Título: Indomitable Passion
Autora: Eri-Chan
Beta: Lady Anúbis
Fandom: The GazettE e Dir en Grey
Casal: Aoi x Kai
Classificação: NC-17
Gênero: AU, angust, romance
Disclamer: the GazettE, Miyavi e Dir en Grey não me pertencem e sim à PS Company, que detém seus respectivos direitos autorais.
Sinopse: Ele sabe que aquele homem pode ser a realização de seu sonho... Ou de seu pior pesadelo. Pois Kai guarda segredos que poderão mudar a vida de ambos. Antes de revelá-los, porém, ele precisa conquistar o coração daquele homem indomável.
Observação: Fic presente de aniversário para minha amada Sensei, Lady Bogard. É minha forma de agradecer sua atenção e carinho. Sensei, você merece cada palavra escrita aqui. Perdão por chegar TÃO atrasado *se mata*
IndomitablePassion
Eri-Chan
Parte I
A boate estava cheia e animada, mas não o contagiava, ele não queria estar ali. Mas as pessoas não o ouviam, seus amigos do grupo de estudo não sossegaram até que ele prometesse que viria. Entrou no ambiente cheio e abafado, o cheiro de cigarro, perfumes, bebidas e suor se misturavam impregnando o ambiente. Sentiu-se meio sufocado, meio deslocado. Pensou com pesar em seu apartamento e em como queria estar nesse momento lendo um bom livro deitado em sua confortável cama. Sacudiu a cabeça tentando assim afastar esses pensamentos e não ficar mau humorado.
Logo visualizou a mesa onde seus amigos estavam. Não conseguiu conter o sorriso ao ver que não era o único desconfortável ali. Ryouta, um rapaz de cabelos negros e lisos, alto, de porte franzino, parecia assustado com a movimentação. Olhava para os lados parecendo temer um ataque à qualquer momento.
Ao lado de Ryouta, um rapaz loiro, de cabelos curtos e olhos cor de mel, ria da atitude do moreno o deixando ainda mais sem graça. Yuuta, com seu jeito irreverente era o palhaço da mesa.
Toshiya, seu melhor amigo, com quem dividia o apartamento também estava ali. Seus cabelos negros com mechas vermelhas balançavam conforme ele se movia no ritmo da música. Um sorriso travesso lhe adornava o rosto enquanto observava as reações de Ryouta às provocações de Yuuta.
Os três, juntos com Kai, formavam um grupo de estudos. Todos almejavam entrar na Universidade de Tokyo Gakugei, a melhor do país, onde a seleção era rígida e apenas os melhores conseguiam uma vaga. A prova de admissão estava próxima, por isso os quatro se reuniam todas as manhãs na biblioteca para se prepararem. Isso fez com que um forte laço os unisse, agora eram como uma família. Sempre estavam saindo juntos, e era por isso que Kai não podia deixá-los na mão, e mesmo não sendo fã de boates estava ali, tentando se divertir com os amigos.
Estava quase chegando à mesa dos amigos quando esbarraram em seu ombro, o empurrando para o lado.
– Kai-Chaaaannnn! – Myv vai enlaçando seu ombro o levando para o lado contrário de onde estava indo enquanto gritava animado.
– Não acredito! Você por aqui? – Kai não escondeu o desgosto enquanto tentava desesperadamente se desvencilhar de Miyavi.
– Sou eu que não acredito na minha sorte grande. Ver você por aqui é um verdadeiro milagre. – Miyavi continuou com seu tom alegre, apertando mais o abraço, parecendo não notar o desconforto que provocava no moreno.
Kai nada falou. Conformado, abaixou a cabeça e se deixou conduzir até o bar. Sentou em uma das cadeiras e olhou emburrado para Miyavi que dançava animado, sem nunca soltar do abraço.
Não demorou muito e um sorridente barman se aproximou dos dois.
– Namorado novo, Myv? – perguntou indicando Kai com um meneio de cabeça.
– Ainda não, Shou – Miyavi olhou para Kai e deu um sorriso maroto para o barman – Mas em breve será.
Kai chocado demais para falar algo se limitou a lançar um olhar gélido ao rapaz de cabelos azuis.
– E então, o que vão pedir? – Shou perguntou solícito.
– O que meu gatinho lindo mandar – Miyavi se soltou de Kai sentando-se ao seu lado no balcão. Apoiou o rosto na mão esquerda e observou atentamente as reações do mais novo que passou rapidamente do choque para uma irritação mal-contida.
– Um sake para mim e uma dose fatal de veneno pro Myv – o tom ácido e a cara emburrada de Kai fizeram com que Miyavi saltasse da cadeira e o agarrasse.
– Você fica tão fofo quando está irritado Kai-Chan – dizendo isso deu um beijo estalado na bochecha do moreno, fazendo-o corar de surpresa. – Bem, Shou, eu deixo o veneno pra outro dia. Me dá um sake também.
Shou rapidamente serviu dois copos da bebida gelada e sorrindo para Miyavi se afastou para servir outros clientes.
Miyavi pegou seu copo e o ergueu para fazer um brinde. Suspirando, Kai também pegou seu copo batendo de leve no de Myv.
– Brindamos a quê? – perguntou curioso enquanto levava o copo à boca.
– Ao nosso futuro relacionamento. – Miyavi respondeu com um sorriso radiante.
Tamanho o choque das palavras Kai cuspiu sua bebida, engasgando. Isso fez com que Miyavi risse ainda mais.
– Calma, Kai-chan – Miyavi dava leves tapas nas costas do moreno para aliviar a crise de tosse provocada pelo engasgo – Mais cedo ou mais tarde você ficará comigo.
– Não seja presunçoso, Miyavi! – o brilho no olhar evidencia ainda mais o tom de repreensão do mais novo.
– Não sou presunçoso... Só realista e persistente. – sorriu abertamente, levantando o queixo convencido. – São as minhas melhores qualidades!
– Afinal o que você viu em mim?
– Você é inteligente, espirituoso, doce... – sorriu lentamente, encostando-se ao balcão, à vontade em seu ambiente. – Além de ser lindo demais, eu adoooro doce.
– O que foi que eu fiz para merecer isso? – Kai abaixou a cabeça, tentando evitar que o outro visse o rubor em sua face. – Sabe Myv, às vezes acho que você bateu a cabeça quando era pequeno e as seqüelas persistem até hoje.
– Nada. Você existe e isso é suficiente pra mim. – adorava aquela sinceridade dele. – Então isso foi bom... Por causa das seqüelas notei o quanto você é maravilhoso... Gosto de você.
– Ah, Miyavi... – suspirando, Kai olhou em direção à mesa onde seus amigos se encontram – Meus amigos estão me esperando...
–Vai lá então Kai, eu não fico chateado. É só questão de tempo você vir pra mim mesmo. Por isso não vou ficar com ciúme.
Sem nada dizer, Kai levantou e passou por Miyavi indo até os amigos que lhe acenavam euforicamente.
Olhando Kai se afastar, Miyavi não resistiu e voltou a puxá-lo, dessa vez levando-o em direção à pista de dança.
– Mas antes de ir ficar com seus amigos você vai dançar comigo.
– Não vou não. Eu não quero. – Kai falou num tom indignado, tentando se desvencilhar com mais ênfase.
– Ah, o que é que custa, Kaizinho? – Miyavi continuou puxando o mais novo em direção à pista. – Você quase não vem aqui, tem que aproveitar.
– Eu já disse que não quero.
Nesse momento a música da boate parou, chamando a atenção dos dois que discutiam ao lado da pista de dança. Olhando em volta, perceberam que os olhares recaíam na entrada da boate onde um belo moreno adentrava, arrancando suspiros e sussurros de todos os presentes.
