Intra Absentes
A verdade é que é simples. É fácil erguer a cabeça de um jeito bonito e corajoso, é fácil dizer "fraco". É fácil, é tentador. É o que acaba acontecendo, de uma forma ou de outra.
O que todos esquecem é que não tinha como ser de outra forma. Você ama uma pessoa. Você a perde. E você não entende. Você age como uma criança (mesmo que você seja adulto, você se torna uma criança sem notar) e quer saber por quê. A sua mãe morreu num acidente de carro e por que, o que ela fez para isso? O seu pai foi assassinado num assalto e por que, se ele não tinha culpa nenhuma? Você perdeu tudo que pensou que sempre teria e por que logo você? E ninguém te responde e te ignoram, porque tudo que eles sabem dizer é que você vai superar, que você tem que ser forte. Mas você não lembra mais como é que se faz isso.
E então ele aparece. E ele é estranho e até seria meio engraçado, se não fosse pela risada demoníaca e pelo fato de todos estarem falando dele. Todos falam dele e o chamam de Conde, de vilão, de monstro. Você sabe disso. Você não é tolo e seu primeiro impulso é mandar que ele se afaste, mas ele te ignora. E ele não se afasta, e ele é o primeiro em muito tempo que não o faz, e (ao contrário) ele se aproxima e pára na sua frente e te encara nos olhos (e fazia tanto tempo que ninguém tinha coragem para isso).
"Por que você está chorando?"
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O que todos esquecem é que não tinha como ser de outra forma. Ele sorri. Ele não se afasta, ele não desvia o olhar. Ele incentiva com um aceno de cabeça enquanto te ouve dizer tudo, todos os porquês que você não consegue entender, que ninguém consegue explicar. E ele também não sabe e diz que sim, é realmente estranho, e que ninguém nunca sabe como explicar algo que eles querem que superemos sem sequer entender. E ele diz coisas tão bonitas, tão, tão bonitas. Ele diz que não foi sua culpa e que não vale a pena ficar chorando assim e não, não, você não fez nada de errado. E você enxuga as lágrimas e lembra-se de tudo que os outros dizem sobre ele e lembra que tentou mandá-lo embora num primeiro momento. Você pede desculpas, mas ele não aceita, porque, não, não, a culpa não foi sua.
E então ele sorri. E ele diz que tudo bem, que é normal fazer isso. E que, sabe? Às vezes as pessoas cometem erros de julgamento, por estarem muito focadas em alguma outra coisa. Aí, elas fazem algo tão horrível! Elas se esquecem de como é estar sofrendo, elas esquecem como é não ter ninguém. Elas esquecem como é. As pessoas esquecem tudo tão rápido, não é estranho? E você diz que sim, é, e que tudo que te disseram foi que "ele (ou ela, ou eles, não fazia diferença) foi porque Deus quis assim". E que você não consegue entender, e não consegue imaginar o motivo pelo qual Deus quis tirar tudo de você, será que você não se comportou direito? E que talvez você não goste mais de Deus tanto assim...
Mas ele diz que tenha calma. Ele diz que entende o que você pensa, mas não é bem assim. É que, sabe? Às vezes as pessoas cometem erros e, bem, não é que ele queira dizer uma heresia, mas... Às vezes, Deus também erra... Você não acha? Ele erra e não é intencional, não, não, claro que não... Mas ninguém reconhece o erro, porque ninguém gosta de pensar que está contrariando Deus, e isso é errado, lógico... E então eles dizem que você deve superar por causa de algo que foi um erro Dele – porque é claro que foi um erro, qualquer coisa que te tire algo que te faz bem é um erro. Isso é tão injusto, não? E... Você não acha que, quando erramos, devemos reparar os erros? Mas Deus jamais repara seus erros, o que é muito compreensível, Ele deve ser muito ocupado, é lógico... Então, para ajudar Deus... Você não acha que devemos corrigir os Seus erros para Ele?
E você acha.
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O que todos esquecem é que não tinha como ser de outra forma. Ele diz que está tudo bem. Ele diz que você não fez nada de errado. Ele sorri. Ele diz que a culpa não foi sua, e ele é o único que faz isso...
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Ele fala daquela pessoa. Ele fala coisas tão bonitas; tão, tão bonitas. Ele fala que ela (ou ele, ou eles) sente a sua falta, que quer te ver de novo. Que está num lugar tão triste, que se sente tão sozinha, agora... E não seria bom se vocês pudessem voltar a se ver e a rir e a viver juntos de novo? Não seria?
O que todos esquecem é que ninguém diria que não.
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Não foi sua culpa. Você repete isso, e se agarra a isso, enquanto tenta fugir. Não foi sua culpa. Você não tinha como saber. Ele te disse que daria tudo certo, ele sentou e te ouviu. É tão injusto, não? Ele falava coisas tão bonitas... Parecia tanto que estava falando a verdade. Parecia tanto...
Tinham te dito que ele era um monstro, mas você nunca imaginou que eles também sorrissem...
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A verdade é que é simples. Você ama uma pessoa. Você a perde. E então alguém aparece e a oferece de volta.
E seria tão bom se alguém se lembrasse que, no final das contas, você não teve opção.
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"Quem foi, desta vez?"
"E de que importa? Agora está morto... Mais uma vítima do Conde."
"Como sempre... Por que essas pessoas são tão tolas?"
Eles esqueceram.
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N/A: Cara, eu não sei o que diabos é isso aqui não. Pra ser honesta, essa idéia da centred num anônimo tava na minha cabeça desde que ouvi alguns fãs imbecis de DGM comentando "Porra, só de olhar pro Conde dá pra ver que ele é mau, quem é idiota de cair numa história dessas?". Eu fiquei tão puta da vida com isso que arquivei a idéia de uma centred em... Bem, em apenas mais uma vítima do Conde, porque elas são todas iguais, no fim das contas. Mas a idéia ficou no fundo do baú, abandonada, até ontem, quando eu reli o primeiro volume de DGM (que comprei na banca) e isso voltou a me atormentar. Então, eu tive que vir aqui e escrever isso – e, pra ser honesta, gostei muito. Intra Absentes vem do latim e significa Entre ausentes. Espero as reviews.
