Fecho os olhos e vejo-me ao colo dele depois de ter sido pedida em casamento no meio de milhares de pessoas, sinto o cheiro do perfume, o toque das mãos dele e de pensar: " Longo caminho que fizemos Tsukasa, quase morria no meio de tanto". Ainda sinto os meus pés a tocarem no chão e os braços dele a envolverem-me e a sussurar gentilmente ao meu ouvido: " Bem vinda, ao primeiro dia do meu eterno amor", ri-me. E ainda hoje o faço quando penso nisso, afinal não era comum nele sussurar, em geral, ele falava tão bruscamente como se estivesse constantemente a gritar e depois ele já havia alegado que me amava, desconsiderando assim a afirmação da altura.

Mas que importava a estranheza do momento, eu estava mortalmente radiante e ele…ele também. Sorria desmesuradamente, mostrando o branco dos dentes e rasgando a mesma boca, que tantas vezes havia cuspido veneno, com um sorriso . Possivelmente esse era o charme dele, como raramente era simpático quando era, era como se o mundo tivesse desabado com tamanha doçura e aí, nesse momento tu sentias-te a pessoas mais amada, acarinhada e especial do mundo.

Longe vão os dias em que ele sacrificava o corpo por mim, sendo espancado para ninguém me ferir ou em que esperava sobre sol, chuva e frio por mim. Hoje sacrifica a conta bancária: oferecendo-me joías extravagantes, roupas exuberantes e perfumes intoxicantes. Nunca tive nada disto e não era o que queria, ou quero, continuo a preferir os dias em que ele esperava por mim na chuva ou em que ficavamos presos em edificios velhos.

A culpa não é só dele é também minha, sou eu que o deixo fechar o círculo, sou eu que o deixo caminhar como ele entende, faço birra de vez em quando e hoje já nem isso faço, é demasiado exaustivo para tão pouca reacção e no fim ainda recebo a cara de " o que queres que te faça?" . Assim quando o tempo passou percebi que se ficar quieta recebo o mesmo e não me desgasto emocionalmente, chamem como lhe entenderem: resignação, cansaço, desinteresse… mas nunca digam que é falta de amor, porque não é falta de amor, no dia em que eu não o amar o suficiente faço as malas e vou-me embora, tão fácil quanto isso.

No silêncio da casa surge tudo o que a agitação do dia esconde, estou cansada o dia foi infernal as aulas de ética laboral, a pressão da apresentação da minha palestra e as ininterruptas censuras do professor aos jovens que circulam por lá, são o suficiente para me fazer ficar deitada até ao próximo dia. Mas hoje não vai ser possível, hoje ele pediu-me para jantar comigo, que queria ver o meu deleite até pela mais fugral refeição, coisa que já não fazia à muito. Preferia morrer a perder uma oportunidade de jantar com ele… no inicio era tudo tão diferente, eu não me sentava em frente ao espelho a retocar a maquiagem e a colocar joías para formar um conjunto harmonioso com os elegantes vestidos, ele telefonava-me e eu acorria de cabelos soltos, sem perfume, sem maquiagem, sem banho, sem ponta de elegância e comiamos deitados no chão do escritorio, num jardim, ou perto do rio… porque razão deixou de ser assim? Afinal não passou tanto tempo assim, eu não estou tão mais velha que não possa prescindir da maquiagem e do perfume, nem ele tão cansado que não possa sentar-se no chão comigo. As circunstâncias fazem a ocasião é o que dizem e faz sentido, foi o que nos aconteceu, ele assumiu um posto demasiado alto para manter um amor como o nosso, as responsabilidades e as exigências acabam por dar pouca margem à vida pessoal e íntima, penso que hoje ele entende a mãe melhor do que nunca. A mulher que ele sempre achou fria, inumana e desligada deve hoje apresentar-se da mesma forma mas com um motivo: o império Domyouji.

Vamos apressa-te, ainda chegas atrasada… levantei-me e caminhei para o clouset, de fazer inveja a qualquer prestigiada loja de roupa, acabo por escolher um vestido cinzento cor céu Lavin e um par de pumps em pele de cobra , um casaco e voilá, estou pronta. Entrei na casa de banho, olhei para o grande espelho e coloquei batom e um pouco de perfume e saí, eram 8:15, combinamos ás 8:30, possivelmente ia chegar politicamente atrasada. Voltei atrás para ir buscar uma cluntch e um anel para fazer par com a minha aliança de casamento. Entrei no carro e pedi para me levar ao " La mesme chose", esperando não encontrar um trânsito, mas como sempre estava infernal.