A pele muito branca era realçada pelo traje que vestia. Uma camiseta vermelha e preta, com decote em V, com as partes em vermelho transparentes, colada ao tronco, um casaquinho curto de mangas compridas com a gola em babados por cima e as mangas em renda também transparente cobrindo parte da mão, para dar um charme. A calça justa e preta, de cintura levemente baixa, as pernas com boca um pouco mais largas, uma saia assimétrica por cima da calça, dando um movimento fluído ao andar do moreno, um cinto largo de couro preto e várias correntes sobre um lado do quadril para realçar o visual. No rosto lápis reforçando o olhar negro, os lábios cheios suavizando a expressão fechada, os cabelos negros e repicados, presos para cima, formando uma espécie de tiara natural, soltos atrás, as mechas mais longas chegando ao meio das costas. Nos dedos anéis diversos, algumas correntes no pescoço longo, e sapatos pretos nos pés completavam o visual elaborado.
Estava acompanhado por um jovem alto, de porte franzino e pose aristocrática, que vestia uma calça de couro negro que lhe delineava as pernas e uma camisa preta de tecido transparente que destacava os cabelos castanhos claros, que lhe batia na altura dos ombros, e a pele alva. Seus olhos de um raro tom de verde olhavam a tudo com curiosidade e interesse. Caminhava bem próximo ao moreno, deixando evidente a todos a afinidade entre eles.
Tudo nos dois exalava sensualidade, luxúria. Era impossível não se sentir hipnotizado pela presença deles ali. Tanto homens, como mulheres lançavam olhares de pura cobiça e desejo, almejando por uma oportunidade de aproximarem-se deles.
Alheios à revolução que provocaram na boate, os dois seguiram direto para o bar, sentando em frente ao balcão, no mesmo lugar onde Kai e Miyavi haviam estado um pouco antes. Fizeram o pedido a um Shou sorridente e voltaram o olhar para os presentes. Recebendo a bebida que lhes era servida os dois brindaram, tomando de uma vez só o conteúdo de seus copos.
Como se essa fosse a deixa esperada uma música de batida sensual começou a tocar, despertando a todos do torpor que a chegada dos dois jovens havia provocado.
Todos começaram a se mover no ritmo envolvente e quente da música, tentando de todas as formas provocar e atrair a atenção dos recém-chegados que pareciam nem notar enquanto conversavam tranquilamente, em sussurros cúmplices, o que atiçava ainda mais a curiosidade e cobiça de todos.
Kai, que continuava ao lado de Miyavi, ao olhar para o moreno estremeceu. Ele não sabia o porquê, mas sentia que já o tinha visto de algum lugar. Perdido nesses pensamentos nem reparou que Myv o arrastava novamente em direção à pista de dança.
– Eu já disse que não irei dançar, Takamasa – irritado, Kai se soltou do abraço de Miyavi.
– Adoro quando você me chama pelo nome. – Myv sorriu provocante. – Isso me excita muito.
– Ah, não vamos começar de novo. – o tom cansado de Kai fez com que Miyavi lhe apertasse as bochechas, o irritando ainda mais.
– Mas eu não faço nada, é você que sempre briga comigo. – Myv fez um biquinho emburrado.
Ao ver a cara de Myv, Kai acabou por relaxar e se permitiu sorrir. Há anos que conhecia Ishihara e sempre havia sido assim. O excêntrico rapaz havia se confessado algumas semanas depois de se conhecerem em um dos festivais da cidade e desde então corria atrás dele, tentando de todas as formas conquistar-lhe o coração. Sem sucesso. Kai o via apenas com um bom amigo que lhe proporcionava muita diversão, apesar de às vezes lhe irritar ao extremo.
Olhando ao redor, seu olhar recaiu mais uma vez no belo recém-chegado e novamente a sensação de reconhecimento o envolveu, lhe causando uma enorme curiosidade sobre a identidade do dono do olhar mais gélido que já encontrara em toda a sua vida, que continuava a beber, alheio a tudo a sua volta.
– Se interessou por ele Kai-chan? – Miyavi sussurrou de maneira travessa no ouvido de Kai, que se assustou, corando furiosamente.
– Não é nada disso Takamasa – Kai falou em um tom mais alto do que desejava, o que provocou ainda mais o lado malicioso de Myv.
– Você não tirou os olhos de cima do moreno desde que ele apareceu. E depois vem me dizer que não se interessou?! – Myv ergueu a sobrancelha esquerda de um modo sarcástico. O brilho em seus olhos deixou Kai alarmado – Mas não se preocupe, já disse que não ficarei com ciúmes.
Kai respirou fundo tentando controlar a raiva que ameaçava explodir. Olhando para a pista de dança atrás de mais paciência, viu que todos ali dançavam de modo a provocar o moreno e isso fez com que sua curiosidade aumentasse. Evitando olhá-lo mais uma vez fixou no rosto de Miyavi que continuava a ostentar o ar de pura malícia. Pigarreando, Kai falou, procurando disfarçar o rubor das faces:
– Miyavi, quem são aqueles dois que pararam a boate? – o pequeno meneio de cabeça de Kai indicava o moreno e seu amigo que ainda conversavam entre sussurros.
– Depois fala que não se interessou, né? – gargalhando, Myv desviou do tapa de Kai.
– Ishihara Takamasa! – o tom de repreensão do mais novo, seguido do rubor de raiva em seu rosto fez Miyavi agarrá-lo mais uma vez naquela noite.
– Falou meu nome mais uma vez. Desse jeito eu me apaixono ainda mais. – o sorriso vitorioso de Myv aumentou ainda mais, provocando mais um tapa de Kai, que se desvencilhou com um empurrão.
– Vai responder minha pergunta? – Kai não escondeu sua impaciência – Se não for... Estou indo ficar com meus amigos.
– Só falo o que sei com uma condição. – Miyavi pegou a mão direita de Kai, acariciando-a lentamente.
– Qual condição? – em tom seco, Kai puxou a mão de forma brusca.
– Que você dance comigo. – Miyavi parecia uma criança pedindo o brinquedo da loja para os pais. Sua ansiedade era palpável.
– Isso é chantagem – Kai reclamou, emburrando.
– Se você não fosse teimoso... Eu não precisaria usar dessas artimanhas para que você enxergue o amor que existe entre nós dois. – a segurança com que foram ditas essas palavras chocou Kai de tal maneira que ele não sabia o que responder.
Os dois ficaram por alguns instantes se encarando. Miyavi sustentando um sorriso sereno, Kai demonstrando todo o choque que sentia.
– Por que você está fazendo isso? – Kai, em tom baixo perguntou, denotando cansaço.
– Porque o prêmio vale à pena. – dizendo isso deu um beijo na bochecha do moreno.
Era notável a falta de paciência de Kai. Ele estava se controlando ao máximo para manter a postura educada, mas tudo aquilo já o estava cansando. Voltou, então, seu olhar mais uma vez para o alvo de sua curiosidade e respirando fundo respondeu em um murmúrio:
– Está bem, eu danço com você.
– Eu não escutei – cantarolou Miyavi empolgado.
– Então devia limpar os ouvidos. – Kai respondeu de forma malcriada.
– Se não repetir não darei nenhuma informação – Myv deu seu sorriso mais cínico.
Espumando de raiva, Kai respirou fundo, contando mentalmente até dez e respondeu em tom frio e controlado:
– Ok, Miyavi. Eu aceito dançar com você.
Sem dizer mais nada e com um imenso sorriso no rosto, Miyavi pegou mais uma vez na mão de Kai e praticamente o arrastou até o centro da pista de dança, seu lugar favorito. Sem dar tempo ao moreno, envolveu sua cintura em um abraço safado, deslizando suas mãos sobre as costas de Kai enquanto sua respiração batia no pescoço, arrepiando-o.
