Olá, após 3.000 anos!
Comecei a sentir uma certa preocupação por estar tão distante nas fanfics. E então tive uma ideia, essa que eu fiquei muito insegura de escrever, mas que ficou me incomodando dentro da cabeça. Confesso, fanfics Jily me fazem pensar muito. O esforço que eu tive com "Muse" em meio ao desenvolvimento do TCC do meu último ano de faculdade, foi para não entregar a vocês qualquer coisa malfeita. Então espero que gostem :)
Muitos sustos ocorreram no meio do processo, perdi uns 2k de palavras, achei que tivesse perdido mais, precisei reescrever, modificar, reescrever DE NOVO. Até me perguntei "será que o mundo não quer que eu volte a escrever uma nova fic?" afinal, reconheço que tenho outras para atualizar. Mas acho que a inspiração dessa vez decidiu ser amiga e eu insisti mais um pouco. Então talvez o universo queira que eu volte a escrever, afinal. Só sei que eu sentia muita falta.
Por falar em amiga, queria agradecer especialmente a Carol Lair, que foi alugada por mim para ajudar nas dificuldades que eu estava encontrando no desenvolvimento dessa fic. Ela também não me deixou desistir da ideia principal: James fotógrafo, Lily bailarina. Lair, obrigada por todo apoio e pelas sugestões! Estou te devendo!
Espero que aproveitem a leitura. Lembrando que essa não é uma long, é apenas uma fic com 2 capítulos: a primeira e a segunda parte.
Essa é a primeira. Boa leitura!
PARTE I
Tente mais uma vez.
A diferença entre uma bailarina boa e uma bailarina excelente é que a boa, após errar, tenta mais uma vez. A excelente tenta mais vinte. Ou cinquenta.
Lily Evans era excelente. Os resultados perfeitos de suas apresentações eram consequências de uma série de treinos puxados, paixão, determinação, fôlego e um excesso de perfeccionismo. No último item de uma lista imensa de motivação, estava uma professora extremamente comprometida: sua própria mãe.
Alguns anos atrás, a sra. Evans persuadiu Petunia a alcançar a fama e o sucesso, mas claramente a filha mais velha se interessava nas atividades que não exigiam terminar o dia com dores insuportáveis nas articulações do corpo. Petunia até tentou se tornar uma bailarina aos sete anos – quem não gostaria de ser a atração principal na escolinha? – mas desistiu no primeiro tropeço, no primeiro erro. Não antes de puxar o coque da menina que ficou debochando dela e sair furiosamente do salão.
Após confirmar o total desinteresse de Petunia em relação a dança, a sra. Evans passou a depositar as energias e suas esperanças na filha mais nova. Lily tinha um talento natural. Errava pouco e, quando errava, repetia até que estivesse perfeita. Boa nunca era suficiente, nunca era um elogio. Mas o mais importante de tudo: ela amava fazer aquilo. Voltar para a casa com dores em todas as articulações do corpo era prazeroso.
Não demorou muito e ela se tornou reconhecida. Foram necessárias inúmeras apresentações escolares para depois enfrentar as regionais e, logo mais tarde, asnacionais. Quando venceu as competições mais acirradas, começou a receber propostas importantes que definiriam seu futuro. E ela não tinha nem completado dezoito anos ainda.
Seu pai, no entanto, não tinha a mesma esperança que sua mãe. Lily era uma boa aluna, mas não equilibrava seu tempo entre os estudos e a dança, e isso era um problemaimenso, nos olhos do sr. Evans, que prezava a busca por um emprego fixo e garantido. Preparando-se para testes práticos em mais de cinco cidades durante sete semanas seguidas, Lily teve um péssimo desempenho escolar, pois não dormira na noite anterior e perdera a prova final de biologia. O estresse a fez entrar em uma discussão com o professor de literatura, que odiava ser contrariado, e isso também lhe rendeu injustamente a primeira detenção de sua vida.
Naquela detenção, onde consequências terríveis poderiam acontecer, ela ao invés disso conheceu James Potter.
Ela já o conhecia, mas foi lá que o conheceu melhor. Estudaram juntos desde o jardim de infância. Um dos melhores amigos dele era filho de um amigo do pai dela, então conhecia a reputação de sua família também. As pessoas sabiam apenas superficialmente sobre seus ricos pais. Enfim, ele não era totalmente desconhecido. Ele era tido como um playboy mimado pela maioria das pessoas da escola, mas Lily conhecia alguns trabalhos fotográficos que ele postava no instagram. James possuía um lado artístico, ocultado por boa parte da pressão de ser filho de Fleamont Potter, um empresário de sucesso.
James não queria seguir os passos. Ele não queria nem mesmo ser bancado pelos pais, já que trabalhava em uma livraria para juntar seu próprio dinheiro.
— Meu pai inventou uma fórmula para fazer shampoos domésticos com a mesma qualidade de salão de beleza. Ele quer passar a empresa para mim um dia, mas, sinceramente, fazer sabão não está nos meus planos.
— O que quer fazer, então? Depois que sair daqui? – ela lhe perguntou, sem notar que estavam entretidos em uma conversa amigável. Ela sentiu simpatia por ele, afinal, estavam naquela detenção porque ele a defendeu contra o mesmo professor. Tinha até se levantado da cadeira, dramaticamente. Depois, ele acabou confessando que fez aquilo porque gostava de irritar o professor.
Quando era questionado sobre sua profissão, James sempre hesitava. Levantava os ombros, demonstrando pouco interesse pelo futuro. Dizer "artista" ou "fotógrafo" nunca resultava em expressões motivadoras das outras pessoas – ele já testou isso em um jantar familiar –, então preferiu contornar o assunto:
— Você já tem a expressão decidida do que vai ser quando sair daqui. – Ela esperou ele completar, como se o desafiando a adivinhar: – A próxima dançarina do clipe da Sia.
