Laços de Família


Disclaimer: Jensen Ackles e Jared Padalecki não me pertencem. Eu não os conheço nem sei o que se passa com eles, isso tudo é fruto apenas da minha imaginação.

Sinopse: Jensen Ackles perdera tudo que tinha, tudo que importava: seu pai, sua mãe, sua estabilidade. Sua vida não era para ser desse jeito. E o culpado de tudo isso tinha um nome: Jared Padalecki. J2, PADACKLES, UA.

Beta: Capítulo lindamente betado por Ariathy - a quem eu ainda estou devendo uma fanfic, que sairá em breve, não se preocupe. u_u


Avisos: 1. Atenção, essa fic é slash, ou seja, relação homossexual masculina, se você não gosta, não leia. Se gosta, sinta-se à vontade para ler e comentar.

2. Contém lemon, isto é, relação sexual entre homens, se você é menor de 18 anos, é aconselhável que não leia, mas isso quem decide é você.

3. Essa fic é UA (Universo Alternativo)

4. O título da história é uma clara referência ao livro da Clarice Lispector, mas elas ficam só no título mesmo. Eu sequer li o livro, infelizmente.


Atenção: Sinta-se fortemente impelido a ouvir a música Hallelujah, na voz de Damien Rice, enquanto lê esse capítulo. ;)


Capítulo 1: In Memoriam*


-J2-

- Jensen, vamos, já está na hora. Eu não quero chegar atrasada. - disse a mulher, da porta do escritório de Jensen, sem entrar. Virou as costas e foi esperar pelo marido na varanda de casa.

Jensen não se deu ao trabalho de responder. Fazia tempo que já se falavam mais por educação do que por qualquer outra coisa. Apenas continuou vagando por seus pensamentos por alguns segundos, sentando na poltrona atrás da mesa em seu escritório. Depois de alguns instantes levantou-se, pegou o sobretudo em cima da cadeira e saiu. Realmente já era hora. Depois de dez anos, veria seu pai novamente. E pela última vez.

Flash Back

- O senhor vai fazer mesmo isso? - Perguntou Jensen ao pai, aproximando-se da porta, aonde o pai já se encontrava. Realmente não acreditava que ele estava saindo de casa.

O homem pousou as malas no chão e se virou para encarar o filho. Havia raiva e confusão no olhar do jovem. Jeffrey respirou fundo, aquilo era difícil para ele também.

- Jensen, você não é mais criança, por favor, meu filho, entenda. Eu preciso fazer isso. A vida que eu estava levando até agora não era uma vida de verdade. - Aproximou-se do filho e tocou seu ombro - Mas isso não tem nada haver com você, Jensen. Você é meu filho, eu te amo, isso nunca vai mudar. Mas meu casamento já acabou há muito tempo.

- Se você for embora, pai, eu não vou mais ser seu filho. Eu nunca vou te perdoar se você fizer isso. - Jensen disse emocionado, mas firme. Não iria chorar na frente do pai.

- Eu espero que isso não seja verdade, Jen, porque eu já estou fazendo. Espero que você me perdoe e me entenda um dia.

Jensen retirou a mão do homem de seu ombro e virou o rosto. Jeffrey voltou a apanhar as malas e se encaminhou até a porta. Deu uma última olhada em tudo, procurou pelo olhar do filho, mas Jensen continuou com o rosto virado. Suspirou e saiu. Deixava uma vida toda para trás. Mas começava uma vida nova ao mesmo tempo. Uma vida de verdade, em que ele poderia ser ele mesmo. Ao lado de alguém que amava com todas as forças. Podia ser um erro, um terrível engano, mas ele iria pagar para ver.

Fim do Flash Back

O carro parou na entrada do cemitério e o motorista desceu para abrir a porta para o Sr. e a Sra. Ackles. O casal saiu do carro, ambos de óculos escuros, elegantemente vestidos de preto, como mandam as regras de boa conduta para um funeral. Principalmente se for o funeral do seu pai e do seu sogro, no caso de Danneel.