Kai ficou tenso ao sentir as carícias de Myv, mas preferiu nada dizer. Pelas informações que ele lhe passaria valia a pena o sacrifício. Tentou deixar com que a música o envolvesse e o ajudasse a se soltar, mas a cada deslizar das mãos de Myv ou a cada arrepio causado pela respiração dele em seu pescoço sua concentração diminuía, dando lugar a uma fúria que ameaçava explodir a qualquer momento.
Percebendo a tensão do corpo em seus braços, Myv mordeu de leve seu pescoço, sendo empurrado logo em seguida por um Kai revoltado:
– Dá pra parar de se aproveitar e cumprir sua parte do acordo?
– Só começarei a falar quando você relaxar e aproveitar a dança – calmamente Myv se aproximou, voltando a acompanhar as batidas da música.
Se vendo sem opção, Kai começou a se movimentar, tentando entrar no ritmo imposto por Myv. Rapidamente o rapaz de cabelos azuis encaixou seus corpos, tornando a dança mais sensual.
Fechando os olhos, Kai se afastou de Myv e passando as mãos pelo próprio corpo, deixou-se envolver por completo pelo ritmo da música.
Miyavi comia Kai com os olhos, dançando de maneira a sempre esbarrar em alguma parte do corpo do moreno e isso não passava despercebido pelo mais novo que sempre mudava a direção de seus movimentos, tentando impedir os toques.
Kai sentia os 'esbarrões' e respirava fundo para não perder o autocontrole. Já havia conseguido se soltar e até podia dizer que se divertia quando a voz de Miyavi o despertou de seus devaneios.
– O moreno se chama Shiroyama Yuu, Aoi para os conhecidos. Ele é o filho caçula dos Shiroyama, os donos do império de computadores do Japão. E o outro é seu amigo britânico Richard Cool. Os dois chegaram no início dessa semana ao Japão vindos da Inglaterra, onde Aoi mora desde seus 10 anos. E hoje é a segunda vez que os dois vêm a essa boate. – sem parar de dançar, Miyavi observou as reações de Kai a cada nova informação.
– Por que Aoi voltou depois de tanto tempo? – era nítida a mudança de comportamento de Kai, que agora estava mais relaxado, interessado na conversa. Todo o clima hostil de momentos antes fora dissipado e apenas o brilho de curiosidade o envolvia.
– Seu irmão mais velho morreu há pouco tempo. Então ele foi chamado para resolver toda a papelada e tomar posse da herança. - ao ouvir isso, Kai abriu os orbes e olhou para Aoi que continuava no bar, observando a pista de dança. Uma sensação estranha o envolveu. O nome não lhe era estranho, mas não conseguia recordar de onde já o tinha ouvido.
"Será que é ele?", pensou quando uma idéia lhe passou pela cabeça, mas não deu tempo de desenvolvê-la, pois ouviu Miyavi continuar a história.
– Parece que ele está procurando por um companheiro por causa de uma cláusula do testamento, ou algo parecido. Ele é extremamente rico por causa da herança, além da fortuna pessoal que conquistou trabalhando na Inglaterra.
– Então é só por isso que ele chama a atenção. – Kai falou em um tom pensativo mais para si do que para Miyavi.
– Pode ser. Bem, isso é tudo o que eu sei, agora aproveitemos o final da música. – Miyavi mais uma vez se aproximava de Kai que não disse nada, ainda perdido em seus próprios pensamentos.
A batida da música mudou para algo mais quente, mais sensual e Miyavi se aproveitou disso para se esfregar ainda mais no moreno.
Kai estava cada vez mais incomodado com os toques de Miyavi, mas por se sentir em débito pelas informações apenas torcia para que a música terminasse logo.
Myv estava cada vez mais excitado ao ver Kai dançar. Cada serpentear, cada movimento ousado do outro fazia seu baixo ventre latejar de desejo.
O moreno, cada vez mais entorpecido pela música começou a soltar mais o corpo, rebolando de forma a atrair os olhares para si. Suas mãos percorriam novamente o seu corpo, se acariciando de forma totalmente luxuriosa. Logo não era só Miyavi que se excitava ao vê-lo dançar.
Miyavi quase não conseguiu se controlar, vendo-o se virar de costas para si, gingando os quadris para um lado e pro outro, sensual, acompanhando as batidas quentes da música. Colou-se atrás dele, segurando nos quadris estreitos, fazendo os mesmos movimentos sinuosos, esfregando o membro teso nas nádegas redondinhas, quase não contendo o gemido longo que chegava aos seus lábios. Não agüentando mais, agarrou os ombros de Kai e o girou, parando-o de frente para si e aproximou-se de seus lábios para beijá-lo.
Assustado com a reação de Miyavi, Kai o empurrou com força e cambaleando para trás acabou por esbarrar em Aoi que passava por ali, derrubando a bebida que ele carregava em sua camisa.
O tempo pareceu parar. O olhar gélido de Aoi paralisou Kai, que esperou uma reação violenta. Mas o que veio o deixou ainda pior do que se tivesse levado uma surra, quando Aoi se virou para Richard e disse em tom de desprezo:
– Esse aqui não serve nem para fachada. Seria vergonhoso tê-lo ao meu lado – e irritado se afastou indo em direção ao banheiro, acompanhado pelo amigo.
Miyavi e Kai se entreolharam. Myv detinha uma expressão de surpresa, enquanto Kai demonstrava confusão, seus lábios articulavam, mas nenhum som saía, parecia ter perdido a capacidade de falar com o choque.
E pela segunda vez naquela noite, a boate parou, observando os dois que continuavam se encarando, como se procurassem uma explicação para o que tinha acabado de acontecer.
Vários comentários podiam ser ouvidos. Eram nítidos os vários cochichos e olhares de curiosos que tentavam entender o motivo das palavras de Aoi, e isso foi a gota d'água para que a paciência de Kai acabasse. Sem nada dizer deu as costas à Miyavi e foi em direção da mesa onde seus amigos estavam e ali ficou até o final da noite.
ooOoo
Kai estava trancado em seu quarto deitado de barriga para baixo sobre o carpete, tendo à sua volta inúmeros livros, cadernos e apostilas. Tentava desesperadamente se concentrar para poder estudar, mas os acontecimentos daquela noite não lhe saíam da cabeça.
A calça de moletom e a regata azul clara não o protegiam do frio do fim da madrugada e ele começava a tremer, mas não se importava. Em sua cabeça milhões de coisas passavam e por mais que tentasse organizá-las, não obtinha sucesso. Desistindo de estudar, fechou os livros e cadernos e levantando-se do chão colocou-os sobre sua mesinha de cabeceira de forma organizada.
Caminhou com passos lentos até seu guarda-roupa onde parou na frente do espelho. Analisou seu reflexo, procurando alguma coisa em sua aparência que justificasse as palavras de Aoi. Percebeu o que estava fazendo e repreendeu-se por isso. Foi aí que se lembrou de onde ouviu o nome Shiroyama, essa lembrança lhe causando um tremor involuntário.
Suspirando pesadamente caminhou até a extremidade do quarto e abriu o guarda-roupa. Retirou com cuidado uma pilha de roupas bem dobradas e as colocou no chão. No espaço vazio que ficou retirou uma placa de madeira que disfarçava a entrada de um compartimento secreto. De dentro desse compartimento, Kai retirou dois envelopes. Voltando a fechar o compartimento, os pegou e sentou-se em sua cama.
Abrindo o primeiro envelope retirou uma carta datada de três meses antes. Leu-a por inteiro e seus olhos brilharam pelas lágrimas contidas.
Suspirando, abriu o segundo envelope com as mãos trêmulas. Hesitante, começou a ler a carta datada de duas semanas antes. Ao chegar ao meio da carta as lágrimas venceram suas barreiras e vieram lhe banhar o rosto, impedindo-o de continuar a leitura. Dobrou-as e as guardou em seus respectivos envelopes as pôs sob seu travesseiro.