Lily se viu dando uma risada alta, coisa que não acontecia com frequência, especialmente durante um mês de tanta pressão e ansiedade. Depois disso, conversar com James foi se tornando mais fácil e, logo mais tarde, um certo tipo de necessidade. Ela tinha suas amigas, mas com ele era diferente – até porque James nunca precisava se esforçar para fazer as pessoas se sentirem bem perto dele. Ele tinha assuntos que ela precisava ter em momentos de conflitos, para se manter calma e tranquila.
Conversavam diariamente através do whatsapp. Toda manhã quando acordava para ensaiar, estava lá um link enviado por ele, direcionado ao vimeo — para ele, era mais profissional que o Youtube. James estava constantemente mostrando a ela clipes musicais, os quais ele passava três minutos digitando sua opinião sobre a fotografia, luz e sombras. Ela achava atraente o modo como ele falava sobre luz e sombra.
Lily reconheceu que James queria seguir esse caminho, o da fotografia. Ela o apoiava intensamente nisso, encorajando-o a demonstrar para outras pessoas e não esconder sua vontade de se profissionalizar. Com o mundo sendo registrado por todas as pessoas em questão de um clique, era preciso muito mais do que técnica e uma câmera profissional para alcançar reconhecimento. Lily gostava das fotografias dele. Tinham identidades.
— James, viu a matéria que eu te mandei ontem? – Durante a troca de aulas na segunda-feira, ela o alcançou no corredor da escola. James estava com os cabelos despenteados, como se ele nunca se preocupasse em arrumá-los quando acordava. E, para ajudar, ele tinha mania de passar os dedos pelos fios rebeldes quando era interrogado e não sabia o que responder.
— Vi, mas...
— Sem "mas"— Lily tinha uma ferocidade que fazia qualquer um perder o sono. Ela o segurou pelo braço, impedindo-o de continuar andando. – Você tem que tentar.
— Mas eu não estou com inspiração.
Lily passou as últimas semanas mandando a ele notícias sobre uma revista que estava desafiando pessoas a mostrar suas fotografias. A recompensa para a melhor imagem capturada seria uma viagem, reconhecimento na revista e uma câmera semi-profissional. Ele realmente considerou participar da competição. Estava apenas difícil decidir o que fazer, que foto tirar. Não era tão simples. E ele disse isso em voz alta.
— Se fosse simples e fácil, qualquer um seria fotógrafo. É como dança. Se fossesimples e fácil, não haveria reconhecimento depois de tanto esforço. – Após dizer essas palavras, Lily viu suas amigas passando na mesma direção do corredor, chamando por ela. Antes de acompanhá-las para a aula de Educação Física, deu um breve aceno a James e se afastou dizendo com veemência: – Não perca a chance.
Lily entendia sobre chances. Ela estava a um passo, a literalmente um passo, de entrar para um dos melhores conservatórios de dança do país depois de se formar no colégio. Por cinco fim de semanas seguidos, ela viajou para cinco cidades e apresentou excelentes performances de provas práticas, apenas porque ela não gostava – muito menos sua mãe e a treinadora – de perder chances. Não importava se aqueles institutos fossem ou não seus sonhos. Ela apenas precisava garantir seu lugar no mundo da dança.
Seu sonho mesmo estava fora da Inglaterra. Estava em Paris.
— Porque é lá onde temos que ir para as coisas acontecerem – ela disse quando James perguntou sobre isso, fazendo um leve movimento com os braços enquanto ele a acompanhava para casa. Às vezes James se pegava lembrando de quando eram crianças e de como ela sempre fora energética. Lily era extremamente fácil de se admirar, não importava o que ela estivesse fazendo ou dizendo.
— Boa sorte. Quando vai tentar? Quero dizer, tentar entrar em uma academia por lá.
Uma expressão diferente tomou conta do rosto forte de Lily Evans. Ela suspirou:
— Eu preciso ser realista. França é muito cedo. Preciso praticar mais. Então meu objetivo para depois da escola, além de me tornar a nova dançarina do clipe da Sia, como você sabe, é ir para Londres.
— Mas seu sonho é Paris. Você devia começar a correr atrás dele agora, não?
— O que acha que estou fazendo? – Ela sorriu para ele. Estavam se aproximando de sua casa quando explicou: – É só uma questão de passos. Você tem que dar um de cada vez. É como dança. Se pular um passo, pode estragar tudo.
— Tudo é como dança pra você, não é? – ele provocou.
Ela segurou levemente o braço dele para poder se aproximar com o rosto e beijá-lo na bochecha, quando concordou:
— Tudo. Obrigada por me acompanhar.
— A vizinhança é perigosa – explicou, no momento em que uma velha senhora passeava com sua cadelinha branca, inofensivas, perto deles.
— Muito perigosa – concordou Lily.
— Ela pode ser uma assassina, cuidado.
— Terei. – Rindo, Lily se afastou para o jardim de sua casa no subúrbio e abriu a porta com as chaves que tirou da bolsa.
James tentou entender a sensação que teve enquanto voltava para sua casa depois de mais um dia ao lado dela. A formatura estava tão próxima. Era estranho pensar que metade das pessoas que conheceu se afastaria para viver suas vidas, seguir seus sonhos ou montar suas famílias. Ele não tinha tanta certeza do que queria. Sua perspectiva ainda era um borrão que estava demorando para ficar nítido. Ele só gostava de curtir uma boa festa com seus melhores amigos, viajar, assistir à clipes musicais e tirar fotos. Como ele teria certeza se isso não era apenas um hobbie?
Uma certeza que ele tinha era que não queria ser bancado pelos pais na vida adulta, então ele precisava garantir um emprego, uma profissão. Ele sabia disso porque nenhumde seus amigos pensavam de outra maneira. Remus não teve a sorte de crescer em uma família rica, como James, então estava ralando para entrar em uma universidade. Sirius tinha pouquíssimo contato com os próprios pais, por isso se virava para trabalhar e ganhar sua própria grana. Peter tinha uma mãe superprotetora, mas até ele queria sair da cola dela.
