Harry Potter não me pertence.

Fic escrita para o I Challenge Severus Snape/Lily Evans, do 6v. Tema: Cativo; Itens: Diário e beijo (provavelmente não muito bem utilizados, mas...).

A fic está dividida em trechos de um diário e memórias do Snape, exceto a última parte, que não se encaixa em nenhuma das duas categorias.

Boa leitura, espero que gostem ;D


Vínculos

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14 de Julho de 1969

Querido Diário,

Hoje eu conheci um garoto. O nome dele é Severus. Ele é legal, mas falou umas coisas estranhas sobre eu ser uma bruxa. E não é educado ou bonito chamar uma pessoa de bruxa (principalmente se você não conhece ela¹). Mas aí ele provou que era um bruxo também. E disse que vai me ensinar a usar os meus poderes. Espero que nenhum de nós dois saia machucado, poderes podem ser perigosos, certo? E isso seria bem ruim.

16 de Julho de 1969

Querido Diário,

Sevy tem me ensinado coisas incríveis sobre o mundo bruxo. Eu queria tanto poder ver tudo o que ele fala um dia...

20 de Julho de 1969

Querido Diário,

Hoje eu brinquei de novo com o Sevy. E ele me ensinou mais coisas sobre o mundo bruxo. Eu me pergunto se eu poderia ir para a mesma escola que ele - a escola de bruxos. Eu não queria ir para uma escola em que ele não estivesse. Ele pode ser um pouco calado e triste, mas conhecendo ele dá para perceber que ele não é uma má pessoa. Aliás, eu queria saber por que os olhos dele são tão tristes.


X


Ele lembrava bem do dia em que a conhecera e dos dias que se seguiram.

Ele a observava sem ser visto e estava orgulhoso disso. Invisível era a palavra correta, e ser invisível era confortador.

Mas com o tempo passou a desejar estar perto. Havia algo em Lily que o atraía, ele tinha certeza. Só não sabia ao certo o que exatamente era.

Talvez fosse o sorriso fácil, os olhos vivos, brilhantes, talvez os cabelos que em nada pareciam com os seus. Não importava, na verdade.

Tudo o que sentia era que estava ligado a ela.

Primeiro veio a indignação. Não era bonito chamar outra pessoa de bruxa. Depois veio a compreensão. Os olhos se arregalaram com espanto e o sorriso logo veio alterar a superfície assustada da pele levemente sardenta. E por último veio a amizade. A curiosidade que ela tinha sobre tudo era palpável e a fazia se aproximar, inicialmente de maneira tímida. Com o passar do tempo já não havia timidez - ela era até bastante confiante. Eles eram amigos, afinal.

Severus estava satisfeito consigo mesmo. Agora a tinha ao seu lado.


X


1° de Setembro de 1971

Diário,

Eu, enfim, estou em Hogwarts, não é legal? Sevy também veio. Primeiro nós pegamos um trem em uma plataforma que aparentemente não existia e pegamos o Expresso de Hogwarts. Aliás, esse lugar aqui é incrível! Tem tantas coisas legais, como o Sevy já tinha dito antes. As escadas se mechem e acabam confundindo os alunos (no fim isso deve se parecer com um quebra-cabeças bizarro) e os fantasmas! Eu nunca pensei que veria fantasmas na vida e que não sentiria medo deles. Mas uma coisa ruim é que o Sevy e eu estamos em casas diferentes. Não que isso seja o suficiente para nos impedir de continuarmos sendo amigos.


X

Eles haviam crescido, Hogwarts esperava por eles, mas algo incomodava Severus. Sabia da seleção das casas e conhecia sua própria personalidade bem o suficiente para saber para onde ele seria mandado. Ele também a conhecia bem o suficiente para saber que ela não estaria no mesmo lugar que ele. Teve receio de não ter mais os sorrisos e as conversas, preocupou-se com os laços que tão delicadamente construíra, desejou que não se perdessem. E era somente nisso que se concentrava enquanto a via andar decidida, apesar do medo, até o chapéu seletor.

Mas casas diferentes não seriam nada e ele teve certeza disso poucos momentos depois quando viu o sorriso que ela lhe dera de onde estava, junto com os outros alunos da que seria agora casa dela. E o sorriso ainda estava lá quando ele mesmo fora selecionado para ser um slytherin.

Não. As coisas não mudariam por isso. Apesar das diferenças ela ainda era amiga dele.

Podiam não ter a mesma sala comunal, mas poderiam ter aulas juntos, conversas durante os intervalos, cumprimentos e sorrisos durante as refeições, acenos frenéticos e olhos que sorriem.