Enquanto o carro circulava. o reflexo no espelho era feminino e requintado, tão longe da menina que dava murros e raramente vestia vestidos bonitos. Não posso dizer que tenho saudades de ter aquela aparência, porque não é verdade, mas sinto saudades do que aquela aparência representava: a grande liberdade,o espírito selvagem, a força… estava tudo inerente a mim. Sorri levemente "antigamente não precisavas de roupas bonitas para chamares a atenção, não foi pelas tuas roupas que ele se apaixonou… mas também ele não vai querer que te vista como a pobre que eras, afinal ele é um presidente" e as vozinhas incovenientes desapareceram. Olhei impacientemente para o céu e vi que se encontrava da cor do meu vestido. Era um bom presságio, não? Afinal quantas vezes estamos em sintonia com o que nos circula?

Um pouco atrasada, faltam apenas dez minutos para as nove da noite, cheguei ao restaurante, concerteza ele vai barafustar mas não me preocupo ele acaba por achar graça e traz-nos uma certa nostalgia de volta.

- Mrs. Domyouji…seja bem vinda ao " Le mesme chose", estavamos à sua espera.

- Obrigado, Françoise, mas por favor trate-me por Tsukushi, afinal já nos conhecemos a tempo suficiente para isso não acha?

A rapariga acentiu com a cabeça e sorriu.

- Obrigado, agradeço-lhe. Por favor, sabe me dizer se o Domyouji já chegou?

- Não senhora, ele ainda não chegou.

- Ah…entendo, obrigado. – confesso que fiquei surpresa e ela deve ter notado porque prontamente me disse:

- Não se preocupe deve estar já a chegar, afinal hoje o trânsito está infernal.- acenti e deixe-me conduzir até a mesa - Obrigado pela sua atenção.- agradeci enquanto caminhavamos em direcção a uma mesa com vista sobre Tóquio.

- Ah ! Adoro esta vista…por mais vezes que veja nunca me canso, a comida é esplendida mas a vista é soberba… comentei.

- Mr. Domyouji reservou especialmente esta mesa, sabe que é a sua preferida.

- O que seria se não soubesse.- sorri para a rapariga.

Simpaticamente sorriu e fez uma leve vénia, à qual eu retribui da mesma forma, e retirou-se.

O empregado veio, falámos brevemente e pedi-lhe apenas água mineral, ele serviu-me e fiquei uma vez mais sozinha. Não me importava a vista era de facto avassaladora e o tempo ali não demora a passar e ainda para mais ele deveria estar a chegar. Passou uma hora, um hora e meia, duas horas e ele ainda não tinha aparecido, quando dois seguranças se dirigem a mim e me entregam uma caixa com um bilhete.

Abri com um mau pressentimento o bilhete: " Peço mil desculpas querida, espero que me perdoes. Saberei que o fizeste se quando chegar à noite estejas apenas vestida com o que te ofereço agora. Beijos" a seguir só constava a assinatura. Abri a caixa sem grande interesse, estava cansada e desiludida, não era a primeira vez que era abandonada por ele em algum sítio e acabava sempre da mesma forma, com a chegada de uma caixa, no último mês tinha recebido a colecção inteira da Chaumet e quase podia apostar que ali se encontrava mais uma peça de valor incalculável. Dentro da caixa estava um exuberante colar que faiscava à luz, era uma peça linda, delicadamente trabalhada em forma de pequenas flores, era o famoso colar, da De Beers, Wildflower Couture, um peça limitadissima e exclusivissima, como poderia ele ter conseguido algo assim tão repentinamente. Estúpida, pensei, ele deve ter "desculpas" de reserva.

Levantei-me, despedi-me da "paisagem" , deixei dinheiro em cima da mesa e saí para o ar frio da rua. O motorista saiu para me abrir a porta, mas eu neguei o convite, queria andar um pouco, sentir o frio, pedi-lhe para levar o "meu presente" e deixei-o estupefacto olhando para mim.

