PONTOS DE VISTA DE ISAAC
Por Vane
Esta história integra o "Ciclo Saint Seiya".
"Saint Seiya" é propriedade de Masami Kurumada, Shueisha, Akita Shoten e Toei Animation.
Parte I - Meus amigos ("amigos"?) do fundo do mar
Olá! Meu nome é Isaac Kekkonen, tenho 17 anos e, embora nascido na Finlândia, vivo na Grécia.
Estou muito contente, porque a líder da comunidade onde vivo me deu permissão para contar a vocês a história da minha vida! Normalmente, somos proibidos de falar sobre nós mesmos e sobre nosso modo de viver àqueles que não pertencem ao nosso mundo. Mas nossa líder atual é uma pessoa de mentalidade mais aberta... e é uma gata, também! Porém, não é sobre ela que eu falarei dessa vez.
Vocês devem ter estranhado o título acima. "Amigos do fundo do mar? O que significa isso?", vocês devem estar se perguntando. Eu explico: é que eu vivi durante algum tempo no fundo do mar.
Não, não estou louco. É verdade mesmo. E antes que alguém pense que eu morri afogado e que na verdade sou um espírito desencarnado tentando se comunicar com os vivos, vou logo avisando que estou bem vivo. Ao menos dessa vez. É que no passado já fui dado como morto em duas ocasiões. Mas tudo não passou de um equívoco... digo, de dois equívocos.
Vou contar a história de minha vida da forma mais resumida possível: nunca soube quem eram meus pais, ou se tenho irmãos. Cresci num orfanato, na minha cidade natal, Vantaa... alguém já ouviu falar? Duvido, aposto que tudo o que vocês sabem - se é que sabem - é que a capital do meu país se chama Helsinque... Mas Vantaa é uma das cidades mais importantes da Finlândia. Prosseguindo com minha história, quando eu tinha dez anos (uns dez anos e meio, na verdade), o orfanato no qual eu vivia foi visitado por uma mulher que devia ter 2,00m de altura! Nunca me esqueci disso. E o mais curioso é que, poucos dias depois, houve outra visita inesquecível (pelo menos, para mim): a de um homem de 1,40m! Brincadeirinha! O tal homem devia ter aproximadamente 1,75m... bom, mas o que importa não é a altura dele, e sim o motivo de sua visita: selecionar crianças para serem treinadas para se tornarem cavaleiros ou amazonas! E não estou me referindo àquele esporte, hipismo... trata-se de algo bem diferente: nós teríamos que aprender técnicas de luta especiais e desenvolver poderes mais especiais ainda para que pudéssemos proteger a deusa Athena e ajudá-la a cumprir seu dever, que é defender a Humanidade! Ah, eu adoro poder dizer que sou um "defensor da Humanidade"!... Soa tão bonito, tão importante! Vocês não concordam comigo?
Não estranhem o fato de eu ter falado numa deusa pagã . Se eu tivesse dito que tinha sido escolhido para servir a Deus, esse Deus no qual os cristãos acreditam, acho que ninguém estranharia, não é? Pois então, façam de conta que foi isso o que eu disse, e assim vocês não irão mais achar que minha história é esquisita.
Duas semanas depois, eu chegava à Sibéria... isso mesmo, aquele lugar geladíssimo que fica na Rússia. Não precisam sentir pena de mim: eu estava adorando aquela situação, queria muito ser treinado, tornar-me um cavaleiro e defender a Humanidade... ah, não me canso de dizer isso: sou um defensor da Humanidade, da Justiça, do Bem, da Verdade, da... err, como eu ia dizendo, cheguei à Sibéria (não posso dizer o nome da localidade onde eu fui treinar, não é permitido). Nessa época eu tinha dez anos e meio... acho que eu já tinha dito isso antes, não? Enfim, no dia seguinte comecei a ser treinado pelo rapazinho que me recebera no dia anterior, um francês seriíssimo, muito formal, que ordenou que eu o chamasse por seu sobrenome, Camus. Dois meses depois, chegou outro menino... aliás, quando meu mestre me disse que chegaria outro garoto para treinar conosco, fiquei meio decepcionado. Por que não uma garota? Calma, não é o que vocês estão pensando! É sério, eu não estava a fim de paquerar; apenas achava chato viver numa casa habitada só por homens... digo, garotos, pois éramos todos muito novos. No orfanato no qual fui criado, havia várias garotas, e eu gostava da amizade delas. Mas não pensem que nossa casa na Sibéria era um ambiente tipicamente masculino... se bem que isso depende do que vocês consideram tipicamente masculino. Se na opinião de vocês isso significa "bagunça, sujeira, desorganização", saibam que nossa casa era o oposto disso, já que meu mestre é a pessoa mais disciplinada desse mundo, e jamais admitiria viver num lugar desarrumado. Portanto, pensar que nossa casa era um ambiente "tipicamente masculino", no sentido que normalmente se associa a essa expressão, é o mesmo que ofender meu mestre.