A pressão estava começando a se tornar constante. James fez provas para universidades que garantiam muito sucesso – só para não ouvir seu pai reclamar que ele não estivesse se esforçando. Em meio aos estudos – coisa que ele fazia sem a mínima vontade –, ele passava a maior parte do tempo abrindo o link da competição de fotografia que Lily enviara a ele, na esperança de que essa realmente pudesse ser a única chance de provar a si mesmo que fotografia não era um hobbie e que ele precisava começar a correr atrás disso.
No último dia do prazo da inscrição, mesmo sem nenhuma foto para enviar à revista, ele se inscreveu. Tinha um mês para descobrir o que ia fazer.
Lily ficou muito feliz por ele.
Lily Evans
Então isso quer dizer que agora está inspirado?
James Potter
Só funciono na pressão
Ele precisava amadurecer tanto para realmente funcionar. Achou que sua inspiração apareceria na festa que organizou com Sirius no final de semana quando seus pais saíram viajar à negócios. A típica festa de colegial, onde rolava bebida proibida, beijos e, para os que se davam bem, sexo. Era o momento em que todo mundo estava estressado com as provas e o futuro, então não teve ninguém que não tivesse aproveitado essa festa. Exceto uma. A única que talvez James estivesse mais ansioso para ver na festa e não apareceu.
Enviou uma foto para ela com a legenda "chateado".
Lily Evans
Preciso descansar. Amanhã treino o dia todo. Testes em Londres chegando...
Ele decidiu mandar um áudio. Estava com preguiça de digitar, até porque sua mão direita segurava um copo de cerveja:
— Lily, preciso aproveitar que esse é o nosso último ano juntos-
No momento que ele começou a gravar, uma garota se aproximou para falar oi para ele com a intenção transparente ao convidá-lo para sentar no sofá. James tentou excluir o áudio em que aparecia a voz da menina, mas o efeito do álcool não deixou o dedo deslizar propriamente e o áudio foi enviado à Lily mesmo assim.
Na manhã seguinte, cheio de ressaca e com uma marca de chupão no pescoço, James ligou o celular e a última mensagem de Lily na madrugada fora essa: "Você está bem acompanhado, divirta-se" E um emoji com a carinha sorridente.
Deitado na cama, com o desejo de nunca mais sair dela, James tirou uma selfie e enviou a foto com a legenda "acabado".
Ele achou que seria ignorado, mas foi surpreendido por uma foto de Lily em resposta."Treinando". E, cacete, que foto linda. Ele ficou idiotamente observando o rosto suado e determinado da selfie. Deu vontade de sair da cama e dar a volta ao mundo. Devia ser a ressaca, mas cresceu nele um súbito desejo de tirar fotos dela, porque ela era a garota mais linda que ele conhecia.
O celular vibrou, indicando a chegada de outra mensagem. A garota que ficou com ele na noite anterior mandou "adorei a festa ontem ;)". James virou o rosto para o lado, ficando imediatamente exausto novamente e voltou a dormir.
Responderia depois.
— Mais uma vez, Lily. – Sua professora, McGonagall, era extremamente severa. Não permitia erros bobos e fazia suas alunas repetirem os passos quantas vezes ela achasse necessário. Lily sabia lidar com ela melhor do que muitas, por isso também se tornou sua primeira e única aluna particular. Afinal, Lily tinha o mesmo objetivo: a perfeição. – Maisuma.
Ela repetiu o passo mais dezessete vezes no momento em que McGonagall detectou a chegada de uma pessoa diferente em seu estúdio de dança. James caminhou até um banco, segurando sua mochila e esperando não ser notado.
— Quem é você? Está interessado em começar as aulas no próximo semestre? Aguarde só um instante.
— Eu só estou aqui para assistir ao treino. Não quero atrapalhar.
— Mas já atrapalhou. O horário de aula não é para-
— Professora, ele é meu amigo – Lily disse. – Eu o chamei.
Ver McGonagall intimidando James poderia ser divertido, mas ela decidiu poupá-lo dessa vez.
— Ele precisa tirar fotos para um trabalho de fotografia. Se não se importa.
— Fotos? – Ela deu uma ligeira ajeitada no cabelo e finalmente amenizou a expressão. – Ora, tudo bem, então. Apenas não a deixe desconfortável, sim?
— Ele não me deixa – garantiu Lily.
Saber disso foi o combustível para James retirar sua câmera da mochila e começar, sem ter tido nenhum plano disso quando entrou ali.
Cabelos ruivos, lábios vermelhos, os movimentos suaves, os olhos de um verde que James não via nem nas mais raras pinturas. Fotografar permitia que ele conhecesse sua própria admiração por detalhes. Aquelas fotos eram seu ponto de vista sobre Lily Evans. E era um ponto de vista maravilhoso.
Havia uma certa conexão entre os movimentos que Lily fazia com as luzes que perpassavam as grandes janelas do salão e iluminavam o chão de madeira polida. Fotografia nada mais era do que imagens desenhadas pelas luzes. Ver Lily dançar era como observar um passarinho em liberdade. James se sentiu ridiculamente poético agora. Talvez se apaixonar fosse isso.
Quando Lily começou a se sentir exausta, ela parou de dançar, alongou os braços e caminhou até ele.
— Achou sua inspiração?
Ela passou horas submetida a um esforço físico pesado, mas James era quem estava tentando recuperar algum tipo de fôlego. O que diabos ela tinha naqueles olhos que era impossível de se desviar? Não que ele quisesse.
— Ela me achou – respondeu James.
— Ótimo. Te vejo amanhã na escola.
— Não vai querer ver as fotos?
— Me mostra a sua preferida depois.
Ela pegou sua bolsa e partiu para o vestiário, soltando o cabelo. James ficou olhando para seu corpo esguio. Não resistiu e posicionou a câmera, fez um imperceptível ajuste para focalizar a figura dela se afastando e registou. Aquela foto o fez pensar em uma frase:Lily Evans nunca olhava para trás.
