Notas Iniciais:

Esta história se passa alguns meses após o término de Trials & Tribulations e do primeiro jogo do Miles. Contém ainda alguns spoilers de Apollo Justice, mas nada muito sério, apenas temas do pano de fundo do jogo como a atual situação do Phoenix e a Trucy. Eu não usei nada do segundo jogo do Miles, pois nunca o joguei. O que usei do primeiro é apenas a Kay, ou seja, vocês não precisam conhecê-lo, não há spoilers de lá. Se você nunca leu Phoenix Wright, mas não se importa com spoilers, imagino que não terão problemas para seguir esta história.

Por fim, agradecimentos à Vane por revisar a fic para mim e à Nemui pelo prompt.


Olho Azul Apresenta:

Refrescante

História escrita como presente aos participantes do Coculto 3, uma troca de fics realizada pela comunidade Saint Seiya Superfics Journal.


Capítulo 1 – Talento

Uns diriam que Miles Edgeworth havia perdido naquele julgamento. Os mesmos que veem o Tribunal como uma arena em que advogados e promotores deviam batalhar ferozmente para convencer o juiz de seus pontos de vista. Ele também, por muito tempo, pensara assim. Foi quando ele achara estar perto da vitória que Miles percebeu que era exatamente o oposto que acontecia, e que a justiça estava, na verdade, prestes a sofrer mais uma derrota.

Phoenix Wright perdera o direito de advogar. Aquele que o fizera ver qual era a verdadeira missão de um julgamento não era mais considerado apto à advocacia. E Miles não pudera fazer nada quanto a isso...

Inicialmente, a bem da verdade, ele não se importara. Wright estava sempre se metendo em encrenca. Quantos advogados podiam dizer aos clientes que tinham experiência real no banco dos réus? Pois Wright era um desses poucos.

Não que Miles pudesse dizer muito quanto a isso, posto que ele mesmo já se acusara uma vez. E fora exatamente o advogado de infame penteado para o alto que o salvara daqueles dias negros. Três longos dias negros... Não, longos anos acusando a si próprio.

Mas era por essa mesma razão que ele não podia se culpar por não ter agido. Nem era sua tarefa. Como promotor, Miles devia se sentar no lado oposto. Se ele podia dizer que fizera algo por Wright, fora ignorar aquele tal de Gavin. Mas Miles o teria feito de qualquer forma, dada a personalidade da nova estrela da promotoria.

Miles sorriu ao sair do julgamento. Ele andava preocupado com a demora de Wright em resolver sua situação, mas não deixava de sentir-se grato pela luz trazida à sua vida. Mais um inocente que enfrentava uma falsa acusação podia também ter um pouco dessa luz agora, graças a Miles. Não era presunção: o próprio advogado de defesa instruíra o cliente a se declarar culpado e o julgamento vinha correndo assim havia dois dias, quando o caso chamara a atenção do promotor, recém-chegado de um seminário na China.

Custara-lhe prometer se encarregar de várias papeladas para convencer o promotor do caso a ceder-lhe o banco e, com apenas um dia, parecia impossível que Miles pudesse juntar tudo. Ele chegara à frente do juiz com o mesmo conhecimento de quando vira o processo pela primeira vez. Sua única arma estava na obstinação de fazer a verdade emergir. Ele não se importaria que aquele rapaz recebesse a pena de morte se ficasse claro que fosse o perpetrador, mas era inaceitável que as contradições dos autos fossem ignoradas apenas porque ele confessara o crime.

E lá estava, no meio do público, a peça que faltara ao quebra-cabeças do caso. Custara a Miles juntar todas as provas de forma a convencer o juiz a chamar aquela testemunha. Afinal, a própria defesa dizia que o homem era culpado; restava apenas saber se ele realmente morreria ou se a pena seria atenuada. Se ao menos o advogado não ficasse com o rabo entre as pernas e se juntasse a ele para buscar a verdade...