Levantou-se enxugando as lágrimas que teimavam em cair, indo até a janela do quarto e ali ficou por minutos a observar em silêncio os poucos carros que passavam pela rua.
Sentando-se no parapeito da janela começou a analisar tudo o que lhe aconteceu durante o dia. Seus amigos o obrigando a ir à boate, seu encontro com Miyavi, a chegada de Aoi e seu amigo, as informações que Myv lhe passou, seu esbarrão acidental em Aoi e o final catastrófico que se seguiu a isso.
Suas emoções estavam à flor da pele, todas alvoroçadas, borbulhando como lavas de um vulcão prestes a entrar em erupção. A lembrança de Aoi o menosprezando na frente de todos não lhe saía da mente.
Estava furioso!
Não com Aoi. Afinal, não poderia esperar uma atitude educada depois de derrubar bebida na camisa dele. Mas, sim, com ele próprio.
"Como pude ficar calado diante de tamanha afronta?", pensou enquanto ia até sua cama, onde se deitou olhando para o teto, esperando que o dia amanhecesse.
ooOoo
Nem bem o dia amanheceu e Kai já estava de pé preparando o café da manhã para si e para Toshiya. Ambos tinham grupo de estudo logo pela manhã antes de irem trabalhar. A prova para admissão na Universidade era na próxima semana. Tudo estava tão corrido que os dois mesmo morando juntos quase não se viam, muito menos viam os amigos de longa data. Foi por isso que marcaram de ir à boate, mesmo se encontrando durante as reuniões do grupo de estudo não conseguiam tempo de se divertirem juntos. Mas com o desfecho do encontro, Kai achou que deveria ter escutado seus instintos e ter ficado em casa estudando.
Não demorou muito e Toshiya acordou, indo até a cozinha. Não se surpreendeu em nada ao ver o moreno lá. Afinal, escutou os passos dele dando voltas e voltas pelo quarto, inquieto.
– Ohayo, Kai-chan – cumprimentou tentando conter um bocejo.
– Ohayo, Totchi – respondeu Kai oferecendo uma xícara de café recém-feito.
Os dois tomaram café em silêncio, se conheciam a tanto tempo que não precisavam travar uma conversa para saber como o outro estava, um simples olhar lhes revelava o que mil palavras não conseguiriam explicar.
Depois de tomarem café e arrumarem o apartamento, os dois saíram juntos rumo a casa de Ryouta, onde se preparavam para a prova. Essa era a rotina dos últimos dois meses. Entrar na universidade era um sonho que estava perto de se realizar. Kai queria cursar Comunicação, Toshiya queria entrar no curso de Artes.
Andavam pela rua enquanto conversavam sobre amenidades quando Kai foi chamado por um homem. Sem reconhecer a voz continuou andando até que o chamado se repetiu. Ao olhar para trás para ver quem o chamava, Kai gelou. De todas as pessoas no mundo ele era a última pessoa que esperava. Aoi caminhava rapidamente em sua direção com uma expressão mal-humorada. Parou a alguns passos de onde Kai e Toshiya estavam e disparou a pergunta:
– Você é Uke Yutaka, não?
– Sim – Kai respondeu meio hesitante.
– É você o rapaz conhecido como Rato de Biblioteca? – perguntou sacudindo uma folha no ar, bem a frente do rosto de Kai.
Kai o encarou, admirando os traços bonitos, porém irritados do homem a sua frente. Seu olhar desceu reparando nas roupas que ele usava. Dessa vez estava vestido com uma camisa azul marinho semi-aberta, deixando à vista boa parte do peito alvo. Uma calça preta e justa, botas de couro, e muitos anéis completavam o visual arrojado.
– Responda! É o...
– Já ouvi. – Kai o interrompeu.
– E então?
A pergunta veio acompanhada de uma expressão de contrariedade, denunciando a evidente braveza.
– E então o quê? – perguntou Kai, evitando usar um tom irreverente, enquanto olhava algumas pessoas passarem por eles apressadas, provavelmente rumo aos seus trabalhos seculares.
– Explique isto! – vociferou Aoi, sacudindo novamente a folha.
Tranquilamente Kai pegou a folha que lhe era estendida de forma arrogante. Ao examinar o papel, ele notou que se tratava de uma caricatura. Aliás, muito divertida. Kai estava representado por um por um ratinho de óculos e aparelho nos dentes roendo livros e Aoi, sob a forma de um majestoso Dragão raivoso que apontava para ele e dizia qualquer coisa sobre Aparência.
Os lábios de Kai se entreabriram em um sorriso divertido enquanto passava a folha para Toshiya olhar, irritando ainda mais Aoi que o observava atentamente.
– Pode me explicar o que é isso?
– Imagino que alguém achou divertido o que aconteceu entre nós na boate e resolveu ilustrar.
– Alguém jogou isso bem na frente da minha casa. Isso é um insulto!
Kai deu de ombros.
– É apenas uma brincadeira. Nós, japoneses gostamos de desenhar coisas do cotidiano de forma a alegrar as pessoas. Bem vindo de volta ao Japão!
– Pois eu não gosto! Destrua esse desenho e impeça que outros sejam distribuídos!
– Acho que está falando com a pessoa errada. E agora se me dá licença, precisamos ir agora. – fazendo um sinal a Toshiya que observava tudo em silêncio, começaram a se afastar.
– Nega que é você que aparece no desenho? – Aoi perguntou arrogante.
– Claro que não! Com certeza o Ratinho é uma caricatura minha. E o Dragão parece se referir a você. Obviamente os cartunistas acharam que eu, ou melhor, nós dois servimos como boa matéria para os lápis deles. Mas isso não importa. Logo mais eles encontrarão novas vítimas... Agora realmente precisamos ir, senão chegaremos atrasados em nosso compromisso. – novamente Kai e Toshiya começaram a se afastar na direção oposta.
– Não dê as costas para mim, garoto! – Aoi bufou com raiva.
Kai que já tinha se afastado alguns metros, girou a cabeça e, espiando sobre o ombro, disse com aspereza:
– Tenho nome. E não recebo ordens do senhor. Tenha um bom dia.
Nem bem tinha dado mais alguns passos quando sentiu seu braço ser puxado com brusquidão. Kai estreitou os olhos na direção de Aoi. A situação estava ficando constrangedora e ele acabaria chegando atrasado ao grupo de estudos, o que o deixava extremamente mal-humorado.
– Nenhum garoto vira as costa para mim! – Aoi falou em um tom raivoso segurando firmemente o braço de Kai.
– Ficará satisfeito se eu me desculpar? – Kai respirou fundo se segurando para não rolar os olhos.
– Ainda não terminei.
– Se não deseja ter seu nome envolvido ao meu... Essa não é a melhor maneira de consegui-lo.
– O que quer dizer? – Aoi perguntou um pouco confuso, mas sem perder a pose autoritária.
– Impedir-me de ir embora desse jeito é a pior solução. Se alguém estiver nos observando, não vai demorar muito para que surja outra caricatura.
Aoi ergueu as sobrancelhas, revelando perplexidade.
"É realmente muito bonito", pensou Kai, antes de decidir explicar-lhe:
– Os cartunistas estão em todos os lugares que possa imaginar e não apenas nas boates. E quando se deparam com uma cena que imaginam interessante para satirizar, não hesitam em passá-la para o papel. Depois a imprimem e espalham por aí. Principalmente por você ser a nova celebridade do lugar. É a chamada liberdade de expressão.
– A culpa é toda sua! – acusou Aoi, apontando o dedo na direção de Kai.
– Não tenho nada a ver com isso. – Kai respondeu de forma contrariada. – Também não estou servindo de alvo para tais brincadeiras? Então, faça como eu, não permita que elas o aborreçam.
– Já foi vítima dessas brincadeiras antes? – Aoi quis saber.
