Porque arriscar faz parte da vida
Título: Porque arriscar faz parte da vida
Autora: Aislyn Rockbell Matsumoto
Fandom: Alice Nine
Casal: Tora x Saga
Gênero: Romance / yaoi / A.U.
Resumo: "Saga estava dançando em cima da mesa, dando um show para as moças presentes e para alguns marmanjos também. Dentre eles, eu".
Classificação: + 18
Informações: B-side de Rock's Heart, mas não é necessário ler uma para entender a outra. Tora's POV.
N/A: Troca de presentes com a Kaline-chan. Porque ela é uma chantagista, perversa e fofa.
Capítulo 1
Será que essa mulher não vai parar de falar? Já não é suficiente o fato que reuniões escolares são um saco? Ainda tenho que ficar ouvindo ela falar de ética, responsabilidade e compromisso?
Se a intenção é chamar a atenção de algum professor irresponsável o mais correto seria falar com a pessoa em particular, e não em uma reunião para falar de alunos.
Mesmo porque não tem ninguém prestando atenção na diretora. Algumas professoras estão vendendo produtos de beleza numa mesa, outras lingerie... isso é muito monótono. Ah, o 'Caxias' finge bem que escuta ela. Se perguntarem pra ele depois o que ela falou, ele com certeza, não vai saber repetir. Aqueles ali só sabem comentar de futebol.
Não posso reclamar muito, já que também não estou prestando atenção na reunião. Eu gosto de analisar as pessoas à minha volta. Adivinhar o que pensam, do que gostam. Meio contraditório e filosófico para um professor de física, mas isso não quer dizer que eu precise entender só sobre minha matéria.
Um movimento ao meu lado cortou meus pensamentos. Duas mesas ao lado, para ser mais exato, encontrava-se Sakamoto, o professor de história. Ele sim, era uma figura interessante de se estudar.
Sua mesa estava abarrotada de papel, livros, calculadora e canetas. Pelo visto ele ainda não fechara as notas. Então o sermão deveria ser para ele. Como imaginei, reunião inútil!
Ele lecionava no colégio há pouco mais de um ano. Até onde eu sabia, e eu sabia muito da vida de todos ali, ele mantinha dois empregos para conseguir pagar as contas e se sustentar. Típico de garotos que saíram de casa com uma mão na frente e outra atrás, contando apenas com a sorte para subir na vida.
E apesar de ser desastrado, ele estava fazendo um bom serviço. Ele era muito esforçado. Já era a terceira vez que derrubava alguma coisa da mesa. Suas olheiras indicavam que a noite fora passada em claro. Se continuasse assim, iria adoecer.
Eu nutria certo carinho pelo loirinho. Não sou do tipo romântico, que acredita em amor à primeira vista, mas ele me atraía, com seu jeitinho desastrado, seu olhar meigo e até mesmo seus sorrisos fofos e sinceros.
Desviei o olhar para a mulher à frente da sala e ela ainda falava. Era por isso que eu não gostava de mulheres. A língua grande de umas me fez ter trauma de todas.
Outra vez minha atenção foi desviada. Quer dizer, a atenção de todos foi desviada quando meu loirinho derrubou alguns livros no chão.
Merda de pronome possessivo!
Não era a primeira vez que usava em relação a ele, mas estava se tornando freqüente. E nós nem éramos amigos íntimos!
_ Senhor Sakamoto, gostaria de prestar atenção na reunião? – a diretora chamou-lhe com um quê de reprovação na voz – Ou o que está escrevendo é mais importante que isso?
_ Ah... bem... eu... estava... terminando de fechar as notas e... bem... – seu rosto ficou vermelho e ele baixou o olhar para os papéis.
_ O senhor teve o final de semana inteiro para fazer isso! – a megera começou a bater o pé, irritada, pra piorar todos olhavam a cena.
_ Eu estava trabalhando. – tentou justificar-se.
_ Se não consegue manter os dois empregos deveria desistir de um deles. – e deu por encerrada a discussão.
_ Não posso! – ele estava alarmado – Eu preciso...
_ Depois nós conversamos. – interrompeu-o – Continuando, o comporta...
_ Porque não terminamos agora? – levantei pegando meu casaco, ela mexeu com a pessoa errada – Essa reunião está maçante, você já falou demais, ninguém está prestando atenção e eu tenho mais o que fazer. – peguei a pasta e saída da sala.
Como esperado, em menos de três minutos todos imitaram meu gesto. Quando a diretora saiu, passou por mim com um olhar quase assassino.
Ela que tentasse me demitir.
Voltei para dentro da sala, pois o loirinho ainda não tinha saído. Ele não movera um músculo do lugar. Sentado com as mãos apoiando a cabeça, o rosto oculto pelo cabelo.
