de coração
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A Invenção de Hugo Cabret © Brian Selznick.
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Hugo por fim escolheu a edição de Vinte Mil Léguas Submarinas com gravuras coloridas, um verdadeiro deleite para os olhos, mas ainda faltava os presentes de tio Georges e tia Jeanne. Atarantado, correu para pagar o livro (e outros que tinham chamado sua atenção) a Monsieur Labisse, mas na pressa colidiu com outra pessoa e foi ao chão. Embaraçado, ergueu os olhos para se desculpar e se deparou com uma figura familiar.
— Etienne!
— Estamos com pressa hoje, hein, Hugo? — O jovem sorriu e agachou-se para ajudar Hugo a recolher os livros caídos.
Hugo deu um sorriso amarelo.
— Desculpe.
— Não tem importância. — respondeu serenamente enquanto ajudou Hugo a levantar-se.
Hugo encarou a face amistosa de Etienne, e notou que o costumeiro tapa-olho preto havia sido substituído por uma versão vermelho-escuro em formato de coração. Etienne piscou para Hugo.
— Em homenagem ao dia de hoje.
— É por isso que eu estava correndo!
— Ainda não encontrou presentes para Monsieur e Madame Méliès?
Hugo surpreendeu-se com o palpite certeiro de Etienne, mas depois concluiu que tio Georges não era um indivíduo fácil de se presentear. Já tinha idéia do que comprar para tia Jeanne, mas para tio Georges... O que dar para um fabricante de sonhos? Que presente seria bom o suficiente para um mágico?
— Ainda não. Não sei o que poderia ser...
Etienne olhou os títulos que Hugo estava levando e sorriu.
— Acho que você já deu um presente incomparável a eles, Hugo. Mas se é tão importante pra você, qualquer coisa escolhida com amor por você alegrará Monsieur Méliès, e também Madame. — tamborilou sobre o livro de Jules Vernes — Vejo que já escolheu o de Isabelle.
Hugo pegou os livros de volta e ficou pensativo, as engrenagens de sua mente funcionando a mil.
— Etienne — perguntou por fim — e se eu desse algo feito por mim mesmo?
— Acho que eles gostariam mais ainda, Hugo.
— Ah! Eu tenho que ir!
— Bonne chance! Espere só um momento antes de sair derrubando mais pessoas por aí... — Etienne afastou as mangas do paletó e mostrou as mãos vazias para Hugo. Com um floreio, apareceu um pequeno pacote azul escuro com estrelas douradas. Etienne estendeu-o para Hugo.
— Aprendi mais um truque. Tive a intuição de que o encontraria por aqui, e veja só, a sorte estava ao meu lado! Tome.
O garoto ficou sem graça. Sequer pensou em comprar um presente para Etienne, e eis que recebia um do próprio.
— Obrigado, Etienne! Não comprei nada pra você, mas-
— Não se preocupe, Hugo, não estava esperando nada em troca. Mas se um dia o Professor Alcofrisbas me der seu autógrafo ficaria mais do que feliz.
Hugo se lembrou do que tio Georges havia dito aquela noite na Académie du Cinéma Français e sentiu que corava. Sorriu embaraçado. Etienne empurrou o pacote para as mãos de Hugo e sorriu.
— Já pode correr; você ainda tem muito o que fazer, certo?
Hugo se lembrou dos presentes que precisava construir e assentiu vigorosamente. Apertou os livros contra o corpo e segurou o presente com todo o cuidado do mundo.
— Obrigado, Etienne. — agradeceu novamente.
Etienne levantou de leve a boina e piscou novamente.
— Feliz Dia de São Valentim, Hugo.
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N/A: Lembro-me da decepção que senti quando assisti Hugo e vi que Etienne, um dos personagens mais legais do livro, tinha sido limado do roteiro. Eis que um belo dia surgiu essa idéia, que deixei cozinhando até a data certa. Acho que seria algo que Etienne faria.
Happy Valentine's Day!
