Avisos:
Essa fic é totalmente humorística e eu mudei um pouco o rumo da história, de modo que eu possa trabalhar com ela ao meu bel-prazer.
Pode ser que o estilo de humor não agrade todo mundo, mas...
Espero que gostem!
Filosofia Etílica com Ênfase em Sakê
Capítulo I – A descoberta.
Eu ouço barulho. Um barulho muito alto vindo do andar debaixo. E cheiro de queimado. É, cheiro de queimado. Não é preciso olhar no relógio para saber que horas são, porque é sempre igual. Maldito seja. Maldita seja a hora em que eu vim pra cá. Outro grito e eu tenho a certeza de que não conseguirei dormir novamente – logo ouvirei o barulho de coisas sendo quebradas e mais gritos. São sete e vinte e três da manhã, não faz tanto tempo assim que eu fui dormir.
Ah, claro. Desculpe a minha falta de cortesia, vocês devem estar se perguntando o que diabos está acontecendo. Pois bem, direi a vocês. Esse é só mais um dia comum, no lugar onde agora eu chamo de casa. Isso talvez soe estranho aos ouvidos de qualquer um – às vezes até aos meus -, mas é a verdade.
A pensão Funbari é um bom lugar para se ficar, quando você não tem que conviver com certos tipos estranhos como esses. Agora, por exemplo, eu estou indo para o banheiro e tenho certeza de que aquele ainu idiota vai estar lá, como sempre, passando gel naqueles malditos cabelos para deixá-los de pé. Eu nunca fui uma pessoa paciente, de fato. Então essas manhãs não costumam começar bem – e o cheiro de queimado que está vindo da cozinha não ajuda.
"Oe, Horo." Bato na porta com delicadeza. Apesar de ter acordado de péssimo humor, eu ainda estou sendo educado. Sabe, faz parte.
"O que é?" Ele pergunta, mal-humorado. Aliás, ultimamente tenho notado um humor quase negro pairando sobre ele. Vai ver, o chinês não está satisfazendo os desejos dele – eu sempre desconfiei dos dois.
"Vai demorar muito?" Pergunto, suspirando. Eu ainda estou calmo. "É que eu quero usar o banheiro e advirto que não sou o único."
"Por que você não senta e espera sua vez como qualquer outro?" Ele provoca. E é aqui que começam as brigas do dia. Cinco minutos depois, um Horo flambado sai correndo na direção das termas, com o intuito de apagar as chamas dos cabelos. É, eu não costumo ficar de bom humor quando sou acordado.
Quando entro no banheiro, me deparo com coisas jogadas no chão. Um tubo de pasta de dente consumido até a metade, um pente cheio de fios de cabelo azul, uma loção pós-barba, escovas de dente e um pote de lubrificante (que eu não ouso a perguntar de quem é, apesar de ter as minhas suspeitas). Bem, eu não gosto de bagunça, mas nada disso é problema meu. Apenas me ocupo em fazer minha higiene diária e ignoro completamente o fato de o resto da casa estar esperando para fazer o mesmo. Que caras estressados, não sabem esperar a própria vez?
"Por que é que você tem que demorar tanto?" Ren, o chinês esquentadinho, diz entre dentes. É, a noite não deve ter sido boa.
"Ao contrário de você, que passa laquê no cabelo, eu preciso passar um tempo penteando os meus para que não embaracem. Além disso, a higiene matutina é muito importante para o restante do dia." Eu sorrio, ao ver a irritação dele. Sempre que Ren fica irritado, seu cabelo parece crescer, tomando proporções animalescas. Eu sempre me pego perguntando se isso é capaz de machucar. Bem, não serei eu a descobrir. Apenas escuto ele pensar algo como o fato de eu ser irritante e sorrio ainda mais. "A noite não foi boa, é?"
"O quê?!" Ele exclama. Bingo. Quando Ren fica corado, é sinal que o atingi em seu ponto fraco. Sinto que se fosse qualquer outro – exceto Anna -, ele teria avançado com sua Kwan Dan de maneira furiosa. Entretanto, ele sabe que teria o mesmo destino do outro amiguinho idiota e se limita a bater a porta do banheiro na minha cara. Carinha mais estressado esse, não? Bem, não importa.
