Capitulo Um

Desde a morte de Harry Potter, tudo se tornara um inferno.

Não que antes fosse um rio de felicidade, em que todos vivessem em um mundo belo e sem guerra, longe disso; mas, após a morte do Menino-Que-Sobreviu, o símbolo de resistência do mundo bruxo, todo o pouco que havia sido conquistado caíra com simples facilidade.

Voldemort subira ao poder como um tirano nojento, em busca da purificação da comunidade bruxa e que todos o idolatrassem: o homem que vencera a morte, o homem que exigia total obediência e humilhação aos seus pés.

Fora aberta a temporada de caça aos nascidos trouxa, e não demorou muito para que os que tinham coragem de se opor àquela tirania começassem a ser mortos com igual crueldade; não havia quem não fosse tratado como um simples verme.

O caos reinava, pura e simplesmente.

A comunidade bruxa não demorara muito tempo a reduzir-se pela metade, tudo em prol da purificação, da seleção dos bruxos dignos de terem em suas veias o sangue mágico.

Os poucos nascidos trouxas que sobreviveram, assim como os que haviam se rebelado e, milagrosamente sobrevividos, haviam se escondido em pequenos grupos, que viviam no subterrâneo de antigas comunidades, agora destruídas pela insanidade de Lord Voldemort.

O principal grupo concentrava-se em Godric's Hollow, onde inacreditavelmente nunca haviam sido encontrados. Ali, funcionava a sede do grupo dos rebeldes, em que os principais bruxos e bruxas de tais grupos reuniam-se para discutir táticas e maneiras de derrubar ou desarticular alguns grupos de Comensais da Morte. Voldemort sabia existir um grupo de resistência, mas nunca descobrira onde tais grupos se encontravam.

O pequeno grupo subterrâneo de Godric's Hollow vivia em uma situação decadente. Camas improvisadas eram espalhadas pelos minúsculos quartos distribuídos em um longo corredor de terra batida. Muitas vezes os sobreviventes passavam por situações apertadas, como longos períodos em que faltavam alimentos.

Para deixar a cena ainda mais desoladora, em meio a toda aquela tristeza, era possível avistar algumas poucas crianças, que se reuniam e brincavam ao longo do corredor, fugindo de toda aquela realidade cruel e do estomago vazio por meio de brincadeiras que os transportavam fingidamente, em suas mentes, para lugares mais felizes, e talvez com um pouco de paz.

Duas meninas estavam sentadas no chão no fim do corredor, contando histórias uma para a outra; histórias sobre a guerra que estava acontecendo, mas dando suas próprias idéias de como terminaria.

Ao mesmo tempo, a líder da comunidade de Godric's Hollow havia acabado de aparecer no corredor.

Havia um corte profundo em seu rosto, e estava completamente molhada; o sangue misturava-se a água que pingava sobre o chão. Ela estava num estado lastimável em aparência, com vestes rasgadas e arranhões e machucados pelo corpo, mas isso não impedia a segurança e o poder que ela passava para quem quer que olhasse para ela.

Ginny Weasley passou pelas duas garotas no exato momento em que a mais nova, de cabelos cacheados e castanhos dizia:

- E então Você-Sabe-Quem cairia, e todos aqueles que morreram teriam a permissão de voltar.

Ginny passou a mão pelos cabelos curtos e molhados, e escutou a outra garotinha perguntar:

- E quem você gostaria que voltasse?

A voz da criança não passou de um sussurro quando respondera:

- Bem, talvez minha mãe pudesse voltar. Assim eu poderia conhecê-la.

Ginny passou pelo corredor, deixando as duas meninas para trás; sentira seu peito comprimir àquela confissão da garotinha. Sim, ela também gostaria que os mortos pudessem retornar... Ela não se sentiria tão perdida, então.

Caminhou até o fim do corredor, silenciando cada família que dirigia sua atenção para ela.

Havia apenas uma única sala, no fim de todo aquele corredor. Ginny caminhou em passos vagarosos até lá, e quando abriu a porta, os olhares de todos os presentes caíram sobre si. O único homem ruivo presente ergueu-se imediatamente, com os olhos arregalados e o ar assustado.

- Ginny, por Deus... - ele se apressou até ela, que se desvencilhou do irmão.

