Os personagens de Hakuouki Shinsengumi Kitan não me pertencem, mas por um tempo vou pegar o Shinpachi emprestado.

Esta história faz parte de "Confissões" do grupo RoninLovers, inter-relacionada com as demais.

Kinhime Shimazu é de minha autoria e as demais personagens O.C.'s presentes no enredo são criadas por membros do RoninLovers

Ira Conter spoiler em alguns capítulos.


.Sonho Dourado.

Confissões de Kinhime Shimazu

-Prólogo-

Sentada sobre a cama, trajando minha yukata masculina na cor verde escuro com um obi em um tom mais claro, apoiei um braço na janela e observei entediada o enorme quarto que durante muito tempo ocupei e do qual não senti a menor falta nos anos em que estive em fuga.

Não podia negar que era bonito, moveis de madeira polida, tapete felpudo ao lado da cama posta junto a janela, peças de bambu e toda uma decoração a partir do que havia de melhor no Japão, mas nunca fui feliz ali, simplesmente era impossível obter felicidade na mansão Shimazu. Por isso a cerca de três anos atrás fugi desse lugar opressivo, o sonho dourado da liberdade me motivando a cada caminho traçado e nunca retornaria por vontade própria, mas o destino as vezes brinca com as pessoas e as coloca de volta ao princípio para um acerto de contas ou, para o meu azar, isso só ocorresse comigo.

Senti o vento bagunçar os fios castanho claro, lisos e curtos do meu cabelo, símbolo máximo da minha rebeldia, meu primeiro ato após fugir da mansão tinha sido corta-los, o que antes descia suave até minha cintura agora passava pouca coisa da nuca. Minha okaasan quase desmaiou ao ver o que tinha sido feito com o cabelo que, por milhares de vezes, me ordenara escovar mais de cem vezes seguidas, não se importando com a dor que o ato causava aos meus braços finos, interessada somente em manter os fios do meu cabelo alinhados, lustrosos ou coisa do tipo, pura bobagem da parte dela, embora na época não me desse conta disso.

Suspirei cansada e voltei meus olhos dourados para o lado de fora. Pela janela do meu quarto, no segundo andar da mansão Shimazu, depois dos pesados portões de madeira, conseguia visualizar as frondosas copas das árvores que se movimentavam conforme a vontade caprichosa do vento. Aquela imagem foi a unica coisa nas últimas horas que fez um sorriso tomar forma em meus lábios pequenos, porém não pela beleza esverdeada da folhagem, mas por me fazer lembrar de um certo homem que gostava da cor verde. Nagakura Shinpachi é seu nome e, sendo sincera, tudo me faz lembra-lo, o céu azul lembra seus lindos olhos, que por muitas vezes pareciam querer decifrar o que havia por trás dos meus, a terra marrom que cerca a mansão lembra seu cabelo rebelde e macio, que tive o prazer de percorrer com meus dedos, e até mesmo o meu sorriso me fazia lembrar dele que, mesmo contra a minha vontade, insistia em me fazer sorrir.

Creio que isso é o que chamam de amor afinal, ver o ser amado em tudo a sua volta.

Presa e a espera de um desfecho trágico para minhas aventuras, me fazia diversas perguntas a cerca desse amor, o qual nunca desejei sentir. Será que ele sentia o mesmo? Sentia a minha falta pelo menos um pouquinho, mesmo que fosse somente um grão de areia perto da falta que ele me fazia?

Queria que a minha imagem também estivesse nos pensamentos dele.

Em um gesto automático toquei meu colo, bem no lugar onde terminaria o colar dourado que ganhei em meu aniversário de cinco anos e estaria um pequeno pingente em forma de pássaro, o lendário Hyoku, a ave que buscava sua outra asa, sua outra metade, mas meus dedos não o encontraram. Essa descoberta só fez meu sorriso aumentar, pelo menos meu precioso Hyoku conseguira permanecer em liberdade, com certeza estava realizando o sonho que por tanto tempo lhe fora negado: Voar.

- Porque o sorriso?- Ouvi uma voz carregada de sarcasmo perguntar a minhas costas.- Se conformou com o seu destino afinal?

Me virei para encarar a soberana Yuu, minha okaasan, uma mulher de caráter forte, bonita, de cabelos negros como a noite e olhos castanhos escuro, olhos que me fitavam com desdem, o que não era surpresa alguma para mim.