São quase nove horas (é, acho que demorei um pouco no banheiro) quando eu chego ao andar debaixo, para tomar café. Incrivelmente, o cheiro de queimado está impregnando ainda mais a cozinha do que naquela hora. Acho que o Yoh tentou fazer o café da manhã de novo e ele não é lá muito bom nisso. Quero dizer... ele sempre deixa as panquecas queimarem e os biscoitos passarem do ponto. Mas ele não costuma ser tão idiota a ponto de tentar fazer o café da manhã duas vezes no mesmo dia. Só então eu reparei que o topetudo não estava em lugar nenhum – era ele quem costumava salvar o dia.
"Hey, onde está o Ryu?" Pergunto, enquanto encaro as panquecas queimadas e os biscoitos passados do ponto. Eu tinha certeza que, se eu comesse alguma coisa daquela mesa, teria que passar o dia todo no médico – e isso não é lá uma das melhores opções quando o médico mais próximo de você é um necromante maluco que usa a própria esposa morta como assistente e espírito guardião. Não mesmo.
"Foi convidado para participar de um programa de culinária, portanto não estará aqui essa semana." Essa voz. Ela é assustadora. Não me interprete mal, ela não me causa medo, mas sou uma pessoa cautelosa. Quando eu olho na direção da escada e vejo Anna parada nela, com os braços cruzados, eu penso que talvez não devesse ter feito aquela pergunta. Ela não está de bom humor (ela nunca está) e o fato de eu não poder ler a mente dela – ou escutar os meus próprios pensamentos naquela bagunça toda – não ajudava muito.
"E o Yoh é quem vai cozinhar?" Pergunto, incrédulo, e só depois de tê-lo feito é que eu reparo o quão infeliz foi o meu comentário.
Vejam bem, existem poucas coisas no mundo que são capazes de me causar receio. Acho que uma delas é ver Anna nervosa. Não me agrada, nem um pouco, a visão de uma mulher nervosa. Mas Anna nervosa é muito pior do que qualquer mulher. Por isso, ninguém aqui ousa a contrariá-la, apenas eu. Sabe como é, não gosto de seguir ordens e sim de dá-las. Mas isso não significa que eu não tenha juízo. Bem, talvez signifique; acho que acabei de descobrir isso.
"Se você acha tão ruim, cozinhe você." Ela rebateu, daquele jeito tão típico. Sabe, eu não gosto quando as pessoas me respondem, não é algo que me agrade. Eu, às vezes, gostaria de conseguir ficar indiferente a isso, mas não consigo. É mais forte que eu.
"Claro, porque a madame não pode sujar suas mãos. Aliás, duvido muito que consiga fritar um ovo sem explodir a cozinha." Eu respondi. Isso se chama imprudência.
"Hao, que acho que você não—" Eu me virei para Yoh, já sabendo o restante de sua frase. Ele diria que eu não deveria ter dito isso quando Anna está nervosa, eu sou capaz de ler a mente dele. No entanto, antes que eu possa formular uma resposta, eu senti algo muito forte e muito pesado acertar o meu rosto.
Alguns poderiam pensar que se tratava de um livro ou de um vaso, mas era muito pior. Ouvi um murmúrio dos amigos de Yoh e eu sabia que estava certo quando tentei me erguer – é, eu havia voado longe.
"Pff, você não muda." Massageei o rosto levemente e sorri. Eu sei que deveria ser mais prudente em se tratando de Anna. A lendária esquerda dói. E muito. Mas, apesar do receio, é muito divertido irritá-la, acreditem. Só que eu não recomendo isso. Para ninguém. Vi que todos os olhares estavam direcionados para mim e para ela e encolhi os ombros. Mesmo que não pudesse ler a mente de Anna, eu sabia que a frase seguinte seria dela.