E, no dia seguinte, enviou a foto para Lily. Trocaram mensagens.
James Potter
A minha preferida, como pediu. Até agora
Lily Evans
Não estou dançando nessa!
James Potter
Não tirei fotos de você porque você dança. Tirei fotos de você, só acontece que você dança. É diferente
Bebendo o suco na cantina da escola, Lily leu aquelas palavras sem perceber que estava abrindo um sorriso. Digitou, demorando para decidir se enviava.
Lily Evans
Sou sua inspiração?
Enviou. Ele recebeu. Ele visualizou.
Ela riu, porque ele ficou digitando por uns três minutos para enviar uma única palavra:
James Potter
Sim :)
James acompanhou os passos de Lily, fotografando momentos que nenhuma plateia teria sido capaz de ver: sua preparação. A determinação de Lily o inspirava e ele precisava deixar isso claro em uma série de fotografias. O momento estressante quando ela errava e o modo intenso como ela se levantava quando caía. Não deixava ninguém levantá-la, fazia isso completamente sozinha. Não por orgulho, mas para provar alguma coisa a si mesma.
Durante três semanas, James conseguiu reunir um número significativo não apenas de fotos, mas de vídeos, que capturavam a essência feroz de Lily Evans em busca de um lugar no mundo. Seu futuro dependeria de provas e testes para entrar na mais aclamada academia de dança em Londres. Os anos que passou se dedicando à dança dependeria de um decisivo final de semana.
Era plausível que ela estivesse nervosa. Muito, muito nervosa.
— Este foi seu último ensaio – disse McGonagall à Lily, ao final daquela terça-feira. – Tudo o que você sabe já está em você, não force para trazer para fora, terá que sair naturalmente. Sábado será um dia importante, você precisa descansar. Sua mãe concorda comigo dessa vez. Sua cabeça precisa estar calma.
— Sim.
— Lily. Não vou lhe desejar boa sorte, porque seu esforço não vai acontecer por uma questão de sorte. Você lutou por isso, e é por isso que irá conseguir.
McGonagall entendia que elogiar ajudava, então ela nunca deixava de lembrar Lily que seus esforços não seriam jogados fora, independente do resultado. Ela conhecia poucas garotas como Lily, então estava com bons pressentimentos em relação a ela.
Percebendo que realmente precisava manter a cabeça leve, sem estresse, ou apenas adormecer seu nervosismo até sábado, ela tentou relaxar, saindo com as amigas, se distraindo com episódios de séries e, na maior parte do tempo, conversando com James.
Por mensagem não parecia ser o suficiente. Ela ligou para ele.
Falou com a voz dura, em um tom de alguém que passara as últimas horas se controlando para não surtar:
— Oi, James. Está ocupado?
Ele observou a situação em que se encontrava naquele momento. Sexta-feira ao redor de uma mesa jogando baralho com seus três melhores amigos. O DVD do Metallica na televisão no porão da casa de Remus e Call of Duty em pausa perto do sofá caindo aos pedaços. Ele definitivamente não estava ocupado.
— Você quer sair comer alguma coisa?
— Comer alguma coisa? – James olhou para Sirius, Remus e Peter, sem acreditar no convite. – Claro. – Ele estava se recuperando de uma caixa de pizza, mas deu um jeito de se levantar. Lily disse o lugar e desligou. James deu um longo suspiro.
— O jogo estava muito bom, cavalheiros. Mas eu preciso ir.
— Está passando bastante tempo com sua musa, James – provocou Remus.
— Agora não tenho que fingir que me interesso pelo papo de fotografia. E eu gostava de fingir – acrescentou Sirius.
— Você não está... apaixonado... por ela, está? – perguntou Peter, preocupado. – Porque as pessoas ficam estranhas quando estão apaixonadas. Começam a trocar os amigos pelas garotas.
James sorriu, nada abalado.
— Não fiquem tristes. Tem um pouco de mim para todo mundo. Mas, hum, acho que ela precisa de mim agora. Amanhã é um dia importante para ela e-
— Não se explique pra gente – disse Remus, fingindo que estava ofendido.
— É, vai lá com sua musa!
Sirius jogou as cartas de sua mão na direção dele, vaiando sua saída, como se trocar os amigos por garota fosse um afronto. Mas claro que era sarcasticamente. Estavam felizes por ele. James falava de Lily o tempo todo.
É claro que ele estava apaixonado.
Ele percebeu isso quando a encontrou na cafeteria do centro, às nove horas da noite, como combinaram. Seu lado hormonal estava desejando que fosse um encontro e ele se sentiu ansioso enquanto atravessava o estacionamento para se aproximar dela, na porta de entrada. Como usual, ela ergueu-se na ponta dos pés para alcançar o rosto dele e beijá-lo na bochecha.
— E aí, está tudo bem? – ele perguntou. Ainda estava achando estranho, um estranho bom, ter sido chamado para comer com ela à essa hora.
Lily respirou fundo e decidiu que chamá-lo havia sido uma boa ideia, porque ela se acalmou instantaneamente só por vê-lo despentear os cabelos. Eles entraram na cafeteria e se acomodaram em uma mesa, um de frente para o outro. Ela observou os óculos dele e procurou seus olhos castanhos, que a faziam sempre abrir um leve sorriso. James ainda estava tentando entender seus sentimentos, então suas mãos estavam um pouco suadas.
— Não podemos ficar até tarde, você precisa descansar pra amanhã – ele falou em um tom de brincadeira e seriedade.
— E se eu foder tudo?
A pergunta saiu bem baixinha na voz de Lily, que já não era a pessoa com o tom de voz mais alto do mundo. Mas James escutou perfeitamente.
— Bem... se isso acontecer, você só não pode deixar de tentar de novo.
— Tantas coisas estão em jogo.
