Prólogo

Prólogo

- SEIYA! VOCÊ É UMA VERGONHA! AVEEEEE FÊNIX!!

Coberto pelo sangue de Marin, Ikki juntou os braços retos à frente do corpo, e logo uma imensa ventania começou a soprar. Um vento cortante, forte, quente, que carregava consigo um cheiro fortíssimo de enchofre e por vezes línguas de fogo que envolviam o corpo do Cavaleiro de Pégaso. Fênix não via mais nada a sua frente, a não ser o ódio pelo homem que assassinou aquela que finalmente conseguira destruir a carapaça de pedra que envolvia seu coração e o impedia de amar outra que não fosse Esmeralda. Marin agora jazia sem vida aos pés dele, e logo Seiya também estaria junto com ela.

- Maldição, Ikki! Enxergue a verdade, maldito, submeta-se a mim e entenda que eu realizarei o milagre que Atena não foi capaz de realiza...AaaaAaarrgh!!

O rosto de Seiya atingiu o chão com força, e a coroa de sua armadura deixou seu rosto e deslizou pelos ringue do recém-reformado Coliseu. Estava prestes a se levantar quando foi acertado na nuca por um vergalhão de concreto e, nesse instante, junto com seus dentes, seu sangue e fragmentos de seu crânio, pôde ver com clareza pela primeira vez os corpos que estavam espalhados naquele ringue: Shun, Shiryu,
Hyoga, Shina e... Saori.

Ouvia a risada que há tantas noites lhe assombrou os sonhos e, pela primeira vez, pôde enxergar tudo com clareza. Mas era tarde demais. O punho de Ikki se aproximava a uma velocidade estonteante seguido por um
rastro de fogo. Sentia os cosmos de todos aqueles que estavam ali caídos, um a um, guiando o punho de Fênix que se dirigia a seu coração. Foram menos que instantes entre o imenso rastro de chamas e lágrimas
que o ataque de Ikki deixava para trás e o instante em que ele atravessou o peito de Seiya, levando junto consigo o coração daquele que já foi o mais obstinado dos Cavaleiros de Atena.

Mas foi dada a Seiya a chance de, na fração de milésimo de segundo antes de sua morte, conhecer aquilo que tinha feito, e se arrepender de seus pecados para, talvez, obter perdão no instante final de sua vida.

Tudo começa com Kanon na prisão do Cabo Sunion. A fome o assolava já a meses, e o frio que passava com o corpo molhado no inverno grego, dentro da rocha fria, fazia tremer sua carne. Pelas marcas que fizera na parede com a garra de um caranguejo que foi sua primeira refeição, ele contava estar lá já há seis meses. O ódio por Saga corroía-lhe as estranhas e misturava-se ao amor que também sentia por ele. Como Saga era ingênuo! Sabia muito bem que eles dois eram os mais perfeitos exemplares da raça humana, ápices da criação como os heróis da mitologia. E Saga desperdiçava esse potencial colocando-se a serviço de uma deusa que os manteria reclusos do mundo, sem poder tirar proveito algum da extrema força que tinham.

Foi então que lembrou-se de quando há alguns anos atrás invadira os aposentos do Mestre e achou um livro que se intitulava "A Grande Guerra Santa de 1517", em grego, assinado por "Cáoren, Cavaleiro de Bronze de Fênix". Nesse livro tomou conhecimento do ser que livraria seu irmão da ingenuidade e tolice que lhe assolavam de uma vez por todas, e mostraria-lhe seu verdadeiro destino. Colocou-se de pé, com algum esforço, com as costas na grade e, quando o fez, o mar começou a se agitar, assolando-o, os ventos aumentaram sua intensidade e nuvens de chuva começaram a se formar.

- Ares! Ares, juiz do Inferno, espectro de Wyvern, sei que ainda está aqui! Apareça para que conversemos!