– Sempre que eles não têm assunto novo... Eles me usam como inspiração para as brincadeiras. – Kai falou em tom conformado.
– Não concordo com isso. – Aoi foi taxativo.
– Não há o que se possa fazer – Kai deu de ombros.
– Por quê? – teimou Aoi.
– Liberdade. Eles podem brincar com as caricaturas conforme desejarem. Não importa a quem agradem ou desagradem. Por essa razão, prefiro ignorá-las.
– Então não há como impedi-los? – o mais velho perguntou em tom esperançoso.
– Lamento desapontá-lo. Agora poderia fazer o favor de soltar meu braço e me deixar ir embora.
– E se formos vistos juntos, apreciando a companhia um do outro, evitaria que nos satirizassem? – Aoi falou sem nem prestar atenção ao que Kai disse.
– Receio que não. Provavelmente, sempre o considerarão como um Dragão enfurecido.
– Não sou assim – rebateu Aoi.
– Vou aceitar sua palavra se fizer o favor de soltar meu braço e me deixar ir embora. – Kai puxou seu braço com brusquidão fazendo com que Aoi o soltasse.
– Está bem. Mas antes devo avisá-lo de que vou acompanhá-lo à festa promovida pela Universidade para os calouros. Irei buscá-lo às nove horas. Esteja pronto, odeio esperar.
Kai arregalou os olhos diante de tamanha impertinência.
– Não acha que está sendo insolente? Você nem sabe se irei à festa?
– Se não me engano você está na idade de entrar na Universidade, então é bom que vá as festa promovidas por ela para facilitar sua entrada, não? – Aoi falou calmamente.
– Mas é um direito meu escolher quem vai comigo. – Kai cruzou os braços em uma atitude de desafio.
– Isso é besteira. Vou buscá-lo às nove. Poderemos cortar o mal pela raiz. Ser for visto desfrutando da minha companhia, encontrarão outras pessoas para importunar.
– Parece ter se esquecido de um detalhe. – o sarcasmo de Kai era palpável.
– Qual? – o olhar curioso de Aoi irritou Kai ainda mais.
– O de que não aprecio sua companhia.
Para surpresa de Kai, Aoi deu uma gargalhada tão estrondosa que ele estremeceu.
– Esteja pronto às nove horas. Já disse que detesto esperar. – Aoi voltou a falar em tom calmo.
– Você nem sabe onde moro – Kai tentou desesperadamente se livrar do compromisso.
– No apartamento 15 A do 6º andar do edifício Chizuru.
Kai o fulminou com o olhar.
– Como você sabe disso?
– Tenho meus informantes. – Aoi riu travesso. – Esteja pronto às nove.
– Eu não disse que aceitaria. – teimou Kai.
– Vai preferir que eu o force?
– Seria capaz disso?
– Duvida?
Aoi deixou a questão no ar. Em seguida afastou-se indo em direção de Richard que os observava de longe.
Kai permaneceu imóvel, observando até que o excêntrico homem sumisse de vista. Respirando fundo, virou para Toshiya que apenas meneou a cabeça e ambos correram para não se atrasarem mais para o compromisso.
ooOoo
Kai nunca se importou tanto com sua aparência como naquela noite. Tudo o que queria era estar deslumbrante e atrair o máximo de atenção que conseguisse.
Escolheu uma camisa prateada de tecido semitransparente onde deixou os primeiros botões desabotoados deixando entrever seu alvo peito. Uma calça de couro negra bem justa delineando suas pernas. Botas pretas com detalhes prateados lhe davam um ar mais sensual. Em seu pescoço podia-se ver um crucifixo de prata. Alguns anéis completavam o visual.
Seu olhar era destacado com um pouco de lápis preto. E o perfume que usava era de uma fragrância máscula, porém suave.
Mirando-se no espelho ficou satisfeito com o que viu. Não que estivesse se arrumando para Shiroyama, mas queria mostrar que ele estava errado quanto ao que disse na boate.
Por volta das oito da noite, Kai terminava de se arrumar indo dar uma força para Toshiya, que estava tendo problemas para decidir com que roupa iria à festa. Acabou optando por uma camisa preta, calça da mesma cor e botas.
Às oito e meia, vendo que Toshiya continuava enrolado, Kai resolveu se adiantar e chamando um táxi se dirigiu ao local da festa. Preferira não esperar Aoi. Não queria e nem precisava de escolta. Muito menos de alguém arrogante pertencente à família que destruíra a vida da pessoa mais importante em sua vida.
ooOoo
As festas da Universidade de Tokyo Gakugei eram lendárias e muito restritas. Pouquíssimas pessoas tinham acesso a elas. Somente pessoas influentes ou com muito dinheiro eram convidadas. Mas esse não era o caso de Kai. Um amigo, veterano no curso de Comunicação, conseguiu um convite para Toshiya e outro para ele. Sua presença naquela festa era imprescindível para ser admitido na Universidade, considerada a melhor do Japão.
Antes da balada seria servido um jantar formal onde todos poderiam se conhecer melhor. Cada lugar era previamente determinado. E qual não foi a surpresa de Kai ao descobrir que se sentaria ao lado de Miyavi. Uma dor de cabeça já ameaçava despontar só de imaginar o que o excêntrico rapaz faria naquela noite. Meio a contragosto sentou-se em seu lugar, olhando para o lugar vazio ao seu lado. Percebeu então o alvoroço entre os convidados e ouviu o nome de Aoi sendo pronunciado em voz alta por um grupo de homens engravatados, provavelmente os patrocinadores da festa.
Forçando-se a permanecer imóvel, espiou com o canto dos olhos a imagem imponente de Aoi enquanto ele se aproximava. Espantou-se ao vê-lo acomodar-se na cadeira, do lado oposto da mesa, bem à sua frente. Sabia que aquele não era o lugar reservado a ele, uma vez que se tratava de uma figura de destaque.
Kai piscou duas vezes, quase não acreditando na elegância e sensualidade que ele apresentava. E, a julgar pelos sussurros, não tinha sido o único a notar. Aoi usava terno e calça brancos com alguns detalhes negros e uma camisa preta. Para completar usava uma corrente no pescoço com o pingente de dragão. Os cabelos negros e lisos estavam soltos, partidos ao meio, emoldurando o belo rosto com simplicidade. Kai engoliu em seco. O homem do outro lado era mesmo de tirar o fôlego!
O par de olhos castanhos de Aoi revirava-se nas órbitas, como se não quisessem perder nenhum detalhe ao seu redor. Parecia não se importar com os olhares e cochichos. Na verdade, parecia apreciá-los.
Naquele instante o dono da Universidade tomou seu lugar na cabeceira da mesa e deu por iniciado o jantar. Garçons uniformizados serviam os mais variados tipos de comida. Tudo regado a muito vinho e champanhe.
O número de pessoas presentes era impressionante! Tokyo Gakugei era famosa por promover eventos gigantescos, onde acordos milionários eram fechados entre a Universidade e empresas importantes.
Kai não imaginava onde Miyavi estava. E também não estava preocupado. O que realmente o perturbava era aquele par de olhos castanhos que o observavam, quase que indiscretamente.
O som de taças de cristal sendo servidas e o barulho de talheres, além dos sussurros entre os convidados, de repente, começou a incomodar Kai, que se viu isolado e solitário em meio a tantas pessoas desconhecidas. Arrependeu-se de não ter esperado Toshiya, pois pelo menos teria com quem conversar. Ele também se sentia desconfortável com os toques "acidentais" do homem acomodado à sua direita, além do olhar fixo de Aoi, atento ao menor gesto que fizesse.
"Não poderia ser pior", pensou enquanto levava a taça com vinho tinto aos lábios sorvendo um pouco do conteúdo.
Mas estava enganado...
– Estou decepcionado com você, Kai-chan.