Mas agora estava tudo acabado e o homem lhe agradecia, curvando-se tanto que parecia que a cabeça bateria em sua canela a qualquer momento. Miles sorriu ainda mais.

Virando-se, ele estava pronto para sair do tribunal quando avistou uma jovem. Ela era pequena, frágil e apenas olhava para baixo. Como um fantasma, pensou o promotor, arqueando as sobrancelhas.

No entanto, antes que a moça pudesse abrir a boca, um detetive começou a falar. Polícia. Muitos policiais.

- Mary White, você está sendo detida pelo homicídio de Craig Tumen. – Seguiu-se a isto uma longa lista de procedimentos, enquanto a menina era algemada.

Miles decidiu se afastar da cena, não querendo atrapalhar o detetive Gumshoe e seus homens. Mas a imagem de certo advogado surgiu-lhe à mente. Ele estava no meio de todos, afastando-os e pedindo mais informações. Dizendo à jovem que não se preocupasse, que ele acreditava que ela não havia feito aquilo e que tudo daria certo. Que ele faria tudo ficar certo novamente.

O promotor piscou os olhos, e Wright não estava mais lá.

- Eu estava sonhando? – perguntou-se desnorteado, enquanto a menina era preparada para a escolta.

- Eu também não consigo acreditar, senhor Edgeworth. Uma moça tão bonita... – O detetive que dera a voz de prisão parecia tentar recuperar o fôlego ao seu lado.

- Detetive Gumshoe!

- Sim, senhor! O senhor quer que eu investigue direito, não é, senhor? Já estou fazendo isso, senhor!

Não era essa a intenção de Miles. Ele só queria que Gumshoe não ficasse bem ao seu lado, arfando como um cachorro. Nem falando de casos que não lhe diziam respeito. Mas...

- Você acabou de prendê-la – Miles começou, levando a mão ao queixo. – E mesmo assim não sabe se foi ela? Ademais, pessoas bonitas também podem cometer crimes, detetive. Devo cortar uma parte de seu salário e investir o dinheiro empregado na formação de nossos detetives?

- Mas, senhor Edgeworth! O senhor não faz ideia do que aconteceu. – Ele começou a tossir.

- Apenas descanse um pouco. Para que correr tanto atrás dessa moça? Ela não iria longe mesmo se quisesse.

- Ela é uma bruxa, senhor! Ela pode... ficar invisível! Tínhamos que pegá-la de surpresa.

- Hã?

Edgeworth balançou a cabeça. Não adiantava tentar obter fatos concretos com aquele sujeito. Mais valeria conseguir documentos que explicassem melhor o caso.

- Hoje foi um longo dia para mim. Entregue em minha sala tudo o que tivermos sobre essa moça e eu verei se é mesmo possível que pessoas... fiquem invisíveis. – As últimas palavras saíram à força. Miles já estivera em muitos casos impossíveis, mas ainda não conseguia aceitar crimes com explicações mágicas para culpar as pessoas.


Miles acordou assustado com o telefone de seu gabinete. Ele olhou para os papéis do caso, que Gumshoe fizera serem entregues em sua sala. Estavam todos espalhados pela mesa, e o promotor desconfiava de que seu rosto estivesse marcado por eles. Realmente, o caso daquela manhã o cansara. Tivera muito pouco tempo para se preparar...

- Edgeworth - disse ao pegar o receptor.

- Senhor Edgeworth, que bom que o senhor voltou. É a quarta vez que tento achá-lo... – uma voz anasalada dizia do outro lado da linha.

- E o que deseja?

- É que eu estou muito mal, não consigo sair de casa.

O que isso tinha a ver com ele se aquele estranho... Espere.

- Detetive Gumshoe!

- Sim, senhor! AI! – Um baque havia precedido o último grito. – Sinto muito; eu bati com o receptor na testa, senhor.

