—CAPITULO UM: O brilho na floresta
O resumido grupo de alunos que ficou para o natal em Hogwarts, estava agora reunido no salão principal, jantando. Apesar de toda a tristeza que cobria o castelo desde o ano passado, o falatório crescia cada vez mais no salão, de modo alegre e acalorado.
Porém, sentado na soleira da escadaria de entrada ao castelo, alguém parecia não estar atraído pelo calor do salão principal. Olhava pensativo, como se buscasse algo além da neve que cobria os terrenos e acumulava-se sobre sua cabeça e ombros.
A face pálida, marcada por profundas olheiras ao redor dos olhos castanhos, opacos, sem vida. Os cabelos caiam desgrenhados e sujos por sobre os ombros, indo até as costas. Parecia anormalmente magro, devido a má alimentação dos últimos dias.
Então, escutou o som de passos saindo do salão principal. Não era a manada de alunos de costumo. Era apenas uma pessoa. Olhou brevemente por cima do ombro de viu uma garota de cabelos ruivos e olhos castanhos, que tinha um casaco jogado sobre o ombro e um bolinho na mão.
Virou novamente o rosto para frente e escutou atentamente os passos se aproximando. Escutou um som que parecia vagamente um "oi Pedro", meio abafado e virou o rosto.
Não pode deixar de esboçar um sorriso. A jovem ruiva agora tentava colocar o casaco pelo avesso, enquanto prendia o bolinho entre os dentes. Apiedando-se dela, levantou-se e ajudou-lhe a vestir o casaco, antes de sentar-se novamente.
—Opa! Valeu!—Sorriu e tirou o bolinho da boca, mastigando a parte mordida e estendendo o doce para o amigo.—Tirei a parte nojenta. Quer uma mordida?—O jovem olhou-a com uma sobrancelha erguida e balançou a cabeça negativamente.—Você não apareceu no salão para comer. Deve estar com fome, não?—Um novo aceno negativo.—Então...posso ficar aqui? Ou você vai ter mais um daqueles momentos de "me deixa pois quero ficar sozinho"?
—Não vou esconder...—Disse o jovem Pedro, voltando a olhar a neve que cobria os jardins.— gostaria de ficar sozinho...mas sente-se...faz tempo que não nos vemos...Gillian...
—Faz muito tempo mesmo, não é?—Indagou Gillian, sentando-se ao lado do amigo, ainda mordendo o bolinho.—E pelo jeito você não melhorou nadinha...e nem adianta me olhar com essa cara, é verdade!—Resmungou, quando o garoto olhou-a com censura.—Da ultima vez que eu te vi, você estava com sua namorada. Achei que ela poderia levantar seu animo...—e então, com um sorriso maroto, sussurra.—ou outras coisas.—e pigarreou, voltando ao tom normal.—mas pelo jeito, acho que não.
—Não tive como melhorar...ainda continuo tendo aqueles pesadelos...não parece...que vão parar...—balançou a cabeça freneticamente para os lados, como se aquilo fosse afastar os pensamentos de sua mente.—Encontrei Ashley um dia desses...fugindo do Filch...não disse nada diferente do que você disse...—E afastou o cabelo da frente do rosto e coloca-o atrás da orelha.
—Acho que vou me arrepender de perguntar isso, porque normalmente você não diz nada ou diz algo bem deprimente mas...—Respirou fundo, esticando as pernas.—E aí? Como vai? Quais as novidades? Como passou de festas?
Novamente, silencio. Gillian atirou o ultimo pedaço de bolo na boca e encarou o jovem, que parecia não ter escutado a pergunta. Então, soltou um suspiro e começou a responder, olhando para os próprios pés.
—Vou do mesmo jeito. Novidades? Acho que não. As festas passei de plantão no ministério...para ocupar minha mente...
—Cara...—Disse Gillian, olhando para o amigo, com as sobrancelhas erguidas.—se você continuar assim, vai envelhecer muito rápido. Ou até morrer de depressão.—Balançou a cabeça negativamente e deu uns tapinhas carinhosos nos ombros de Pedro.—Olha, eu sei que você está meio que sofrendo...mas vamos...para todo na vida tem um jeito.—apertou-lhe carinhosamente o ombro e sorriu.—alias...—passou as mãos pelas costas dele, para tirar os flocos de neve.—você não está com frio?