Aproximei-me silenciosamente e sentei na cadeira à sua frente, pegando a carteira de cigarros e colocando na frente dele.
_ Aceita um? – tentei soar não apenas educado, mas amigável.
_ Não obrigado. – balançou a cabeça, sem erguer o olhar – Não fumo.
E soltando um longo suspiro ele finalmente me encarou. Seus olhos estavam um pouco vermelhos, mostrando o quanto ele estava se segurando para não chorar.
_ Ela vai me demitir não vai? – sua voz saiu sussurrava e extremamente baixa, se não fosse a curta distância entre nós eu não teria ouvido.
_ Talvez. – falei dando de ombros – Você precisa se valorizar mais. Ela não falou que se você não consegue lidar com dois empregos, devia desistir de um deles? Por que não faz isso?
_ Não! – ele me olhou como se eu tivesse dito o maior absurdo do mundo – Eu preciso desses empregos. Tenho contas a pagar, não é assim tão simples, e...
_ Hei, calminha... – traguei o cigarro, soltando a fumaça acima de nós – Não quis dizer pra largar do nada. Vá até a megera e mostre que é um bom profissional, diga que está disposto a ficar por conta da escola, desde que ela aumente seu salário. E só aceite se a oferta for cobrir seu outro emprego.
_ Mas... e se ela não aceitar? – olhou-me pedinte.
_ Bom, receio dizer que ela irá perder um ótimo professor. Você tem capacidade pra lecionar onde quiser, pelo que sei se formou numa ótima universidade e com excelentes notas.
_ Você sabe demais pra quem mal me conhece. – ele sorriu enviesado.
_ Sou um bom observador! – pisquei pra ele e me levantei virando as costas – Vai lá! Arriscar faz parte da vida. – e saí, deixando-o com seus pensamentos.
* * *
Desde aquela reunião já havia se passado uma semana. Sete dias sem ver o loirinho. Talvez eu fora precipitado aconselhando-o a pedir um aumento, mas pareceu tão certo naquela hora.
Um garoto o substituira, pois nunca tinha visto aquele outro rapaz ali. Aquela megera novamente me surpreendeu. Demitiu um professor formado na Toudai para contratar um que ainda nem havia se formado!
Sim, durante aquela mísera semana, eu já tinha colhido informações sobre ele.
Foi com a consciência pesada que terminei a aula de sexta-feira. Odiava pegar o quinto horário. Eu saia de lá estressado e cansado. Coloquei três alunos pra fora e fiz um idiota levar suspensão.
Ok, eu fui injusto com alguns alunos hoje, metade da sala deve estar me xingando, a outra metade arrumando uma maneira de me matar por passar um trabalho tão grande, mas eu estava furioso comigo mesmo. Tive que extravasar de alguma forma.
Já dentro do carro, joguei minha pasta no banco de trás, afrouxei a gravata e tirei o paletó, ficando apenas com a camisa branca. Outra coisa que detestava nessa merda de colégio particular era ser obrigado a me vestir de pingüim. Contudo o salário compensava.
Tentando afastar os pensamentos me concentrei no caminho para casa.
Não! Não fecha! Merda de sinal vermelho!
Enquanto eu esperava, olhei ao redor. A cidade sempre era movimentada àquela hora. Pessoas saindo do trabalho, buscando os filhos na escola, terminando as compras, mas todas tinham o mesmo objetivo: chegar em suas casas.
Mas hoje é sexta! Por que eu estava indo pra casa? Não precisava levantar amanhã cedo! Hora de encher a cara!
Parei em frente à Starbucks. Amava a variedade de cafés, o aconchego do lugar, a música calma e relaxante.
Perdeu um ponto quem achou que eu ia encher a cara de bebida alcoólica. Eu gosto de beber, mas não sozinho e não àquela hora. Talvez mais tarde.
Sentei em um dos confortáveis sofás, bem longe das janelas, queria silêncio. Olhei ao redor esperando ser atendido e qual foi minha surpresa ao ver meu... meu não, porra! Fiquei surpreso quando o loirinho veio me atender.
_ Bem vindo à Starbucks! Já escolheu seu pedido? – ele me sorriu tão fofo que fiquei sem reação.
_ Oi... bem, eu... – ali estava minha oportunidade de pedir desculpas e eu gaguejava – Um cappuccino com chantilly, por favor!
_ Só um minuto! – e virou animado, pronto para buscar o que pedi.
_ Espera! – falei alto demais, pois algumas pessoas me olharam – Sakamoto, eu queria pedir desculpas por... bem... – droga, onde estão as palavras quando se precisa delas?