A minha cabeça estava a mil, acho que nunca me tinha sentido tão frágil e tão sozinha, mesmo não sendo a primeira vez, era como se, desta vez, eu tivesse verdadeiramente percebido o que é que ele tinha feito. Eu estava cansada e atendi ao pedido dele, porque também queria estar com ele, eu também queria jantar com ele e queria vê-lo chegar com a sombrancelha carregada e ar de poucos amigos e quando me visse abrisse um sorriso e se dirigisse a mim para me envolver num abraço e me beijar primeiro o pescoço e depois os lábios. Era isso que eu precisava naquela noite e não o de sair sozinha da mesa de um restaurante, quase vazio, para a noite fria.

Caminhei devagar enquanto olhava para o céu estrelado… eu e o céu sempre fomos velhos amigos, para ele confessei medos, pecados, e implorei desejos. Agora olhava para ele na esperança de ele me trazer o meu marido e nos deixar numa ilha abandonada. Há muito que tinha percebido que o dinheiro e a fortuna só nos traziam dissabores, os encargos para o produzir e manter eram demasiado altos e há muito que eu ansiava por poder mandar tudo para o ar e partir para um sítio onde apenas existesse o Nós. Contudo jamais lhe poderia pedir tal coisa, grande parte da minha vida fui pobre , enquanto que ele em toda a sua vida foi rico, ele não saberia não o ser e assim deixaria de ser quem eu amava. O facto é que eu queria ter a coragem de lhe exigir uma mudança, uma mudança por amor, que ele deixasse o dinheiro, a imensa fortuna dele por mim, que soubesse ser feliz só porque estava comigo e não porque estava comigo e com o dinheiro.

Sentei-me num banco e fiquei ali…durante uns tempos a lembrar o dia em que ele tentou me convencer que o dinheiro era capaz de tudo e do dia em que ele me disse pela primeira vez que ele não queria mais ninguém que não fosse eu…como é que eu poderia não me apaixonar? Que mulher pode negar que nunca sonhou com tais palavras? Possivelmente nenhuma e eu não sou excepção. Nesse grande dia, eu disse-lhe que não queria nada com ele e entreguei-lhe o colar, que guardo até hoje, e ele atirou-o ao rio. Por amor a ele, resgastei o primeiro presente, dele para uma mulher, do rio. Vejo que facilmente percebeu que joías eram a melhor forma de compensar a ausência, porque ele entregou-me aquele colar exactamente no dia em que me abandonou para ir para Nova Iorque. Sorrio sozinha para a noite, parece que descobri que estava a ser subornada à muito mais tempo do que pensava.

- A sorrir para a lua? – interrompeu uma voz familiar.

Virei rapidamente a cabeça na direcção da voz e levantei-me de rompante, vendo aquele homem alto, vestido com um casaco branco e com as mãos descontraidamente enfiadas nos bolsas.

- Meus Deus, não posso querer que és tu.

- Acredita que sou eu mesmo, não apenas alguém parecido comigo.

- Ah! Hanawara Rui a brincares comigo a esta hora da noite. Está escuro demais para ter a certeza que és de facto tu.

- Mais dificil é confirmar a tua identidade. Se não fosse tão bom observador diria que mesmo à luz da mais potente lâmpada não te reconheceria.

Ri-me e ri-me de verdade, saiu um riso cristalino puro e sincero, estava-lhe tão grata por me ter encontrado naquela noite, naquele momento.

- Se te tivesses rido logo dessa maneira poderia ter identificado de olhos fechados.

Voltei a rir-me.

- Assim não me dás oportunidade para dizer como estou feliz por te ver.

- Se não o disseres é porque não o estás de facto.- e sorriu-me docemente, como à tanto tempo já não me fazia.

- Precisavas mesmo que eu to dissesse?

- Existem coisas que são boas apenas quando são ditas e não apenas pensadas.

- Sim, é um facto. Por isso aqui vai, Rui estou tão feliz por te ver, já faz tanto tempo que não te vejo,… uns dois anos? Nunca mais disseste nada, partiste com a Shizuka para Paris e nunca mais recebi un mot de votre bouche

Ele riu-se, com os olhos a brilhar.

- Ris-te do meu parco francês?

- Não, ri-o da tua originalidade….

Rimos os dois e ele sentou-se onde eu outrora estivera sentada, sentei-me ao pé dele, tão perto que sentia o calor que emanava do corpo dele. Virei-me para ele, agarrei-lhe na mão e disse-lhe:

- Aceitas beber um chá?

