Inevitável

Eu a odiei desde o primeiro momento que a vi. Era irritante sua bela forma de sorrir,irritante aquela sua risada sincera e aqueles olhares tão expressivos que ela lançou ao me conhecer.

Ela era a noiva do meu irmão mais novo. Nunca nos demos bem. Eu e meu irmão,quero dizer. Ele sempre foi resmungão demais,chato demais,idiota demais. Não consigo entender como ela se apaixonou por ele. Ela é tão doce e tão calma para alguém como Inuyasha.

Foi numa tarde de sábado em que ela veio na nossa casa. Ele viajara a negócios para passar o fim de semana,e ela não sabia porque não havia ouvido os recados da secretária eletrônica. Ela chegou com aquele sorriso doce e me cumprimentou simpática. Eu não falei muito,na verdade,resumi onde ele fora. Ela se decepcionou pelo que me pareceu,mas depois veio com perguntas sobre o meu violão. Expliquei a ela que cantava nas horas livres,e ela insistiu para ouvir. Eu neguei,afirmando que cantava mal,mas ela insistiu mais. E com aqueles olhos castanhos pelos quais eu havia me encantado,ela fez um apelo. Acabei cedendo,e não sei como ou porque,mas depois de um tempo já estávamos juntos na cama.

Ela não é oferecida,e eu posso ser irresistível,mas não a ponto de roubar a mulher do meu irmão. Acontece que apenas aconteceu. Não conversamos muito,não trocamos palavras bonitas ou juras de amor. Não fizemos promessas.

Mas precisávamos estar juntos daquela forma. Nossos corpos apenas se encaixavam com precisão. Não ligamos para nada que aconteceria depois,não lembramos de Inuyasha.

Ela não me impediu em nenhum momento de me perder naqueles olhos castanhos,ou de mergulhar mais profundamente naquele mar negro que eram seus cabelos. Ela sorria quando eu acariciava seu rosto branco,e era um sorriso evasivo mas não sem emoção. Ela não parecia arrependida de nada que tinha feito. Mas não parecia contente consigo mesma. Talvez o sentimento de culpa as atormentasse,talvez ela não conseguisse me encarar mais quando ele estivesse por perto.

Mas era inevitável.

Repetimos esses encontros diversas vezes,com ou sem ele por perto. Porque ele não descobriria,era idiota demais para isso. Idiota demais para ela.

Mas a cada dia eu perdia mais o sono,cada dia que ela estava deitada em minha cama,de costas para mim. Fingindo dormir. Sim,porque eu sei que ela também demorava a adormecer depois de tudo. Era um desejo mais carnal,sem sentimentalismo,sem amor.

Pelo menos não por ela. Eu não sei em que ponto comecei a sentir frios na barriga quando ela me beijava. Não sei em que ponto comecei a me arrepiar cada vez que ela passava suas unhas nas minhas costas de um jeito um tanto quanto sedutor. Mas sei que passou a ser para mim,algo muito mais significativo.

Ela sempre sorria de um jeito indescritível antes de se virar e dormir. E eu não correspondia,não sabia como fazê-la achar que não era nada pra mim. Mentir nunca foi muito o meu forte. Nessas horas eu costumo ser inexpressivo,ficar calado.

Perdia-me naqueles cabelos negros e sedosos a minha frente. Por vezes,eu os acalentava,e ela se aproximava mais para que eu pudesse ouvir sua respiração e seus suspiros.

Mas ela não se abraçava a mim na hora de dormir. Eu sempre acordava e a via de costas,ou por vezes não a encontrava. Ela ia embora sem se despedir. Era melhor assim.

Uma vez pude vê-la indo até o banheiro,e demorar um longo tempo para sair de lá. Talvez ela quisesse se sentir limpa de mim. Limpa de todos os toques da noite anterior,todas as carícias,todo o sentimento que ela sentia de culpa.

Mas ainda assim,era inevitável que aquilo se repetisse,da mesma forma que era inevitável o sol nascer todos os dias de verão em que nos víamos.

E isso se repetiu por diversas noites. Noites essas,em que éramos apenas Kagome e Sesshoumaru. Só nós mesmos,sem medo,sem culpa,sem ressentimento.

Mas da última eu não esquecerei nunca. Ela me tocou diferente,e seu beijo pareceu muito mais intenso. Assim como o brilho do seu olhar antes de se virar e dormir. Quando nossas carícias cessavam,eu notava que ela era dele. Sempre foi dele,afinal.

Mas ela não pareceu feliz ao passar o batom na frente do espelho e buscar sua bolsa em cima da minha escrivaninha. Não parecia alegre,não parecia satisfeita com sua vida perfeita de contos de fadas. Era artificial toda aquela felicidade dela e dele,era artificial o beijo carinhoso deles. Não se comparavam nem de perto aos nossos.

E ela passou um batom vermelho nos lábios antes de sair. Olhou-me como se quisesse dizer algo que não conseguia.

Contentei-me apenas em manchar seu rosto ao beijá-la fervorosamente. Ela não contornou o batom novamente,apenas me olhou sem nada dizer. Mas tenho certeza de que aquele olhar disse muito mais do que ela pretendia me deixar saber.

Ela buscou a bolsa e colocou a aliança no dedo da mão direita de uma forma automática.

Fiquei a observando,bêbado apenas com sua presença,com seu beijo,com tudo que ela me fazia sentir nas noites em que passávamos juntos. Era sempre assim que ela me deixava mesmo. Como um alcoólatra que bebera excessivamente de sua bebida mais forte e mais querida,mas ainda assim não se sentia satisfeito. Não bêbado o suficiente.

Ela se aproximou de mim,e pela primeira vez,me abraçou forte para depois dar um beijo lento e carinhoso em meus lábios sedentos dela. Apenas dela.

Ainda posso sentir seu olhar me perfurando,no momento em que percebi que aquela era a última vez. A última vez que ela foi minha,apenas minha.

Não pude fazer nada ao vê-la cruzar a porta e sair do meu apartamento sem sorrir. Sabia que seria assim. Sabia que um dia ela iria para não mais voltar. Só não esperava sofrer por isso. Não esperava abraçar os lençóis que ainda inebriavam o seu perfume para curar a sua falta. Não queria ter me envolvido a esse ponto.

Mas foi inevitável.

Guardei a lembrança daquele último beijo e daquele último olhar. E seu olhar foi o que mais machucou. Foi triste,cansado,crucial. Foi o olhar que eu preferia nunca ter visto partindo dela.

Ela deixou apenas sua lembrança comigo,e eu fiquei olhando para a porta feito um tolo. Com o peso da frase que nunca disse a ela. Nunca tive coragem de dizer,apenas quando ela se virava e já parecia adormecida. Em seu inconsciente ela as conhece. Embora isso não faça muita diferença.

Fiquei parado,a observando sair do meu apartamento,da minha vida. De uma vez por todas. Sem retorno,sem me deixar nada. A não ser as três palavras e últimas que ela disse antes de fechar a porta. Olhando-me sinceramente e intensamente,pude ouvir o fim daquilo tudo dito por seus lábios borrados de batom. Porque ela disse "eu te amo" antes de ir embora.


Gente,eu sei q tá uma bosta essa fic

Desculpem por postar algo assim,mas é que eu não aguentei .

sabe,foi uma inspiração monetânea,e eu precisei escrever x)

se tiverem gostado,comentem por favor \o/

bjos #