Confesso que antes eu não era uma pessoa das mais organizadas... vocês sabem, a bagunça é tão cômoda, tão prática, tão conveniente... é muito mais simples deixar os objetos sobre o primeiro móvel que aparecer na sua frente, ao invés de ter que caminhar até o armário onde eles deveriam ser guardados, e ainda ter que se certificar de que você irá colocá-los no compartimento certo, pois se eles forem postos na gaveta errada, por exemplo, poderão tomar o lugar dos objetos que realmente deveriam ser guardados ali, e isso só iria prejudicar a arrumação, ao invés de ajudar. Também é bem mais prático deixar a poeira se acumular por dois, três ou (por que não?) quatro dias, ao invés de fazer a limpeza todos os dias. Ora, se por um lado é inevitável limpar os móveis e objetos, por outro lado não há porque fazer isso diariamente. A poeira não irá se acumular novamente, de qualquer modo? Então, por que não esperar até que a quantidade acumulada seja suficiente para justificar o trabalho que teremos se quisermos fazer uma limpeza bem feita? Infelizmente, meu mestre jamais pôde compreender meus pontos de vista... e o pior é que meu melhor amigo conc... puxa, acabei me esquecendo de falar sobre ele! Esse meu amigo chama-se... esperem, acho melhor terminar o que eu estava escrevendo antes, e depois sim falarei sobre ele. Como eu ia dizendo, esse meu amigo concordava com nosso mestre, pois ele mesmo sempre foi muito organizado. É triste quando não se pode contar com o apoio dos amigos, não acham? Assim, eu fui derrotado, e vi-me obrigado a abrir mão da praticidade em nome dessa tal de organização.
Agora sim falarei sobre aquele menino que se juntou a nós dois meses após minha chegada: seu nome era Alexei Hyoga, ele era russo e nós tínhamos a mesma idade. Como eu já disse antes, no começo não gostei muito da idéia de ter que conviver com mais um garoto... mas logo nos tornamos amigos inseparáveis! E, mesmo sem querer, ele foi o responsável por eu ter vivido no fundo do mar. Não, ele não tentou me afogar, se é isso o que vocês estão pensando. O que aconteceu foi o seguinte: certo dia, ele tentou usar seus poderes para visitar a mãe dele, cujo corpo se encontrava num navio naufragado (sim, dessa vez estou mesmo me referindo a uma pessoa que morreu afogada). Infelizmente, ele acabou ficando preso em algumas cordas do navio... não sei como se chama aquilo... antes que me chamem de burro, lembrem-se de que fui treinado para ser um cavaleiro, e não um especialista em náutica! E não digam que isso é apenas uma desculpa esfarrapada! Digo... está certo, é só uma desculpa mesmo, eu admito. Mas isso não vem ao caso. O que importa é que eu fui tentar salvar meu amigo, e consegui, mas acabei surpreendido por uma forte corrente marinha, e embora eu tenha conseguido fazer com que Hyoga voltasse à superfície, eu não consegui me salvar... Já sei o que vocês estão pensando: "Agora sim ele vai confessar que na verdade é um morto que está se comunicando com os vivos!" Lamento desapontá-los, mas não é nada disso. Eu não morri, como seria de se esperar; eu fui parar nos domínios de Poseidon! Isso mesmo, outro deus pagão. E foi lá que concluí meu treinamento, consegui minhas escamas... não, eu não fui transformado em peixe; escamas é o nome dado às armaduras usadas pelos guerreiros que servem a Poseidon, entenderam? E faz sentido, vocês não acham? Se ele é o deus dos mares, então o nome das armaduras precisa ter alguma coisa a ver com o mar, não é?
Cerca de um ano após minha chegada ao reino de Poseidon, meus companheiros e eu lutamos contra Athena... eu sei que eu disse que tinha sido treinado para servi-la, e não para combatê-la, mas é que... eu... ah, sei lá! É muito difícil para mim explicar como eu me sentia naquela época. Eu sempre achei bem mais fácil falar sobre os outros do que sobre mim mesmo. Quero dizer, é claro que não me importo em falar sobre mim mesmo, contanto que eu saiba o que dizer. E nesse caso da minha luta contra a deusa que eu deveria servir, eu não sei muito bem o que dizer. Eu me arrependo do modo como agi, então prefiro não pensar muito nesse assunto; ainda mais porque acabei lutando contra meu próprio amigo, Hyoga. Felizmente, voltamos a ser amigos depois disso, e esse é mais um motivo para eu ter a sensação de que tudo isso aconteceu há muito tempo: durante aquela luta, eu senti tanta raiva dele, e no entanto, hoje em dia eu mesmo não entendo o porquê disso. Enquanto eu sentia aquela raiva, eu a achava perfeitamente justificável, mas depois que consegui tirá-la do meu coração, ela perdeu todo o significado.
E essa é a história da minha vida. Gostaram? Não? Por quê? Já sei: vocês queriam que eu desse mais detalhes, não é? Mas eu avisei que ia contar tudo da forma mais resumida possível! Se não gostam de histórias resumidas, então por que continuaram lendo? Ah, vocês esperavam que eu falasse sobre meus amigos do fundo do mar... é verdade, acabei não falando nada sobre eles. Mas eu não tinha mesmo nada de muito interessante para dizer sobre eles... "Então por que esse texto se chama 'Meus amigos ("amigos"?) do fundo do mar'?", vocês devem estar se perguntando. Bem, é que... eu precisava chamar a atenção de vocês de alguma forma... e esse título chama mesmo a atenção, não acham?
Ainda querem que eu fale sobre esses meus amigos? É, já vi que vocês estão muito interessados mesmo... coitados, vão se decepcionar. Está bem, vou falar sobre eles no meu próximo texto. Estão satisfeitos agora? Espero que sim. Então, até breve!
NOTAS DA AUTORA: Esta história se passa meses após a luta contra Hades; portanto, Isaac deveria ter no máximo quinze anos. Mas resolvi ignorar as idades originais dos personagens (aliás, isto é o que pretendo fazer em todas as minhas histórias). Por isto, ele tem dezessete anos. Talvez essa fanfic tenha parecido um pouco infantil, superficial, escrita às pressas e de modo desordenado. Saibam que tudo isto foi proposital. Esta história foi narrada em primeira pessoa; portanto, foi preciso escrever não do modo como eu gostaria, mas sim do modo como eu acredito que o personagem teria escrito, se ele fosse real. Espero que tenham gostado!
Capítulo escrito em setembro de 2002.
