Be my friend

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No começo, Scorpius não entendia muito bem se o que James Potter tinha era alguma espécie de problema que o fazia sorrir o tempo todo, ou se era simplesmente algo natural da personalidade dele.

A primeira vez em que notou que ele parecia sempre estar satisfeito com alguma coisa foi em um jogo de quadribol. Scorpius reconheceu Al na torcida da Gryffindor, acenando para o irmão mais velho. James, o goleiro, sorria confiante e acenava de volta.

Não era arrogância, não era petulância, não era nem sequer artificial. James Sirius Potter, a despeito da combinação estranha dos seus dois primeiros nomes, era um rapaz genuinamente feliz e Scorpius ficou surpreso ao descobrir que isso era algo que podia realmente contagiar os outros.

E então ele não saberia dizer muito bem como aquilo começou. Talvez tenha sido com os apertos de mão amigáveis depois dos jogos. Talvez tenha sido porque ele ser um jogador tão... justo. Talvez tenha sido porque, quando a Gryffindor perdia, ele dava de ombros e dizia "tudo bem".

E Scorpius não tinha como saber se James ficava batendo a cabeça na parede e praguejando quando chegava à sua sala comunal, então admitia que o rapaz merecia respeito porque sabia perder.

E então, um dia, eles se encontram por acaso no caminho dos vestiários e conversam enquanto atravessam o campo. Não falam sobre seus pais – conhecidos pelos motivos certos ou errados que fossem – ou de sobrenomes, aliás, nem pensam no fato de que seus pais provavelmente estudaram juntos. Eles falam de quadribol, das diferenças entre o quarto e o quinto ano, e de como aquela garota Ravenclaw do segundo ano parece uma mandrágora.

Não falam exatamente de Gryffindor e Slytherin. E tomam normalmente os caminhos separados no castelo. James sorri daquele jeito tão seu que faz com que os outros sorriam também.

Era o tipo de pessoa pra quem a gente tem prazer de dar bom dia.

Scorpius não saberia também como explicar o que eles eram. Tinha vontade de perguntar, mas poderia soar idiota. Ele gostava de ficar no campo até tarde com James, enquanto esse brincava com seus dedos, em silêncio. E reparava que, mesmo assim, calado e concentrado, James tinha um sorrisinho no canto da boca. Imaginava quando as conversas no campo haviam deixado de ser coisa de colegas. Imaginava se agora eram amigos.

Talvez tenha sido apenas uma coincidência, ou talvez James tivesse lido seus pensamentos – e a primeira hipótese era, claro, muito mais provável – quando, como se respondesse a sua pergunta, entrelaçou o seu dedo menor no dele.

Scorpius sorriu, não do jeito que seu amigo fazia, mas estava feliz. Era uma resposta e, até aquele momento, era tudo o que precisava.