Caminharam desde a entrada do cemitério até o local onde ficavam as covas, andando sobre a grama, de braços dados, até se aproximarem de onde o corpo de Jeffrey seria enterrado. Danneel tentava equilibrar-se em cima do salto alto enquanto caminhava apoiada ao marido. O caixão já estava no local, assim como os diversos amigos de seu pai. Velhos e novos amigos, e isso irritava Jensen profundamente. Por ele, estariam ali somente a família e os amigos mais íntimos, não essa corja toda com quem o pai convivera nos últimos dez anos. Mas esta foi uma das últimas vontades de Jeffrey, então não houve nada que ele pudesse ter feito. O jeito era suportar a presença daquelas pessoas indesejáveis pelas próximas horas, esperando sinceramente nunca mais ter de ver nenhum daqueles rostos nunca mais na vida. Principalmente o dele, do tal Jared Padalecki. Aquele homem era responsável por isso, não conseguia parar de pensar assim. Embora soubesse que isso era totalmente irracional.

I heard there was a secret chord

Eu soube que havia um acorde secreto

That David played and it pleased the lord

Que David tocava, e que agradava o Senhor

But you don't really care for music, do you

Mas você não liga muito para música, não é?

Well it goes like this the fourth, the fifth

E assim vai a quarta, a quinta,

The minor fall and the major lift

O acorde menor cai, e o acorde maior sobe,

The baffled king composing hallelujah

O rei frustrado compõe Aleluia

Jeffrey era ainda um homem jovem. Cinquenta e quatro anos. Mas um câncer geralmente não liga para idade. Não escolhe sexo, cor ou condição financeira. E infelizmente seu pai tinha sido diagnosticado com um câncer terminal seis meses atrás. Jensen recebera a notícia através de Jared. O que o deixara arrasado, no fundo, mas Jensen era orgulhoso demais para admitir. Principalmente para aquele homem. Então agiu da forma mais fria que pôde, e teimosamente se recusou a falar pessoalmente com o pai nesses seis meses. Jared jurou para si mesmo que nunca perdoaria o outro por aquilo, por que essa atitude fez Jeff sofrer muito nos seus últimos dias. Nem mesmo um câncer e a iminência da morte do pai fez Jensen mudar sua atitude em relação a ele.

Well your faith was strong but you needed proof

Sua fé era forte, mas você precisava de provas

You saw her bathing on the roof

Você a viu tomando banho do telhado

Her beauty and the moonlight overthrew you

A beleza dela e o luar arruinaram você

She tied you to her kitchen chair

Ela amarrou você à sua cadeira da cozinha

She broke your throne and she cut your hair

Ela destruiu seu trono, e cortou seu cabelo

And from your lips she drew the hallelujah

E dos seus lábios ela tirou um Aleluia

Jensen e sua esposa chegaram até o local. Cumprimentaram os presentes educada e friamente, deixando bem claro fazer aquilo somente por etiqueta. Sentaram-se próximo ao caixão. Estava fechado. Melhor assim, fazia muito tempo que Jensen não via o rosto do pai, mas ainda preferia lembrar-se dele vivo, muito tempo atrás, na sua infância e início da adolescência, quando eles ainda formavam uma família feliz. Pensou em sua mãe. Será que ela viria ao enterro se estivesse viva? Como ela se comportaria ali, como a viúva de fato e de direito? E como lidaria com a presença do Padalecki? Tinha muitas dúvidas, mas elas nunca seriam respondidas mesmo.

Do outro lado, também sentado numa cadeira próxima ao caixão, estava Jared. Ele não chorava. Ainda bem, pensou Jensen. Seria extremamente constrangedor para ele ficar ali se o outro começasse a agir feito uma viúva desesperada. Pelo menos o garoto tinha alguma classe.