_ Meu expediente acaba em quinze minutos. Daqui a pouco nós conversamos, sim? – perguntou-me, ainda sorrindo.
_ Claro. Tudo bem. – suspirei frustrado e deitei a cabeça no encosto do sofá.
Ele mesmo trouxe minha bebida e saiu sem falar nada. A agonia estava me corroendo.
Quando estava terminando de beber o último gole do café, o loirinho sentou-se à minha frente, já sem o uniforme.
_ Pronto! Você queria falar comigo? – o seu olhar foi profundo e indagador, mas estranhamente ele não me parecia triste.
_ Queria sim. – suspirei profundamente, tomando coragem – Sobre o que aconteceu na reunião do colégio, sobre o que conversamos, eu fui precipitado quando te falei pra tomar uma decisão. – esfreguei o rosto com as duas mãos e encarei-o, era agora ou nunca – Me desculpa! Por minha culpa você perdeu o emprego. Eu devia ter imaginado isso. Eu prometo que vou te ajudar a arrumar outro trabalho e...
Ele estava rindo da minha desgraça? Não, ele estava gargalhando!
_ Acho que perdi a piada. – fui pedir desculpas na maior boa vontade e ele ri de mim?
_ Desculpe, mas você estava com uma cara tão engraçada, não consegui segurar!
Ele levou alguns minutos para se recompor e depois voltou a falar, só que dessa vez ele estava mais sério.
_ Eu é quem devo te agradecer. – e num impulso pegou minha mão sobre a mesa – Se não fosse seu conselho eu ainda estaria me matando de trabalhar.
_ Mas você foi demitido por minha causa. – desviei o olhar, sem graça por ele estar me agradecendo sem necessidade.
_ Na verdade eu estou pedindo demissão daqui. – encarei-o confuso – Eu expliquei pra diretora a minha situação e ela entendeu, me deu uma chance.
Diante do meu silêncio, e da minha cara de bobo, ele continuou.
_ Pedi duas semanas de licença pra cumprir o aviso aqui na cafeteria em tempo integral. Coloquei um estagiário pra me cobrir por esse tempo e daqui uma semana eu retorno para o colégio. Vou trabalhar só lá! Graças a você tenho os fins de semana livres!
Seus olhos brilharam agradecidos e seu sorriso aumentou. Quando minha ficha caiu, eu também comecei a rir.
_ Isso é ótimo! Vem! – joguei uma nota na mesa e puxei-o para fora da Starbucks – Vamos comemorar!
_ Hey! Espera! – ele correu atrás de mim, tropeçando e ainda rindo – Calma, eu não tenho pressa em comemorar não! Tenho o final de semana todo, como te disse antes!
_ Mas eu tenho pressa! Vou te pagar uma bebida! – parei ao lado do meu carro e abri a porta pra ele – Alguma preferência de lugar?
_ Você escolhe! – após fechar a porta, dei a volta no carro, entrei e dirigi até uma boate perto de casa.
* * *
Algumas doses depois, Saga, como meu loirinho pediu para chamá-lo, estava dançando em cima da mesa, dando um show para as moças presentes e para alguns marmanjos também.
Dentre eles, eu.
_ Tora, vem dançar comigo! – inclinou-se na mesa e puxou a gola da minha camisa.
Realmente não estava tão sóbrio quanto imaginei. Num instante ele estava dançando sozinho sobre a mesa, no outro nós estávamos no meio da pista, dançando com os corpos colados. Minhas mãos em sua cintura e as suas em minha nuca, fazendo um afago gostoso em meus cabelos.
Quando dei por mim meus lábios estavam pressionando os seus, buscando por espaço. Desci uma mão e segurei sua coxa, erguendo-a um pouco. Sua mão desceu por meu peito, arranhando por cima da blusa, logo adentrando por baixo do pano, fazendo um arrepio subir por minha coluna.
Não sei como conseguimos sair da boate, mas a cada parada que fazíamos já estávamos nos agarrando novamente. Na porta do carro, dentro dele, no elevador, na porta do meu apartamento. Nunca foi tão difícil achar uma chave!
* * *
Acordei com o sol batendo em meu rosto, a luz entrando pelas frestas da cortina entreaberta. Minha cabeça doía um pouco, resultado da quantidade de álcool ingerido. Tentei virar de lado e dormir mais um pouco, mas um peso impediu-me de mexer.
Olhei para meu peito, vendo uma cabeleira loira, que pertencia a alguém que estava me usando como travesseiro. Sua respiração calma e compassada batendo em meu peito, fazendo leves cócegas. Sorri ao vê-lo ali, tão entregue, tão sereno, tão apertável!