- Eu estou bem. – respondeu com indiferença. - Alguns Comensais descobriram nosso esquema de observação. – seu olhar caiu sobre um dos presentes, um homem com cicatrizes no rosto e o olhar opaco; os cabelos louros caiam em seus olhos.

- Quem foi?

- Ninguém do circulo intimo dele. – Ginny encolheu os ombros. – E não importa mais suas identidades. Estão mortos.

O homem louro e Ginny analisaram-se, em silêncio, antes que o homem suspirasse.

- Ginny – ele suspirou. – Você não pode -.

- Era eu ou eles, Neville. – ela ergueu uma sobrancelha, parecendo aborrecida. – Acho que nem preciso pensar em quem escolho salvar a pele.

- Conseguiu obter a informação? – perguntou uma mulher de cabelos longos e negros. Ginny balançou a cabeça.

- Perdi contato com Malfoy na noite passada.

Ron Weasley cerrou os olhos.

- O desgraçado pode ter nos traído, você sabe disso. Os Comensais que te atacaram podem ter ido para lá porque ele abriu a boca, aquele canalha nojento...

- Ele não nos traiu. – havia um tom de irritação na voz de Ginny agora. – Malfoy está do nosso lado Ron, pelo amor de Deus, pare de confundir sua raiva de colégio com a atualidade, estamos em guerra, e perdendo se você não percebe.

- Como diabos você pode ter tanta certeza que -.

- Isso é problema meu. – ela o cortou, as íris castanhas cerradas. – Se você confia em mim, confia em Malfoy.

Neville Longbotton pareceu gostar daquelas palavras tanto quanto Ron Weasley.

- Bom – disse a mulher de cabelos negros, levantando-se. – Isso nos faz perder pelo menos dois meses de investigação e planejamento.

Ginny passou a mão pelos cabelos mais uma vez, fechando os olhos.

- Temos que voltar nossas forças para a proteção das comunidades, no momento. – ela disse com a voz vagarosa. – Não temos muito que fazer, e está começando a faltar comida em alguns pontos.

- Como o meu. - Neville respondeu pesaroso. – Estamos sem comida há três dias.

- Há estoque o suficiente para seis meses aqui. – Ginny respondeu calmamente. – Pegue o suficiente para três meses do estoque.

- Então – a mulher de cabelos negros se manifestou mais uma vez. – Não vamos nos preocupar com o mundo lá em cima?

- Não por enquanto. – Ginny acenou com a cabeça. – Temos que cuidar dos subterrâneos, não adianta vencermos uma guerra quando não se tem por quem vencer. Vamos cuidar das pessoas das comunidades.

Neville suspirou.

- Estou cansado. – ele admitiu. – Estamos há mais de cinco anos dessa maneira.

Os quatro ficaram em silêncio. Antigamente, era provável que um dos presentes reconfortasse Neville, dizendo que tudo iria acabar bem, mas não havia mais força para tal. Ron apenas assentira, enquanto a mulher morena suspirara, escondendo o rosto entre as mãos. Ginny por sua vez, não o reconfortara, mas dissera em um tom de voz firme:

- Nós precisamos nos manter fortes. – ela deu as costas para sair da sala, mas parou por um momento. – Diga a Fred, Luna e Katie que sentimos saudades.

Em silêncio, deixara a sala. Estava pronta para ir para seu próprio dormitório, e na verdade seu coração estava até mesmo ansioso por isso; ali, naquele lugar, ela esqueceria o pesadelo que estavam vivendo, ao mesmo tempo em que, ironicamente, estaria se lembrando porque ainda tinha tantas forças para lutar.

Mas Ron abrira a porta da sala, não permitindo que ela tivesse aquele momento, ainda.

- Ginny... – ele caminhara até ela, parecendo incerto do que dizer. – O que... O que aconteceu lá em cima?

Ela encarou o irmão por um tempo, e sentiu pena dele. Ele havia perdido tantos entes queridos quanto ela, mas ela imaginava como ele criara tanta força para continuar; além de ter perdido quase toda a família, que era a dela também, havia perdido amigos queridos, o melhor amigo, e o amor de sua vida.

Mas lá estava ele, com o mesmo ar decidido que ela. E de preocupação.

- Eu estava perto do antigo Ministério da Magia. – ela admitiu em voz baixa. Ron balançou a cabeça.

- Droga, Ginny! Lá não tem nada, porque você ainda insiste em...