— Você fez testes para outras quinhentas academias. Chance é o que não falta.
— Mas eu não quero aquelas outras quinhentas academias. Eu quero Londres. Preciso de Londres. Se eu não conseguir em Londres, nunca vou conseguir Paris. Ou Nova York.
— Você vai conseguir.
— Eu errei três passos no último ensaio.
— Você estava nervosa. Na minha última aula de carro, esqueci o freio de mão levantado quando fui sair com ele. O professor falou "olha, cara, você tá dirigindo bem, só tá nervoso. Vai dar tudo certo". E eu passei. É só nervosismo.
Ela já havia passado por isso muitas vezes, agora só estava três vezes pior. Só nãodez vezes porque James, de um modo sutil, conseguia acalmá-la. Por esse motivo, ela fez o convite:
— Você quer assistir?
— O quê?
— A minha prova. Em Londres.
— Você quer que eu assista?
— Sim. Você pode tirar algumas fotos – sorriu brevemente.
— Pode ser. Tudo bem por mim. Estarei lá, então.
Era incrível como os obstáculos pareciam banais. Londres era há cinco horas dali, não era uma viagem de quinze minutos. James nem pensou se teria algo importante para fazer e já decidiu que estaria lá. Dar suporte a Lily da mesma maneira como ela o incentivava com sua paixão pela fotografia parecia um tipo de prioridade.
Eles comeram um pouco, mas continuaram sentados na mesa, conversando. O assunto mudou para um episódio de uma série que eles estavam assistindo. Esse tipo de assunto fazia o tempo passar muito rápido. Quando perceberam, já eram onze horas e a mãe de Lily ligou para ela, lembrando do horário.
James ofereceu carona. Ele conhecia o caminho até a casa de Lily, devido às vezes que a acompanhara da escola. Em dez minutos estavam estacionados perto da calçada que divida o jardim sempre em perfeito estado com a rua.
Ela não saiu logo. Fez menção de abrir a porta, mas virou o rosto para ele e por algum motivo uma troca de mensagens entre eles estava em sua cabeça quando perguntou:
— Eu realmente sou sua inspiração?
Não queria ouvir um "sim", mas queria ver a expressão dele. Ele ajeitou os óculos preto no osso do nariz, gesto que fazia quando estava se preparando para responder. Ele não tinha ideia de como isso era sexy. Ela se inclinou ligeiramente e, agarrando com uma mão aquele rosto grande e masculino, foi tão rápida em sua decisão que os óculos dele ficaram desalinhados.
Ela o beijou, e forte. James não parou para duvidar de nada. Trouxe uma de suas mãos para a cintura dela, decidindo que precisava de contato para apertá-la nos braços e não soltá-la tão cedo, mas havia ainda muita distância entre eles. Ele achou que nada de Lily poderia ser melhor, mas era porque ele ainda não tinha experimentado o sabor daquela boca. Não até aquele momento.
Ele se afastou um pouco, talvez para reunir fôlego. Lily segurava seu rosto com as duas mãos dessa vez, e deixou seus lábios roçaram o dele de um jeito suave, sem pressão alguma. A respiração dela estava descontrolada e ele teve a breve sensação de que só ouvira ela respirar assim depois de um dia extremamente puxado de atividade física. Ele pensava em como seria o sexo com ela e isso o enlouqueceu.
Voltaram a se beijar, parecendo tão certo. Tão completamente certo. Ela se esqueceu por um instante do seu medo, do seu nervosismo, do que a preocupava. Beijar James era como cair sabendo que não haveria impacto. Sua língua entrelaçada a dele era um remédio que ela precisava muito, muito tomar para se manter calma. Mas ironicamente, seu coração estava muito agitado.
Instigados pelo calor e pela falta de vontade de se afastarem, Lily se viu sentada sobre o colo dele. Não foi acidental, mas não foi conscientemente também. Ela costumava ser mais contida quando a coisa se tratava de garotos, mais racional. Mas ela pouco se importou com isso porque aquilo estava incrivelmente bom. Seria idiotice parar ou se conter.
Os olhos se abriram para encontrar os de James por trás das lentes de seus óculos, quando relutantemente cessaram o beijo. Não conseguiram pensar em algo para dizer, mas ela foi a primeira a cortar o silêncio das respirações fundidas.
— Isso me acalmou mais do que qualquer conversa teria feito. Mas eu preciso ir. Amanhã vai ser...
Ele pressionou novamente os lábios vermelhos de Lily, calando-a aos poucos. Ele, que costumava sempre ter algo para dizer, não estava conseguindo encontrar palavras certas. Só queria beijá-la.
Lily gostava disso, de alguma coisa. Ter algum efeito sobre alguém. Ela se sentia confiante. Ela precisava ter essa confiança.
— Tchau, James... – Com um sorriso quase tímido, Lily afastou os cabelos para trás de suas orelhas e levantou o corpo do colo dele. Ela não perdeu o hábito de se despedir dele com um beijo no rosto, mas dessa vez pressionou os lábios com mais ternura. – Boa noite – sussurrou em seu ouvido. – Te vejo amanhã?
— Amanhã – foi a única coisa que conseguiu dizer. Sentia-se atônito. – Até amanhã.
Ela saiu, deixando somente seu aroma no ambiente do carro e a boca de James manchada de batom.
James Potter
Eu não consegui dizer aquela hora
mas queria ter falado
Muitas coisas
Não sei
Você me deixa um pouco louco
Muito na verdade
Boa noite
Vai dar tudo certo amanhã
Não deu tudo certo. Lily caiu.
Ela não soube dizer se foi o nervosismo ou se foi defeito na sapatilha ou se ela apenas não estava preparada para lidar com essa pressão de dançar em frente aos maiores avaliadores do país. Entrar na academia não era fácil, mas ela estava disposta a tudo. Ela sabia que o problema não era sua falta de habilidade. Porque habilidade ela tinha. E muita.
O problema era que ela estava distraída.