Houve silêncio. Ouvia-se apenas o rugir da natureza lá fora. A rocha fria olhava de volta para Kanon quando os olhos deste sondavam cada rachadura e protuberância buscando encontrar de onde viria a alma de alguém que em vida fora tão perigoso, que sua própria alma foi aprisonada no Cabo Sunion, impedida de seguir o ciclo de vida e morte para que não causasse mais mal algum.

- Ouça-me, maldito! Apareça e eu tirarei você daqui!

A princípio, Kanon creu que não seria ouvido, quando um onda fortíssima assolou a prisão, arremessando-o com extrema força contra a parede oposta, e pressionando-o contra ela por vários segundos. Toda a cela se encheu de água com uma corrente que investia contra a rocha e esmagava vagarosamente Kanon, a ponto de quase quebrar-lhe os ossos e retirar-lhe todo o ar. Foi quando subitamente, alguma barreira colocou-se entre a torrente de água e Kanon.

Ele foi ao chão, tossindo, vomitando água e arfando, crendo ter atraído a ira de todos os deuses por ter ousado clamar por esta alma maligna mas, em verdade, era ele, justamente ele, Ares, que se interpunha entre a água e o homem. Via-se apenas uma silhueta quase completamente transparente, coberta com um manto negro, cabelos longos, ondulados e grisalhos, rosto de traços finos e sóbrios, e olhos cobertos por um carmesim demoníaco de íris cinzas que fitavam Kanon e diziam claramente que se ele não o dissesse uma maneira eficiente de sairem dali na próxima vez que falasse, Kanon iria morrer. Foi então que, entre uma tomada de fôlego e outra, mas já transformando-as em risadas leves, Kanon falou:

- Eu sei quem você foi e o que você fez. Descendente direto de Marco Aurélio, o grande imperador, bruxo e inquisidor, tornou-se espectro de Hades e criou o Satã Imperial! Sei que é capaz de dominar o corpo de
um cavaleiro e, uma vez feito isso, domina até mesmo sua armadura! Eu tenho um irmão gêmeo, Ares!

A água criava um espetáculo magnífico, sendo espalhada pelas costas largas de Ares e explodindo e reverberando por toda a pequena cela, mas quando Kanon mencionou que tinha um irmão gêmeo, as águas voltaram com força para fora da cela e, enquanto o mar continuou bravio, quem agora atacava a terra com imensa intensidade eram os raios. Dezenas de vezes por minuto o dia que havia sido feito noite voltava a ser dia graças aos raios que assolavam o mar e o Santuário.

- Sim - disse Kanon já extremamente confiante e certo da vitória - Você sabe que nem mesmo esta cela, feita para deter o poder de deuses pode romper a ligação mental, espiritual e emocional que existe entre irmãos gêmeos! E meu irmão é o Cavaleiro de Ouro de Gêmeos! Use-me para chegar a ele e sair desta prisão, e use-o para elevar-nos ao poder máximo!

O resto da história é conhecido. O lado mal de Saga, Ares, como se auto-denominava, despertou. Kanon manipulou Poseidon que por sua dominou Hilda, e causou todas as batalhas. Ao final da Batalha das Dozes
casas, com a morte de Saga, o espírito de Ares voltou a vagar livre. Ele sabia o que Kanon maquinava no fundo do mar, e por isso esperou. Sabia também, ao final da Batalha do Mar, que em breve Hades viria.

Esperou para que os dois lados se digladiassem até a morte e restassem apenas debilitadíssimos Cavaleiros de Bronze, com toda a ameaça que os Cavaleiros de Ouro representariam encerrada no inferno.

Durante todo esse tempo, houve um Cavaleiro cujo poder superou a todos, até mesmo deuses. Um guerreiro com um cosmo tão potente e brilhante que era capaz de operar milagres. Claro, seu corpo precisava de alguns consertos, mas nada que não fosse facilmente reparado. Ares escolheu Seiya. Ares tomou para si Seiya.

É aqui que começa a nossa história.