- Tem alguma coisa, sim! – Ginny teimou. – Por que eu sonharia com isso todas as noites? Por que eu teria essa sensação de que eles escondem alguma coisa lá, que pode ser nosso triunfo? – ela continuou antes que o irmão abrisse a boca para retrucar – Eu quero acabar com isso!

O protesto angustiado saíra de sua boca, a confissão que ela nunca havia feito em voz alta, a não ser para uma única pessoa: seu filho.

Ron suspirou, olhando para os olhos da irmã.

- Gin, nós temos que nos concentrar no que é real, não ficar se baseando no que pode ou não ter em um lugar que os Comensais quase destruíram, e que está abandonado.

- Porque ele colocaria Comensais para vigiar aquele lugar, se não tivesse alguma coisa importante?

Ron suspirou cansado.

- Eu sei o que você quer fazer. Quer ir até o Departamento de Mistérios. – ele a acusou. – Harry está morto, Ginny. Você precisa se preocupar com quem está vivo, como Michael. Ele é uma criança, merece uma vida melhor.

Os olhos da irmã ficaram como duas fendas. Ele sabia que isso aconteceria a partir do momento que mencionasse Harry.

- Você acha que eu não estou me preocupando com todos os subterrâneos? Você acha que eu estou sendo negligente com todos eles, que depositaram suas vidas em minhas mãos? – ela perguntou em um sussurro perigoso. Ron sentiu um arrepio na espinha, porque vira o reflexo do melhor amigo na irmã, naquelas palavras. – Você acha que eu quero que meu filho viva nesse estado?

- Ginny... Eu... Não, não quis dizer isso -.

- Foi exatamente o que você quis dizer. – ela o cortou, secamente. - Mortos não voltam a vida, Ronald Weasley. Minha preocupação é acabar com essa guerra, com Voldemort.

Ron estremeceu com aquele nome, mas ela o ignorou.

- Ginny, se você fosse negligente, nunca teria sido eleita a líder da sede, da comunidade de Godric's Hollow. Você é uma das bruxas mais poderosas que sobreviveram, e você sabe disso. Todas as comunidades estariam reduzidas à metade se não estivesse conosco.

Ela balançou a cabeça. Sua postura fria, desde que chegara à comunidade, continuava ali.

- Nunca mais mencione isso, Ronald, que eu não me preocupo com esse grupo. E nunca mais ouse fazer isso usando o nome ou a morte de Harry.

Ela virou as costas e finalmente fora procurar seu quarto. Ron ficou observando a irmã se afastar, com tristeza em seus olhos. Aquela Guerra havia destruído tudo, desde famílias inteiras até sua irmã caçula. A doce Ginny Weasley havia morrido dando lugar a uma mulher fria, sem emoções aparentes.

Desde que assumira a frente como líder da principal comunidade subterrânea, Ginny se fechara em seu próprio casulo. Em campo, matava Comensais a sangue frio, talvez mais sangue frio que os próprios Comensais usavam para matar bruxos inocentes. Ela não se abalava mais, e Ron praticamente não sabia de mais nada de sua vida, com a exceção de que, nos últimos dois meses ela vinha sonhando com a mesma coisa todas as noites: O antigo Ministério da Magia. E que a sensação de que existira alguma coisa ali, alguma coisa que pudesse ajudá-los, consumia-a viva.

Ainda que, por algum milagre, aquela Guerra fosse vencida, ele duvidava que Ginny voltasse a ser a mesma.

Ginny entrou no quarto precário, com apenas um colchão de casal e um banheiro que ela tentava manter limpo, por mais que isso parecesse impossível tendo em vista a própria aparência precária do mesmo. Ela ficou observando o quarto, iluminado precariamente e observou a figura que dormia sossegadamente no colchão, que usava um cobertor. Ela se lembrou das palavras do irmão de poucos minutos atrás, olhou novamente para o filho, e sentiu os olhos se encherem de lágrimas.

Encostou-se à porta, e escorregou pela mesma até que caísse sentada no chão; as lágrimas já caiam livremente, amargas e dolorosas pelo seu rosto.

Ela segurou um soluço, sentindo a pressão que todos colocavam sobre ela cada vez mais fortes. Escondeu o rosto entre os joelhos e chorou em silêncio, com o corpo tremendo.

Demorou algum tempo até que parasse de chorar. Quando isso aconteceu, ela caminhou ate o banheiro, lavou o rosto e trocou de roupa. Observou sua imagem no espelho e limpou o corte em seu rosto, fazendo um curativo no mesmo.

