Capítulo 1: A Convocação
- Pai, pai! - gritava o garoto - Chegou!
- O que? - gritava John, ainda comendo seus ovos com bacon - O que chegou?
- A carta! - gritava Mitch, o filho de John.
- Deixe-me ver!
John McGregor era um jovem porém muito conhecido arqueólogo, professor na Universidade de Belfast e especializado no raríssimo ramo de teoarqueologia (ou seja, o resgate e análise de artefatos e textos religiosos de povos antigos). Mas John escondia um segredo: era filho de bruxos. Ele mesmo nunca tinha tido ou demonstrado poderes na vida, apenas uma intuição elevada (o que não é o mesmo que magia) e a capacidade de enxergar cosias que eram invisíveis (ao menos aos olhos dos comuns). Desde que seu pai, Elric, o colocou em contato com o Ministério da Magia, para trabalhar na recuperação de textos que pudessem fornecer informações aos trouxas (como os bruxos chamam as pessoas sem poderes mágicos) da existência da magia, ele ficava imaginando se algum dos seus filhos iria ter a Marca: o sinal visível que o clã McGregor sabia que os bruxos da família deveriam ter. Quando nascerem os dois primeiros, Angus e Ramon (nome dado por sua esposa, Andrea, uma espanhola também arqueóloga), ele sentiu tristeza: ambos eram morenos, como sua esposa, embora tenham herdado seus olhos verdes. Ele sabia que os dois eram trouxas (ou seja, não possuíam poderes mágicos), mas não os desprezou: a irregularidade no nascimento de bruxos nos McGregor era comum, resultado de uma maldição antiga, que era carregada desde que Arthur e Cedric McGregor mataram, com a ajuda de São Patrício, o dragão Kryandor.
Mas ao nascer Mitch, aconteceu o milagre: seus cabelos eram Ruivos! A Marca havia aparecido! Seu pai ficou tão contente que quase não teve palavras para dizer: os irmãos de John, Erick e Sean, haviam morrido sem deixar herdeiros, e John era a última esperança de que nasceriam bruxos entre os McGregor naquela geração. E nasceram mais dois com a Marca: os gêmeos Enya e Cedric.
Mitch entrou estabanado: apesar de ter apenas 11 anos, era alto e robusto demais para a sua idade, com cabelos cor de sangue. Seus olhos verdes pareciam esmeraldas e seu rosto era sardento, mas com um que de beleza exótica (talvez herança de Andrea). Aos 7 anos, um muro caiu em cima dele e ele passou ileso, o que provou que ele tinha poderes. Entre outros incidentes que John sabiam tratar-se de manifestações espontâneas de magia.
- É essa a carta? - disse John ao pegar a correspondência com escrita em verde fosforescente.
- Sim! Eu vi o brasão atrás! É de Hogwarts! - disse Mitch, sorrindo de orelha a orelha.
John tomou a carta. Ela trazia como destinatário:
"Sr. Mitch Andaluzia McGregor
Quarto no final da escada do segundo Andar
356 St. Patrick Street
Belfast, Irlanda do Norte"
- Puxa, quando seu avô disse que eles sabiam aonde te encontrar, não estava brincando! - disse John, comendo sua torrada - Acho que eles não sabem que você nasceu em Dublin.
- Deve ser.
Mitch se pergunto se poderia estar encrencado. Em Dublin, aonde viviam antes, ele nunca teve problemas. Mas quando mudaram-se para Belfast, sua descendência Católica Celta serviu para comprar encrencas com os protestantes da região. Certa vez, tendo um acesso de poder mágico, Mitch fez um dos brigões protestantes locais voar uns 5 metros com apenas um soco. Isso assustou tanto os brigões quanto ele. E rendeu quase duas semanas sem aulas por segurança.
- Pai, será que o vovô...
- Bem, temos que ir conversar com ele. Vou ligar dizendo que estamos indo.
Mitch sabia sobre os bruxos desde a infância. Não entendia o porque seu pai não era um bruxo como seu avô. Mas achava que seu avô era muito bom: era velhinho já, educado e havia aprendido a viver como um trouxa, o que não ocasionava problemas, já que vivia em uma fazenda próxima a Sligo, uma cidade que, embora grande para a Irlanda, era pequenina comparada com Dublin ou Belfast.
No mesmo dia, Mitch leu a carta várias vezes, enquanto voavam para Sligo, no vôo diário entre Belfast e Sligo. Ela dizia que ele havia sido convidado a estudar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Apesar de saber que havia uma escola de magia em algum lugar da Irlanda (ele imaginava que fosse em Sligo mesmo), ele também sabia (graças ao que o seu avô havia contato) que Hogwarts era a melhor escola de magia do mundo. Era quase como uma Universidade da Magia, nas palavras de seu avô. Ele ficou pensando em tudo isso, até que, quando ele se tocou, já era fim de tarde, e eles acabavam de descer do táxi que o levou de Sligo para a propriedade de seu avô.
