LOVE SONG
CAPíTULO UM
QUEM é VOCê?!
- E a grande atração desse final de semana é a chegada da banda "Vampire" aqui em Londres – informou a apresentadora do telejornal. – Parece que a rua do hotel onde a banda está hospedada foi interditada. Como andam as coisas por aí Lucy? – perguntou à repórter.
Fuuma, que entrara na cozinha naquele momento lançou um olhar irritado à televisão portátil e falou:
- Eu não sei por que tanto eles se importam com esse pessoal! São todos filhos de pais ricos que querem ainda mais dinheiro com essas músicas cheias de letras subversivas!
Arashi, que preparava ovos mexidos para o irmão suspirou e trocou de canal quando a repórter estava entrando no hotel para entrevistar o baterista da banda.
- Fuuma, você sabe o que seu sobrinho acha sobre essa banda, então não fale mais nada que possa…
Mas um garoto de cabelos curtos e negros, usando óculos entrou na cozinha como uma bala e exclamou:
- Mãe! Coloca no canal 5 que o baterista do "V" está dando uma entrevista exclusiva onde ele vai dizer qual é sua marca de cereal favorita!
- Eriol, acho que você está confundindo – interrompeu Fuuma com a torrada a meio caminho da boca. – O nome da banda que está aparecendo no canal 5 é Vampire!
- Eu sei tio, mas V é o apelido que nós do fã-clube oficial inglês da Vampire demos à banda! Obrigado mãe!
Fuuma tomou sua xícara de chá em um gole só. Deu um beijo na irmã e passou a mão nos cabelos do sobrinho que já pedia furiosamente para a mãe comprar a caixa de cereais favorita do baterista na próxima ida ao supermercado.
- Um bando de estrangeiros consumistas que vêm pra cá tirar nosso dinheiro! – resmungou ele ao entrar no carro.
Enquanto dirigia pelas ruas londrinas até o trabalho Fuuma pode ver como a banda era conhecida. Em todos os lugares pôsteres informavam o dia dos shows e onde estavam vendendo os ingressos. Algumas garotas andavam pelas ruas com roupas negras com um grande V na frente, que graças ao sobrinho, Fuuma sabia que era um "apelido" para Vampire.
Assim que entrou na livraria onde trabalhava Fuuma ficou boquiaberto. O pequeno espaço onde o estabelecimento dispunha os CD's estava amarrotado de caixas.
- Já era hora de chegar! – informou Sorata, um colega de trabalho de Fuuma.
- O que são essas caixas? – perguntou coçando a cabeça.
- São a nossa fonte de lucro durante esse fim de semana! – informou Yuuko, a dona excêntrica da loja. – Essas caixas contém uma fortuna, ou melhor, a nossa fortuna!
Fuuma pegou uma das caixas e notou um logotipo já conhecido.
- Isso tudo são…
- CD's! – exclamou Yuuko pegando uma caixa com cuidado, como se estivesse segurando um bebê, e não uma caixa de papelão. – CD's da banda mais famosa da atualidade!
- Yuuko-San… pensei que você gostasse de música clássica. – comentou Fuuma saindo de perto das caixas e pondo o avental com o emblema da livraria.
- E quem disse que eu gosto dessa porcaria? – respondeu ela colocando a caixa no lugar com extremo cuidado. – Só estou vendendo esses CD's porque todos vão querer comprar. Uma amiga me disse ontem que os ingressos pra sábado estão esgotados!
Fuuma balançou a cabeça e começou a abrir as caixas. Os CD's não mostravam a foto da banda como é normal, mas sim um frasco com liquido vermelho ao lado de uma rosa cheia de espinhos.
- Que loucura – pensou ele colocando os CD's na prateleira. – Cada louco com suas manias.
Por volta das dez da manhã metade dos CD's já tinham sido vendidos e Yuuko tinha um olhar ambicioso enquanto contava quanto dinheiro já existia dentro da caixa registradora.
- 130,00 dólares em apenas duas horas! – exclamou ela cheirando as notas.
- Ninguém comprou livros até agora… - reclamou Fuuma sentado em cima de uma pilha de Atlas. - acho que deveríamos mudar o nome da loja…
Mas a sineta tocou naquele instante e um rapaz todo vestido de preto, com óculos escuros e um gorro também negro entrou. Ele passou o olhar pelo balcão onde Yuuko ainda contava seu dinheiro e por Sorata que abria mais uma caixa de CD's.
- Olá! – exclamou ele. – Estou procurando um livro…
Fuuma se levantou na hora e acenou.
- Obrigado. – respondeu o rapaz sem jeito passando por cima de uma caixa de CD's. – Vocês tem livros de música clássica?
- Você gosta de música clássica?! – perguntou Fuuma incrédulo.
- Sim. – respondeu o rapaz sem jeito.
- Bom, temos biografias dos compositores, livros com partituras clássicas e ainda um ótimo guia de compras de matérias musicais
O rapaz escutou atentamente, sem olhar para outro lugar. Quando Fuuma terminou fez uma cara de dúvida e perguntou:
- Tudo bem com você?