Caminhou devagar em minha direção, se afastando aos poucos da porta entreaberta, que até alguns instantes atrás se encontrava trancada do lado de fora devido o medo que tinham que eu voltasse a fugir. O impressionante era que tinham ignorado que a janela permanecia aberta, talvez por imaginarem que sou delicada demais para tentar uma queda do segundo andar. Tolos, mal sabiam que seria fácil aproveitar o tempo de dois minutos em que o guarda se distanciava da frente da minha janela para pular para fora, escalar o muro, correr em direção a floresta que cercava a mansão e me esconder no mesmo local em que passei uma noite a quase três anos atrás. O detalhe é que não desejo fazer isso.

- Saiba que mesmo que Masayoshi suplique, a raiva da família só passara com sangue, o seu sangue.

As palavras carregadas de maldade não me surpreenderam, sempre soube que ela não me amava como deveria, embora só naquele momento tive a certeza de que, além de não me querer, Yuu me odiava. Não que me importasse em não receber o afeto dela, quando estive do lado de fora da mansão encontrei pessoas que me mostraram que a vida é muito mais que ser ou não aprovada pelos pais, que amizade e amor nos torna mais fortes as adversidades, não o contrário como dissera Yuu por diversas vezes durante meu crescimento.

- Pensou que poderia escapar do seu destino e pagara muito caro por isso.- Yuu continuou enquanto sorria de satisfação pela minha aparente desgraça.- Você é igualzinha ao seu pai, tanto fisicamente quanto no modo de pensar, se acha superior as tradições e as pessoas, mas infelizmente nasceu com o sexo errado.- Sem a menor delicadeza Yuu segurou e ergueu meu queixo, me obrigando a encara-la, seus olhos castanhos fiixos nos meus.- Mulher só tem uma utilidade e você perdeu a sua quando fugiu, com certeza para se entregar a qualquer sujeito de beira de estrada.

Poderia revidar, como sempre fazia antes de fugir, mas naquele momento só fitei bem no fundo dos olhos da minha okaasan e o que vi refletido nas orbes apáticas me fez ter pena daquela mulher.

- Não vai negar?- Ela berrou irada, seu rosto mais próximo do meu.

- De que adiantaria? Já tirou suas própria conclusões, não quero decepciona-la.- Respondi com a maior frieza que consegui, com um sorriso de zombaria nos lábios.

Não devia satisfação a ninguém, principalmente a ela.

O tapa que levei a seguir foi tão forte que meu rosto virou para o lado e, por contra própria, permaneci assim, os olhos fixos em um ponto qualquer do chão lustroso, sem vontade de voltar a fitar a expressão desdenhosa de Yuu.

- Qual é o seu problema afinal?- Yuu quis saber com a respiração apressada.- Jogou nosso sobrenome na lama e permanece com esse ar superior.- Esbravejou antes de respirar fundo e caminhar em direção a porta ainda lançando seu veneno.- No fim somos iguais, nos tornamos fracas por amar quem não deveríamos.

- Okaasan, está certa sobre muitas coisas, menos uma...- Disse por fim atraindo a atenção dela.

Surpresa Yuu parou com a mão na maçaneta da porta e se voltou para mim, com certeza estranhou o sorriso gracioso que tomava conta da minha face.

- E o que seria?- Ela perguntou após um longo silêncio da minha parte.

- Para a minha sorte somos totalmente diferentes, ao contrário do que disse meu amor me tornou forte, por ele sou capaz de aceitar a morte com um sorriso nos lábios.- Afirmei com segurança. Por mais que desejasse não podia deixar ela ir embora sem sentir o gosto do meu desprezo.- Amei e fui amada de uma forma que você nunca foi e nem será.

Se Yuu pudesse teria me matado com o olhar tamanha a raiva que refletia em seus olhos, porém pareceu se conter, saiu e bateu a porta com brutalidade.

Só após ouvir o som do trinco cumprindo a função de me manter trancafiada naquele recinto me voltei para a janela, apreciando novamente a junção das folhagens das árvores, do céu e da terra, deixando que as lembranças de como acabei naquela situação dominassem meus pensamentos, sem me preocupar com o julgamento que acontecia no salão principal, do qual ao final seria decretada e executada a minha sentença.

Preferia relembrar o tempo feliz e carregado de surpresas que tive do lado de fora da grande muralha que, de forma cruel, me separava de tudo que aprendi a amar.


N/A - Não sou boa em escrever em primeira pessoa, mas pela família RoninLovers farei um extra-big-GGGigante-esforço para que cada capítulo saia pelo menos bom xD

Críticas, elogios e sugestões são sempre bem vindos e fazem um bem enorme para minha saúde criativa

Aproveitem e leiam as demais confissões da família RoninLovers, garanto que vão se surpreender, envolver e se apaixonar por cada uma delas

Big beijos

Sam Moon