Os Herdeiros do Olimpo
SINOPSE: Gregos e romanos nunca se deram muito bem, e mesmo que eles se tolerassem agora, ainda haviam motivos de conflito entre os dois grupos de semideuses. Quando um antigo perigo volta a assombrar e ameaçar o mundo moderno, a única chance de sobrevivência é que semideuses de ambos os lados trabalhem juntos, deixando suas diferenças de lado para salvar o mundo.
Capítulo 1 - Lembranças Amargas
POV Annabeth
Andar por Nova Roma era minha nova coisa favorita para se fazer. Toda a arquitetura era fantástica. Os prédios clássicos, como o Coliseu ou a Casa do Senado, com suas colunas de mármore e majestosas cúpulas... Era quase calmante.
Depois da guerra dos titãs eu tinha sido nomeada arquiteta oficial do Olimpo, e com prazer eu tinha aceito esse emprego dos sonhos, redesenhando cada prédio e construção, dando o máximo de mim. Minha mãe tinha ficado satisfeita com o resultado final, assim como os deuses, e eu não poderia ser mais grata pela oportunidade.
Ainda assim... mesmo depois de dois anos convivendo com romanos, Nova Roma ainda me impressionava.
Fui até um dos quiosques de bebidas e pedi um chocolate quente. O velho semideus dono do quiosque, Sr. Barnes, me deu a bebida quente com um sorriso.
— Está um lindo dia, não é, senhorita Chase? — ele perguntou.
Eu assenti para ele, meu sorriso só durando um segundo. — Sim, Sr. Barnes. Obrigada pelo chocolate.
Lhe paguei em dracmas, que graças ao nosso novo acordo com a Legião, agora eram aceitas em Nova Roma. Ele agradeceu e eu tomei meu caminho, indo para o Aqueduto.
Eu gostava de ficar perto de água. Principalmente água do mar. Se eu não estava em atividade no acampamento, eu sempre ia para alguma das principais fontes de água por perto; ou o Aqueduto em Nova Roma ou a praia nos limites do Acampamento Meio-Sangue.
Ficar perto ou rodeada de água me acalmava. Me dava um pouco de senso. Mas também fazia meu coração doer, porque inevitavelmente eu lembrava dele.
Percy Jackson, meu namorado, que se sacrificara para salvar todos no acampamento meio-sangue. Para salvar a mim.
Engoli em seco enquanto as memórias me assaltavam.
Enquanto o gigante raivoso era puxado para dentro da areia, caindo num buraco que parecia não ter fim, eu observei.
Eu estava perto demais, mas minha mente calculava mil e uma formas de chegar perto de Percy, que estava atrás do gigante, antes que fosse tarde.
Eu nunca deveria ter ficado longe dele. Deveria ter lutado ao seu lado, distraído e derrotado o gigante com ele.
Mas eu estava muito longe dele agora, e meu instinto me dizia para sair dali o mais rápido possível.
O monstro logo foi sugado mais pra dentro, arranhando e tentando segurar a areia sem sucesso. Ele berrava de raiva, e eu me esquivava de suas mãos ainda tentando pensar num jeito de chegar até Percy.
Então, quando finalmente percebeu que ele não conseguiria se segurar, ele olhou para Percy e berrou:
— Eu não irei sozinho!
Pensando que ele queria levar Percy, eu fiz um movimento para me aproximar de Percy, achando que o gigante estava distraído.
Mas não era Percy que ele queria.
Vi suas mãos muito tarde, prontas para me agarrar e me puxar com ele para o abismo que o sugava.
Antes que eu pudesse reagir, porém, fui empurrada com força pra trás.
O empurrão foi tão forte que eu caí a pelo menos uns três metros de distância das mãos do gigante. Salva. Olhei atônita na direção do gigante e vi que ele tinha agarrado Percy no meu lugar.
— Percy! — eu gritei, querendo me aproximar, mas mãos desconhecidas me seguraram no lugar. — Me soltem!
Era a vez de Percy agarrar a areia, enquanto o gigante o puxava para baixo. Sua espada não estava em lugar nenhum a vista, e meu coração disparado me deixou em desespero.
— Annabeth!
— Percy! Me soltem! Precisamos ajudá-lo!
Ninguém me respondeu, e no último segundo, vi os olhos verdes do meu namorado me olhando com amor e resignação enquanto ele murmurava. Eu não ouvi por causa da distância, mas consegui ler seus lábios.
— Eu sinto muito. Eu te amo.
E diante dos meus olhos, meu namorado foi sugado para um buraco negro de areia, que se fechou assim que ele e o gigante sumiram.
Eu tinha certeza que meu grito de terror pôde ser ouvido por toda Nova Iorque.
Balancei a cabeça e enxuguei as lágrimas enquanto olhava para as águas calmas do Aqueduto. Eu nunca conseguiria tirar essa imagem da minha cabeça. Nunca.
Aqui estava eu, três anos depois do acontecido, ainda chorando por ele.
Todo mundo tinha ficado desolado, é claro. Percy era o maior herói dos últimos tempos, um semideus extremamente poderoso, e muito querido entre todos os campistas. Seu "desaparecimento" tinha sido um choque pra todos.