Baby i've been here before

Querida, eu já estive aqui antes

I've seen this room and i've walked this floor

Eu vi este quarto, eu andei neste chão

I used to live alone before i knew you

Eu vivia sozinho antes de conhecer você

I've seen your flag on the marble arch

E eu vi sua bandeira no arco de mármore

But love is not a victory march

Mas amor não é uma marcha da vitória

It's a cold and it's a broken hallelujah

É um frio e sofrido Aleluia

Jared usava um terno preto bastante elegante também, assim como óculos escuros. Tinha muita gente ao seu redor, amigos provavelmente. Uma senhora que poderia ser sua mãe, talvez, estava sentada a seu lado e segurava uma de suas mãos com força. Aquilo poderia parecer comovente para qualquer outra pessoa, mas não para Jensen. E também não adiantava ficar especulando sobre a vida daquele outro. Depois daquela dia, não pretendia ter nenhum contato com ele. Aliás, preferia até que Jared Padalecki nunca tivesse entrado em sua vida.

A cerimônia foi bem rápida, um sacerdote disse algumas palavras de conforto, alguns amigos falaram. Jared falou, o que Jensen achou totalmente ridículo e desnecessário, mas tudo acabou muito rápido, de qualquer forma. O caixão desceu à sepultura. Ali estava o corpo morto do homem que havia sido a pessoa mais importante da vida de Jensen por longos anos. Até ele resolver acabar com a própria família e sair de casa para viver uma aventura completamente insana com um rapaz de dezessete anos. Jensen disse que nunca perdoaria o pai se ele fizesse aquilo. E de fato, nunca perdoou. Nunca mais se falaram direito depois daquilo.

Após o enterro, mais uma vez o casal Ackles exercitou a fina educação que possuía e se despediu de todos os presentes. Quase todos, pelo menos. Algumas pessoas foram sutilmente ignoradas. Receberam muitas condolências dos amigos mais antigos de Jeffrey. A maioria destes olhava torto para a vida que o patriarca dos Ackles levou nos seus últimos anos. Alguns amigos conseguiram transitar entre os dois mundos. Já os novos amigos e conhecidos dirigiam seus sentimentos e pesares para Jared, que agradecia a todos consternado. Jensen se mordia por dentro com aquilo. Era absurdo, pensava ele. Totalmente absurdo.

Já se encaminhavam para o carro quando Jensen deu uma última olhada para lápide ainda fresca do pai. Quando subiu um pouco os olhos, deu de cara com Jared, do outro lado, encarando-o. Podia estar enganado, mas jurava ter visto rancor nos olhos do rapaz. Quem era ele para ter rancor de Jensen? Se alguém tinha esse direito, era o loiro. Afinal, foi ele quem teve a vida praticamente destruída pela irresponsabilidade e inconsequência do pai.

Encararam-se por apenas alguns segundos, Jensen Ackles e Jared Padalecki. Mas foi como se faíscas saíssem dos olhos de ambos. Ao mesmo tempo em que nenhum do dois gostaria de não precisar manter nenhum contato um com o outro novamente, havia ainda muita coisa que gostariam de dizer também. Muitas mágoas. Muitos ressentimentos. Mas nada disso seria dito agora.

- Vamos? - Disse Danneel, chamando a atenção de Jensen ao segurar seu braço.

- Vamos. - O homem apenas acenou com a cabeça, seguindo a esposa.

Mais ao fundo, Jared acompanhava tudo com o olhar. Realmente havia rancor ali.

-J2-

Jensen chegou em casa e foi direto ao seu escritório. Danneel subiu e provavelmente os dois só se veriam novamente amanhã, durante o café, já que não mais dividiam sequer o mesmo quarto.

O casamento dos dois, mais do que nunca, era apenas pelas aparências. Eles tentaram por quatro anos, mas a situação ficou insuportável ao ponto de Daneel pedir o divórcio. Jensen não ficou surpreso. Não se recusou a dar a separação à mulher, embora tenham combinado permanecerem mantendo as aparências até que toda papelada estivesse resolvida. Daneel então viajaria para a Europa para encontrar-se com seu amante, que já a esperava pacientemente a mais de um ano. Pierre era o nome dele, um francês que ela conhecera durante umas férias em Paris, quando o casamento deles já não passava de uma farsa. Apaixonou-se perdidamente, e isso foi a gota d'água para que ela resolvesse enfim acabar com tudo.