As coisas continuavam como antes, eles continuavam ligados. Eles tinham um ao outro.


X

10 de Dezembro de 1973

D.

Acho que o Sevy esse ano vai passar o Natal sozinho. De novo. Quer dizer, ele tem os amigos dele (alguns vão para casa nessa época) que vão ficar com ele, eu sei. Mas é triste passar o Natal longe de quem a gente gosta. Natal é época de árvores com luzes brilhantes, anjos de neve, sorrisos e conversas em frente à lareira e momentos familiares... Eu queria muito poder passar o Natal com ele, talvez eu pudesse fazer com que o Natal dele fosse mais alegre (tenho certeza de que os amigos dele não vão passar o Natal fazendo coisas para alegrá-lo), mas sinto tanto a falta dos meus pais... Pelo menos eu volto logo e em breve nós podemos voltar a conversar e a andar por Hogsmeade, como costumamos fazer. É. É isso. Vou voltar para fazer companhia a ele assim que possível.


X

- Eu... Estou indo passar o Natal em casa. - Ela anunciou enquanto encarava algum ponto no chão. Ele já esperava por algo do gênero, por isso não esboçou uma reação. - Mas eu volto. - Ela apressou-se em dizer e sentiu-se uma tola, é claro que ela voltaria. - Quer dizer, quando eu voltar, nós podemos ir ao Três Vassouras e eu pago uma cerveja amanteigada para você...

Ele sorriu para ela de modo reservado. Ser sempre gentil daquele modo era tão "Lily", que ele poderia dizer qual seria o próximo passo (um sorriso, um abraço, um até logo e então um corredor vazio).

Nada naquela situação seria inesperada.

Mas Severus não esperava que ela mesma quebrasse a rotina que fora estabelecida ao inclinar-se e beijar-lhe a testa, prometendo em seguida que traria um presente de Natal atrasado quando voltasse.

Aquele final de ano poderia ter sido como todos os outros e ele o esqueceria, se não fosse por esse simples detalhe. Apesar de ter se surpreendido, ele ainda poderia lembrar claramente do momento. E o que tornava aquele gesto especial era a delicadeza, a surpresa, o aroma de jasmim que despendia dos cabelos avermelhados e o fato de que fora o único.

Era um bom presente de Natal, ele não precisava de nenhum outro.

(E essa era uma das mais felizes lembranças dele).


X

(Nota não datada)

Ainda não consigo acreditar no que o Sevy disse... Ele me chamou de sangue-ruim, o que é terrivelmente ofensivo se formos considerar toda a situação. Eu sou filha de trouxas apesar de ser uma bruxa e o Sevy é um bruxo e deve ter pais bruxos, quer dizer, é como discriminação racial. E ele ainda anda se envolvendo com artes das trevas e com pessoas das quais eu tenho um pouco de medo - eu admito. Eu não consigo acreditar que ele realmente disse aquilo, eu... Isso dói. Isso dói muito. Eu pensei que poderíamos ser amigos por vários e vários anos. Nós estaríamos velhinhos e ainda conversando sobre coisas que achamos legais. Mas assim... É como se nós dois estivéssemos sendo libertados um do outro e eu não queria isso, eu... Já nem sei o que dizer. Não acho que o Sevy ainda me queira por perto, apesar de ter dito que foi um acidente, aquilo é o que ele pensa se ele falou de modo tão automático, certo? Ah, não sei o que pensar mesmo... E a verdade é que eu tenho medo de que ele não goste de mim, de que ele pense igual aos outros e ache que eu não sou digna e talvez ... Ah, Remus está me chamando.


X

Ele ficara mortificado depois de tudo. Pedir perdão milhares de vezes não foi suficiente. Era óbvio que ele não queria ter dito aquelas coisas... Ele não queria afastá-la, claro que não, por que o faria?

A sensação de perda o acompanhava, enquanto ele tentava se distrair, dedicando-se ao que mais gostava, depois dela, claro. Mas nem isso foi suficiente para esquecer o vínculo que se esvaía por entre seus dedos, enquanto eles se afastavam e se aproximavam de outras pessoas.

E a verdade era que ele não ficaria livre dela, mesmo que aquele acontecimento aparentemente os desligasse.


X

9 de Janeiro de 1978

Olá, Diário.

Sevy continua se envolvendo com aquelas pessoas. E eu continuo observando-o. Acho que não tem jeito, nossos caminhos se separaram. Eu disse a ele que nossos caminhos agora eram diferentes e provavelmente serão caminhos difíceis, confusos, cujos finais não conhecemos e não podemos ver, mas não pretendo deixá-lo sozinho. Não completamente.