Quando ela voltou para o quarto e olhou para o colchão, Michael estava sentado, com as perninhas magrelas cruzadas uma sobre a outra, e o olhar sobre a mãe. Ginny olhou para o filho, com ar preocupado nos olhos verdes, e sentiu a garganta ficar apertada mais uma vez.

Michael Potter era a cópia do pai; os cabelos negros e rebeldes, os olhos incrivelmente verdes. Pequeno e magricela, ele era a cópia de Harry quando o mesmo tinha a idade dele.

Ginny ajoelhou-se no colchão, de frente para ele, e passou a mão por seus cabelos.

- Pensei que estivesse dormindo, querido. – disse carinhosamente para o filho, que balançou a cabeça.

- Eu queria esperar você chegar, mamãe. – Michael retrucou, claramente gostando do carinho que a mãe lhe dava. Ginny fingiu estar zangada com ele, mas se sentiu tocada pelas palavras do filho.

- Já está tarde, você deveria estar dormindo.

E o dia em que eu não chegar? Ela imaginou o filho acordado, esperando a mãe ansiosamente olhando para a porta, os olhos verdes e vivos da criança brilhando, se perguntando onde ela estaria...

Ginny tratou de afastar aqueles sentimentos funestos de sua mente.

Michael pareceu aborrecido com a mãe.

- Tio Ron deixa Sam ficar acordada até tarde. E eu a vi brincando com aquela garota Abott antes de você chegar.

Ginny girou os olhos.

- Tio Ron é um babaca e não é seu pai. Agora eu, quero você cedo na cama, mocinho.

Michael pareceu zangado, mas logo começou a rir quando sua mãe começou-o a encher de cócegas. Ginny o encheu de beijinhos e cócegas, e as bochechas do menino estavam rosadas de tanto rir quando ela parou, com um sorriso de orelha a orelha.

Michael começou a contar coisas que fizera naquele dia, suas brincadeiras e travessuras com sua prima e com as poucas crianças que existiam ali. Dissera também que tio Fred fizera uma visita e uma série de brincadeiras e risadas. Ginny sorriu ao ver o brilho alegre dos olhos do filho, as gargalhadas que ele se dava ao se lembrar das palhaçadas do tio.

- Muito bem, mas agora está tarde, meu amor. – ela o fizera se deitar e jogara cobertor sobre os dois. – Amanhã mamãe poderá passar o dia com você, se quiser.

Os olhos do menino se iluminaram.

- Você não vai subir amanhã? – ela negou. Ele sorriu. – Isso é bom. Eu não gosto quando você vai lá para cima.

Ginny o encarou curiosa.

- Por que não?

- Porque você sempre volta machucada e triste. E hoje você estava chorando, mamãe.

A afirmação a fizera ficar novamente com os olhos úmidos, ela abraçou o filho e beijou o topo de sua cabeça.

- Eu preciso fazer essas coisas, querido. As pessoas contam comigo . – admitira com a voz baixa, tentando segurar o choro.

- Mas eu não quero que você se machuque. – o menino bocejou, e Ginny começou a passar a mão distraidamente por seus cabelos negros. Apertou-o em seus braços e sussurrou:

- Eu sempre estarei do seu lado, Mike, não se preocupe.

Nunca, em todos aqueles anos horríveis, ela se sentira tão sozinha e acuada como estava se sentindo naquele momento; como alguém incapaz até mesmo de proteger a vida do próprio filho. Nem mesmo quando segurara o filho nos braços pela primeira vez, quando já estavam vivendo naquele lugar horrível, mesmo já estando sem Harry ao seu lado, abraçando-a. Nunca existira um momento como aquele, em que ela estava se sentindo tão perdida.

Michael caíra no sono rapidamente; assim que escutara o ressonar tranqüilo do menino de seis anos, ela se afastara dele e sentara-se no colchão, procurando por alguma coisa em sua mala, ao lado do mesmo. Buscando incansavelmente pelo que ela tanto queria achar, revirou as roupas de um lado para o outro, ignorando a dor da batalha que tivera poucas horas atrás em seu corpo...

Finalmente, achara. Uma foto antiga, em que os acontecimentos não estavam tão medonhos como os de agora, quando ainda se existia alguma chance mais forte como os de agora...