"O que vocês estão olhando?" Ela perguntou, de costas para todos. Depois, todos arrumaram algo para fazer – mesmo que não houvesse o que fazer, de fato – por medo do que pudesse vir a seguir. Eram incômodos alguns pensamentos, mas fazer o quê. Acho que terei de tomar café da manhã fora.
Ah, é nessas horas que eu sinto falta dos meus servos. Se ao menos um deles estivesse aqui, poderia pedir para que fosse até o Mc Donald's pegar algo para mim. Ouvi dizer que eles agora servem café da manhã, mas eu ficaria feliz com um número um com batatas grandes e coca-cola. Por falar em mordomias, os poucos servos que me restaram, como Luchist e Opacho, estão numa viagem junto com o Hanagumi – elas foram ressuscitadas depois de toda a confusão do Shaman Fight. Tenho inveja por eles terem ganhado aquelas férias no Caribe, penso que talvez devesse ter ido junto. Mas não. Eles realmente precisavam de férias de mim e de planos e eu de férias deles.
Droga de Shaman Fight, gostaria que voltasse a ocorrer logo. O Grande Espírito é mesmo um cara bizarro. Cancela o Shaman Fight justo quando estou tão próximo de conseguir realizar os meus sonhos. Patético. No começo fiquei mais nervoso, mas confesso que agora estou mais conformado. Quero dizer... a vida não é tão ruim assim nessa pensão. Nós brigamos bastante e tudo o mais, mas é divertido estar com todos eles. Encaro isso como uma espécie de férias prolongadas, eu acho.
Cheguei na frente do Mc Donald's, ótimo. São dez e meia, portanto eles estão abrindo o fast food ainda. Entro no estabelecimento e noto que ele está mais vazio do que de costume. Algumas pessoas parecem estar tomando café da manhã, mas não é nada muito relevante. Eu vou caminhando a passos curtos na direção do caixa, já tendo o meu pedido em mente e o faço, sem dar muita atenção para a pessoa que me atendeu.
"Um número um com batatas e coca-cola grandes e um mc duplo à parte." Pedi, enquanto olhava os novos brinquedos do Mc lanche feliz. Bonequinhos do Tom & Jerry, talvez o Yoh gostasse e parasse de tentar roubar os meus legos. "—Inclua também um Mc lanche feliz com o Tom." Finalizei o pedido. Eu não sei se foi o fato de eu estar sozinho e ter pedido tantas coisas ou se foi minha beleza estonteante, mas a pessoa que me atendeu não fala absolutamente nada. Passaram-se cerca de três segundos e eu podia ouvir pensamentos confusos, como se o maldito estivesse gaguejando até na própria mente. Então, perdendo a paciência que eu já não tinha, ergui os olhos.
Não. Não, não, não e não! Não é possível que esse cara tenha me seguido até aqui. Como era mesmo o nome dele? Kalim... não, esse era o cara que julgou o Horo-Horo. Radim... Talim... bah, que seja. O que diabos um juiz do Shaman Fight fazia trabalhando no Mc Donald's? Será que a situação da tribo Patch está tão feia assim? Mas bem, ao invés de atender ao meu pedido, ele ficou me olhando com essa cara de espanto, como se fosse a coisa mais anormal do mundo o shaman que, até então, queria destruir toda a humanidade, comer no Mc Donald's. Argh, não consigo entender essa gente.
"Será que dá pra me atender ou vai ficar só me olhando?" Pergunto, finalmente, ao notar que ele não tem pretensão alguma de se mover. Até mesmo os pensamentos dele estão complicados de entender, mas consigo captar algo como medo e muito medo. Coisas típicas.
"A-a-ah! C-c-cla-ro, s-se-nhor!" Maldita gagueira. Eu realmente detesto pessoas que agem desta forma. Se esse não fosse o único Mc Donald's das redondezas, juro que o explodiria junto com esse maldito juiz.
Cerca de cinco minutos depois, eu estava com todos os lanches e fui até a mesa, desfrutar do meu café da manhã. Uma vez ouvi dizer que essas cadeiras do Mc Donald's nos incitam a comer rápido, mas acho que furei essa teoria saindo dali depois de quarenta e cinco minutos. Fui até o caixa no intuito de pagar a conta, mas então me lembrei que havia esquecido a carteira em casa. Droga.