—Frio?— dá de ombros, com o olhar ainda fixado a algum ponto à diante.— Não...mas se tiver, pode entrar.
—E deixar meu amiguinho aqui? Desconsolado, depressivo, precisando de companhia?—Disse Gillian, sorrindo de leve, mostrando a língua.—Nunca! Quero ir para o céu, esqueceu?
O jovem pensou em forçar uma risada, mas algo lhe chamou a atenção. Foi como se uma corrente elétrica tivesse passado por seu corpo. Levantou-se de supetão, quase escorregando na soleira. Esquadrinhou a área com o olhar sério, procurando a energia que começava a emanar.
Sabia que algo ruim estava para acontecer. Tinha um mal, ou melhor, um péssimo pressentimento sobre aquilo. Desceu as escadas pulando de dois em dois degraus e já estava pronto para correr para a floresta, quando a voz de Gillian alertou-lhe algo.
—Hei...q...que foi? —Gillian levantou-se de sobressalto, sem entender o que acontecia.
Não poderia deixar-la ali. Não sabia de onde a energia estava vindo. Poderia ser perigoso deixar Gillian desprotegida. E, teimosa do jeito que era, iria seguir-lhe de qualquer jeito.
—Venha! Temo que algo ruim esteja acontecendo...—Murmurou as ultimas palavras, esperando Owens.
—O que?—Gillian descia as escadas rapidamente, tomando cuidado para não escorregar.—O que houve, Pedro!—Sua voz demonstrava sua aflição.
—Ainda não sei...—O jovem mordeu o lábio inferior.
Sem esperar mais nenhuma palavra, Pedro adentrou pela grossa camada de neve, tentando abrir uma vala, com dificuldade.
—Para onde estamos indo? Não é melhor chamar alguém? Algum professor, sei lá?1—A jovem acompanhava Pedro, ainda aflita.
—Talvez não haja tempo...—falava apressado, sem olhar para trás, ainda esforçando-se para abrir caminho na neve.
Então, Pedro parou bruscamente e olha para os lados, mordendo o lábio inferior.
—É arriscado...—Murmurou o jovem, concentrando-se.—mas não tenho tempo...—Então, uma fina aura laranja formou-se ao redor do corpo do garoto e a neve ao seu lado começa a derreter.
A jovem sobressaltou-se ao ver a aura laranja e o calor que emanava do amigo. Ainda assustada, olhou ao redor, vendo a neve derreter, esperando alguma resposta. Olhou o jovem, balbuciando algo parecido com "como".
—Não temos tempo para explicações agora...—Disse Pedro, olhando brevemente por cima do ombro, notando as palavras balbuciadas pela amiga.—vamos...
E tornou a andar. Passos largos, abrindo facilmente o caminho pela neve que derretia a sua frente. Gillian seguia logo atrás dele. Havia decidido não falar mais nada, para acabar não atrapalhando. Procurava pelo chão, algum indicio que pudesse ajudar a desvendar o mistério. Pegadas, rastros. Mas não havia nada.
—A energia diminuiu...—Murmurou Pedro, parando bruscamente. Sabia onde a energia estava agora. Havia concentrado-se num único ponto. Levou o olhar mais adiante e mirou a tenebrosa floresta negra à frente.
Naquela estação do ano, a floresta parecia ficar ainda mais tenebrosa do que já era. As arvores sem folhas estalavam fortemente, dando um ar fantasmagórico ao local.
—Você não...—Murmurou Gillian, olhando para Pedro e depois para a floresta mais a diante.—está pensando em...ir na...na floresta, não é? Ela se chama floresta proibida.—E deu ênfase a palavra "proibida"—sabe...não é a toa que ela tem esse nome.
—Aprendeu a ler pensamentos, Owens?—Olhou por cima do ombro, um sorriso irônico delineado em seus lábios. Virou-se, novamente sério e começou a andar na direção da floresta.—Não temos tempo para regras agora...vamos...
Gillian tentou contestar, mas nenhum som saia de sua boca. Quando viu que já estava ficando para trás, soltou um muxoxo e apertou o passo, até emparelhar com o jovem.