Aliás, hoje é o aniversário dele. Eu queria dizer ainda muitas coisas (que eu sinto a falta dele, que ele deve tomar cuidado, que ele precisa se alimentar direito, que Hogsmead não é a mesma coisa sem ele por perto...), apesar de tudo, mas em todas as vezes em que eu o encontro eu sinto como se não pudesse falar, as palavras não saem, ficam presas em algum lugar entre meu cérebro e minhas cordas vocais, talvez. Eu queria que ele não me olhasse com os olhos tristes que ele tem - porque ele ainda os tem, eu tenho certeza - talvez fosse mais fácil. Eu só... devo estar sendo idiota.

(Mas, Sevy, fique bem, ok?)


X

Ele a observava com uma dedicação invejável. Sabia o que ela fazia, com quem andava. Não deixaria de se preocupar nunca e aquilo não era nenhum pecado, pelo que lhe constava.

Às vezes recordava-se da infância, das promessas. Lembrava-se ainda perfeitamente do modo como ela segurava a sua mão quando achava que algo estava errado, de quando dizia que estaria sempre ali, para ele. E ele acreditava, porque não havia nada que Lily dissesse sorrindo que não parecesse a verdade absoluta do mundo. Lembrava-se das brincadeiras, das risadas - mais dela do que dele - e da forma como tudo parecia ficar mais agradável quando ela estava por perto.

Ele queria tê-la por perto de novo, queria ter a mão dela de volta segura na sua.

Ainda podia ouvir sua própria voz chamando-a, pedindo para que tudo voltasse a ser como antes, mas ele sabia que a palavra "amigos" já não era exatamente a melhor para defini-los, mesmo que ele praticamente implorasse (ele faria qualquer coisa!).

Aquela era a realidade deles no momento.


X

18 de Julho de 1980

Oi.

Harry nascerá muito em breve, eu posso sentir isso. Quem diria que eu vou ter o meu primeiro filho. Talvez eu pudesse ter mais alguns, quando Harry ficar maior.

A única coisa que tem me deixado triste, apesar da felicidade de que vou ter um bebê, é o fato de que eu queria mesmo que Sevy pudesse vê-lo, porque, talvez seja bobagem, eu queria que Sevy também estivesse presente nessa fase da minha vida, apesar de eu saber ser impossível agora. Eu não sei o que está havendo, quer dizer, as coisas estão ficando cada vez piores e eu não tenho notícias dele, mas espero que tudo isso acabe bem.


X

Ela estava feliz, ele podia ver isso nos olhos dela - olhos que nunca deixaram de sorrir, ele notou. Seus olhos acompanhava cada movimento que ela fazia, hipnotizado, mas ela não o notara, pois conversava alegre com seu acompanhante, enquanto uma das mãos alisava a barriga. Harry estava para nascer.

"Lily Potter".

E ele invejou cada pedacinho da felicidade deles.

Severus quis para si o sorriso, o brilho dos olhos, as mãos entrelaçadas, o jeito como ela piscava. Ele queria para si tudo aquilo, mesmo que estivesse fora do seu alcance e sonhar não custava nada.

O momento durou pouco. Logo uma mão tocou o seu ombro, despertando-o do devaneio. Lucius Malfoy estava ao seu lado e parecia impaciente.

- Vamos?

E sem outra saída, não lhe restava nada mais que tentar seguir , mesmo sendo difícil, mesmo ele sabendo que, embora ela estivesse longe, ele ainda conservasse os resquícios dos laços que um dia os uniram.


X

Fechou o caderno, que fora encontrado em Godric's Hollow e chegara às suas mãos através de Dumbledore. Não precisava nem iria ler mais, invadir os pensamentos de Lily mais do que já havia feito seria imperdoável.

Tudo o que ele precisava saber, ele já sabia: os vínculos que os uniam nunca desapareceram por completo.

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¹ - A construção da frase está errada gramaticalmente, porque eu quis dar alguma verossimilhança para o Diário-da-Lily-de-nove-anos.


N/A: Só pra deixar umas coisas bem claras. Eu espero que a fic esteja, pelo menos, boazinha. Não sei se trabalhei bem os itens (eu sempre tenho problema em trabalhar itens), mas eu tentei, isso é o que importa. Não sei também se alguém vai gostar disso aqui, minha primeira "Sevlian"... õ/

Hm... Se eu ainda tiver a cara de pau de pedir reviews, alguém deixa alguma?

xD