"Bem, vejo que a tribo está em decadência para mandar os juizes trabalharem em lugares como esse." Sorri, olhando-o. Eu tenho a ligeira impressão de que já o vi em algum lugar específico... "De qualquer modo, eu não tenho tempo para essas coisas. Diga, quanto foi, índio?"
"S-São 900 ienes, senhor!" Ele disse rapidamente. Muito familiar. Familiar demais.
"Sinto que o conheço de algum lugar, mas não estou familiarizado com seu rosto." Aproximei-me do balcão, encarando-o. "Seu nome é...?"
"Eu me chamo Talim e sou um dos 10 oficiantes¹!" Claro, eu sabia! Talim, era esse o nome dele. O cara da cafeteria onde eu tinha ido com Yoh.
"900 ienes?" Perguntei. Às vezes penso que meu olhar surte algum efeito nas pessoas. Deve ser minha beleza.
"Er..." Ele estava nervoso. "... agora me lembrei que estamos com uma promoção e você, como o milionésimo cliente da loja, não precisa pagar nada! Pode ser assim?"
"Mas que bom. Estou com muita sorte hoje." Fácil demais. Definitivamente, fácil demais. Saí da loja levando o bonequinho do Tom. Assim, Yoh não me encheria mais a paciência. Se quisesse legos, que comprasse os seus.
X
Eu chego em casa somente pela noite. Resolvi que ainda não estava pronto para encarar a comida de Yoh e almocei em qualquer restaurante que tinha pela região. Quando entro na pensão, não me surpreendo ao ver a algazarra e as garrafas de sakê espalhadas pelo chão. É, festas são bastante comuns por aqui, mesmo que a maioria delas não seja acompanhada de bebidas. Provavelmente eles descobriram onde o Ryu guardava o estoque, mas não faz diferença. Esse lugar é realmente decadente, se é que vocês me entendem. O garoto ainu está se atirando nos meus pés e dizendo coisas incompreensíveis – acho que levou outra bota. O chinês está quieto no próprio canto e Yoh está rindo das piadas de Chocolove. Rindo. Ele deve estar realmente muito bêbado.
Fazem cerca de três meses que eu estou morando aqui e isso se tornou algo quase comum, com a diferença que, nesta noite, Ryu não está aqui para chorar pelo fato de seu querido Lyserg ter voltado para a Inglaterra. Eu realmente não o entendo. Está na cara que Lyserg cai de amores por aquela garotinha dos X-laws – a tal da Jeanne -, mas ele continua insistindo nisso e chorando suas mágoas. Bem, isso não importa. Anna não está fazendo parte dessa maldita festa – ela é a única pessoa sensata nessa casa -, mas resolvo que estou cansado e vou direto para o meu quarto, dormir.
Espere, eu disse dormir?
Há algo errado aqui. Algo muito errado. Certo, existem duas opções válidas. A primeira: eu errei a porta do quarto e entrei no quarto da Anna. Algo muito provável, não fosse o fato de o teto ser decorado por estrelas e ter uma torre de legos que eu montei no canto. Então esta opção está descartada. A segunda opção: ela notou que o gêmeo mais perfeito sou eu. É, esta é uma opção válida, mas, se tratando de Anna – e com este olhar sério – resolvo descartar ambas.
"Tenho que perguntar o que você está fazendo no meu quarto, ou vai me dizer?" Tomo a dianteira, ao notar que o olhar dela está mais sério que o normal.
Ultimamente, tenho notado que Anna anda um pouco mais estranha que o normal. Não sei se é o fato de eu, somente agora, estar convivendo com ela ou se algo aconteceu. E, bem, ela engordou um pouquinho, mas isso é algo que eu jamais diria a uma mulher. Principalmente a uma mulher que possui um tapa tão forte quanto o da Anna. Ela suspira e sai das sombras do quarto, sentando-se na cama. Estranho que ela me chame para sentar ao seu lado, mas vou mesmo assim.