- Filho, a quanto tempo! - disse uma voz levemente arranhada pela idade.
- Pai!
Elric McGregor apareceu na porta da casa aonde vivia. Era velho sim, mas tinha boa saúde. Vestia uma espécie de túnica azul-celeste(que mais tarde Mitch viria a descobrir tratar-se de uma veste de bruxo) com um brasão: um trevo de quatro folhas sobre um fundo amarelo-ouro, no qual cruzavam-se a cruz celta, a espada e a flecha. Mitch reconhecia o brasão: era o brasão dos McGregor. Até algum tempo atrás, um brasão muito temido entre os bruxos das Trevas da Irlanda: os McGregor eram o clã com maior número de Aurores da Irlanda. Mas quando Voldemort ascendeu ao poder, o clã foi quase completamente dizimado. Mitch sentia certa vergonha de seu avô apenas nisso: ao invés de lutar contra Voldemort, fugiu, indo viver com os trouxas.
- Mitch, a quanto tempo!
- A benção, vovô!
- Deus te projeta, Mitch! Ainda mais agora, que você foi convidado para Hogwarts!
- Pai, acho que... - John ia dizer.
- Já sei filho! Deveríamos dar uma educação mundana primeiro, antes de o mandar para estudar magia! Mas acho que é melhor mandarmos ele agora! Além do mais, durante as férias, ele sempre poderá estudar o caminho dos trouxas! - Sorriu Elric - Não negaria a meu herdeiro na bruxaria essas habilidades! Eu mesmo demorei a ver a importância do conhecimento sobre como lidar com as coisas dos e com os próprios trouxas!
- Eu não me importaria em apenas transformar os idiotas dos valentões protestantes do meu bairro em ratinhos!
A chama da fúria irlandesa, a fúria da justiça que ardia no sangue McGregor desde os druidas de tempos imemoriais, brilhava nos olhos de Mitch. Seu avô Elric demonstrou preocupação: ele sabia que aquela fúria foi o que quase dizimou o clã dos McGregor na época Daquele-Que-Não-Podia-Ser-Nomeado. A sorte do clã, apesar do desgosto inicial do pai de Elric, foi que ele não cedeu à fúria e conseguiu fugir para o mundo dos trouxas, para viver em segurança até que surgisse uma nova geração de bruxos para passar seu conhecimento.
- Mitch, você vai aprender com o tempo que, muitas vezes, a coragem não está em usar um poder, e sim em não usá-lo!
- Tem razão, vovô!
Mitch não gostava muito disso, mas respeitava a opinião de seu avô. Ele era mais velho e mais sábio que ele. Portanto, deveria ter razão.
- Papai, - disse John - só queria que você soubesse que eu pretendo pagar os estudos de Mitch, e também os de Enya e Cedric quando, e se, eles forem chamados...
- Primeiro, - disse Elric, com um tom levemente autoritário, mas doce - não duvide da Marca: Enya e Cedric serão chamados por Hogwarts, não se preocupe! - Mitch olhou para o seu avô: seus cabelos eram grisalhos, mas tinham alguns fios de cabelo de cor vermelho-sangue, que ele sabia que, como os seus, representavam a Marca dos Bruxos dos McGregor - Segundo, não se preocupe com dinheiro! Você tem que cuidar de Enya e Cedric ainda, e mesmo Mitch vai precisar de coisas dos trouxas para viver! Eu tenho algum dinheiro em Gringotes que era para ser para seus irmãos e você. Mas como nenhum de vocês demonstrou aptidões exceto verem e ouvirem coisas que normalmente trouxas não vêem ou ouvem, resolvi guardar caso netos meus tivessem o Dom. Além do mais, a criação de corujas tem rendido um bom dinheiro.
Elric levou John e Mitch para uma biblioteca e tocou com uma estranha varinha de carvalho em três blocos na parede. Então estes blocos rodaram, como se fossem uma grande tranca, formando um buraco na parede. Ele puxou alguma coisa de dentro do buraco. Um pequeno molho de chave com o brasão da família, com três chaves douradas. Ele retirou uma:
- Mitch, esta chave é do seu cofre em Gringotes, o banco dos bruxos. Você deverá partir logo para Londres. - falou Elric, o que deixou Mitch um tanto transtornado - Lá chegando, procure o bar "O Caldeirão Furado" e peça a porta dos fundos. Você irá parar num lugar chamado Beco Diagonal. Junto com a carta que você recebeu deve ter uma lista de material que você deverá comprar para levar para Hogwarts. Você encontrará tudo lá. Dia 1º de Setembro você irá partir da Plataforma 9 e Meia para Hogwarts.
