"Eu não posso... Eu não posso ir embora agora. Não desse jeito."

O Doutor cambaleava para fora da TARDIS apertando a camisa num lugar onde desse para sentir seus dois corações, uma tentativa frustrante de aliviar a dor. Estava machucado, sem rumo, sem forças, sem um ombro amigo. Sem nada. Apenas a dor física e a dor de mais uma perda.

Sabe-se que o Doutor é um ser perigoso e por onde quer que ele passe, há destruição e morte. Ele exalava morte. E era exatamente o que mais queria no momento: Uma morte lenta, que o fizesse sentir mais de 1200 anos de puro ódio e sofrimento.

Mas sabia exatamente o que estava acontecendo. Não era o fim, não chegava nem perto do fim. Se os humanos temem a morte, o Doutor teme a regeneração. Essa era a maldição dos filhos de Gallifrey: Mudar toda sua fisionomia para desbravar mais uma vez o Universo. A cada regeneração, porém, o Doutor deixava de ser tão Senhor do Tempo e se apaixonava cada vez mais pela raça humana.

"Prometi nunca mais salvá-los, mas meus corações sempre ficam amolecidos, não é? Veja só qual foi o resultado!" Ao exclamar a última palavra da frase, uma onda de dor tomou conta do seu corpo, fazendo com que o Doutor caísse.

Contorcido no chão, o Doutor começou a se lembrar de suas aventuras mais recentes. Amelia Pond era ruiva, escocesa – não negava a rudeza, e o Doutor lembrava-se disso com um sorriso no rosto – e tinha nome de contos de fadas. A garota que esperou. Ele era o seu Doutor Maltrapilho e por isso, a cidade toda acreditava que a garota era louca. Mas ela mantinha sua fé nele.

Com o tempo, a ruivinha aprendeu a reconhecer o valor do seu marido, Rory Williams, metade enfermeiro, metade romano e inteiramente bobão. Mal podia acreditar que pode se separar por um momento da garota por quem ele arrastou a Caixa de Pandorica por 2000 anos.

Ah... O Doutor amava os Pond como se fossem seus filhos – exceto pelo fato de serem seus sogros. Melody Pond sonhava em casar com o Doutor, apesar de sua linha do tempo estar oposta a dele. E aquela mulher era intensa, como uma navalha que penetra a pele aos poucos, como a canção de um rio em fúria. Conseguia ouvir a voz de sua amada em sua consciência. Olá, docinho.

E agora, ele estava sozinho. Esperando mais uma etapa se encerrar. A décima primeira etapa.

Suspirou. Podia sentir a poeira estelar adentrando as narinas.

"Quanto tempo ainda me resta?"