A noite era escura e fria. O vento passava pela janela fazendo as cortinas se moverem levemente para dentro do quarto escuro iluminado somente pela luz do luar, revelando seus móveis. Um guarda-roupa aberto com suas roupas muito bem arrumadas e também havia um espelho em uma de suas portas, também havia um quadro pendurado na parede mostrando a imagem de quatro pessoas, uma delas era uma garotinha com seus nove anos ao lado de um garoto alguns anos mais velho e atrás de ambos um belo casal, provavelmente era uma família composta por dois irmãos e seus pais. Embaixo dessa foto havia uma cama de solteiro desarrumada, alguém deveria ter acabado de acordar às três da madrugada, pelo menos era o horário marcado no relógio em cima da penteadeira.

Passaram-se mais alguns segundos e o barulho do chuveiro ligado começou a infestar o local, acabando com o silêncio antes presente. O relógio marcava exatamente três horas e quinze minutos quando o som da água corrente cessou, logo uma das portas presentes no cômodo foi aberta deixando a luz entrar no quarto, iluminando o chão. Não no formato retangular que deveria por causa da pessoa posicionada entre a luz vinda do banheiro e o lugar na qual ela deveria iluminar, deixando uma sombra no piso agora molhado por causa dos cabelos longos e úmidos da mulher que acabara de sair do banheiro.

Ela possuía cabelos castanhos e longos, estavam lisos por causa da água e se estendiam pela parte superior de suas costas, eram grandes, mas também não eram muito compridos. Só chegava a ser surpreendente a altura em que este chegava quando estavam soltos. Apesar de seus cabelos estarem encharcados, seu rosto estava limpo e seco graças à sua toalha enrolada ao redor de seu corpo, cobrindo as suas partes íntimas.

Depois de dar alguns passos na direção da porta ainda fechada ela avistou o interruptor no escuro e tocou nele fazendo a lâmpada acender, só então se virou para ver as gotas de água no chão a fazendo fechar os olhos e balançar a cabeça reprovando a si mesma. Coisas assim raramente ocorriam por sua causa, esses descuidos costumavam incomodá-la um pouco, não ao ponto de surtá-la, somente não gostava quando aquilo acontecia ainda mais quando estava tendo problema de insônia.

Antes de ir limpar a sua sujeira, enxugou o seu cabelo com a toalha usada para cobrir seu corpo agora coberto com suas roupas íntimas. Foi tudo o que pôde colocar antes da água no seu cabelo voltar a pingar, mas e daí? Estava dentro de sua casa, sozinha. Ninguém a veria praticamente nua em seu quarto a não ser que alguém olhasse para a janela aberta. O pensamento a incentivou a terminar mais rápido, isso e o frio causado pelo vento que ainda insistia em entrar em sua casa congelando-a. Seu incômodo só passou depois de vestir suas roupas, como não pretendia sair para lugar algum colocou apenas uma blusa e um short simples.

Agora sim, estava se sentindo bem confortável. Só faltava resolver o probleminha do frio. Ela já estava indo em direção à janela para fechá-la quando escutou seu celular tocando a fazendo parar e caminhar em direção à penteadeira onde ele estava.

-Alô?

-Claire.

A voz masculina do outro lado da linha lhe parecia familiar, mas de onde? Não demorou muito para se lembrar do dono desta voz, na verdade, já descobrira quem falava com ela quase em um piscar de olhos.

-Leon?

-Escuta! Você precisa sair daí o mais rápido possível.

-Por quê? O que houve? –Claire começava a demonstrar a preocupação na sua voz quase tanto quanto seu antigo amigo, temendo o que poderia estar acontecendo. Tinha quase certeza que tinha algo haver com a infecção, o vírus, os zumbis, os monstros, as mortes.

-Olha, faça o seguinte: saia de casa e vá até o hospital mais próximo o mais rápido possível. Um helicóptero estará lá para lhe pegar.

-Outra epidemia?

-Sei que está muito confusa com tudo isso, mas não se preocupe. Explicarei tudo mais tarde quando...

Um grande estrondo pôde ser escutado vindo de longe acompanhado de uma forte luz entrando pela janela, quase cegando Claire que teve de cobrir seus olhos para evitar danos a eles. Imaginou que pudesse ser alguma espécie de bomba na qual não teria tempo de se proteger ou de ir para um lugar seguro antes de atingi-la. Foi quando sentiu uma força estranha empurrá-la para trás fazendo-a perder o equilíbrio e cair no chão.

-Ai... O que foi isso? –Fez a pergunta desnecessária, pois estava sozinha no quarto e seu celular já não mais se encontrava em sua mão. Havia deixado o objeto cair no chão na sua queda, era um daqueles no estilo touchscreen, portanto é fácil deduzir o estrago feito assim como a provável reação do proprietário mesmo este sendo Claire Redfield, até mesmo ela teria ficado muito chateada com o acidente.

-Droga... –Se abaixou para pegar o seu Nokia e ver o seu estado, estava quebrado. Não importava o quanto e nem aonde tocasse, o celular não respondia. –Justo agora?

Guardou o celular no bolso só no caso de precisar dele novamente antes de colocar sua jaqueta para proteger-se do frio e um par de sapatos. Gostaria de trocar seu short por uma calça, mas sabendo como seu tempo se esgotava rapidamente, foi direto na direção da porta do quarto a deixando aberta após passar por ela. O ato permitiu que a luz da lâmpada acesa do cômodo no qual se encontrava há pouco tempo entrasse no quarto, deixando uma cor amarelada em formato retangular iluminar o chão.

Logo a luz que vinha da porta se apagou junto com o som do interruptor da lâmpada da sala de estar acompanhado do barulho das chaves usadas para abrir a porta desse cômodo e sendo fechada novamente em seguida. A casa voltara a ficar em silêncio.