Afaguei seus cabelos, aspirando seu aroma, aquele cheiro que eu começara a gostar mais a cada dia.
Ele ronronou, mexendo-se minimamente, dando sinais que logo acordaria.
Continuei com o carinho enquanto pus-me a pensar em tudo que aconteceu nesse último mês. Não me incomodava o fato de descobrir que era gay, acho que sentimentos não escolhem sexo. Mas o fato de sentir-me atraído por Saga foi... inesperado.
Ele não fazia o tipo de pessoa com quem eu normalmente me envolveria. Ele era bonito, lindo na verdade, mas era completamente desastrado, meio avoado às vezes, tímido...
Costumava sair com garotas mais atiradinhas, nunca gostei das tímidas. E o fato de eu mesmo ser meio sarcástico fazia com que elas se afastassem.
Contudo... ele estava virando meu mundo de cabeça pra baixo. E isso em menos de um mês!
Eu tentei ajudá-lo, fiquei com a consciência pesada por achar que fiz tudo errado, depois veio o encontro na Starbucks, penso em me desculpar e ele diz que fiz algo que nunca tinham feito por ele.
Era tudo contraditório demais!
O mais incrível nisso tudo, foi seu outro lado que descobri. Ele era sim, extremamente tímido e calado. Muito fofo e sorridente. Mas ver seu lado sexy, dançando pra mim em cima daquela mesa mudou o modo como eu o enxergava. E não vou ser obtuso de falar que foi tudo efeito da bebida. Ele começou a se soltar antes mesmo de terminar a primeira dose!
O primeiro beijo foi iniciativa minha. Se Saga mostrou interesse, o que eu podia fazer era corresponder, já que era isso que queríamos. O que aconteceu a seguir foram apenas conseqüências. Belas e doces conseqüências.
Piegas! É isso que gostar tanto de alguém faz com um homem! Estou altamente e incorrigivelmente apaix...
_ Você está distante...
Assustei ao ouvir o meu, sim agora era meu, loirinho sussurrar em meu ouvido. Ele ergueu a cabeça e me encarou, como se tentasse desvendar meus pensamentos, sua mão passeando por meu tronco desnudo, um pequeno sorriso se formando em seus lábios... tudo nele era tão... perfeito...
_ Você... quer que eu vá embora? – ele falou inseguro, desviando o olhar do meu, parando o carinho em meu corpo.
De onde ele tirou aquele pensamento idiota eu não sei, mas ele precisava ouvir umas boas verdades!
_ Isso não foi uma transa. Eu não vou pra cama com qualquer um. E não, eu não quero que vá embora! – apertei seu corpo contra o meu, abraçando-o ternamente e afagando seus cabelos. – Essa noite foi incrível! – beijei o topo de sua cabeça, ouvindo-o suspirar aliviado.
_ Pra mim também foi. Inesquecível! – e lá estava de volta, o belo sorriso adornando seus lábios.
Lábios que deve frisar, eram viciantes.
_ Vou preparar nosso café, se quiser pode tomar um banho. – falei acariciando seu rosto – Acho que nós dois precisamos de um banho, na verdade. – ri baixinho, sabendo perfeitamente que estávamos sujos e grudentos, mas quem liga.
_ Você faz o café, eu tomo banho. Depois a gente troca, você toma banho e eu lavo a louça. – selou nossos lábios e levantou-se, levando consigo o lençol – Me empresta umas roupas? – parou no batente da porta fazendo a carinha mais inocente que conseguiu.
Quem não o conhecesse que o comprasse!
_ Claro! – levantei-me, ignorando o fato de estar nu e caminhei até o guarda-roupa – Vão ficar um pouco grandes, mas só tenho roupas minhas aqui mesmo.
_ Obrigado! – fechou a porta e em seguida ouvi o chuveiro sendo aberto.
Depositei as roupas na cama, vesti um roupão e fui para a cozinha preparar nosso café. Faria algo simples, panquecas e um suco, talvez algumas frutas. Ele ia gostar.
Terminava de tirar mais uma panqueca do forno quando ouvi uma porta bater. Desliguei o fogão e fui até o quarto para chamá-lo para o desjejum quando encontro o quarto vazio. Fui até o banheiro e nada.
Ele não fez isso comigo!
Corro até a porta da sala e encontro-a destrancada.
Sim, ele fez!
_ Merda, Sakamoto! Você não disse que a noite foi ótima? – esmurro a porta – Por que foi embora sem me falar nada?
Yeah! O Saguinha fugiu! *foge junto pra não levar pedrada*
Isso é um presente pra Kaline-chan, ou seja, só tem continuação se o meu presente também for postado.
