Quem observasse Scorpius Malfoy não notaria o quão distraído o rapaz se encontrava, acreditaria realmente que ele estava lendo um livro, mesmo seus olhos não se movendo sobre as páginas. Ele possuía uma expressão neutra no seu rosto, e seu porte aristocrático confiava ainda mais o ar de indiferença ao rapaz. Mas por baixo desse escudo, Scorpius encontrava-se dividido entre o amor de sua vida e a família que tanto amava.
Muitas pessoas não precisam conviver com esse tipo de dilema, mas não Scorpius. Quatro meses haviam se passado desde o dia em que saiu de sua casa, deixando para trás todas as recordações de sua infância e as quatro pessoas que mais o amaram por uma mulher. Não qualquer mulher, uma Potter. Única, especial, teimosa, e de todas as formas para Scorpius, perfeita.
E mesmo tendo conquistado a pessoa por quem seu coração mais doía, e ganhando uma família enorme junto, Scorpius continuava considerando injusto. Injusto precisar abrir mão de seus avós, de seus pais, todos que por tanto tempo significaram tudo para ele por causa de um preconceito. Mas principalmente de sua avó, que sempre foi tão carinhosa e dedicada por ele.
- Pensando novamente neles, Scorpius? – a voz de sua amada ecoou pelo quarto de Albus.
Scorpius ergueu a cabeça e procurou a fonte da voz, mas o quarto continuava aparentemente vazio, exceto pelo corpo coberto por um lençol do seu amigo dormindo.
- Você sabe que já passou da hora de ir dormir Lilly. O que veio fazer aqui?
- Não sei ao certo, apenas... uma necessidade forte de vir te ver, te abraçar, estar ao seu lado.
Ao lado de sua cama, a cabeça de Lilly se materializou, seguida pelo próprio corpo, e a capa de invisibilidade da família deslizou fluidamente para o chão. Scorpius virou o rosto e olhou profundamente nos olhos de Lilly sem dizer uma só palavra. Lilly o encarou e notou com pesar no coração uma lágrima correndo delicadamente pela bochecha dele, e ele largou o livro que há tanto fingia ler.
- Você sente falta deles. – Ela afirmou olhando nos olhos deles. – Dê um tempo para eles se acostumarem com a idéia, Scorpius. Sei que eles virão te procurar.
- Eu acreditei nisso há quatro meses, mas eles ainda recusam as minhas cartas. Nem mesmo minha avó me escreveu. – Scorpius suspirou. – Parece que todo o respeito que eles tinham pelo seu pai morreu no momento em que eu confessei o meu amor por você.
- O que você quer fazer então? Se afastar de mim e voltar para eles?
- Se eu fizesse isso, abriria mão do amor da minha vida. – Scorpius acariciou o rosto de Lilly. – Eu nunca estaria pronto para fazer isso, e não vou voltar atrás na minha decisão.
- Falando assim, você me lembra um menino irritante que eu conheci alguns anos atrás, sabe? – perguntou Lilly, levantando-se e sentando no colo do namorado. Lilly abraçou o namorado e estudou o rosto dele por alguns segundos. – Um menino chato e muito mimado que não abria mão das coisas que realmente gostava. – Lilly abriu um sorriso. – Ele conseguia o que desejava com aquele rostinho de anjo...
- Estou ficando com ciúmes. – Falou Scorpius sorrindo, e Lilly o beijou.
- Paciência, tenho certeza que eles virão te procurar, quando notarem que você falou sério.
- Eu sei que vão, eu apenas sinto falta deles.