"O que houve?" Me arrisco a perguntar. Má escolha. Na verdade, péssima escolha. Porque, de repente, como se eu tivesse dito a pior coisa do mundo, ela desaba a chorar.
Vejam bem, se eu estivesse falando de qualquer outra garota, não seria problema algum, mesmo que eu tivesse feito alguma besteira. Mas estou falando de Anna, aquela que é conhecida como Rainha do Gelo, bruxa, dentre títulos piores. E é essa mesma Anna que agora está chorando na minha frente. Eu, o inimigo. Eu, o cara mau. Eu, Asakura Hao. E justamente eu, nunca soube como reagir diante dessas situações. Primeiramente, pensei em abraçá-la, mas acho que isso não seria a coisa mais lógica a fazer. Depois, pensei em consolá-la, mas consolar de que? Opto por apenas ficar em silêncio, mesmo que não seja a melhor opção.
"Você não se lembra, não é?" Diz ela, de repente, em meio aos soluços. Droga, é algo a ver comigo e não, eu não consigo me lembrar. Agora ela parece mais calma, mas eu sei que ela não está. Geralmente, essa fase é acompanhada de um tapa. Estou me preparando psicologicamente para recebê-lo.
"Me lembrar... de quê?" Pergunto com inocência, mas ela não compreende deste modo, eu acho. Seu olhar para mim é fuzilante, mas no instante seguinte, ela apenas suspira, apoiando as mãos no colo. Sinto que me arrependerei de ter perguntado.
"Eu acho..." Ela diz. E eu sinto que já estou começando a me arrepender. "... que eu estou grávida."
Ótimo, parabéns para ela. Ela está grávida e... espere, ela disse que está grávida?!
"O quê...?" As palavras saem da minha boca, antes que eu possa pensar em contê-las.
"É isso mesmo que você ouviu." Ela não tem coragem de repetir e eu não tenho coragem de pedir para que ela o faça.
Ok, vamos aos fatos. Ela aparece, uma noite, no meu quarto e diz que acha que está grávida. Mas Anna não diria isso para mim, não somos próximos. Claro, eu a queria – e ainda quero – como minha noiva, mas isso não significa nad... ah, droga. Droga, droga, droga. Estou começando a me lembrar. E, pelo semblante dela, acho que reparou nisso.
Deixe-me situar as coisas para que não fique nada vago. Eu cheguei nessa pensão há cerca de três meses e me lembro de ter havido uma 'comemoração' pelo fim do Shaman Fight. Não foi bem um fim, porque não há, de fato, um Shaman King. É apenas uma pausa para sabe-se lá Deus o quê. Mas bem, voltando ao que interessa.
Eu cheguei nessa pensão há cerca de três meses, e houve uma espécie de comemoração onde, deliberadamente, todos beberam. Todos. E quando eu digo todos, incluo Anna, eu e todos os demais – até mesmo Lyserg, que, na época, havia vindo para cá também. (Ele reclamou sobre o fato de eu estar aqui também, mas isso não importa agora.) – sem nenhuma exceção. Fosse pelo fato de não haver mais matanças; por não conseguir realizar os próprios sonhos; pelos desejos ou por qualquer outra coisa, ninguém se importou com o fato de ficar sóbrio, ao menos naquela noite. Quero dizer... ninguém aqui, além do Ryu, tem mais de dezoito anos (a minha idade em vidas passadas não conta), então as bebidas são sempre por conta dele.
Após a décima garrafa de sakê, eu não lembrava nem mesmo do meu nome. Eu só sei que, depois de muito comemorar por algo que eu nem me lembrava, resolvi que já estava na hora de dormir e subi para o quarto. Por infelicidade minha ou não, Anna havia bebido tanto ou até mais do que eu.
Essa parte ainda está meio vaga na minha mente, mas eu me lembro de ter visto um vulto negro sentado sobre a minha cama. E havia algo... Chocolate. Tinha algo haver com chocolate, eu tenho quase certeza. Essência de chocolate... incenso de chocolate... bolo de chocolate... Era algo do gênero.