A voz de Miyavi precedeu-lhe a aproximação. Sua expressão estava carregada, denotando um misto de tristeza e contrariedade. Kai observou como ele estava bonito vestindo uma camisa vermelha com decote em V e detalhes dourados, uma calça preta e botas. Seus cabelos azuis estavam arrepiados e seu piercing combinava com a camisa.
"Realmente faríamos um belo casal", Kai pensou enquanto Miyavi acomodava-se ao seu lado, no lugar previamente determinado.
– Nem sequer foi direto comigo. Como teve coragem? – Miyavi continuou em um tom melancólico e revoltado.
– Não sei do que está falando, Miyavi. – a expressão de Kai era de total confusão.
Miyavi jogou um papel dobrado, próximo a um dos talheres dele. Kai fechou os olhos respirando fundo, desolado.
"Miyavi não tem jeito", lamentou em pensamento. Tornou a abrir os olhos e apanhou o papel.
Tratava-se de outra caricatura envolvendo Aoi. No desenho o Dragão carregava o Ratinho sobre o ombro e fugia pelos ares ostentando uma expressão de vitória, enquanto um Pavão corria desesperado, tentando alcançá-los.
– E então? – perguntou Miyavi, entortando a boca com indignação.
– O caricaturista não é dos melhores. – Kai respondeu em tom baixo, dando de ombros.
– Está negando os fatos? – Miyavi perguntou veemente.
– Não vale a pena desperdiçar tempo com isso – Kai respondeu calmamente, repondo o papel na mesa.
– Será que posso? – a voz de Aoi foi ouvida, enquanto esticava o braço por cima da mesa, para alcançar o papel.
Kai se surpreendeu pela descompostura do gesto. Então percebeu que os lábios de Shiroyama se estreitaram ao contemplar o desenho.
– Então, eu venci? – indagou Aoi sem se dirigir a alguém em particular. A seguir mostrou a caricatura para a jovem sentada ao seu lado direito.
Kai fechou os olhos ao perceber que o papel estava sendo passado de mão em mão, provocando risos e comentários.
– Se queria me magoar, garanto que conseguiu Kai-chan – queixou-se Myv.
– E se pretendia acabar com a minha reputação na Universidade, teve êxito – Kai respondeu entre os dentes.
– Não era minha intenção. Mas agora estou considerando a possibilidade. – Miyavi foi extremamente seco.
– Aquele desenho não significa nada. Hoje quando eu estava indo ao encontro do grupo de estudos acabei encontrando com o Shiroyama. Apenas conversamos. Foi só isso. – Kai procurou de todas as formas acalmar os ânimos de Miyavi.
– Pelo que me lembro, você disse que não valia a pena desperdiçar tempo com explicações. – Miyavi se fixou nos olhos de Kai, todo o sarcasmo evidente em sua voz.
– E não vale.
– E pensar que até a noite de ontem você nem o conhecia... – Miyavi olhou para seu prato, suspirando.
– O que quer dizer com isso? – o moreno elevou a voz, indignado.
– Você sabe muito bem. – Miyavi voltou a encarar o moreno.
Kai respirou fundo, tentando se acalmar. A discussão estava começando a chamar a atenção, e tudo o que menos queria era prejudicar sua imagem diante dos administradores da Universidade.
Com as mãos trêmulas pegou a taça de vinho, tomando um longo gole antes de responder:
– Não, Miyavi, eu realmente não sei o que você quis dizer com isso.
– Você sabe sim – a intensidade do olhar de Myv era constrangedora – Não estou brincando. Desejo mais do que sua amizade.
– Sabe que não é possível, Myv. Sinto muito – Kai disse, repousando uma das mãos no braço dele em um gesto amigável.
O que ele não esperava era que Miyavi lhe aprisionasse a mão com o braço livre.
– Sempre me desprezou Kai, apesar das inúmeras tentativas que fiz para lhe agradar – falava enquanto apertava o pulso delicado em uma carícia. – Desde que te conheci não consigo parar de pensar em você. Eu me aproximo na esperança de poder ficar por poucos instantes ao seu lado, mas até isso você me nega. E nem um simples beijo ou carícia recebi de você. Sabe o que isso significa para mim? E, se eu o encontrar em outros braços, juro que perco a cabeça.
Kai engoliu em seco. Não queria responder e arriscar-se a uma cena desagradável. Tudo o que conseguiu fazer foi puxar a mão livrando-se do contato.
– Não subestime um homem apaixonado – Miyavi ameaçou e abandonou o local.
Yutaka nunca desconfiara da intensidade dos sentimentos de Miyavi. Para ele era algo passageiro, fogo de palha. Agora que sabia, não tinha a menos idéia do que faria a respeito.
Durante toda a cena, Kai não percebeu que era observado com atenção por um par de olhos castanhos.
ooOoo
A semana que se seguiu foi a mais corrida da vida de Kai. Ele e Toshiya passaram as madrugadas estudando e se preparando para a prova que aconteceria naquele dia.
Kai levantou mais cedo do que necessário, e saiu antes de Toshiya, sem nem ao menos tomar café da manhã. Chegou com muita antecedência no prédio onde ocorreria a prova. Estava muito nervoso, a ansiedade tirando a tranqüilidade habitual. Aquele dia era muito importante em sua vida, pois o sucesso daquela prova significava ver seu sonho realizado.
Tentava focalizar em tudo o que estudara, mas as palavras de Miyavi não lhe saiam da cabeça. Tudo aquilo o deixara muito confuso. Sempre o vira como amigo. Um amigo safado. Mas somente um amigo. E agora que se deparara com os sentimentos dele não queria magoá-lo.
Finalmente a hora do exame chegou. Kai já estava a ponto de arrancar os cabelos de tanta agonia, odiava esperar. O moreno juntamente com 50 pessoas entrou no grande auditório onde fariam a prova. Receberam as orientações dos professores e foi dado início ao exame.
Ao receber o bloco de perguntas todo o nervosismo que assolava Kai passou. Sua mente se desligara de todos os problemas externos e rapidamente respondeu às perguntas com total segurança. Sua prova ocorreu sem problema algum. Foi o primeiro a terminar. Estava muito difícil, mas sua intuição dizia que ele havia se saído muito bem.
Assim que saiu do local da prova foi até uma cafeteria se encontrar com Toshiya pra tentar relaxar de todo o stress da semana.
– Essa semana foi uma loucura – Totchi colocava mais açúcar em seu café.
– Eu que o diga. – Kai olhava a chuva que começava a cair do lado de fora do café.
– Sabe Kai, eu acho que quanto mais tempo você esperar para contar para ele, pior será. – Toshiya parou de mexer o café e tomou um gole.
– Do que está falando Totchi? – Kai perguntou, confuso pela mudança brusca de assunto.
– Do Shiroyama. – respondeu simplesmente.
– Ah, disso. – Kai fez um gesto de desdém com a mão. – Acho que sou bem grandinho para tomar minhas decisões no momento que achar certo.
– É verdade. Mas, se eu tivesse alguma coisa a ver com esse assunto, faria questão de lhe passar um bom sermão. – Totchi respondeu enquanto mordia um croissant.
– Por quê? – curioso, Kai olhou para os olhos de Toshiya.
– Por deixar o Shiroyama fazer papel de besta. Imagino o tempo que levou aprontando-se para aquele encontro. Ele estava muito gostoso. Deveria tê-lo visto! – Toshiya colocou o croissant de lado e encarou Kai.
– Eu vi. – a lembrança de Aoi naquela festa voltou à mente de Kai, fazendo-o corar intensamente.
– Então sabe o que estou dizendo. – Toshiya continuou como se não tivesse reparado no embaraço de Kai.