A Ginny da foto ria abertamente, tendo como fundo da foto A Toca. Os cabelos ruivos estavam compridos, um pouco abaixo dos seios, e ela ainda expressava aquele ar de inocência em seu rosto, inocência de acreditar que tudo acabaria bem.

E ali estava ele, a abraçando protetoramente como se esse fosse a maior obrigação e desejo de sua vida; os cabelos negros e rebeldes, os olhos verdes que ela tanto amara se perder, o sorriso cheio de amor para ela. Ginny sentiu o coração ficar apertado e ficou absorvendo cada detalhe dele, cada pequeno gesto que aquele Harry fazia na figura; uma hora ele estava a abraçando e ela apenas sorria, como que para realmente pousar para uma foto, e em outra ele a beijava, e ela o afastava e começava a rir, aparentemente envergonhada por quem havia tirado a foto dos dois.

Ela se lembrava perfeitamente daquele dia. Harry havia a pedido em casamento. Era até possível ver a aliança brilhando em suas mãos direitas.

Ginny fechou os olhos, engolindo em seco, segurando as lágrimas a todo custo. Lembrava-se das palavras dele, de como imaginava o casório, quem estaria... E lembrava-se de rir dele quando começara a sonhar acordado, imaginando uma casa em que viveriam, quantos filhos teriam...

Um casamento; ela acreditara, naquele dia, que tudo realmente se resolveria e que Harry e ela viveriam aquele sonho que ambos tanto desejavam.

Estava errada, entretanto; seus sonhos, dela e de Harry, foram destruídos e nunca acontecera casamento algum. A Guerra estourara com uma força descomunal, e não demorara muito tempo até que a batalha final acontecesse, e Voldemort arrancasse Harry de seus braços.

Ela deixou a foto de lado, e escondeu o rosto entre as mãos, não agüentando mais. Imaginou como as coisas poderiam ser diferentes se, ao menos Harry tivesse sobrevivido. Talvez, naquele momento, estivessem deitados em uma cama decente, ambos abraçando a um Michael adormecido.

E ele morrera sem saber que Ginny estava esperando por um filho seu...

Ginny não conseguira evitar um soluço que escapara de sua garganta, e não demorou muito para logo sentir as mãozinhas pequenas de Michael em seus ombros, e carinhos desajeitados em seu rosto.

- Mamãe... – ele sussurrou assustado. – Mamãe, o que você tem?

Ginny puxou o filho para o seu colo e o abraçou protetoramente, seu corpo tremendo por segurar o choro que tanto queria deixar soltar, aqueles com gritos... Alguma coisa que deixassem todos sabendo o quanto ela se sentia sozinha.

Michael passou as mãozinhas pelo seu rosto, e quando seus olhos se encontraram com os dele, percebeu que ele também chorava.

- Ah, meu amor. – ela suspirou desolada quando o filho começou a chorar e o abraçou com carinho.

- Mamãe, por favor, não chora. – ele disse em meio às lágrimas. – Eu não quero ver você triste, não quero ver você chorando.

Ginny beijou o topo de sua cabeça, segurando mais lágrimas.

- Desculpa meu anjo, me desculpa...

A criança segurou seu rosto entre as mãozinhas pequenas e beijou uma das bochechas molhadas de lagrimas da mãe. Ginny se perdeu nos olhos verdes do filho.

- Vai dar tudo certo, meu amor, você vai ver. – ela sussurrou para ele, que se encolheu em seu abraço. Ginny se sentiu horrivelmente pior por seu filho tê-la visto naquela situação; mesmo em seus piores momentos, Michael nunca a vira chorar, não daquele jeito.

Ela se sentiu a pessoa mais incapaz do mundo.


Ron Weasley quase lançara uma Maldição Imperdoável em Draco Malfoy quando este finalmente aparecera, quase três horas mais tarde após o retorno de Ginny à Comunidade.

Ele, assim como Ginny, estava completamente encharcado.

- Onde está Ginny? – foi sua primeira pergunta, pouco se importando com o olhar assassino que o bruxo lhe lançava. – Ela já chegou? Ela já está bem?

- Sim, mas não graças a você. – Ron retrucou secamente. – Onde você esteve? Você não foi se encontrar com ela! Se Ginny não fosse tão indiferente com as pessoas que assassina, teria perdido minha irmã!