- Ah, claro! É que eu fiquei pensando qual seria melhor e… eu não sou daqui sabe. Não conheço muito os livros daqui e…
- Nós temos um espaço de leitura nos fundos da loja. Na maioria das vezes é usado por estudantes, mas não acho que Yuuko-San vá se importar se você for. Ela está muito feliz hoje porque todo mundo está comprando o CD de uma banda que vem fazer show aqui em Londres.
- O Vampire?! – perguntou o rapaz na hora.
- Sim. Mas eu não gosto muito deles… acho que eles são uma banda muito… não sei te explicar, mas não curto mesmo. Bom, vem comigo que eu te levo até o espaço de leitura.
Fuuma levou o rapaz até uma sala nos fundos da loja, onde em um canto repousava um belo piano de cauda. Várias mesinhas com cadeiras de plástico estavam dispostas sobre a sala, em algumas haviam pequenas pilhas de livros.
- Espera aqui que já trago os livros pra você. Se quiser pode tocar no piano. – informou Fuuma indicando o instrumento com a mão. – Ele quase não é usado!
Quando voltou para dentro da livraria encontrou mais gente que o normal, todas com um olhar estranho parecia que procuravam alguma coisa.
- Malucos! – pensou Fuuma pegando os livros para o rapaz.
- Ei, garoto! – chamou um homem com um bigode muito espesso. – Vocês tem revistas de celebridades?
- Não senhor. – respondeu ele polidamente. – Só trabalhamos com livros e CD's. Desculpe.
O homem resmungou baixinho e saiu da loja. Muitas garotas entraram em seguida cochichando entre elas enquanto iam até a seção de livros para maiores. Fuuma pigarreou e elas saíram correndo da seção ruborizadas.
Ele foi até a sala de leitura e antes que sua mão encostasse a maçaneta ele ouviu uma melodia maravilhosa. Parecia que o rapaz sabia tocar piano muito bem. Fuuma abriu a porta devagar para não interrompê-lo. O rapaz tinha tirado o capuz e os óculos. Seus cabelos eram negros e lisos, iam até os ombros.
Quando ele notou que Fuuma o observava parou de tocar e ficou mirando os sapatos. Os olhos azuis denunciavam timidez.
- Você toca muito bem – elogiou Fuuma. – Seu professor devia ter sido ótimo. Até hoje só consigo tocar músicas infantis.
O rapaz riu e respondeu um pouco corado:
- Não tive professor. Comecei a tocar sozinho no piano do meu avô.
- Nossa! Que talento! – exclamou ele. – Bom, aqui estão os livros, qualquer coisa é só me chamar. Fuuma.
O rapaz assentiu e antes de ir até a mesa com os livros dedilhou o piano novamente. Fuuma sorriu e quando ele olhou para o rapaz de cabelos negros seu estômago fez uma coisa engraçada. Parecia que ele tinha engolido um balde de gelo. Suas bochechas queimaram e ele saiu da sala, fechando a porta ao passar.
Depois do que imaginou ter sido uma hora o rapaz saiu carregando um livro nas mãos. Ele se dirigiu até Fuuma que atendia uma mãe que comprava livros escolares para a filha caçula.
- Sr. Fuuma – chamou ele. – Vou levar este aqui.
- Espere um pouco. – disse Fuuma à senhora. – Fuuma apenas, por favor. Tome, aqui está a nota do livro. É só passar no caixa e mostrar para Yuuko.
O rapaz pegou a nota, mas ao invés de ir ao caixa continuou parado ao lado de Fuuma, que intrigado perguntou:
- O que foi?
- Você gosta de música clássica mesmo?
- Sim.
A mulher olhava os dois com um misto de incredulidade e raiva.
- Quer jantar comigo nesse restaurante? – e entregou um cartão à Fuuma.
- Mas… esse restaurante pertence ao hotel…
- É onde estou hospedado. – informou o rapaz corando. – Estarei te esperando as sete, tudo bem pra você?
- Bem… uhm… certo. – respondeu Fuuma também corando um pouco.
- OK. Até a noite então.
- Até.
O rapaz colocou os óculos escuros e se dirigiu ao caixa onde pagou o livro e saiu carregando a sacola parda da loja. Só quando ele saiu que Fuuma voltou sua atenção para a mulher que já estava com o celular em mãos.
- Desculpe senhora, mas é que ele foi um cliente…
- Não tem problema! – exclamou ela com um sorriso no rosto. – Aquele era um dos integrantes do Vampire não é?
- Impossível. – respondeu Fuuma de imediato. – Onde já se viu um cantor de banda de rock se interessar por música clássica e ainda por cima tocar piano?
A mulher que já discava algum número no celular parou e fechou o aparelho, pondo-o na bolsa. Em seguida chamou a filha para perto, pois a garotinha folheava um livro com assuntos proibidos para maiores.
- Então. Quando vai chegar o livro para a primeira série?