Lembro que não muito tempo depois que ele foi sugado, quando eu ainda cavava a areia, desesperada, sem saber como ele poderia simplesmente sumir, com todos me dizendo pra me acalmar, todos tentando me fazer sair da praia... Lembro que o mar se agitou. Trovões soaram e a terra tremeu.
Lembro de um tremor tão forte que todos paramos e olhamos para o mar, sabendo muito bem o que estava acontecendo.
Poseidon tinha ficado furioso. Por uma semana, os mares em todo lugar do mundo estavam tão agitados que nenhuma embarcação navegou. Tornados e furacões, tremores de terra em lugares que nunca tinham sentido a terra tremer.
E então, nada. Poseidon passou de raivoso para dormente. Nada acontecia. A humanidade estava aliviada, depois de tantos desastres, mas eu sabia melhor. O deus do mar estava de luto.
Eu chorei mais nessa segunda semana do que em qualquer outra. Nico tentou me convencer que Percy estava vivo, que ele não conseguia senti-lo no Submundo, o que era uma boa coisa, mas então descobrimos onde o buraco tinha levado Percy.
Tártaro.
Meu namorado tinha sido sugado para o Tártaro.
Almas de semideuses mortos no Tártaro iam para o mundo inferior? Nico não sabia dizer. O próprio Hades não tinha certeza. O Tártaro era um lugar onde os deuses olimpianos não podiam ir. Nem eles tinham como saber se Percy estava vivo. Não enquanto ele estivesse lá.
Eu ainda mantive as esperanças. Ele era forte, era um lutador. Ele sairia de lá, claro. Eu tinha fé em Percy Jackson.
Mas um mês se tornou um ano, e então dois, e agora, três. Eu não sabia se ainda podia me segurar no fino fio de esperança que tinha me sustentado até agora.
Mas será que eu tinha escolha?
Nico di Angelo quebrou minha linha de pensamento sentando ao meu lado na passarela do Aqueduto.
— Chocolate quente do Barnes? — ele perguntou, apontando para meu copo.
— Sim. — eu tomei mais um gole e estendi para ele. — Quer um gole?
— Não, obrigado.
Eu assenti e ambos olhamos para a água tranquila juntos e em silêncio por um tempo.
— Também sinto falta dele. — Nico falou.
Eu suspirei, sabendo que ele falava sério. Percy era o melhor amigo de Nico. Ele o tinha treinado, tinha acabado com o 'preconceito' que muitos campistas tinham por ele ser filho de Hades. Nico era grato a Percy por todas as coisas que ele tinha feito por ele. Depois de mim, Nico foi o que mais precisou ser consolado quando Percy sumiu.
Ficamos em silêncio por mais um tempo, até que o por do sol começou a se destacar no horizonte.
— Eu na verdade vim te buscar. O jantar hoje será com todos juntos. Temos Capture a Bandeira contra os romanos hoje, lembra?
Eu terminei meu chocolate quente e assenti pra ele.
— Lembro.
— Ótimo. — Nico levantou e me ofereceu uma mão. — Então vamos chutar a bunda desses romanos. Pelo Percy.
Eu olhei para ele enquanto ele me dava um sorriso de compreensão e simpatia. Olhei para a água mais uma vez, uma imagem de Percy sorridente enquanto ganhava um jogo de Capture a Bandeira passando na minha cabeça como um flash.
Aceitei a mão de Nico e me levantei.
— Vamos lá.
Saímos do Aqueduto e eu joguei o copo vazio no primeiro lixeiro que consegui encontrar. Deixamos os limites de Nova Roma e entramos no grande pavilhão comum que ficava entre os dois Acampamentos, onde várias e várias mesas estavam espalhadas, romanos e gregos já sentados espalhados, conversando antes do jantar.
Fui até a mesa principal, na frente, uma grande mesa retangular que era reservada para as figuras mais importantes dos Acampamentos. O Sr. D. estava fora, como sempre, então ali já se sentavam Rachel, Quíron, Thalia, e todos os conselheiros de chalé do Acampamento Meio-Sangue.
Além dos representantes gregos, tínhamos os dois pretores do Acampamento Júpiter, Reyna e Jason, o áugure deles, Octavian, e os centuriões das coortes romanas. Era uma mesa cheia.
Depois de dizer algumas palavras, Quíron passou a palavra para Reyna, que desejou a todos – romanos e gregos – um bom jantar e sorte para o melhor time de semideuses no Capture a Bandeira.
Um brinde, e estávamos todos comendo.
Nosso lado da mesa, no entanto, estava meio silencioso. Quíron, Rachel, eu e todos os conselheiros comíamos quietamente, pensando na cadeira vazia do final da mesa...
A cadeira que deveria estar sendo ocupada pelo filho de Poseidon.
E estamos de volta!
Espero que gostem desta nova história. Se você não leu "O Filho do Mar", pode ficar perdido em algumas coisas, mas não é obrigatório lê-la pra entender esta. ;)
As postagens serão aos sábados, semanalmente.
Não esqueça de comentar!