Lily não foi a única que caiu, outras vinte garotas cometeram erros e se desesperaram. Mas ela foi a única que, quando aconteceu, não chorou ou fugiu do palco. A expressão ainda continuou concentrada. Ela terminou a dança, esforçando-se para manter o orgulho e a dignidade, agradeceu com uma reverência e finalmente saiu do palco para dar a vez a próxima garota.
James estava filmando, sentado na poltrona da plateia ao lado da mãe de Lily. Ela sim tinha lágrimas nos olhos. Mas não era de tristeza ou de derrota. Era de um orgulho feroz.
Quando Lily se encontrou com eles na saída da academia, ela carregava sua bolsa e estava com roupa casual novamente. Andou até eles, transparente em seu desânimo e frustração. A sra. Evans abriu os braços para abraçá-la, garantindo que ela tinha se saído melhor do que todas.
Não era o suficiente para Lily, que retrucou:
— Eu caí. Não me interessa se foi melhor. Não foi perfeito. Foi humilhante.
Saiu do aperto consolador de sua mãe e começou a andar à frente dos dois. James tentou alcançá-la, mas ficou inseguro. Ela não chegou a nem olhar para ele, parecia evitá-lo.
Ela só deve estar nervosa. Precisa de espaço.
Almoçaram em um restaurante. Lily passou metade do tempo no corredor do banheiro, conversando com alguém no celular. Quando James passou por ela para ir ao banheiro masculino, ele a viu limpando as lágrimas do rosto, dizendo:
— Mas talvez seja melhor assim, pai. A academia é muito cara. Talvez...
Encarou James e parou de falar, dizendo ao pai que ligava para ele mais tarde. Lily ainda estava com os olhos aguados, então James se aproximou dela e enxugou os resquícios das lágrimas com seu próprio polegar.
— Você estava maravilhosa. Caso não saiba.
— Eu estava distraída – disse baixinho, olhando diretamente em seus olhos. – Eu estava pensando. E pensar é um veneno nesse momento.
— O que estava pensando?
— Futuro.
— É. Isso assusta pra caralho. Mas não tem como evitar o pensamento.
Depois disso, Lily finalmente abriu caminho e espaço para que ele pudesse entrar. Ele a abraçou e ela aumentou o aperto, encostando a cabeça em seu peito para se confortar.
Eles voltaram para casa na mesma tarde. Durante a volta no trem, sentados juntos na cabine, James se distraía com o som da música em seu celular, dormindo. Lily olhava para a janela, ansiosa e pensativa. Será que havia estragado tudo? Como James disse,chance era o que não faltava para ela. Suas mãos inquietas no braço da poltrona entre ela e James fez o rapaz segurar seus dedos. Ele roçou o polegar nas costas de sua mão macia. Segurou a mão dela a viagem toda, acalmando-a.
E nos próximos dias também.
O vencedor da competição de fotografia foi anunciado na semana seguinte. Não era o nome de James, mas ele não ficou abalado com isso. Percebeu que pouco se importou em vencer. Ele só precisava ter sido instigado a realizar um trabalho fotográfico e foi isso o que aconteceu. Ele descobriu que fotografia era mais do que um hobbie. Ele gostava que mais pessoas pudessem ver sua perspectiva através das lentes de uma câmera. Especialmente depois que ele postou a foto Lily Evans nunca olhava para trás em sua página do instagram e as curtidas chegaram a ultrapassar seis mil.
— Por que não começa a postar em outros sites? – ela sugeriu. Estavam no sofá da casa de James, com ela espiando a tela do notebook dele por trás de seus ombros largos.
— Você sabe que essas curtidas são por sua causa, não por causa da foto, certo?
— Está com ciúmes? – ela brincou, beijando fraquinho seu pescoço. – Mas tem pessoas comentando sobre a luz e a sombra e em como foi bem fotografado.
Ela tinha razão. Por mais que Lily saísse linda em qualquer foto, capturar isso de um modo artístico não era um trabalho que qualquer um faria. As fotos de James eram admiradas na internet. Ele precisava se apropriar disso para divulgar seus trabalhos e montar um portfolio que pudesse levá-lo a uma universidade boa. Foi o que se concentrou em fazer.
Lily fora aceita em todas as academias de dança da região. Recebeu as cartas, todas no último mês de aula. Ela ficava feliz, claro, mas James percebia claramente que seu objetivo de verdade não havia sido alcançado, porque não recebeu nenhum contato da academia de Londres por dias.
James quis fazer algo por ela, mas parecia inalcançável. O jeito seria ela tentar de novo. Mas, para não perder tempo, ela precisava decidir qual das academias escolher, mesmo que não fossem estas seu objetivo principal. Todas eram boas, ela seria feliz e se daria bem em qualquer uma – estava longe de desmerecê-las. Mas Londres seria uma porta para suas oportunidades internacionais. Para seus sonhos.
Então, em uma segunda-feira de manhã, a carta chegou. Lily a leu junto com seus pais na cozinha. Na escola, correu até as amigas para contar a novidade de que estava na lista de espera, mesmo após a queda. Mandou uma mensagem para James encontrá-la no almoxarifado do ginásio de dança na hora do intervalo. Uma esperança nascia dentro dela, mas ela estava em total conflito. Quando ela ficava assim, suas palavras ficavam atropeladas.
— O resultado sairá somente no próximo mês, James. O prazo para a matrícula na academia em Cambridge é semana que vem. Eu devo esperar? E se eu não for chamada? Eu estou dependendo de alguém desistir, mas estamos falando de Londres. Ninguém desiste.
— Espere, Lily – ele disse. – Eu acho que eu esperaria.