– Posso lhe assegurar que ele mereceu. – Kai começou a colocar açúcar em seu café. - Aliás, você estava ao meu lado e sabe disso. Ele é um homem arrogante e pensa que pode me dar ordens. Além disso, tentou me constranger na frente de todos, quando mostrou a uma porção de pessoas a caricatura que Miyavi trouxera. E como se não bastasse ainda concluiu a chacota referindo-se ao desenho como se aquilo fosse uma prova de que ele venceu.
Kai falava acaloradamente sem reparar que colocava açúcar demais no café.
– Deve ter agido assim por estar magoado com a desfeita que você lhe fez. – Toshiya disse olhando para o nervosismo de Kai.
– Não importa! Ele não tem o direito de mandar ou desmandar em mim. – quando Kai tomou um gole do café, não agüentou e acabou por se engasgar por causa do doce exagerado.
Toshiya não se segurou e gargalhou, recebendo um olhar atravessado de Kai, que fazia um gesto afobado para que o garçom lhe trouxesse água. Depois que Kai foi 'socorrido' pelo garçom, Toshiya voltou a ficar sério e disse calmamente:
– Está bem. Não vamos mais falar a respeito disso. Mas ainda acho que lhe deve a verdade. Ele tem o direito de saber o que aconteceu com Kazuki, afinal era o irmão mais velho dele.
Kai endireitou as costas num movimento brusco. Em seu rosto estava estampada toda a contrariedade que se passava em seu interior.
– Por Kami-Sama! Será que é preciso mesmo? – murmurou com pesar.
– Vou lhe dizer mais, Kai: Kenta gostaria que Aoi soubesse.
– Kenta só sofreu por causa da família Shiroyama. Essa é a mais pura verdade – havia irritação na voz do moreno.
– Ele estava apaixonado, Kai. E faria de tudo para ficar com Kazuki, mesmo que fosse por pouco tempo. Se Ikeda Shiroyama fosse mais flexível a história não teria esse final infeliz.
– Está dizendo que a culpa foi toda do pai de Kazuki? – Kai abaixou o tom de voz, mergulhando em lembranças tristes.
– Sim. Ikeda Shiroyama fez um inferno da vida do filho e de Kenta.
– Isso mesmo, Totchi. Kenta entregou-se ao filho do lobo mau. Aquele homem não mediu esforços até destruir o amor que eles tinham. Com esse amor meu amigo só conseguiu a própria ruína. – olhando pela janela, viu a chuva bater contra os vidros e desabafou – E ainda me condena pela forma como tratei Aoi?
– Não pode culpá-lo pelas atitudes do pai. – Toshiya também olhou pela janela. Sua voz era conciliadora.
– Falando assim, as coisas parecem tão fáceis...
– Lembre-se de que Aoi não sabe da história. Ikeda fez questão de que ninguém soubesse os verdadeiros motivos da morte de seu primogênito. Você sabe que ele chegou a mandar sumir com todos aqueles que sabiam. Você só escapou porque Kenta te protegeu.
– Nem me fale isso! – Kai exclamou, encostando a testa no vidro gelado. Suspirou profundamente, o cansaço dos últimos dias parecia finalmente esgotá-lo.
Por alguns momentos, ficaram em silêncio, enquanto Toshiya terminava de comer seu croissant.
– E então? – Totchi quis saber. – Quando vai contar a Aoi sobre o irmão dele.
– Não sei. Não é tão simples assim.
– Claro que é! Além do mais, aposto que o homem está em suas mãos. É só agarrá-lo! Dessa vez será diferente, pois você já sabe quais os perigos que enfrentará e poderá se preparar. Não será como foi com Kenta.
Kai ergueu os profundos olhos castanhos, atônito.
– Sobre o quê você está falando Totchi?
– Oras, Kai. Não vai me dizer que você não reparou como Aoi olha pra você, vai? – o tom irônico do amigo não agradou a Kai, que já preparava uma resposta, mas antes que ela chegasse, Ryouta apareceu na mesa, sentando-se ao lado de Kai.
– Oh, era com vocês mesmo que eu queria falar. Que bom que encontrei vocês dois aqui! – o loiro sorria animado – Consegui três convites pra festa que a Universidade dará hoje pra comemorar a prova e queria que vocês fossem comigo.
Kai e Toshiya se entreolharam e sorrindo voltaram a olhar o rapaz que estendia os convites para eles. Sem hesitação os dois aceitaram, agradecendo entusiasmados ao amigo.
– Vai ser divertido ter vocês lá. Assim sei que não ficarei sozinho. – Ryouta disse, dispensando os agradecimentos.
– Vai ser ótimo estar lá. Possivelmente conheceremos nossos futuros colegas de turma. – os olhos de Toshiya brilhavam animados.
– Obrigado de verdade, Ryo. – Kai também sorria animado. Toda a atmosfera pesada da conversa de antes havia sido dissipada.
– Bem, tenho que ir. Como a festa é hoje, preciso arrumar minha roupa – Ryouta levantou-se da mesa, e acenando para os amigos se afastou.
– Ele é doidinho. – Toshiya comentou rindo, enquanto Kai encarava o convite. – O que foi Kai? Alguma coisa errada?
– Sei lá! Mas parece que em todas as festas que apareço ultimamente sempre acontece algo estranho. – pensativo, o moreno falou em voz baixa.
– Pára de frescura Uke Yutaka. Como dissemos vai ser divertido.
– Espero mesmo que seja. – sem mais nada dizer, Kai chamou o garçom e pagou a conta.
A chuva já havia passado quando os dois saíram da cafeteria. Os dois caminharam lado a lado em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos.
Não demoraram muito a chegar ao apartamento em que moravam. Totchi foi direto tomar um banho, enquanto Kai foi ao seu quarto e jogando-se na cama exausto, encarou o teto.
"Devo mesmo falar tudo pro Aoi? Será que realmente isso é o certo a se fazer?", fechando os olhos deixou que o cansaço de todos aqueles dias tensos o levasse a mergulhar no mundo nos sonhos.
ooOoo
Olhando-se no espelho do quarto Kai apreciou sua aparência. A camisa branca bordada em prateado que delineava bem seu corpo estava desabotoada até o meio, a calça preta justa marcava suas coxas e a bota negra o deixava com o ar meio rebelde. Seu cabelo de um tom castanho escuro estava jogado para o lado, ocultando-lhe uma parte do rosto, o lápis preto bem definido deixando seu olhar enigmático. Seu perfume amadeirado era suave. Estava perfeito.
Saindo do quarto encontrou Toshiya esperando-o na sala. Parou na soleira da porta admirando o amigo. Ele estava impecável, todo de branco, com os cabelos negros jogados para trás com gel. Várias correntes completavam o visual. E seu sorriso animado era contagiante. Caminhando até ele, Kai falou em tom brincalhão:
– Vai agarrar quantos por lá?
– Acho que uns... – Totchi fingiu pensar –... três pra começar.
– Convencido! – Kai acusou sorrindo.
– Oras, foi você quem perguntou – Totchi defendeu-se.
Alguns instantes de silêncio se fizeram na sala. Os dois se encararam e então, do nada, as gargalhadas explodiram.
– Melhor irmos, não gosto de chegar quando as festas já estão lotadas – Kai disse ao olhar o relógio na parede que acusava 21h.
– Como sempre você é um anti-social. – Totchi se encaminhou para a porta de saída, abrindo-a e esperando que Kai passasse.
– É você que é um 'arroz de festa' – sorrindo, o moreno esperou no corredor o amigo trancar a porta e juntos foram até o elevador.
Sem mais delongas, os dois saíram para o ar gélido da noite, pegaram um táxi e foram até a mansão onde a festa era promovida. O lugar era ladeado por altas árvores e o caminho até a porta de entrada estava todo iluminado.
Kai e Toshiya não tiveram problemas na identificação com os seguranças e ainda se surpreenderam ao descobrir que tinham ganhado convites VIP.