Jensen não se importava em saber que a esposa estava apaixonada por outro homem. Nunca fora apaixonado por ela, de fato, e também nunca fora um exemplo de fidelidade. Tinha seus casinhos desde o início do relacionamento. Se Daneel sabia, também parecia não se incomodar. Tudo que importava era manter as aparências, no final das contas.

Retirou o paletó e a gravata, desabotoou alguns botões da camisa e serviu-se de uma dose generosa de seu melhor whisky. Só o que queria agora era curtir um pouco sua solidão e seus traumas, lembrando-se de o quanto ele era um cretino também. É claro, sem nunca deixar de encontrar alguém em quem por a culpa para tudo isso. Seus dois nomes preferidos eram o de seu pai e o de Jared.

Well there was a time when you let me know

Houve um tempo em que você me dizia

What's really going on below

Tudo o que realmente acontecia

But now you never show that to me do you

Mas agora você nunca me mostra, não é?

But remember when i moved in you

Mas você se lembra quando eu entrei em você

And the holy dove was moving too

E a pomba sagrada também entrou

And every breath we drew was hallelujah

E todo o suspiro que dávamos era um Aleluia

Sentou-se na poltrona atrás de sua mesa e deu um gole na bebida. Seu pai estava morto. Mas o que mais o incomodava é que ela já o havia matado dez anos atrás, quando o tirou completamente de sua vida. Mas afinal, o que ele deveria ter feito? Aberto os braços e aceitado o novo estilo de vida alternativo do pai? Jeffrey deveria ter pensado em sua família, na esposa e nele, seu filho. Se ele soubesse todos os constrangimentos pelo qual Jensen passou por causa da loucura dessa loucura... Não, definitivamente ninguém poderia culpá-lo por rejeitar essa insanidade.

Ele sequer sabia se o pai tinha sido feliz nos últimos dez anos. Ele não sabia nada sobre Jared Padalecki, a não ser o essencial. Não sabia como havia sido a vida dos dois juntos, se o pai um dia chegou a se arrepender, se tinha valido a pena ter deixado tudo para trás para viver essa aventura.

Well, maybe there's a god above

Talvez haja um Deus lá em cima

But all i've ever learned from love

Mas tudo que eu já aprendi sobre o amor

Was how to shoot somebody who outdrew you

É como atirar em alguém que desarmou você

It's not a cry that you hear at night

E não é um choro que você pode ouvir de noite

It's not somebody who's seen the light

Não é alguém que viu a luz

It's a cold and it's a broken hallelujah

É um frio e sofrido Aleluia

Hallelujah, hallelujah,

Aleluia, Aleluia

hallelujah, hallelujah

Aleluia, Aleluia

Estava sufocando. Tinha que sair dali, ficar bêbado não era o suficiente. Às vezes, aquele escritório, aquela casa, sua vida, tudo aquilo o sufocava. Tinha acabado de enterrar o pai, mas isso não fazia nem que ele sentisse menos raiva do homem, nem que detestasse menos a si mesmo.

Pegou as chaves do carro e saiu, sabendo muito bem para onde iria. Por mais jurasse todas às vezes que seria a última, sempre acabava voltando ao mesmo lugar.

-J2-

Continua...


* Em memória, expressão utilizada geralmente para fazer referência a alguém que já morreu.


N/A: Olá, querido leitor. Esse é o início de mais uma longfic, ou seja, mais um desafio para mim. Espero que vocês possam me acompanhar ao longo dos capítulos, dizendo se gostaram ou não, dando suas impressões, enfim, vocês sabem muito bem o que é uma review! ;)

Que tal começar agora? Faça uma autora feliz! =) A opinião de quem lê é importante para quem escreve.

Obrigada a todos por lerem!

Até o próximo capítulo!

*___* Reviews, please!

Bjos a todos! :***