- hum….pensei que tinhas perdido as tuas maneiras.

- Não teria perdido grande coisa, sempre soubeste que etiqueta não é o meu forte. - levantei-me e sem largar a mão dele puxei-o para o incentivar a levantar-se. Ele levantou-se e deixou-se chegar até mim, ficando desconfortavelmente colado a mim, como tantas vezes fizera baixou a cabeça até encontrar os meus olhos e ficou ali assim curvado, comentando:

- Como estás diferente, contudo o teu cheiro é o mesmo.

Fiquei envergonhada e corei, como tantas vezes fizera, sentia-me patética por continuar a reagir da mesma forma à reacção dele.

- Oh estás a corar…não te preocupes estás diferente no bom sentido, estás lindíssima, mais do que seria humanamente aceitável.- gracejou, olhando-me profundamente.

- Oh! Rui para com isso… como queres que reaja a tamanha invasão de espaço?- e separei-me quebrando o contacto dele comigo.

- Vamos, está frio e estou cheia de fome, ainda nem jantei?

- Não jantaste? Então o que estiveste a fazer naquele restaurante?

- Como?

- Ah! Parece que te persegui…bem eu estava lá, quando tu saíste, vi-te,mas não te queria importunar. Contudo estava destinado a voltar a encontrar-te…- disse sorrindo.

- Não te devia perdoar, se me viste e não me disseste nada.- na altura nem me passou pela cabeça ele tinha feito tal coisa, no fundo sempre achei que o Rui só respondia aos seus próprios desejos e nunca a convenções. Não era difícil de o imaginar a não me abordar porque simplesmente não lhe apetecia.

- Não precisas de me perdoar, já recebeste pedidos de desculpas suficientes por hoje, não é verdade.

Fiquei estupefacta, ele tinha visto tudo, não fiquei zangada ou intimidade, senti-me apenas humilhada, aquelas sendo ditas pela boca de outra pareciam tão mais perigosas, tão mas escandalosas, como se fossem a personificação de um casamento infeliz.

- Não vou comentar, sei que o teu poder de observação é poderoso associado ao de dedução não deixando grande margem para correcções ou explicações.

Colocou as mãos nos bolsos, virou a cara e riu-se.

- E sendo tão bom assim deverias deduzir que estou com fome e com frio e que por isso deverias avançar o mais rapidamente possível.

Começamos a caminhar lado a lado, como à tanto tempo não faziamos.

- Que tal irmos aquele ali à frente? O chá é bastante bom e têm servem ginger ale…-disse sorrindo.

- Hummm… ainda te lembras que eu bebo ginger ale, fico impressionado.

- Não diminuas a minha capacidade de memorização, a não ser que estejas a subestimar o meu sincero interesse por ti.

- O teu sincero interesse por mim?Que sugestivo…- acrescentou com um sorriso infantil misturado com desdém.

- Achas assim tão sugestivo uma velha amiga gostar de ti?

- De forma alguma, mas é sempre bom ouvir da boca da amiga.- e lançou um daqueles olhares de quem sabe mais do que revela.

- Ah! Vamos depressa e não precisas de me lançar ratoeiras para me analisar, se me pagares um chá eu conto-te tudo o que quiseres, sem mais demoras.- agarrei o pelo braço para o incentivar a andar rapidamente.

Ao chegarmos ao moderno edifcio fomos recebidos, por um simpático empregado que nos indicou uma mesa, aquela altura do dia o estabelecimento estava quase vazio e aquele gesto foi apenas uma mera formalidade o acto de indicar uma mesa. Sorridentemente, o empregado de uniforme creme, entregou a cada um de nós o menu, agradecemos e este retirou-se, dando espaço para a leitura do cardápio.

- Humm..com tanta coisa acaba por ser dificil de decidir.

- Sempre a preferir a modéstia.

- Não se trata de escolher a modéstia mas sim a simplicidade, afinal se de facto estiveres com fome comes o que existir.- ele acentiu e virou toda a sua atenção de novo para o cardápio.

- A tarte de frutos silvestres é deliciosa ou costumava ser. O que me recomenda a senhora Domyouji?- brincou ele piscando levemente o olho.

- Nada mudou, ou pelo menos o que mudou não é de grande relevância para a nossa alimentação.

- Se é assim então já decidi.- respondeu alegremente fechando o menu.

