Seus olhos se encaravam. Numa mistura frenética de ansiedade e respostas silenciosas. O dia claro brincava com eles assim como o vento que passava pela folhagem de outono no pequeno espaço ao fundo da casa. Onde escolheram para conversarem. Depois de tanto tempo.
E depois de tanto tempo parecia que quase nada havia mudado. Quase. Porque afinal, ambos passaram por tantas coisas, tantas provações. Lágrimas vieram e secaram e tornaram a cair. Mas nessa tarde, nessa tarde de outono, de final da guerra, elas desceram pela felicidade que brotavam em seus corações cansados e desesperançados. Sim, a esperança nasceu nessa tarde como uma flor que brota depois de uma chuva de verão.
Eles ainda se encaravam. E no silêncio que fazia eles se observavam. Quanto tempo havia se passado desde a ultima vez que eles se viram? Ele tinha dito que ela havia crescido! No meio de toda a confusão, ele ainda pode reparar nisso. E ele reparava que ela crescera mais ainda. Estava uma moça completa. 16 anos. Ele sabia, nunca esquecera o aniversário dela, mesmo onde estava.
Ela também o reparava. Parecia o mesmo, mas ela via que não o era. Ainda tinha os cabelos de plumas, os olhos alagadiços e sua barba despontava discretamente pelo seu rosto escanhoado. Mais... alguma coisa tinha mudado. E ela buscava onde se encontravam essas mudanças. Talvez algum dia descobriria. Talvez, ela simplesmente se acostumaria a elas e não mais notasse a diferença.
Palavras foram ditas. Muitas. Eles conheciam o poder que elas tinham. E sabiam o que precisava ser dito, e que não ia ser fácil.
Palavras, silêncios, lágrimas quietas que escorriam no rosto do homem e da moça que se encaravam.
Palavras duras, tristes, confusas.
Por fim, depois de um bom tempo, ela o olhou e sem que pudesse se controlar foi até ele e o abraçou fortemente, sentindo os braços dele a envolver também firmes.
Suas lágrimas se misturaram ao tom de preocupação na voz baixa dela, um pouco abafada.
_ Max... _ não olhou para ele, mantendo seu rosto encostado em seu peito. Deixou sua respiração se acalmar, enquanto ele acariciava o topo da cabeça dela. _ Você acredita que um dia, vamos ser felizes?
Ele sentiu seu coração vacilar. Por um pequeno momento enquanto imagens dançavam pela sua mente e se misturavam sem que ele conseguisse frea-las. Em suas imagens, sua família, seus amigos, pessoas desconhecidas e agonizantes, e então, no final de tudo isso, ele a viu. E essa única visão foi o suficiente para ele ter certeza.
Ele a fez olhar para ele e suas mãos envolveram delicadamente o rosto dela e sua voz não vacilou, nem seu coração.
_ Acredito Liesel... Acredito...
E a menina crescida também sentiu seu coração se encher de esperança. A esperança certa, assim como a esperança de Max. E foi a vez dela colocar uma mão sobre a dele em seu rosto e deixar que seus lábios se abrissem num sorriso.
_ Eu também Max, eu também...
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Fico imaginando como foi possível reconstruir suas vidas depois de tudo! E pensar que isso aconteceu de verdade, que não foi uma história de horror inventada...
Max é simplesmente meu personagem favorito de todos os tempos, de todos os programas, de todos os livros...
