Corações Transformados
Corações Transformados – Capítulo I – A Revelação
Capítulo I – A Revelação
Tema: Coração flutuante
(Flutuante (cf. Aurélio) – Que flutua; que paira ou se move em equilíbrio no espaço)
Era uma bela tarde de primavera.
O mar lambia a areia a praia deixando suas marcas brancas por onde passava. A espuma durava apenas alguns segundos até ser tragada por uma nova onda. Alguns pássaros de vôo preguiçoso ainda sobrevoavam a praia em busca de alimento. A brisa marinha que soprava em direção à costa batia nos cabelos loiros de um belo jovem sentado nas pedras.
Seus olhos azuis claros se perdiam no horizonte. A imensidão do mar não era o motivo dos devaneios do menino. Seus pensamentos estavam distantes, focalizados em uma única pessoa. Uma mulher.
-oOo-
Beirava os seis anos quando sua bela mãe o pegou nos braços e o levantou. A jovem rodopiou com o menino. Ele adorava quando ela fazia isso.
- Meu amor, daqui a três dias vamos fazer uma viagem.
- Uma viagem ? – perguntou o pequeno com sua voz infantil.
- Isso mesmo. – a disse colocando a mão em seu narizinho. – Quero que você conheça uma pessoa.
- Quem ?
- É surpresa, mas tenho certeza que você vai gostar dele.
- Quem é ?
- Uma pessoa muito importante. – falou misteriosa.
-oOo-
O jovem baixou o olhar para o mar. A imensidão azul lembrava-lhe a mulher mais linda de todo o universo.
-oOo-
- Vai, pode subir – a mãe dizia ao menino enquanto o ajudava a subir no navio.
O garoto nunca tinha visto um navio tão grande.
- Olha mamãe, as nuvens estão desenhando um urso polar.
- É mesmo ? E como você sabe que é um urso polar ?
- Porque a nuvem é branca e se o urso é branco, só pode ser urso polar.
A jovem riu do comentário do pequeno.
O navio era realmente grande. Ficaram alojados no terceiro nível. O lugar era pequeno, mas conseguiram se arrumar.
Depois de algum tempo, a embarcação deixou o cais lentamente e partiu rumo a seu destino. A viagem ainda duraria vários dias, mas no dia seguinte sua mãe o colocou no colo e explicou o motivo da viagem. Estavam indo para uma nova terra e Hyoga finalmente conheceria seu pai.
- Meu pai ?
- Sim, meu amor, seu pai.
O menino passou a noite imaginando como ele seria. Colocou vários rostos e vozes no seu modelo de pai antes de adormecer embalado pela voz melodiosa da mãe.
-oOo-
Todo terceiro dia de cada mês, o ritual se repetia. O jovem se recolhia em seu interior e dedicava um tempo do dia para se recordar de sua mãe.
Normalmente seus pensamentos finais eram o da noite fatídica.
-oOo-
Estavam dormindo quando sentiram um tranco. Algumas coisas acabaram caindo no chão e em instantes começaram os gritos. O navio em que viajavam batera em um iceberg e abrira um buraco no casco.
Por estarem nas classes mais econômicas, foram dos últimos a conseguirem subir para o convés.
A jovem desesperada, com o filho no colo, viu um bote descendo para a água e não teve dúvidas ao soltar o menino nos braços de um homem. Era o último bote livre.
A princípio ela não sabia que aquela era a sua última chance de sair do navio, mas percebeu logo depois, quando viu os botes já remando para longe e as pessoas gritando "não há mais botes" e se jogando desesperadamente no mar congelado.
Seu adorado garotinho gritava por ela desesperadamente.
O mar estava tão frio, que as pessoas que se jogavam na água tinha hipotermia e paravam de nadar antes de conseguirem chegar aos botes.
Hyoga viu várias pessoas gritando para quem tinha ficado no navio para não pularem na água assassina, mas era em vão.
Um dos homens que estava no bote do pequeno russo, dizia que o socorro chegaria em breve.
Enquanto os outros se jogavam desesperados na água, sua mãe, sempre controlada, permaneceu no convés olhando para o menino.
Ouviu-se um grande barulho e o navio começou a pender um pouco para o lado do estrago. Sua mãe gritou-lhe palavras carinhosas e disse adeus. A bela jovem andou calmamente pelo convés até desaparecer dentro do navio.
A jovem não queria que o filho tivesse gravado como última imagem da mãe viva, o pavor que a consumia.
Hyoga viu horrorizado o navio onde estava sua doce mãe se transformar na sepultura do ser mais belo que já pisou na terra. Tentaram consolar o menino, mas seu choro desesperado comovia a todos.
Algum tempo depois que o navio afundou completamente, ouviu-se o barulho de um helicóptero.
Era o socorro tão aguardado, mas infelizmente para o menino, chegara tarde demais. O pequeno loiro já sem voz de tanto gritar e chorar pela mãe, percebeu que era realmente o fim. Tinha perdido a coisa mais importante de todas. Parecia que tinha perdido a alma. Parecia que tinha perdido a vida
-oOo-
O loiro suspirou.
Pensou nos amigos. Às vezes sentia uma pontinha de inveja. Todos tinha ido para o orfanato, mas suas histórias eram bem mais felizes.
Shiryu, seu amigo chinês, agora tinha uma nova família. Ganhara um pai e uma irmã, que Hyoga tinha certeza que deixaria de ser irmã para ser namorada em um futuro muito breve. Era evidente que Shiryu e Shunrei se amavam.
Ikki e Shun tinham perdido a mãe, mas os irmãos sempre tiveram um ao outro.