- Vovô, eu vou sozinho?
Mitch era corajoso, mas nunca havia ficado longe de sua família, e isso o assustava.
- Infelizmente sim, Mitch. Eu tenho que cuidar dos negócios da família, e seu pai tem as aulas e pesquisas na Universidade, e também tem que cuidar de seus irmão Enya e Cedric. O máximo que posso fazer é pedir que seu irmão Angus pegue você em Londres. Ele trabalha na guarda da torre da abadia de Westminster, portanto acho que ocasionalmente ele poderá pegar você no aeroporto e te levar de lá para o "Caldeirão Furado". Mas de lá, é com você. Mas não pense que vamos o abandonar! Venham comigo!
Eles sairam por trás da casa e foram em direção a uma espécie de choupana no norte da propriedade. Ao entrar, Mitch sentiu o cheiro de carniça forte do recinto. E viu o porque. Ao olhar para o chão, viu dezenas, centenas de ratos mortos. Mas o que mais o impressionou foi ao ele olhar para o teto.
Ele viu dezenas de corujas. Algumas brancas como a neve, outras negras como a noite, algumas marrons como a terra. Ele observou-as: cada uma era mais bonita que a outra. Mitch nunca tinha visto antes o corujal de seu avô: uma choupana mal-cheirosa, mas razoavelmente limpa e bem cuidada. Ele sabia que quem cuidava do lugar era o amigo bruxo de seu avô Sean McAllister, que também tomou a sensata decisão de fugir quando o clã McGregor foi atacado por Voldemort.
- Mitch, as corujas que eu crio aqui são treinadas para serem usadas como correio entre bruxos. Eu já enviei uma coruja, a Ceridwen, para Hogwarts, confirmando sua inscrição. Pode escolher a que você quiser para você. Você deverá utilizar a coruja para se corresponder comigo, pois ela saberá aonde me encontrar e aonde te encontrar quando for entregar a resposta a você.
Mitch observou-as, uma a uma. Seus olhos então caíram em uma coruja branca, com uma farta pelugem.
- É aquela ali, vovô!
Elric pegou com cuidado a coruja e a colocou nos braços de Mitch. Ela repousou tranqüilamente em seu braço.
- Parece que ele gostou de você!
- É macho?
- Sim.
- Então já sei o nome que vou dar a ele: Hawking!
- Hawking! - disse um divertido Elric - Um nome estranho, intrigante, mas muito interessante!
- É o nome de um físico sobre o qual Mitch gosta de ler! - esclareceu John.
- Ah! E se fosse uma fêmea, qual seria o nome?
- Curie, da Madame Curie, descobridora da radioatividade.
- Radioatividade?
- Uma energia que os trouxas usam, capaz de matar uma pessoa quando mal usada! - esclareceu John.
- Ah, é como Avada Kedavra! - mencionou com um certo nojo Elric - Não sabia que os trouxas tinham algo tão perigoso!
Mitch sabia do que se tratava, e sentiu arrepios quando seu avô mencionou Avada Kedavra: mesmo não conhecendo todo o seu poder, ele sabia que Avada Kedavra era a pior das Maldições Imperdoáveis, um conjunto de magias muito poderosas e malignas que eram muito usadas pelos adeptos de Você-Sabe-Quem. Essa magia era tão poderosa que matava o alvo sem deixar vestígios.
- Ele poderia ser um ótimo cientista. - suspirou John - Mas, fazer o que... Além disso, sempre poderá estudar conosco depois de formar-se em Hogwarts!
Então John disse a Mitch:
- Mitch, você tem que fazer muita coisa em pouco tempo, portanto você irá voar daqui para Londres. Seus documentos estão aqui. - Entregando um passaporte e alguns papéis - Quando chegar lá, seu irmão Angus estará o esperando! Não, eu não irei com você, pois tenho que preparar aquela viagem para Luxor, lembra-se? Bem, aconteça o que acontecer, quero que você seja o melhor naquilo que você fizer.
Mitch deixou uma lágrima correr, e rapidamente se recompôs. Ele sabia que tinha que ir e que seu pai tinha o trabalho no Vale dos Reis. Portanto, preferiu não chorar: não queria preocupar seu pai!
- Sim, pai.
- Bem, depois de amanhã você irá para Londres, Mitch. - disse seu pai. - Você irá tomar um vôo daqui até Dublin e outro de Dublin para Londres. Eu tenho que ir. Fique aqui com seu avô.
Um táxi chegava na propriedade.
- Adeus... Boa sorte em Hogwarts... - disse John, subindo no táxi.
Mitch observou o carro indo embora. E pensou no que e em quanto sua vida estava mudando a partir dali.
