Ela ria sozinha, rodopiando na grama bem verde. Eu a observava, reparando como aquele movimento contínuo fazia seus cabelos loiros ficarem parecidos com o Sol. Involuntariamente, meus lábios se tornaram em um sorriso discreto, quase imperceptível. Ela percebeu. Não disse nada, mas parou de rodar e seus olhos verdes tinham um brilho forte que a deixavam com um ar de criança levada. Eu gostava. Ela se abaixou, arrancou da terra uma flor amarela e a colocou atrás da orelha. Ia andando na minha direção, com seu sorriso cúmplice e um olhar de quem tem muito a dizer. Então, viu um cachorro vira-lata passando a alguns metros de distância. Na mesma hora, virou seu pescoço e chamou o cachorro, sorrindo, aquela alegria de criança voltando. Correu atrás dele, o pegou e começou a brincar com o animal, ignorando completamente minha presença. Não agüentei. Comecei a rir, uma risada sonora, estridente, como talvez, antes dela, eu jamais havia dado. Levantei, e a passos curtos a alcancei e a abracei forte. Ela se assustou com minha ação tão repentina e inesperada, coisa rara vindo de mim, sempre muito reservado. Aos poucos ela foi se encaixando em meus braços, deitou sua cabeça no meu ombro e eu pude ouvir os batimentos do seu coração se misturando aos meus. Fechei meus olhos, sentindo aquele perfume doce exalando. Ninguém nunca entendeu muito bem essa felicidade infantil dela. Eu também não. Mas isso nunca me impediu de a amar.
- Becky e Vicente
