Shaman King pertence à Hiroyuki Takei, mas o Hao é – e sempre será – meu.
Contem insinuação de hentai. Não gosta, não leia.
Cores
-
Presente para a Débby, porque, acima de tudo, eu a amo.
-
No mundo deles, elas não existiam.
-
As cores, elas não eram reais. Não podiam, não deviam ser reais. Porque elas eram belas demais, perfeitas demais e nada disso podia existir ali; não ali. No mundo deles, as cores não existiam. Elas manchariam a perfeição que, com tanto custo, haviam tecido. Aquela perfeição que não era preta, nem branca, mas sem cor.
Sem-cor do pecado que cometiam a cada vez que se encontravam, sem-cor do mundo que se formava ao redor deles quando estavam juntos, sem-cor do frio dela e do calor dele e sem-cor de tudo, tudo, tudo o que dizia respeito a eles.
Mas as vezes, elas apareciam. Vazavam e destruíam o mundo sem-cor que eles criavam com tanto sacrifício. Costumavam vir em forma de espectros para atormentá-los. Eram pequenas manchas que sempre começavam com cores fortes.
Amarelo e vermelho, manchando o mundo dos dois. Amarelo e vermelho que vazavam e riam baixinho, confirmando sua presença. Manchas, manchas que jamais deixariam de estar lá. Manchas que os faziam lembrar de quem eram e de que não poderiam ficar juntos. Manchas que gritavam que eles estavam errados.
O grito vermelho do ódio. O brilho amarelo dos olhos. E preto, sem dúvidas, o preto da escuridão para lembrar-lhes que nem sempre estavam sozinhos. E era naqueles momentos que deviam parar, afastar-se e voltar às suas vidas, mas eles não conseguiam, porque aquela não-cor do mundo deles era mais forte. E aquela não-cor lutava para que continuassem juntos, para que seguissem em frente com aquele amor que não era amor, porque não deveria ser.
Hao Asakura jamais poderia amar alguém. Ele era frívolo, egoísta e só tinha olhos para os próprios interesses (que eram tão tolos e mesquinhos, pensava ela). Ele jamais conseguiria enxergar que a sua idéia de perfeição não podia existir. Mas o vermelho, aquele mesmo vermelho do ódio, manchava as suas mãos com sangue. O sangue de milhares de inocentes (e também não-inocentes. Anna, melhor do que ninguém, sabia disso) tingia suas mãos de vermelho. Aquela cor tão viva e tão forte que ela sempre enxergava quando não estavam em seu mundo.
Ele era todo vermelho. Da cabeça aos pés, vermelho. Vermelho por dentro e por fora, vermelho cor do sangue, vermelho cor da morte. Vermelho, vermelho, vermelho. E Anna o encarava de longe e sentia repugnância daquele vermelho, porque ele cheirava a vermelho. Mas no mundo sem-cor deles, Hao era diferente. Não havia o sorriso vermelho do escárnio, nem o brilho vermelho do ódio em seus olhos. Ele era apenas ele, sem nenhuma ambição que não fosse possuí-la. E, naqueles momentos, por mais que não quisesse admitir, Anna o amava (não, não! Você não pode amá-lo, não seja tola! Você ama apenas Yoh!). Porque, naqueles momentos, ele era Hao Asakura, o humano e não Hao Asakura, o aspirador à título de Shaman King. Ele era seu Hao, em seu mundo e de mais ninguém.
E aquilo era errado, tão errado quanto o que faziam agora. Tão errado quanto as mãos dele correndo por seu corpo e os lábios buscando os seus naquele desejo incontrolável de se possuírem. Tão errado quanto as cores que invadiam o mundo da não-cor que deveria ser só deles e não daquelas cores. Então por que, ela se perguntava apertando as mãos contra as costas dele, por que não conseguia apagar da sua mente a imagem dele? Por que não conseguia pensar em
(amar)
Yoh? Aquilo lhe torturava, lhe consumia por dentro a cada vez que o via, que via aquele sorriso que desabrochava como uma flor e lhe machucava como uma guilhotina a dar sua sentença de morte.
E se Hao Asakura era o vermelho, Anna Kyoyama era o preto, a escuridão vasta que a consumia de dentro para fora. Anna que jamais admitiria que amava Hao. Anna que amava Yoh desde a mais tenra idade. Yoh, seu Yoh. Era a ele que deveria devotar seus dias e não àquele gêmeo de intenções malévolas e egoístas. Era Yoh quem tinha os ideais perfeitos para ser o Shaman King. E era Yoh quem a fazia sentir-se suja. O preto lhe consumindo, penetrando em suas veias e fazendo dela escuridão.