Os dois bruxos se analisaram de cenhos franzidos, mas havia certa urgência nas expressões do suposto Comensal da Morte. Draco inspirou profundamente, antes de responder:

- Fui impedido de ir até Ginny, Voldemort... – ele pareceu engasgado com aquele nome – chamou todos os de seu circulo intimo para um tipo de reunião.

- Reunião em que você entregou a todos nós? – Ron perguntou com sarcasmo. Draco cerrou os olhos.

- Vá para o inferno com sua suspeita idiota sobre eu estar enganando vocês. – ele respondeu com frieza. - Se me acha tão indigno de ser um espião duplo, por que você não tenta pedir para se tornar um Comensal da Morte no meu lugar?

Eles se analisaram mais uma vez, e Ron perguntou impetuosamente:

- O que Voldemort disse então?

- Ele descobriu sobre as comunidades subterrâneas.

Ron pareceu ter levado uma bofetada na cara; seus olhos se arregalaram e ele pareceu pela primeira vez, assustado.

- Mas como ele teria conseguido?

- Isso realmente importa agora? – Draco agora parecia tão aterrorizado quanto Ron. – Ele vai atacar a Comunidade de Hogsmead... Ele pensa que só existe Hogsmead como Comunidade.

- Neville... Luna... – Ron sussurrou seus nomes. – Alguns dos nossos segredos estão lá, também. – ele começou a correr em direção a um dos quartos. – Acorde os guardas para essa Comunidade! Peça para Ana Abbot dar o sinal para Neville conseguir fugir com os subterrâneos! Eu vou chamar a Ginny!

- Mas que gritaria é essa? – ambos se sobressaltaram e ergueram a varinha para a direção do som, mas abaixaram-na imediatamente ao reconhecerem o brilho gelado nas íris de Ginny, segurando a mão de Michael. Voltou-se para Draco, que estava mais pálido do que o normal. – Draco...

- Eles descobriram Hogsmead, Ginny. –ele disse em tom de urgência. – Precisamos fazer alguma coisa.

Ela entreabriu os lábios e pareceu desesperada, mas fora questão de segundos. Voltou-se para o filho e disse num tom de voz firme:

- Michael, vá para o quarto. Não abra a porta para ninguém, nem mesmo se for alguém dizendo ser sua mãe. Não saia de lá, não fale com ninguém. Quando eu supostamente voltar, certifique-se que é realmente a mamãe.

Os olhos verdes do filho analisaram os castanhos da mãe por alguns segundos, antes que a criança assentisse e corresse para o dormitório.

Ginny imediatamente deu as costas aos dois bruxos e ao filho e começou a rumar para a sala.

- Precisamos avisar o Neville. – ela respondeu com urgência na voz.

Já fazia mais de cinco anos que tudo aquilo parecia um pesadelo, mas para Ginny se tornou tudo astronomicamente pior quando ouvira da boca de Draco que Voldemort havia descoberto a existência de uma das comunidades subterrâneas. Quanto tempo mais ele levaria para descobrir as outras?

Antes que ela abrisse a porta, porém, Neville a fizera. Havia queimaduras por todo o seu corpo, suas vestes rasgadas e um buraco em seu peito, onde o sangue jorrava. Segurava uma Luna inconsciente em seus braços.

Ginny gritou "Neville!" e correu em direção a ele. Pela fresta da porta que ele havia deixado aberta, ela conseguira ver a lareira que usavam para a comunicação entre as comunidades destruída.

- Pelo amor de Deus, busquem ajuda! – ela gritou; suas mãos tremiam quando Ron tirou Luna dos braços de Neville e Ginny tentou ajudá-lo a se sentar. Os olhos do amigo estavam arregalados e ele buscava ar de uma maneira angustiante.

- Voldemort... Descobriu... – ele arfou.

- Poupe seu ar, Nev, pelo amor de Deus. – ela colocou as mãos em seus ombros e logo em seguida tirou-os, sacando a varinha, mas ele colocou a mão sobre a sua, impedindo-a de fazer alguma coisa.

- Não, Ginny – ele sussurrou. – Isso não irá mais resolver. – Ele tossiu e arquejou com ainda mais dificuldade. – Você precisa me escutar...

Ginny estava quase se descontrolando; Apenas Neville e Luna apareceram, Neville quase morto... Ela sentiu como se tivessem passado uma espada em seu peito; Bill estava naquela comunidade com Fleur e a filhinha... E Fred... Oh, Deus...