- Ah! Tão dificil- resmunguei aborrecida- OK, OK, pronto.

Ele sorriu ternamente e fiquei com certeza que se estivessemos noutros tempos ele teria comentado a minha expressão. Contudo sorriu apenas, deixando que as palavras, se é que as desejou dizer, ficassem-lhe guardadas na cabeça e perdidas na garganta.

Olhei para ele enternecida, ali estava ele o meu primeiro amor, o meu princípe de olhos-avelã, como a Yuki lhe chamava. Olhar assim para ele frente a frente transportava-me para os tempos remotos em que comíamos juntos.

Ele deve ter reparado que eu estava longe porque me tocou levemente na mão de forma a chamar-me de novo à realidade.

- Estavas longe…

- Sim, desculpa, estava a pensar que já não acreditava em voltar a comer o quer que fosse contigo outra vez.

- Eu só sái do Japão, não morri.

- Sim, mas a forma como saíste era como se tivesses morrido de facto para todos os que ficaram cá.

- Estás a censurar-me?

- Sim estou, podias ter dado noticias, afinal nós eramos teus amigos, nós preocupamo-nos contigo, queriamos ter sabido se estava bem ou não.- estava nervosa, estava emocionalmente exausta pelo dia e a emoção de o voltar a ver, e dizer tudo o que me tinha passado tantas vezes pela cabeça, era suficiente para me fazer começar a chorar, contudo não era propriamente o tipo de pessoa que fazia demonstrações públicas de choro.

Ele fechou a mão dele na minha pressentido, que eu sentia tudo aquilo desabar em mim. Calei-me e olhei-o direitamente nos olhos, ele não desviou o olhar e apenas disse:

- Lamento.

Se fosse noutro dia eu poderia ter barafustado e dito que lamentar não era resposta e poderia ter exigido uma razão pela ausência de notícias, mas naquele dia, não sei se por não querer saber a verdade ou por estar tão débil, escolhi não pedir mais satisfações.

- Tens as mãos frias.

- Sim, a minha mãe sempre me disse: " Mãos frias coração quente"- e como desculpa retirei a mão que ele agarrava e coloquei-a sobre o peito de forma a sentir o coração- Confirma, está quentissímo.

Ele riu abertamente tendo sido interrompido pela chegada do empregado de mesa que anotou os pedidos: dois chás de hortelã, uma tarte de frutos silvestres e um tost & eggs.

Agradecemos e o empregado retirou-se silenciosamente, voltando logo de seguida com os chás.

- Estava mesmo a precisar ainda estou gelada.

- Afinal o que é que estavas a fazer na rua a esta hora com esta temperatura?

- A olhar para o céu.

- E não podias fazer isso em casa?

-Dificilmente, mesmo através do vidro não é igual, é como ver as coisas através de um par de binóculos. Olhar o céu não é só ver, é preciso sentir e cheirar.

- Esqueci-me que gostas de vivenciar tudo arduamente, se é para ver é para ver, nem que isso te mate, ou neste caso te constipe.

-Ah Hanawazara Rui que dramático que tu estás…-disse rindo.

- Sabes minha querida- eu corei ligeiramente, mas ele fingiu ignorar, continuando- todos ficaram estupefactos quando abris-te o teu presente no restaurante.

- Como?

- Sim, a caixa que recebeste no restaurante, aquela linda peça de joalharia.

- Ah! …

- As senhoras murmuram invejosamente e os senhores perceberam que aquilo só podia ser um grande pedido de desculpas.

Sorri ao escutar estas palavras, mais uma vez ele estava a jogar comigo. Mas eu não haveria de ceder ao jogo.

- Ah! se eu soubesse teria mostrado melhor o meu belo presente a todos, afinal provocar inveja é sempre admirável. Mas sabes o que mais me espanta não é ter sido alvo de comentários, mas o facto de tu teres percebido tudo isso.

- E porque tamanha surpresa?

- Digamos que Hanazwara Rui não era conhecido pela sua capacidade de se concentrar sobre os outros .

- hum… mas nem tudo o que parece é.

- Sim…

Fiquei arrependida de ter dito aquil, não era mentira, e ele próprio em tempos me havia confessado que nunca havia dado importância ao que os outros sentiam ou à forma como reagiam. Ficámos em silêncio, pela primeira vez, até que o empregado chegou com os nosso pedidos.

- Itadakimasou.