Yoh era puro. E, se tivesse que escolher uma cor para ele, seria o azul. O azul resplandecente que cativava a todos. O azul do céu, o azul do mar, o azul do seu sorriso e da alegria que transmitia somente por estar ali. E também o azul da solidão que ele havia abandonado a partir do momento em que havia feito amigos. Ele não seria o branco, porque branco era fraco, sem graça. Seria apenas azul. O azul que era o oposto ao vermelho. Oposto a Hao.
E, enquanto se entregava de corpo e alma àquele vermelho que agora era sem-cor, ela não conseguia mais lembrar-se de Yoh. Ele se tornava apenas uma lembrança distante na qual ela tentava se apegar, mas que não conseguia. E quando Anna tentava sussurrar seu nome, era apenas Hao que lhe abandonava os lábios de forma lânguida. Hao que lhe beijava a curva do pescoço e que lhe despia lentamente, sem encontrar resistências para isso. Hao que dominava os seus sonhos e a sua razão quando estavam presentes naquele mundo. Hao que ela não queria (não podia, não devia, tantos não, tantos, tantos!) amar.
Mas amava. Amava e não podia mais lutar contra isso. Amava e se livrava do manto e das luvas e do que mais que lhe impedisse de sentir o calor daquele corpo que agora era só seu e de mais ninguém. Amava exatamente por ele ser quem era. Por ser errado, tão errado quanto ela. Por ser um pecador, um renegado. Porque só ele seria capaz de compreender o que ela sentia. Só ele, porque partilhavam do mesmo dom, da mesma maldição.
Sem dizer nada, entregaram-se ao jogo de pecados, deixando-se consumir por cada um deles naquele momento único. Todos os sete pecados capitais se tornando um. Todas as cores juntando-se e tornando-se preto e branco e luxúria e amor e ódio e tristeza e o que mais é preciso para que se seja humano? Eles se tornando um só, e o momento e as dores e os sofrimentos que haviam passado. Tudo se unificou em uma única coisa que nomearam de mundo. Seu mundo, onde as barreiras seriam instransponíveis até mesmo para aquelas tolas cores que tentavam atravessar. Porque agora era um mundo preto e branco, onde eles se completavam. Onde podiam se amar e sentir-se livres para expressar isso.
E quando aquele momento terminou, ambos começaram a vestir-se lentamente, sem encarar-se durante aquele silencioso ritual. Calças, vestido, manto, bandana, luvas, tamancos, sapatos. Quando os olhares finalmente se encontraram, o mundo era feito de cores novamente. E se lembraram de quem eram e do que tinham de fazer. A frieza dela, o calor dele, a solidão de ambos.
"Até logo, Anna, minha querida." Ele sorriu aquele sorriso vermelho de escárnio e Anna sentiu repugnância por estar em sua presença.
"Não me chame de querida." Acertou-lhe um tapa dolorido na face. Um tapa negro. E ele riu, um riso vermelho, sádico, irônico como ele era. E acenou. E desapareceu em meio às chamas alaranjadas.
E, novamente, ela era a Rainha do Gelo, cercada pela solidão que a atormentava. Mas agora, não tão sozinha, porque tinha ele. Seu erro, sua imperfeição, seu mundo. Porque vermelho e preto combinavam. E porque preto e branco se completavam. Assim como eles. Assim como o mundo deles, onde as cores não existiam.
N/A:
Porque já fazia tempo que eu te devia uma fic, mas não sabia como pagar. Então, eu tive a idéia pra essa HaoAnna, e achei que talvez você fosse gostar.
Enfim.
Outra HaoAnna CANNON para a minha coleção, porque HaoAnna cannon é true love 8D
Quis me basear nas cores, porque...porque deu vontade. E porque eu acho que as coisas entre o Hao e a Anna funcionam exatamente dessa maneira.
Agradeço à nana e à ray que ficaram lendo os parágrafos e comentando (e me mandando morrer 8D) para me dizer o que achavam. Brigadão, amo vocês! 8D
Enfim (2)
Espero que goste, déb, e todos vocês que eu com certeza vou obrigar a ler, também 8D
Beijos!
Reviews? Eu quero!