Não demorou muito, já estavam na orla da floresta, agora dez vezes mais assustadora que antes. As altas árvores de copas nuas, estalavam seus galhos, parecendo tão ameaçadoras quanto o salgueiro lutador.
Owens sentia uma pontada de medo em seu coração. Nunca esteve na floresta antes e sempre ouvira histórias macabras sobre o local. Olhou que novamente estava sendo deixada para trás e correu até o encontro do amigo.
Na floresta, a neve restringia-se a uma fina camada cobrindo o chão, por causa dos galhos das arvores. Por dentro a floresta parecia um tanto sobrenatural. Os galhos estalavam a cada sopro do vento.
—Ai!—Gritou Gillian, quando um estalo particularmente mais alto, soou pelo local. Deu um pequeno sobressalto e agarrou-se ao braço do amigo, tremendo.
—Não tenha medo...—Murmurou Pedro, sem surpresa devido à reação da amiga.—foi só o vento.
—Você...—Gillian olhava aquele lugar sombrio, ainda segurando o braço do amigo—já tem idéia...do que a gente está fazendo aqui? Ajudaria se soubesse...
—Não faço a menor idéia...—notando que já não era necessário esforço para andar, fez a aura laranja sumir. Parou no meio de algumas arvores particularmente altas e mudou de direção— não sei o que está acontecendo, mas é algo muito...muito mau...
—Muito mau?—Disse a ruiva, virando-se rápido para encarar Pedro— Tem algo a ver com volde...você-sabe-quem?
—Provavelmente...—Resmunga, passando por cima de algumas raízes mais saltadas.—E pode falar o nome dele. Não tenha medo.
A floresta ia, gradativamente, ficando mais escura. A cada passo que davam, Gillian ficava mais nervosa. Vendo que a visão começava a escurecer mais, sentiu o coração disparar mais e mais. Rezava mentalmente, para que não fosse nada de importante.
Quando a escuridão ameaçava dominar tudo e lançar-los no breu, uma forte luz apareceu entre algumas arvores. Era branca, perolada e intensamente forte. Apesar da pureza de sua cor, ela exalava maldade. O jovem sentiu um calafrio passar por seu corpo, como se tivessem jogado-o num balde de gelo.
Olhou para o lado e notou que não foi só ele. Gillian demonstrava sinais de estar tendo calafrios. Sentiu os dedos dela apertarem com mais força seu braço.
—O...o que é...aquilo?—Fala baixo. Não para que a criatura brilhante não escutasse. Mas porque sua voz parecia entalada.
—Só tem um jeito de descobrir...—Sorriu Pedro. Mas não era um sorriso seguro. Era um sorriso hesitante, tremido, tentando passar confiança para Gillian.
Olhou novamente para a luz e engoliu seco, continuando o caminho até as arvores.
—Que ótimo jeito de descobrir.—Revirou os olhos e sorriu para tentar melhorar a situação.—Se você me deixar morrer, juro que volto para puxar seu pé.
—Não se preocupe. Não vou deixar-la morrer.—Falava sério, já quase adentrando a clareira.
Faltavam poucos passos. Adentrariam aquela luz que irradiava por toda a clareira. Ao saírem do meio das arvores, a luz diminuiu, resumindo-se a um fino contorno, ao redor de um homem alto, trajando uma batina negra, com o colarinho branco. Feições delicadas e rosto bondoso. Cabelos castanhos, caindo até as orelhas. Sorriu para os dois, ainda envolto pela aura perolada.
—Quem é ele?—Sussurrava Gillian, sem tirar os olhos do homem. Olhava curiosa e, em certo ponto, decepcionada. Esperava algo monstruoso, realmente assustador.
—Não sei.—Murmurou, andando cautelosamente na direção do homem. Esse, apenas observava-o, sorrindo.
—Vejo que recebeu meu chamado, jovem Ravenclaw...—Falava o homem, de modo sereno, sem tirar o sorriso calmo do rosto.
—Ele te conhece?—Olhou assustada para Pedro.
—Parece que sim...—Disse Pedro, ainda sério. Parou a uns sete metros dele, sem desviar o olhar.—Quem é você? Como me conhece?