Ele sorrio levemente depois do meu agradecimento.

Comecei a comer, estava de facto delicioso nem tinha bem noção a fome que tinha, afinal eram duas da manhã e eu ainda nem tinha jantado. Estava perdida nos meus pensamentos, quanto reparei que ele ainda não tinha tocado na tarte, estava a fixar-me atentamente. Fiquei encabulada e perguntei-lhe:

- Passasse alguma coisa? Não tens fome?

Ele não respondeu apenas sorrio e continou a olhar directamente para mim, estava sinceramente incomodado com aquele olhar, à muito que ninguém invadia o meu espaço daquela maneira, pensando bem ele tinha sido a única pessoa que me fazia aquilo. Muito sinceramente, sempre achei que aquele tipo de coisa não me iria afectar como outrorá, contudo foi como se tivessemos recuado dois ou três anos, aquela cena podia ser uma das tantas que guardava na memória.

- Eu tenho alguma coisa na cara, não é?- perguntei, pegando no guardanapo e começando a limpar os cantos da boca minuciosamente.

Ele voltou a rir-se e eu voltei a sentir-me patética. Afinal tinham passado dois anos desde a última vez que o vi, ele tinha ido para viver para a França com uma modelo, e eu era uma mulher casada e senhora de mim.. e ali estava eu a fazer figura de parva, e ele só podia estar a pensar que patetica a aparência mudou contudo continua uma campónia, imatura e sem um ponta de charme…. Aiiii… estava mesmo furiosa, que irritante…porque raio não parava ele de olhar para mim e de fazer aquele sorriso como quem goza comigo?

Quando estava quase a rebentar de raiva, por estar a perder o controlo da situação, levantei-me bruscamente e disse:

- Com licença vou à casa de banho, volto já.

Ele pareceu surpreso até chocado, pois momentaneamente deixou de sorrir.

Entrei na casa de banho, encostei-me à parede e respirei fundo. " o que se passa contigo, porque razão estás assim? Não tens motivos para te sentires tão intimidada. Não é assim tão relevante o que ele pensa de ti ou acha, o que importa é o que tu és de facto e tu não és um tola e insegura, que treme à primeira intimidação. Respira fundo"…virei a minha atenção para os espelho apoiei as mãos na bancada de mármore e baixei a cabeça de modo a relaxar a tensão. Sem qualquer intenção as lágrimas começaram a correr-me pela cara, silenciosamente, sem barulho e assim fiquei, com as lágrimas a escorrer sobre a minha face. A realidade é que eu sabia que hoje eu não era nem metade do que havia sido e encontrar alguém que me havia conhecido e que iria descobrir, o que eu já não era, e que iria me censurar. Aceitava tudo de uma forma resignada, não levantava os braços para lutar e raramente abria a boca para barafustar. Agora ali olhando para a imagem que estava reflectida no espelho, eu não me reconhecia era eu e não era. Deixei o corpo descair até ao chão e ali fiquei num choro silencioso. Quando as lágrimas pararam levantei-me , abri a torneira e lavei o rosto. Abri a cluntch e resgatei de lá um batom, retoquei a maquiagem com muita coragem e saí, com um sorriso.

- Desculpa a demora.

- Estava-me a preparar para te ir resgatar, mas vejo que te safaste sozinha.

- Hum…-acenti.

- E como vai o direito?

- Bem obrigado. È verdadeiramente excitante e empolgante. E a Shizuka ela já conseguiu realizar o sonho dela?

Ele ficou titubeante, havia tocado num assunto sensível sem ter noção. Estava a pensar pedir desculpa quando ele disse:

- Não, ela ainda não conseguiu.

A resposta foi breve curta e não demonstrava muita emoção, talvez se ele não tivesse feito uma pausa eu nunca tivesse percebido que era um assunto tabu. E porque seria um assunto tabu?

- Tsukushi?

- Sim.

- Estivemos tanto tempo distantes e concerteza temos imensas perguntas, contudo o protocolo não recomenda fazer perguntas indiscretas. Mas esse protocolo também não deixa margem para a satisfação natural e por isso queria propor algo.

- E o que seria?

- Igualdade de circunstâncias cada um vai ficar exposto à vontade do outro, ou seja, eu faço uma pergunta tu respondes, única e exclusivamente a verdade, e depois é a tua vez, uma pergunta e uma resposta, exclusivamente verdadeira. Que tal?

