Seus olhos me encontrara no meio do salão. O cinza que eu conhecia estava muito longe para que pudesse definir o que dizia, mas seu rosto já fazia isso. Dizia absolutamente tudo o que ela queria saber. A boca curvada de modo tenso, o cenho franzido, as bochechas coradas e a leve sensação de que queria me dizer algo.
Minha boca ficou mais seca do que antes, a água que devia estar nela passou para meus olhos, que já estavam cheios, quase transbordando. Uma única lágrima quente caiu deles, marcando um caminho ondulado em minha face rosada. Meus lábios tremiam, as mãos seguravam minha saia com tanta força que pensei que ia rasgá-la em duas. Mas ninguém via meu choro. Apenas ele, do outro lado do salão. Porque ele também chorava. E o motivo do choro estava sendo avaliado por seus lindos olhos. Eu. Não podia dizer muito, já que também chorava por ele. E como doía!
Nos levantamos ao mesmo tempo, e agora os outros perceberam que estávamos chorando. Todos os olhares concentrados em nossos movimentos lentos e temerosos, em nossas lágrimas quentes, em nossa dor exposta de forma tão cruel e desmascarada. Estavam TODOS, sem exceção, olhando para nós.
Não que eu ainda me importasse com isso. Queria apenas chegar ao meu destino: Ele. Novamente as lágrimas. Malditas lágrimas que eu não mais sabia se eram minhas ou dele. Por mim ou por ele.
Continuei andando até que parei a sua frente. Os enormes olhos me fitaram enquanto tinha de ficar na ponta dos pés e erguer a cabeça para chegar ao menos em seu queixo anguloso.
- Hermione... - seus lábios sussurraram meu nome. E eu tive vontade de gritar para que ele repetisse.
Assenti com a cabeça, segurando seu rosto com ambas as mãos, sentindo o calor familiar que dele emanava. Suas lágrimas quentes enchiam minhas mãos em forma de concha, e nenhum barulho era audível, embora pudesse jurar que escutava as suaves ondas do mar enquanto encarava seus olhos.
- Draco... - fechou os olhos. Eu ainda escutava o mar. Que eu falasse tudo de uma só vez. - Meu Draco. Eu... Eu...
Mas não conseguia dizer. As palavras se embolavam nas lágrimas, e na sensação horrível que era poder tocar em seu rosto anguloso tão publicamente e não poder tomá-lo para mim, juntando nossos lábios e escutando-o repetir meu nome diversas vezes, como sempre fazia.
- Eu te amo.
As palavras escorreram de seus lábios róseos e finos, a vontade de saboreá-las mais vezes consumindo-me tão lentamente quanto o ardor em meu peito, que deixava minhas mãos dormentes e minhas pernas bambas.
- Draco...
Eu apenas conseguia fazê-lo rir. E como gostava de seu riso. Seus olhos brilharam mais naquele momento. O momento que antecedeu a compreensão daqueles que nos observavam. As palavras doces voltaram a cair de seus lábios:
- Sim, eu sei.
Porque ele sabia. Mesmo eu não sabendo o que. Ele sempre sabia. Principalmente quando tocava os lábios nos meus. Sim. Ele sabia.