O homem nada responde. Apenas alarga o sorriso e levanta a mão, revelando uma varinha entre os dedos. Na parte de trás do braço, contrastando com sua pele branca, estava tatuada a marca negra. O homem sussurrou algumas palavras e tornou a abaixar a varinha.
—Não vamos querer interrupções...—Disse ele, ainda sorrindo.—não é?
—O que ele quis dizer com isso?—Gillian ainda tentava entender a situação. Havia vislumbrado a marca negra de relance no braço dele, mas não tinha certeza.—Isso não cheira bem.
—Não sei o que ele quis dizer.—Falou sério, recomeçou a andar na direção dele.
A uns cinco metros do homem misterioso, Gillian bate contra uma parede invisível. Sentia o braço de Pedro soltar-se de seus dedos e viu que ele não havia batido em nada, apenas seguia na direção do misterioso homem.
—Mas o que diabos é isso?—Ela ficou parada, pondo a mão sobre a superfície à frente dela. Olhou para o lado e viu o amigo distanciando-se, sem perceber que ela ficara para trás.—Droga! Pedro! Pedro!—Começou a esmurrar a parede com força, tentando chamar-lhe a atenção.
Os gritos chamaram sua atenção. Olhou para trás e viu que Gillian havia ficado.
"Uma barreira!" Pensou, erguendo as sobrancelhas e olhando meio assustado para o homem.
Puxou a varinha rapidamente, apontando para seu rosto e falou, de modo ameaçador.
—Então era isso que queria dizer com "não vamos querer interrupções"...quem é você?
Novamente a pergunta não foi respondida. O homem abrandou o sorriso e começou a despir lentamente a batina, revelando por baixo, uma túnica negra, parecida com a de um monge. Então, atirou as vestes para longe e ficou encarando-o, ainda com o sorriso no rosto
—Eu? Que grosseria...não me apresentei...perdão...—Fez uma ligeira e desnecessária reverencia.—meu nome é Gilbert Egderland.
E, voltando a posição normal, estalou os dedos. O som do estalar ecoou por toda a floresta, parecendo magicamente ampliado. Então, na orla da clareira, onde Gillian estava, olhos vermelhos começaram a surgir.
—Não se preocupe...não vou deixar sua amiga sem diversão.
Olhou para trás e encarou, assustado, os olhos que surgiam. Gillian observava os dois, demonstrando não entender o que acontecia. Ainda esmurrava a barreira e gritar o nome do amigo. Ela virou-se para ver se havia alguma passagem e sentiu uma pontada furiosa de medo, ao encarar os olhos vermelhos.
—O que você quer!—Vociferou Pedro, ainda apontando a varinha para o rosto de Gilbert.—Liberte Gillian! Ela não tem nada haver com isso!
—Calma...não se preocupe...—Disse Egderland, ainda calmo.—não tenho objetivo de matar-la...só não quero que veja o amigo morrer tragicamente.
Olhou novamente para trás e viu Gillian puxar a varinha. Ela teria que dar um jeito até ele resolver a situação ali.
—Então acha que pode me matar? Nem em sonhos...—Sorriu, forçando confiança. Ergueu a carinha a cima da cabeça, mas, antes de pronunciar o feitiço, o comensal fez um movimento com a varinha e a arma de Ravenclaw foi atirada longe.
Antes que Pedro tivesse alguma reação, Gilbert fez um novo movimento com a varinha, atirando-o contra a barreira. O jovem colidiu e caiu com o rosto virado para baixo, sentindo uma forte dor no ombro.
—Acho? Não meu caro...—Um sorriso desdenhoso formou-se em seu rosto.—tenho certeza.
Gillian procurava manter os olhos atentos nas criaturas que se multiplicavam a sua frente e na luta que ocorria logo atrás dela. Milhares de criaturas negras, do tamanho de diabretes, com aspecto demoníaco, começavam a avançar, lentamente.
Owens tentava repelir-los com todos os feitiços que conhecia, mas era difícil acertar aquelas criaturas tão pequenas. A cada segundo ela ficava mais nervosa e atrapalhar-se mais com os feitiços. As criaturas, pressentindo o medo dela, aproximavam-se devagar, contemplando a vitima.
