He Never Knew - Javert & Éponine
Ela nunca disse como gostava dele, de seus olhos frios e de sua expressão indiferente. Ele nunca soube.
Éponine Thénardier, ao contrário da maioria das garotas de sua idade, não sentia atração por homem algum. Ela já ouvira falar de garotas que gostavam de outras garotas, que beijavam e se deitavam com outras garotas; por um breve período de sua vida adolescente, ela acreditou que fosse uma delas, mas, quando ele apareceu, tudo mudou.
O Inspetor Javert, por sua vez, não era como os outros homens; nenhuma mulher o atraía. Nenhum ser humano em especial o atraía de forma alguma. Ele achava todos muito simples e banais. Em sua vida não havia ninguém que apresentasse nada, nenhuma ideia ou característica que chamasse sua atenção... Até que ela aparecesse.
Pela visão da sociedade, eles deveriam ser inimigos. Mas chegou um momento em que eles perceberam que não era possível: ambos notavam os olhares dirigidos um para o outro. Ambos sentiam, e não podiam negar isso, uma estranha atração que fazia com que eles quisessem se aproximar mais e mais. Ela aceitou isso antes do que ele; demorou algum tempo até que Javert percebesse que ele havia desenvolvido sentimentos por aquela garota, por mais estranhos que fossem. Ele sentia algo por ela, e ela sentia algo por ele.
Eles não perceberam a gravidade de seu ato quando dormiram juntos pela primeira vez. Isso logo se tornou um hábito, um vício que havia os consumido e sem o qual eles já não podiam viver. Éponine percebera que sua irmã mais nova, Azelma, sabia que algo estava acontecendo entre ela e o Inspetor, e sabia que isso a magoava, de certa forma. Sabia que ter um caso com a Lei não era o que uma garota de rua geralmente faria, mas ela não podia evitar: no meio de tantos garotos estúpidos e imundos que se aglomeravam como cães no cio à sua volta, Javert era um homem sério, limpo e imponente, que manifestava algo além de cega luxúria por ela, mesmo que nenhum dos dois, principalmente ele, soubessem exatamente o que era. Nenhum dos dois saberia dizer; nenhum deles jamais sentira a sensação de amar e ser amado.
Ela nunca viu a necessidade de dizer qualquer coisa à ele; quando estavam juntos, nenhum dos dois falava. Eles faziam amor algumas vezes e então dormiam nos braços um do outro. Era a única hora do dia que Éponine não se sentia suja. Ela gostava dele, gostava da maneira de como ele a fazia se sentir especial, se sentir como se fosse única e necessária. Mas ela nunca lhe disse. Ela nunca disse como gostava dele, de seus olhos frios e sua expressão indiferente, da maneira como sua voz rouca soava quando ele queria intimidar os criminosos nas ruas, do jeito que ele a deitava na cama e beijava seu pescoço. Ele nunca soube. Ela nunca soube.
Nenhum dos dois nunca soube o quanto amavam um ao outro.
