Prólogo

Sonhei que estava desenhando uma linha prateada.

Minha prancheta de desenho estava apoiada em uma parede branca. E enquanto eu olhava para o papel branco, minha mão se movia lentamente, de maneira constante. A linha que eu desenhava se esticava, prateada, em cima da folha de papel.

Em um tom prateado brilhante.

Um tom prateado frio.

Desenhei outra linha prateada. E, depois, um círculo.

Puxei a folha da prancheta e passei a mão sobre a folha em branco que estava embaixo. Depois, comecei a desenhar outra linha prateada.

No sonho, senti um calafrio enquanto a linha prateada se estendia sobre a folha.

De repente, senti muito frio.

Prata é uma cor fria. Fria como metal. Cinzenta como o inverno.

Que sonho estranho, lembrei ter pensado no meu sonho.

Eu sabia que estava sonhando. Sabia que não podia estar desenhando de verdade uma cor prateada tão brilhante.

Comecei uma nova linha. Reta e muito delgada. Uma fina linha prateada.

Enquanto a linha cortava a folha, uma cor pingava dela.

A cor vermelha.

Um vermelho profundo escorria dos dois lados da linha prateada. Molhado e brilhante, o vermelho escorria pela folha toda.

A linha prateada cortava o papel.

O papel sangrou. A cor mais escura se espalhou, foi se espalhando até cobrir a folha branca.

Acordei do sonho, acordei gritando.

Por que gritei?

Era apenas uma linha prateada.

Apenas um desenho prateado e vermelho.

Apenas um sonho.

Então, por que eu gritei?

Eu não lembro.

Não lembro mesmo.