Mas bem. Anna, mais bêbada do que eu, começou a dizer coisas sobre o fato de querer ser a Primeira Dama do Shaman King a qualquer custo – e que este seria Yoh. Ela também disse algo sobre estar solitária e que queria companhia. Depois disso, eu só me lembro de ter acordado com a maior ressaca da minha vida, mas há algo vago na minha mente sobre carícias e uma noite caliente, se é que vocês me entendem. Prefiro não entrar em detalhes, isso seria constrangedor, considerando que o cesto de lixo do meu quarto foi meu companheiro de vômito na manhã seguinte, pelo excesso de bebidas. Depois daquilo, eu jurei que nunca mais passaria da terceira garrafa – promessa que não durou nem um mês.
Vocês podem imaginar o aperto que eu passei ao me lembrar disso tudo, não é? Definitivamente, eu estava arrependido por ter feito aquela pergunta.
"Então você está insinuando que..." Tento formular uma boa resposta, mas ainda estou chocado por não me lembrar de nada. Droga, se fosse pra fazer, que ao menos eu me lembrasse. "... eu e você..." Maldita hora para perder a fala.
"É isso mesmo." Ela conclui, antes mesmo que eu possa pensar em algo melhor. Definitivamente, eu preferia um tapa. Aquilo era pior que um chute entre as pernas – e, acreditem, eu provei disso e não gostei.
"Mas e o Yoh?" Pergunto, na esperança de manter minha sanidade. "Ele também estava bêbado naquela noite, não?" É, eu estava desesperado.
"Ora, Hao, sejamos racionais." Anna começa, tomando seu semblante sério de costume. Estou realmente desesperado. "Estamos falando do Yoh. Do Yoh." Ela repete, para ter a certeza de que eu assimilei as palavras. Naquele instante, tenho a certeza da proporção do meu desespero. Quero dizer... ter um filho com essa idade não estava nos meus planos.
Não que não fosse algo bom, mas eu não consigo me imaginar como pai agora. Eu estava quase me tornando o Shaman King e, agora, estou quase me tornando pai. São duas coisas bastante distintas.
"E agora?" Pergunto, finalmente.
"Eu não sei." Ela responde com sinceridade.
"Anna? Hao?" Yoh aparece na porta do quarto, um pouco corado pela bebida e sorri. "Não vão descer para a festa?"
Olho para Anna e ela me olha de volta.
"Já estamos indo." Respondo por nós dois e ele acena positivamente com a cabeça, antes de descer. É, estávamos em uma enrascada.
Continua...
¹ -- Faz citação ao manga 57 no Brasil, onde Yoh e Hao vão tomar café juntos e, quando o Hao vai pagar a conta, o juiz fica tão chocado com a presença dele, que não consegue cobrar os pedidos. O Yoh acaba pagando o dele, mas detalhes.
N/A:
Ok, wtf.
Ontem eu estava com uma vontade LOUCA de escrever uma comédia e eu tinha essa idéia encubada há anos. Bem, saiu isso e confesso que amay. Me descobri em comédia, gente!
Bom, me sinto no dever de explicar o título. Estávamos eu e minha amada titia coala discutindo a esse respeito, até que surgiu ISSO. Ela disse que se tratava de uma frase de bar e que, quando um bêbado começa a ficar muito louco e falar coisas bizarras, se diz que é filosofia etílica em (o que quer que ele esteja bebendo). Como eu gostei, adotei! Obrigada, titia!
Eu ia postar só no dia do aniversário da minha mamãe, porque, bem, eu ia fazer de presente pra ela. Aliás, é um presente pra ela, só que adiantado.
E, cara, agradeço minha querida beta. Ms. Cookie, por ter betado e ter dado sua benção, dizendo que estava engraçado. Agradeço também à Raayy, meu chaveirinho, por ter opinado. Amo vocês S2
Espero que goste do presente, mamãe, porque ainda haverá uma segunda parte. Afinal, comédias são a nossa especialidade, não?
Te amo
Quero reviews, ou vocês morrerão de maneira triste e enfadonha, definhando em vossas camas!