- Eles... Queimaram... Toda... A comunidade. – Neville fez um som horrível para conseguir respirar. – Prenderam... A todos... Ninguém... Conseguiu...

Ela havia entendido; estavam todos mortos. Seus olhos se encheram de lágrimas.

Draco ajoelhou-se ao lado de Ginny, olhando desamparado para Neville.

- Ron foi chamar um dos curandeiros, e já há guardas protegendo Godric's Hollow. – ele disse com a voz suave. – Falei com Katie Bell pelo espelho de duas faces, ela já está alertando as outras comunidades.

Neville tossiu mais uma vez; Ginny tremia como louca.

- Destruí todas as evidências da existência de outras Comunidades. – ele tentou falar tudo de uma vez, seus olhos já saindo de foco. – Ginny...

- Por favor, Neville, você vai sobreviver... – as lágrimas agora caiam livremente pelo rosto dela, enquanto ela apertava a mão do amigo. – O curandeiro vai chegar aqui, tudo vai se resolver...

- Me escute. – ele sussurrou o pedido. Ela se calou, e Draco colocou a mão no ombro dela.

- Estou indo para um lugar melhor do que esse. – ele sussurrou. – Meus pais... Estão sorrindo para mim.

Ginny soluçou. Malfoy mordera o lábio inferior para não demonstrar emoção.

Neville beijara a mão da amiga.

- Todos temos orgulho de você. – ele sussurrou. – É uma pena que eu não vá ver Michael crescer, brincando com meu filho.

- Não diga isso... – ela disse com a voz entrecortada.

Neville soltou um profundo suspiro, e seus olhos encontraram os de Ginny. A pele toda queimada de seu rosto estava em um vermelho vivo, e havia bolhas em alguns pontos.

- Ginny... Harry... Harry...

Os olhos de Draco se arregalaram. Ginny não prestara atenção nisso, porque a mão do amigo se afrouxara na sua, e Neville parara de se mexer. Apenas o sangue continuava escorrendo do buraco em seu peito, e seus olhos continuaram abertos, mas agora ela sabia que ele já não podia ver mais nada.

Ela não soltou sua mão da dele, entretanto; abaixou o rosto e apertou a mão dele com força, fechando os olhos e reprimindo a vontade de chorar ainda mais.

- Ginny... Acabou. – Draco disse gentilmente para ela, tentando retirar sua mão da de Neville. – Ele se foi.

- Não... Não... – ela murmurou inconscientemente, sem perceber que Ron já estava lá. Draco a segurou gentilmente, e Ginny agarrou-se a ele, chorando e tremendo.

Draco a abraçou com força, e passou a mão por seus cabelos vermelhos. Com um suspiro derrotado, olhou para Ron, que olhava para o corpo de Neville.

- Ah... Luna e o bebê estão bem. – ele disse amavelmente. – Ela só precisa descansar um pouco.

- Neville se foi... – ela chorou ainda mais.

Ron e Draco trocaram um olhar silencioso. Draco gesticulou com os lábios "precisamos conversar.", onde Ron assentiu.

- Ginny, vamos... Você precisa ser forte. Nev está bem melhor do que a gente agora.

Eles a ajudaram a se levantar, e ela começou a limpar as lágrimas, ainda que essas continuassem a insistentemente caírem.

- Eu vou descobrir quais foram os Comensais da Morte que fizeram isso. – ela disse com a voz agora mais firme. Seus olhos ainda brilhavam quando ela olhou para os dois bruxos. – E vou matá-los de uma forma que o inferno parecerá um conto para assustar crianças.

A forma como ela dissera causara arrepios na espinha tanto de Draco quanto de Ron. Eles sabiam que ela não desperdiçava nenhuma ameaça, e que com certeza descobriria os responsáveis por aquela destruição.

- A questão é: você estaria preparada para saber quem é que fez tudo isso? Alguém forte o suficiente para isso? – Draco perguntou ansioso.

Seus olhos fitaram os cinzentos por um momento silencioso.

- O que você quer dizer com isso? – ela perguntou lentamente.

- Quer dizer que eu descobri porque você vem sonhando tanto com o antigo Ministério da Magia.

Continua...

Notas: E aqui está, mais uma de drama. Short de dois ou três capitulos. Espero que vocês gostem:D