Seiya se perdeu da irmã, mas vivia rodeado de pessoas, o que era até explicável pela simpatia do garoto. O cavaleiro de Pegasus tinha a Marin, sua mestra, Saori, que estava sempre preocupada com ele, Miho, sua amiga de infância e Shina que às vezes dava o ar da graça.
O russo soltou a respiração com pesar. Não tinha ninguém.
Seu amigo Isaac estava longe, na Sibéria. Sua mãe, seu mestre, o Cavaleiro de Cristal e o mestre do seu mestre, Kamus de Aquário, dormiam o descanso eterno.
Achava-se de certa forma responsável pela morte dos três e isso o consumia ainda mais.
Hyoga sempre foi um garoto introspectivo, mas estava se fechando cada vez mais pela dureza da vida. Os amigos, sempre presentes, o faziam se sentir bem, mas ainda assim, havia um grande vazio em seu peito.
Desde pequeno, logo que perdera a mãe, a vida tinha lhe ensinado muitas coisas. Sempre manteve uma postura altiva, mas o comportamento arrogante que demonstrava, nada mais era que uma defesa para esconder sua fragilidade e a tristeza que se passava em seu interior.
Quando retornou do período de treinamento, com a armadura sagrada de Cisne e teve que enfrentar os amigos, viu que apenas seu orgulho não o faria vencer. Teria que deixar seu sofrimento de lado e aprender a desafiar o mundo.
Deixar seu sofrimento de lado... quando teve que lutar com Kamus, mestre do seu mestre, Hyoga não foi capaz de fazer isso. Preferia a morte a esquecer a mãe.
A mãe...
Uma lágrima surgiu em seus belos olhos azuis e correu por sua face até cair em seu colo. Outra lágrima iniciou seu caminho quando sua trajetória foi interrompida por uma mão suave.
Levou um pequeno susto, pois não tinha percebido a presença de ninguém ao seu lado. Virou um pouco o rosto e encontrou um par de belos olhos verdes, fixos nele.
- Não fique se martirizando Hyoga. Isso não faz bem para você.
- Eu sei – falou com o olhar triste.
Outra lágrima teimou em descer por seu rosto. Novamente, as mãos suaves do amigo secaram-lhe a face.
O russo virou o rosto para olhar diretamente para o amigo. Shun exibiu um sorriso. Hyoga retribuiu com um sorriso de leve e depois retornou ao seu estado de melancolia.
- Vem. – disse dando a mão para o loiro.
- Me deixa aqui, Shun.
- Para você ficar se derramando em lágrimas a tarde inteira e endurecendo seu coração ? Não. Não saio daqui até que venha comigo. – falou determinado, mas sem deixar de oferecer a mão ao loiro.
Hyoga olhou para o garoto e reconsiderou. Pegou sua mão. Shun levantou-o em um puxão. Ficaram bem próximos. Os olhos do loiro ainda estavam úmidos.
- Por que você se machuca tanto assim ? – o outro menino perguntou enquanto secava suavemente os olhos do russo.
- SHUN !
Os dois meninos viraram o rosto para ver a figura de um jovem ao longe.
- Seu irmão está te chamando.
- Então vem comigo. – falou puxando o loiro pela mão, de cima das pedras.
Hyoga travou o corpo. Não queria descer. Queria ficar lá.
- Não Shun.
O belo garoto de cabelos esverdeados deu outro sorriso.
- Por favor.
- SHUN !
O menino olhou na direção do irmão. Voltou-se para o amigo.
- Vou descer. Promete que não vai se machucar muito ?
- Por que você se preocupa tanto comigo ? – o loiro indagou.
- SHUN !
- JÁ VOU ! – gritou para o irmão - Daqui a pouco o Ikki vai ficar bravo. – comentou.
Virou-se para o russo e soltou-lhe a mão. Respondeu-lhe a pergunta secando-lhe o rosto uma última vez.
– Ora, porque eu gosto de você. – disse exibindo um sorriso encantador.
Depois disso virou e desceu rapidamente as rochas.
- Porque eu gosto de você ? – Hyoga repetiu baixinho tentando entender a frase.
O que será que o amigo queria dizer com isso ?
- Que bobagem. – falou para si mesmo, se recriminando por ficar meditando algo tão banal.
Sua boca falou, mas seu coração não sentiu. Virou o rosto para olhar o garoto de cabelos verdes correndo pela praia. De repente, um calor nasceu no meio do seu corpo e se irradiou por todo o resto. Podia ouvir as batidas do próprio coração de acelerarem e depois se acalmarem. Sentiu uma leveza interior tão grande, que parecia que podia sair voando.
Fitou por instantes a imensidão do mar e depois, novamente virou-se para ver o amigo, que já andava lado a lado com o irmão.
Sentiu-se tranqüilo e sorriu. Estava tão leve que era como se tivesse passado do estado sólido para o gasoso. Parecia que até que seu coração flutuava dentro do corpo tamanha sensação de leveza e bem estar que passava naquele momento.
- Shun. – falou sorrindo.
Desceu as rochas rapidamente e correu pela praia até se juntar aos outros dois.
Próximo capítulo – No próximo capítulo Hyoga ainda intrigado com o que ouviu da boca do amigo, observa seu comportamento com os outros para tentar descobrir o significado das palavras que o cavaleiro de Andrômeda lhe disse.
Nota da autora – Gente, esse é meu primeiro fic Hyoga e Shun. Eu nunca li nada a respeito e achei melhor nem ler para não me influenciar. Então, por favor mandem comentários para que eu saiba se ficou bom ou ruim.
Aguardo contato de vocês no erika(ponto)patty(arroba)gmail(ponto)com ou via review neste mesmo site.
Este capítulo vai especialmente para a Cardosinha (Rafaela). Brigadinha pelo incentivo. Espero que vc goste.
Bjinhos a todos,
Bela Patty
- Abril / 2005 -