As criaturas que ela havia derrubado, começavam a se levantar e juntavam-se aos outros. Brandia a varinha em todas as direções, derrubando mais alguns, mas via que era inútil.
Pedro levantou-se lentamente, sentindo que todo o ar de seu corpo fora retirado. Apoiando-se na grama gelada, levantou-se, sentindo uma forte dor do lado do corpo. Parecia que havia levado um chute de um gigante. Encarou o comensal, com a vista turva.
—Oras...levantou...—Falou Gilbert, com deboche na voz.—pensei que fosse morrer no primeiro golpe. Ainda bem que não me decepcionou, Ravenclaw.
O jovem ainda encarava-o, tentando focar sua imagem. Sentia a língua formigar e os tímpanos latejarem. Tentava manter as pernas, no momento bambas, firmes. Correu o olhar pela área delimitada pela barreira, procurando sua varinha.
"Tenho que terminar logo com essa luta" pensava, ainda a procura de sua arma. "preciso ajudar Gillian".
Porém, antes que pudesse pensar em algo mais, sentiu um novo chute acerta-lhe o rosto. Sentiu o gosto de sangue na boca, antes de bater de cabeça na barreira, caindo desacordado.
Gillian corria, tentando livrar-se das criaturas. Encostou-se na barreira, pretendendo descansar, quando escutou um baque logo atrás. Olhou assustada e viu o amigo cair desacordado.
—Pedro!—Gritou, esmurrando a barreira. Ela tinha que fazer algo. Olhou as criaturas que se aproximavam e ergueu a varinha, respirando fundo. Bradou-a contra eles e derrubou-os no chão.
Sorriu orgulhosa de si mesma e voltou a olhar o amigo no chão. Concentrou-se num modo de entrar ali, sem dar-se conta de que algumas criaturas haviam acordado.
Sentia-se zonzo, incapaz de erguer um músculo se quer. Sentia o sangue escorrer pela língua até a garganta. Morreria engasgado com o próprio sangue? Seria tão facilmente derrotado por simples movimentos de varinha? Tudo aparentava que sim. Já sentia toda a força esvair-se de seu corpo, quando escutou a voz de Gillian.
"Não posso deixar-la morrer" pensou, no interior da sua mente."Prometi que a protegeria".
Abriu os olhos e, ainda no chão, correu o olhar em busca de sua varinha. Encontrou-a a alguns metros dele, no meio da grama. Lentamente, tentando ignorar toda a dor corporal, ergueu-se.
—Impressionante! Ainda resist...
Mas antes que Gilbert falasse algo mais, Pedro atirou-se para o lado, segurando firmemente a varinha. Aproveitando-se do choque do comensal, gritou um feitiço que jogou-o para longe, fazendo-o colidir contra a barreira.
—Gillian...—Murmurou, correndo até a barreira.—Gillian! Eu vou te ajudar!
A jovem sentiu algo bom crescer dentro dela ao ver o amigo novamente em pé. Mas não entendeu por que ele queria ajudar-la. Já havia derrotado todos as criaturas. Porém, antes que ela pudesse se questionar sobre os motivos do amigo, sentiu algo pular em suas costas, enfiando algo pontiagudo em seu braço.
Ela gritou de dor e vira o rosto para ver o que acontecera. Umas oito criaturas aproximavam-se dela, muito rápido, mas um deles havia adiantado-se. Gillian esforçava-se para livrar-se dele, mas uma das criaturas arrancara sua varinha e jogara-a longe.
Tentava tirar-los de suas costas, inutilmente. Debatia-se nas arvores, deixando marcas de sangue.
—Gillian! Gillian!—Bradava Pedro, batendo com força na barreira, como se quisesse quebrar-la.
Uma energia maligna cresceu às suas costas. Virou-se rapidamente e encarou Gilbert, que estava com o olhar furioso, totalmente diferente do rosto bondoso de antes. Sua aura erguias pedras e pedregulhos no ar.
Apontou a varinha para o jovem Ravenclaw, um brilho verde apoderando-se da ponta. Desejo de matar.
—Cansei de brincadeiras, Ravenclaw...—Sorri. Um sorriso maníaco e afetado.—você joga sujo...adeus...AVADA KEDRAVA!