- Mamãe! Descobri como eu nasci! E não foi pela cegonha…
Fuuma riu e anotou a reserva da mulher que saiu da loja puxando a filha pela orelha.
- Aonde vai tão bonito?! – perguntou Arashi quando Fuuma surgiu na cozinha.
Ele estava usando uma calça jeans escura e uma camisa azul-marinho. Eriol que preparava um cartaz para levar para o show da banda falou:
- Acho que o tio finalmente arranjou uma namorada!
- Nada disso Eriol! – exclamou Fuuma com as bochechas em chamas. – Vou jantar com um… um amigo que eu reencontrei na livraria hoje!
- Então é namorado! – respondeu o garoto no mesmo tom.
Arashi sorriu e arrumou a gola da camisa do irmão.
- Espero que você se divirta hoje Fuuma. Faz muito tempo que não te vejo com um sorriso assim!
Fuuma não negou que estava feliz. Era muito difícil ele se identificar com alguém, ainda mais logo na primeira vez que a tinha visto. Aquele rapaz parecia ser muito legal, mesmo sendo tímido. Eles poderiam ser ótimos amigos.
- Qual o nome do restaurante? – perguntou Arashi.
- É o restaurante que fica no Ritz. – informou ele arrumando os cabelos espetados no espelho da sala de jantar.
- Não acredito! – exclamou a mulher. – Convence esse seu amigo a vir aqui qualquer dia Fuuma! Ele parece ter grana!
Fuuma riu junto com a irmã. Eriol pulou alto quando terminou o cartaz e subiu as escadas cantarolando a música da banda.
- Já vou indo Arashi. Não me espere…
- Eu não esperarei! – brincou ela dando uma piscadela ao irmão. – Comporte-se.
Ele mandou um beijo pra irmã da porta e ela acenou rindo da cara de bobo que ele estava.
- Desculpe senhor, mas sem nome ou reserva não poderá entrar! – informou o segurança quando Fuuma tentou entrar.
- Mas ele não me disse o nome, só falou pra que eu aparecesse aqui às sete e…
- Ainda não são sete horas! – exclamou o rapaz vindo ao encontro de Fuuma, que corou.
Ele usava uma bermuda florida e uma camiseta rosa. Seus cabelos negros estava presos no alto da cabeça e ele abandonara os óculos.
- Boa noite Sr. Kamui.
- Já disse que é apenas Kamui. – retrucou o ele ao segurança. – O Fuuma está comigo Kurogane, pode autorizar a entrada dele.
- Certo.
Os dois entraram no restaurante. Era sem dúvida um lugar chique e aconchegante. As mesas eram de vidro e as cadeiras eram douradas. Kamui seguiu até uma que ficava em frente à janela. Rapidamente um garçom veio ao encontro dos dois.
- O que vai querer hoje Sr. Kamui e Sr…
- Fuuma.
- Sr. Fuuma?
- Olá Fay. – cumprimentou Kamui descontraído. – Eu vou querer o de sempre. Milk-shake e um hambúrguer com fritas. Ah, não se esquece que é com bastante queijo.
- Eu… - começou Kurogane examinando o cardápio. – acho que vou querer o mesmo que o Kamui!
- Certo. Kamui, você viu o Kurogane?!
- Sim, finalmente conseguiu se mudar para mais perto de você!
- Aham. Ele começou ontem, mas eu acho que ele deveria ter continuado no hotel. Ele não para de ficar me vigiando!
- Ele sabe o namorado que tem! – ironizou Kamui rindo.
- Com certeza! – respondeu o loiro dando uma piscadela aos dois e indo preparar os pedidos.
Fuuma tinha um olhar perdido na janela quando Kamui perguntou:
- Algum problema?
- Não. Só estou… olhando pela janela.
Os dois riram juntos.
- Olha, se você não estiver gostando daqui eu entendo. Podemos ir até um lugar mais…
- Não, imagina. Isso aqui é maravilhoso! – exclamou Fuuma olhando nos olhos azuis de Kamui, mas desviando rapidamente. – Me desculpa a pergunta, mas… o que você faz?
Kamui corou. Parecia nervoso ao tentar explicar, pois gaguejou várias vezes antes de dizer:
- Sou… can…
FLASH!
Muitos fotógrafos e repórteres surgiram na entrada do restaurante e começaram a se aproximar da mesa dos dois. Kamui pegou na mão de Fuuma com força e puxou-o para perto de si.
- O que está acontecendo?! – perguntou Fuuma confuso.
- Não sei. Por favor, Fuuma, me leva embora daqui!
Fuuma abraçou Kamui e se retirou do restaurante pelos fundos. Eles pegaram o carro de Fuuma que estava estacionado ali perto e seguiram até um parque onde fecharam os vidros e Fuuma desligou o motor.
- O que foi aquilo? – perguntou arfando e olhando pelo retrovisor.
- São as pessoas que me perseguem. – respondeu Kamui triste. – Eu sou o vocalista da banda Vampire, Fuuma. Kamui Shirou.