— Mas Cambridge também é incrível, e se eu perder essa oportunidade por causa de falsas esperanças-
— Não são falsas esperanças! – Ele se irritou com o fato de que Lily não enxergava o quanto ela era maravilhosa. Ele falou as próximas palavras em um tom alterado e bravo:— E se aquelas pessoas não aceitarem você por lá, eles que se fodam, porque eles quem estão perdendo. Não você. Olha, eu não entendo porra nenhuma de dança, mas eu gosto. Eu gosto do que você faz. É bonito, é difícil, é hipnotizador. Não sei se é porque eu estou apaixonado e não consigo ver isso em nenhuma outra garota, mas, porra, Lily Evans, você ainda vai conquistar o mundo um dia.
Os olhos verdes dela brilharam. Era necessário que eles se beijassem depois daquilo, e foi o que fizeram. Mas dessa vez os toques estavam diferentes. Aquele era um almoxarifado escolar, apertado, escuro, cheio de materiais e apetrechos, caixas de papelão e bugigangas de limpeza. Não era o lugar mais romântico, mas o que importou foi o gemido que Lily soltou quando ele a empurrou contra a porta fechada. Os dois estavam excitados. Ela segurou a base da camiseta preta de James e a ergueu de seu dorso, livrando-o daquela peça de roupa. Sem deixar de beijá-lo, passeou a mão em seu peito despido e desceu a mão do abdômen até o cós de sua calça jeans.
Ela abriu o zíper. Ele apertou a nuca dela, em resposta ao aperto que sentiu em sua cueca. Puxou o rosto dela para mais um beijo, enquanto sua outra mão seguia um caminho embaixo da saia dela. Lily não ficou com a língua na boca de James por muito tempo. Desceu os lábios para o pescoço dele, apertando mais forte o volume por cima da calça jeans. Ela a abaixou até os tornozelos a medida que também se ajoelhava. Ambos trocaram um olhar cúmplice. Ela era decidida, mas não sabia que era ousada também. Descobriu agora. Ou James apenas a fazia perder o controle. De qualquer forma, ele ficou alucinado com isso. E com o que ela fez com sua boca depois.
O sinal tocou.
Se ouviram, ignoraram.
James Potter
"O motivo de vocês serem a academia mais perdedora se perderem Lily Evans" Já escrevi 2k em minha dissertação, estou quase enviando
Lily Evans
Hahahahah idiota
Você que se atreva a mandar
Mas a intenção é fofa :)
James Potter
Hey, me apliquei a um curso especializado em fotografia por aqui. Só preciso ter o diploma do Ensino Médio. Começo ano que vem. Meu pai tá meio puto por não ser uma UNIVERSIDADE... mas foda-se, é o que eu quero
Lily Evans
Sério? James, isso é incrível! Boa sorte!
Lily Evans
A carta chegou. Consegui a vaga :) Vem pra cá? Meus pais saíram. Quero conversar com você
Obviamente conversar foi a última coisa que James e Lily pensaram em fazer. Durante aquela noite silenciosa na vizinhança, ele tentou fazer a cama de Lily ranger o mais levemente possível enquanto se movia em cima dela, como se ele estivesse preocupado que o pai de Lily voltasse bem na hora em que os dois estavam ali, transando.
— Não quero que entre em encrenca por minha causa.
— Deixa que eu me preocupo com isso. Não para...
Eles estavam um pouco desajeitados, buscando a sintonia entre eles. Uma vez que conseguiram isso, se preocupar com outra coisa foi impossível. Embaixo da coberta, o corpo dela estava preso contra o dele, que a cada investida fazia o prazer aumentar. Ele beijou o pescoço dela, deliciosamente. Era desesperador ter apenas duas mãos quando se queria tocar cada espaço daquele corpo, mas James se esforçou atentamente para deixá-la satisfeita. Em um momento, Lily se posicionou em cima dele, liderando os movimentos. Para ela, aquilo também era dançar. Era ritmo e fôlego. A coberta estava jogada em algum canto perto deles, com a própria timidez dela ao despir o sutiã. Ele beijou cada um dos seios, fazendo-a suspirar.
Uma súbita vontade de dizer que a amava ficou presa na garganta de James, mas ao invés disso ele avisou que ia gozar. Ela beijou a boca dele e aumentou a velocidade no modo como seu corpo estava se movendo, estimulando o momento para que acontecesse. Ela descobriu que gostava de ouvi-lo gemer. Não resistiu e prensou suavemente os dentes contra o lábio inferior dele, sabendo que aquilo o deixava louco. Ele jogou um pouco a cabeça para trás e gozou enquanto ela respirava perto de seu ouvido.
Deitaram-se, suados. Calados. Ela encostou a cabeça em seu peito e escutou o batimento cardíaco acelerado pelo contato físico.
— Sem querer ser o cara que fala "eu te disse" – ele cortou o silêncio. – Mas eu te disse que iria conseguir a vaga em Londres. E sem querer ser o cara que fala "eu te amo" depois que transa com a namorada. Mas eu te amo.
— Eu também – ela respondeu, baixinho, brincando com o colar dele. – Vou sentir sua falta.
James franziu a testa, refletindo um pouco sobre a última frase.
— O que quer dizer?
Parecia claro para Lily. Ela achava que fosse claro para James.
— O que eu quero dizer?
— É. O que você quer dizer com "vou sentir sua falta"? – Esse silêncio doeu um pouco. – Estamos nos despedindo aqui?
— Não. Não é isso. Eu quis dizer... você não pensa no que vai acontecer depois que nos formarmos? Não vamos mais nos ver diariamente na escola. Eu vou morar em Londres agora. Você vai...
— Eu vou continuar aqui enquanto você conquista o mundo e muda sua vida.
— James, eu quero você lá – ela segurou o rosto dele e o virou para que ele a encarasse. – Eu quero você para me acalmar e me dizer que tudo vai ficar bem, mesmo que tudo não fique bem. Mas...
— Você precisa ser realista, não é?
— Relacionamentos à distância... não funcionam.
— Você já teve um?
— Não, mas é uma verdade universal.
Nesse momento, ele levantou o corpo e colocou a cueca, sentando-se na margem da cama.
