso fique mais claro nos próximos capítulos.
E minha repetição quanto aos "viscondes"? É chato ver todo mundo com o mesmo título, mas foi proposital. Dando uma pesquisadinha rápida na Internet, decidi criar uma hierarquia entre os personagens baseada no título de nobreza que cada um ostenta. O visconde é um grau "inferior" ao conde, portanto Radamanthys, Minos e Aiacos são subordinados a Alone; mas ainda assim são superiores aos barões, lordes e tudo o mais – ou seja, eles tinham uma posição de destaque dentro da seita. Assim, dá pra entender melhor o motivo de Aiacos e Radamanthys terem ficado "mordidos" ao serem excluídos da reuniãozinha nos aposentos de Alone com a "ralé".
(Um spoilerzinhomeio previsível: ficar de fora não foi um mau negócio, na verdade...).
Eu sou PÉSSIMA pra dar um título decente a qualquer coisa – fic, redação, poesia, enfim, qualquer coisa que precise de um título (até o campo "assunto" de um e-mailpode se tornar um desafio). Por favor, ignorem o título previsível. E o resumo, aah, eu me matei pra tentar soar misterioso, mas não tenho muita experiência nisso n.n''
E peço desculpas especiais pelo dark lemon (-q). Sou meio lenta pra classificações, mas creio que estava mais pra NCS do que pra um estupro propriamente dito. Quanto à cena, eu adoraria sugerir uma trilha sonora pra ele, talvez ajudasse no clima meio "ritualístico" e o fizesse se tornar menos sofrível. Mas não sei uma música em especial; é só abrir uma aba, procurar por alguma chill outárabe no Youtube (ou "Buddha Bar", ou "Arabic Trance", e por aí vai) e talvez tenham alguma ideia n.n'' Aliás, a fic inteira acabou sendo escrita com esse tipo de música, até o epílogo. Coisas da minha cabeça...
Sobre isso, outra coisa: sinceramente não sou daquelas fãs de yaoi que são muito estritas quanto a seme/uke, mas conheço gente que não suporta ver alguém "menor" ou "mais delicado" possuindo um homem "mais forte". Por isso, não sei se alguém vai chiar pelo fato de ter sido o Alone a possuir Kagaho. Mas achei que a situação pedia isso, portanto ficou assim mesmo e pronto. De qualquer forma, caso isso tenha incomodado, não se preocupem porque daqui a pouco... *cala-se antes de falar mais*
Esta aqui foi minha fic de estreia no Coculto (na quarta edição, pra ser mais precisa), presente para Andréia Kennen. O Coculto é um amigo secreto de fanfics um pouco... diferente. É que, em vez de sortear uma pessoa, você escolhe um tema para escrever e só depois descobre quem é o presenteado (que foi quem enviou o tema, claro).
As inscrições para a quinta edição estão abertas, participem! O linkpara a comunidade está no meu perfil, na seção "Anúncios" (logo no comecinho, pra vocês não se perderem no meu perfil gigantesco x.x). Deem uma conferida, vale a pena! ;-) E só isso mesmo pra me fazer escrever... x.x
Chega de tagarelar! Espero que vocês curtam a fic pelo menos um pouquinho. A história é meio... clichê? Viajada? Previsível? "Magic PWP"? Sei lá. Mas foi de coração =P
A fic possui três capítulos e um epílogo. Postarei os capítulos com um ou dois dias de intervalo entre um e outro, pra que vocês não enjoem muito rápido =P Quem quiser ler a fic na íntegra na comunidade Saint Seiya Superfics Journal, fique à vontade.
Kissus e até a próxima!