Quando o lampejo verde saiu da varinha, o tempo pareceu passar em câmera lenta. Sem ação, o jovem só poderia esperar o feitiço da morte lhe atingir e aguardar Gillian no outro mundo.
Porém, uma luz lhe veio a mente. Parecia um sussurro. Uma voz feminina. Não soube como, nem porque, mas, de repente, sabia exatamente o que fazer. Ergueu a varinha e desceu-a, cortando o ar, bradando "portus!", sem saber no que aquilo lhe ajudaria.
Um raio azul partiu na direção do Avada. Um pedregulho interpôs-se entre os dois feitiços que colidiram, resultando numa explosão vermelha, que rapidamente preencheu a clareira, jogando para trás as criaturas negras, por serem muito leves.
Já muito ferida pelas criaturas, Gillian estava caída, desacordada no chão, com vários ferimentos pelo corpo. A explosão fez com que seu corpo rolasse um pouco para o lado, ficando de rosto virado para o chão.
Então, o clarão vermelho morreu. A poeira erguida pela explosão, assentou. Nenhum dos dois combatentes encontrava-se ali. Seus corpos pareciam ter evaporado. A clareira estava novamente silenciosa. O corpo das criaturas foi virando fumaça, lentamente.
A explosão atraiu muitos alunos e professores, que dirigiam-se até o local.
Lentamente, Gillian abriu os olhos, sem lembrar de muita coisa. Sentia todas as partes do seu corpo doerem. Demorou um pouco para se levantar e mais um pouco para perceber que os diabretes haviam sumido.
Demorou mais ainda para perceber que o estranho homem não estava lá. Sentiu-se brevemente aliviada. Tudo tinha acabado. Levantou-se por completo, sentindo uma forte dor na perna esquerda.
—Pedro?—Perguntou baixinho, correndo o olhar pela clareira, procurando o amigo.—Pedro!—Começava a gritar, com dificuldade. Ninguém respondeu. Começou a sentir-se aflita e insegura. Onde será que ele estava? Estaria bem? Ferido? Vivo?
Ainda gritava o nome do amigo, andando pela clareira, com dificuldade. Ao escutar o som e passos, sobressaltou-se, quase caindo no chão. Escondeu-se atrás de um arvore, deixando um rastro de sangue.
Rapidamente os vultos dos monitores, monitores-chefes e dos chefes das quatro casas apareceram. O diretor da sonserina, Slughron olhava para os lados, procurando algum vestígio da explosão.
Flitwick parecia anormalmente ansioso, como se outra explosão fosse ocorrer em alguns minutos. Sprout andava pelo local, junto com os monitores, que estavam assustados com o barulho. Apenas McGonagall olhava firmemente para Gillian atrás da arvore. Em passos firmes, caminhou até a garota e ajudou-a a ficar de pé.
—O que houve aqui, srta Owens?—Indagou McGonagall, procurando ser bondosa.
Gillian olhava a professora. Ela precisava saber! Abriu e fechou a boca muitas vezes, mas nenhum som saiu. Entrou em desespero, olhando freneticamente para os lados, procurando algo ou alguém.
Ao perceber o desespero da garota, a diretora sorriu bondosamente, o que, definitivamente, não combinava com sua face austera.
—Vá para a enfermaria, Owens. Descanse. Depois vá até minha sala em e conte o que houve. Filius!—Virou-se para o professor de feitiços que sobressaltou-se e foi correndo até elas.—leve-a até a enfermaria, por favor.
—Mas...mas...—Gillian olhava agora para a professora, assustada.—eu não posso ir...não posso ir! Eu preciso achar ele...preciso!—Dizia num tom alto e desesperado. As mãos tremulas e os olhos marejados, ameaçando desabar em lagrimas.
—Vamos procurar-lo, seja lá quem for, srta Owens. Agora, por Merlin!—Falou, exasperada.—Vá tratar desses ferimentos!—Novamente virou-se, na direção de Sprout e dos monitores.—Weasley, Granger. Mandem uma coruja para "aquele lugar" e avisem à Olho-tonto que precisamos da ajuda dele.
Gillian já não prestava atenção, parecia desolada. Apenas a voz esganiçada de Flitwick, chamando-a para acompanhar-lo, a fez voltar ao mundo.