Ao entrarem no salão se surpreenderam com a beleza da decoração. O lugar estava todo iluminado por velas e vários garçons andavam pelos convidados já presentes servindo-lhes bebidas e petiscos. Em outro cômodo podia-se ver uma pista de dança iluminada por globos onde a música animada já embalava alguns jovens veteranos da Universidade. Logo à frente da porta de entrada, na outra extremidade da sala, havia uma parede de vidro, com duas portas que davam acesso ao jardim. Tudo ali também estava repleto de velas.
A festa seguia sem complicações. Estava tudo bem agitado. Conversas e risos para todo o lado. Toshiya não saia do lado de Kai e depois de um tempo Ryouta se reuniu a eles. A noite passava rapidamente, à meia-noite a Ceia tradicional da Universidade em comemoração às novas turmas que se iniciariam dentro de algumas semanas.
Kai estava meio alheio a tudo o que acontecia, aquela festa lhe lembrava a última em que estivera. Recordou com desgosto da cena que Miyavi fez por causa da caricatura e de tudo, do vexame que passou sendo o motivo dos cochichos durante o restante do jantar e na conversa sobre Aoi que teve com Toshiya. Sacudiu um pouco a cabeça tentando desviar seus pensamentos desse rumo perigoso, não queria ficar emburrado no meio da festa.
– Kai – a voz de Ryouta despertou o moreno de seus devaneios – Se importa se eu roubar o Totchi para uma dança?
– Ah, claro que não – Kai sorriu radiante mostrando suas belas covinhas – Vão! Se divirtam bastante.
– Tem certeza que não ficará chateado por ficar sozinho nesse tempo – a voz de Toshiya vinha em tom de desculpas – Afinal combinamos não nos separar.
– Podem ir – Kai encorajou, gesticulando com a mão – Não se preocupem comigo. Ficarei bem.
– Não demoraremos, ok? – Ryouta também estava meio sem graça.
– Ora, rapazes, isso aqui é uma festa. Não se prendam a mim, vão se divertir. – ainda sorrindo, Kai pegou um copo com sake na bandeja de um dos garçons que passavam por ali.
– Está certo, então. – Toshiya sorriu para o amigo e acompanhou Ryouta até a pista de dança.
Kai ficou observando os amigos dançarem uma música animada, sorrindo ao vê-los se divertindo, mas sua mente ainda estava longe.
"Kenta também gostava de dançar", suspirou tristemente, baixando os olhos para sua bebida.
– Está tão lindo com essa expressão tristonha, Kai-chan... Que minha vontade é apertar essas bochechas fofas – Kai ergueu a cabeça encontrando os olhos de Miyavi, em seu semblante a censura era evidente.
– Não acredito que nem aqui tenho paz. – Kai disse entre os dentes – Ainda não o perdoei Ishihara.
– Um anjo como você sempre acaba por se apiedar de um pobre apaixonado como eu! – Myv se aproximou passando os braços sobre os ombros do menor.
– Nem vem, Takamasa – Kai se afastou com brusquidão – Nem começa com as bajulações de sempre. Me dá uma folga.
– Ah, como poderei te dar uma folga? – Myv fez um bico falsamente chateado – A quem mais devotaria meu coração?
– A qualquer outro que queira levar pra cama. – Kai respondeu levemente irritado voltando a observar os amigos na pista de dança.
– Não há outro que eu queira levar pra cama além de você, Kaizinho. – Miyavi sussurra perto do ouvido de Kai.
– Ah, conta outra Myv.
– Mas é verdade, Kai-chan. – Kai teve que rir, Miyavi era mesmo insistente.
Um silêncio se instalou entre eles. Os dois ficaram a olhar Toshiya e Ryouta que chamavam a atenção de todos na pista de dança.
– Eles parecem estar se divertindo muito. – Ishihara comentou sorrindo.
– Parecem mesmo – Kai concordou, dando um gole em sua bebida.
– Eu acho que eles se gostam. – Miyavi disse ainda de olho na pista de dança.
– Também acho. Desde o inicio das reuniões na casa do Ryouta que vejo um brilho diferente nos olhos dos dois. Acho que o problema é que eles não aceitam o que sentem.
– Ainda bem que esse não é nosso caso, não é? – Miyavi fala se aproximando de Kai, seus corpos quase se encostando.
– Ishihara, sabe muito bem que não temos um caso. Por que insiste tanto nisso? – Kai respondeu ríspido afastando-se bruscamente.
– O que tenho a perder? – Myv perguntou com uma pitada de ironia na voz, dando de ombros. Mas seus olhos faiscaram com um brilho de tristeza.
Kai desviou o olhar, para evitar discutir. O comportamento de Miyavi estava passando dos limites. A inconveniência estava estragando a amizade.
– Ishihara Takamasa... Hum... Miyavi... Presumo? – uma voz grave com forte sotaque britânico ecoou atrás dos dois jovens que perdidos em seus pensamentos nem notaram a aproximação.
Aoi juntou-se a eles. Kai imaginou a quanto tempo ele estaria por perto e se ouvira o que Miyavi e ele conversavam.
Ao vê-lo, Myv retesou todos os músculos, perdendo a jovialidade de momentos antes.
– Shiroyama! Estou em dúvida se devo apertar-lhe a mão ou socá-lo – os olhos do rapaz faiscavam, fingindo brincar, mas tenso, denotando uma sutil ameaça.
– Me socar? Por quê? Por causa dele? – Aoi ironizou, olhando Kai demoradamente enquanto enfatizava a última palavra.
Myv assentiu com a cabeça, lançando um olhar para Kai e Aoi acrescentou:
– Uma vez que ele não vale a pena, o melhor é trocarmos um cumprimento.
Aoi estendeu a mão e Miyavi aceitou sem hesitar. Kai ficou penalizado ao ver os dedos do rapaz de cabelos azuis perderem a cor ao serem praticamente esmagados com o aperto vigoroso.
Quando Aoi o libertou, Myv disfarçou a mão dolorida colocando-a no bolso da calça branca que vestia.
– Pelo o que o anfitrião me informou, você deve se sentar ao meu lado na mesa do jantar – Aoi se dirigiu a Kai que desviou os olhos da mão de Miyavi e encarou nos olhos negros que o perscrutavam.
Um silêncio pesado recaiu sobre o trio. Myv olhava magoado para Kai, que corava pelo incomodo da situação. Aoi sorria discretamente da cena, desviando os olhos de Miyavi para Kai, um brilho divertido nos olhos.
Após alguns instantes o silêncio foi quebrado pelo diretor da Universidade que chamava a todos para irem ao Grande Salão onde a Ceia iria acontecer.
– Vamos, então? Já estão nos chamando – Aoi fez um gesto indicando para que Kai o acompanhasse. Não se contendo, olhou para Miyavi e provocou enquanto se afastava – É melhor procurar ajuda para cuidar da mão, Takamasa.
Kai olhou por sobre o ombro vendo a fisionomia do amigo endurecer. Suspirando baixinho, fechou os olhos com força enquanto se deixava conduzir para a mesa do jantar.
"Essa será uma longa noite!", pensou ao abrir os olhos e encarar Aoi que cumprimentava o amigo que o acompanhara à boate.
Continua...
Sensei,
Demorou, mas chegou!!! Eis aqui seu presente de aniversário.
Espero que aprecie cada palavra, pois essa fic é totalmente dedicada à você. *gruda na Kaline*
Agradeço de coração à minha Mommis, amiga e beta Lady Anúbis pela betagem deliciosa.
Agradeço também à Yume Vy e a Samantha Tiger Blackthorn pelas dicas e incentivo.
A cena da entrada do Aoi na boate foi inspirado no Live Action "Fórmula 17". Assistam e se divirtam com essa comédia romântica.
Espero pelos comentários.
Beijos e até a próxima!!!
Eri-Chan
1 de Maio de 2009 - 13h:31min