— Então... se é uma verdade universal, você não precisa tentar?
— James, eu não quero entrar nesse assunto hoje.
— Quando quer entrar nesse assunto? Quando estiver com as malas prontas? Até lá, vamos fingir que eu agora não sei que você vai terminar comigo.
— Ninguém disse alguma coisa sobre terminar.
— Lily, eu entendo contexto.
— Não falei "terminar".
— Então o que significa todo esse papo de que relacionamentos à distância não funcionam? Agora você vai falar pra mim "espero que ainda possamos ser amigos"? É isso?
Ele percebeu que estava colocando os sapatos, zangado, principalmente depois de interpretar o silêncio que ela fez como uma afirmação que, em sua perspectiva, era absurda.
— Quer ouvir sobre verdade universal? – ele perguntou. – Amizade depois de um término. Isso nunca acontece. E eu sei porque eu passei por isso. Eu não sei fingir que vou ficar tranquilo se você pedir para sermos amigos.
— Bem, então prefere não ter nenhum contato? Acabar tudo de uma vez? Como se eu tivesse feito uma coisa terrível tentando ser realista?
— Você está sendo precipitada.
— James, eu só disse que ia sentir sua falta e isso é verdade. Mas você decidiu interpretar como se eu estivesse querendo terminar. Parece que nós dois estamos sendo, então.
A essa altura, eles estavam em pé, separados pela cama de Lily. James vestiu a camiseta de um jeito nervoso, nem reparou que estava do avesso. Ele deu a volta na cama e ficou perto de Lily para dizer:
— Eu te amo. E a mentira que você disse foi quando respondeu que também, porque você está desistindo de nós.
Isso fez Lily olhar para ele, abismada.
— Eu sei que eu não demonstro as coisas do jeito que você espera, mas não me acuse de dizer mentiras, especialmente sobre o que eu sinto. Eu queria evitar essa briga que já estamos tendo. Eu quero você em minha vida, eu não quero acabar tudo. Por que não consegue ser maduro suficientemente para se manter nela de qualquer jeito?
— Por que eu não entendo a sua lógica. E isso não é sobre a minha maturidade. – Ele estava alterado e confuso com o rumo que a noite havia tomado. – Isso é você com essa mania irritante de querer ser perfeita em tudo. Você acha que vamos foder tudo e quer se livrar disso antes. Então, sim, você está desistindo.
Quando ele deu um passo para ir embora, Lily o chamou mais uma vez pelo nome, aflita, sem entender exatamente o que iria dizer em seguida, só sabia que agora precisava se explicar. Por esse motivo, quando James parou e realmente se dispôs a ouvir sua explicação, ou apenas desafiou, foi difícil para Lily reunir as próximas palavras. Ela não esperava buscá-las naquela noite que supostamente deveria ser perfeita e importante, mas não viu outra alternativa agora:
— Eu posso foder tudo. Você sabe que quando quero alguma coisa, quando tenho prioridade sobre alguma coisa, eu gasto minhas energias apenas com ela. Você me conhece. Ainda não sei como equilibrar a minha vida. Ela sempre se resumiu a dança. Todos os malditos dias. Eu amo o que eu faço, James. E não vai ser fácil alcançar meus objetivos. Estarei competindo contra o mundo. Eu não vou poder te dar atenção todos os dias. Acho que, continuando em um relacionamento comigo, preciso deixar você ciente disso. Os treinos serão puxados, eu estarei estressada, eu me afastarei, eu precisarei do meu espaço, eu deixarei você de lado em algum momento, mas eu sei, eu sei, que vocênão merece ser deixado de lado.
Ela pensou em acrescentar que ele a distraía, mas seria completamente injusto. Mesmo que tivesse caído em uma apresentação importante por estar pensando no primeiro beijo que deram no carro, não havia sido culpa de James. E ela sabia que ele iria se sentir culpado, mesmo que ninguém controlasse os pensamentos, muito menos os sentimentos dela.
Durante um silêncio no qual ouviam o som da playlist que acompanhara o sexo deles, James ajeitou os óculos, como sempre pensando no que dizer. A voz dele estava baixa. Ela se odiou por causar nele aquela expressão tão rara quando o ouviu concordar:
— Tem razão, eu não mereço.
Então saiu, deixando somente seu perfume masculino no ambiente do quarto e o rosto delicado de Lily manchado de lágrimas.
Sem perceber, ela esperava que ele fosse ter alguma solução para resolver seus conflitos, porque sentiu uma pontada de decepção por vê-lo aceitar aquilo tão facilmente. James sempre parecia ter solução para tudo, pensando em alternativas para dar um jeito nas coisas, até mesmo nas preocupações e nos temores de Lily. Dessa vez, ele não via como mudar isso. Só sabia que realmente não seria um relacionamento se apenas ele se esforçasse.
James ainda veria Lily mudar o endereço para Londres e dançar com ele no baile de formatura. Ainda teriam tido uma última transa, num deslize de confusão e sentimentos na mesma noite. Ainda teriam mais três discussões. E ela choraria muito. Ele ainda veria ela mudar os status de relacionamento. Ele ainda se veria mudando os status de relacionamento. Em seu próprio instagram, apesar de ter atualizado muitas vezes desde a postagem daquela foto, James ainda recebia curtidas em Lily Evans nunca olhava para tráspara jamais esquecer o que ela significou na vida dele.
E mal sabia ele que, muitas vezes, olhar para trás foi o que Lily Evans mais fez nos próximos anos.
Acho que estão querendo me matar, sim ou com certeza? Desculpe a quem nunca leu minhas outras fics e não sabe que gosto de botar umas intrigas. Mas quem costuma ler e me conhece, já devem estar acostumados e nada surpresos
Não se preocupem, a próxima parte já que chega.
Espero que tenham gostado do que leram até agora. Por favor, não deixem de comentar pra me fazer feliz e inspirada :) sejam minhas musas
Beijos e até a próxima parte!
alrightpokie