- Aprenda a se identificar quando ligar para alguém, detetive.

- Ah, eu não disse, senhor? Mas é que a gente é amigo, né? Um amigo conhece a voz do outro, senhor...

Amigo? Mas antes que Miles pudesse retrucar, o detetive fanhoso prosseguiu:

- Mas sobre o caso da Mary White, eu sinto muito! Como não consegui voltar à estação, não pude copiar o restante dos papéis. E meus amigos não querem se meter. Sabe, todo mundo tem medo desse promotor aí.

- Detetive!

- Eu sinto muito, senh... – mas ele foi interrompido por um espirro, várias tossidas e o sinal de ocupado do telefone. A ligação havia sido encerrada.

Miles recolocou o fone no gancho e olhou para trás de sua cadeira, como se pudesse pegar no ar as informações restantes. Era muito pouco o que Gumshoe obtivera no fórum; apenas o perfil da moça. Na prática, Miles teria que começar a investigação do zero.

- Senhor Edgeworth?

A voz saída do telefone fizera Miles perceber que o havia atendido automaticamente.

- Fale.

Era a secretária do promotor do caso daquela manhã. Ela estava informando que acabara de enviar por alguém um carrinho com todos os papéis necessários para o seu relatório, que deveria ser entregue até a manhã seguinte.

- Mas amanhã é o primeiro dia de julgamento! – reclamou Miles para ninguém em particular, após desligar o telefone.

Ele cogitou ligar para Kay Faraday. Ela gostava de ser sua assistente e ficaria feliz em poder fazer algo após uma semana sem vê-lo. Contudo, Miles olhou novamente para os papéis de Gumshoe. "A mulher invisível", dizia alguma anotação a lápis no topo da primeira folha. Esse era o apelido do caso, ele soubera assim que retornara à promotoria. Kay era apenas uma menina... Era verdade que lhe fora muito útil durante algumas investigações, mas, se possível – e raramente o era, dada a energia que a moça tinha –, Miles evitava envolvê-la.

Miles massageou as laterais da cabeça. Nessa mesma hora, o carrinho chegou, carregado de papéis. Como três dias de julgamento poderiam render tantas folhas? As pessoas deviam aprender a serem mais sucintas. Talvez ele devesse abordar esse ponto na revolução que ele sonhava fazer na promotoria. Logo após convencer seus colegas de que não estavam ali para acusar ninguém e sim para se assegurarem da verdade, Miles pretendia pôr um limite àquele desperdício de papel. Mas com Wright fora dos tribunais, Miles era o único a defender seu ponto de vista, e aquela montanha de papel não era nada além de sua punição por perder o "jogo" daquele dia.

Hm?

Wright... estava desempregado, certo? E estar sem o direito de advogar não significava que ele era uma "persona non grata" para os tribunais. Ele apenas não podia assinar como advogado. Mas Wright ainda podia fazer suas reviravoltas naquela sala de julgamento!

Miles se levantou da cadeira e pegou o telefone.

Continuará!

Anita


Notas da Autora:

A verdade é que esta foi minha primeira fic de Phoenix Wright. Nunca me senti muito preparada para ecsrever sobre este fandom, então ela começou mais como uma brincadeira, peguei um pedido do Coculto e comecei a desenvolvê-lo já no processador de texto, sem pensar muito no miolo. E o resultado foi não apenas maior, mas completamente diferente do que eu esperava. Comecei com uma comédia yaoi e acabei entrando em uma real investigação!

Desta forma, por favor, não se esqueçam de comentar! Cada opinião aqui conta ainda mais que o normal, já que são tantos campos desconhecidos por aqui, né?

E aos que gostarem de escrever fics de PW, participem do próximo Coculto. :D Eu, ao menos, sempre faço pedidos com a série. É só você escolher um e escrever!

Agradecimentos à Nemui por fazer este pedido e à Vane por betar esta história.

Até a próxima ^^