- hummm… um quid pro quo.

- Exactamente. O que me dizes?

- Fechado- disse estendendo a mão de forma a selarmos o acordo. Ele estendeu a mão dele e apertou a minha.

- Podes começar.

- Tens a certeza que queres que seja eu a começar?

- Primeiro as senhoras.

- Obrigado gentlman. O que te fez voltar ao Japão?

- Várias coisas: saudades, solidão e já não tinha nada razão para ficar em paris.

- Isso não responde verdadeiramente à minha pergunta. Eu quero o motivo verdadeiro, não foi isso que disseste?

- Ok... vejo que és exigente.

Sorri ao que ele me correspondeu.

- Muito bem, para te responder talvez seja melhor voltar atrás, ao motivo pelo qual foi para Paris, mais uma vez. Voltei para lá, como bem sabes por causa da Shizuka, estava sinceramente crente que desta vez seria para sempre, que tudo o que nos havia acontecido havia mudado a prespectiva que ela tinha de mim e que eu poderia faze-la feliz. Contudo não foi assim, quando lá cheguei fomos felizes como já haviamos sido, mas cada vez mais superficial, ela não é o que eu sempre pensei. Eu amava-a perdidamente, ela era o meu primeiro amor, a minha verdadeira obsessão, nunca desejei ninguém como a desejei a ela.- confesso que com ele disse estas palavras me senti ferida, senti como se ele me tivesse mentino quando me disse que me amava, percebi que havia sdo apenas farsa dele e fiquei sinceramente magoada.- e tu mostraste-me que devia deixar de apenas adorá-la da sombra que deveria partir com ela para o sol e assim fiz. Fugi com ela, atrás dela e vive para ela durante todo aquele tempo que estive fora. Como já te tinha dito os primeiros tempos foram maravilhosos, mas depois com o passar do tempo, com a chegada de mais tarefas ela foi fugindo dos meus braços, foi cada vez estando mais longe e eu ficando cada vez mais sozinho… e enquanto estava sozinho, à espera dela começava a pensar o que era tudo aquilo. Algo estava a mudar dentro de mim era como se pela primeira vez eu começasse a ter a percepçao da realidade e assim pela primeira vez pensei que a Shizuka provavelmente não era quem parecia, na verdade ela era um total mistério. Havia vivido durante anos obssecado por uma imagem que eu constroí-a à minha própria imagem e decidi que talvez fosse melhor ir embora, já que ali eu não podia fazer nada por alguém que nunca quis a minha ajuda.

Enquanto falava olhava para céu da noite e mostrava-se estranhamente calmo. Eu estava surpresa, pela primeira vez Rui falava-me abertamente de um assunto que para ele era tão tabu: os sentimentos.

Continuou o seu relato, levantando-se e caminhando de forma a ter uma vista mais panorámica. Estando assim de costas para mim.

- E assim voltei e percebi que tinha cometido um grande erro, que foi ignorar o teu amor e quando voltei estava diposto a emendar esse erro, mas já era tarde demais. – só confirmava as minhas anteriores suspeitas, ele queria-me apenas para se sentir amado. Agradeci por ele não estar virado de costas, porque eu devia estar com o ar de quem tinha sido esfaqueada. Noutra ocasião talvez não me sentisse tão magoada, mas ele a confessar que nunca me amou, como havia dito e o meu casamento a morrer à frente dos meus olhos... Que merda eu tinha acreditado nele, ele ultimamente mantinha-me à deriva fazendo me acreditar, com aquelas palavras antigas, que eu tinha sido amada, verdadeiramente amada e desejada. Podem dizer-me então e o teu marido? E eu vou responder, à noite que desconfiava que ele disse que me amava sem ter conheciemento do verdadeiro sentido do verbo. Perdida nos meus próprios pensamentos acabei por não ouvir na integra o relato que ele fazia, quando voltei ele a mim ele dizia:

- quando soube, voltei a casa fiz as malas e decidi voltar, afinal era irremediavel.- ele fez uma pausa,virou-se olhou-me nos olhos sorrindo e acrescentou- Acho que isto responde à tua pergunta.

- Sim, obrigado.

- Agora é a minha vez certo? – fiz um movimento afirmativo, incentivando-o a continuar, mesmo estando sem vontade de prolongar por muito mais a conversa.- A vida de casada é como esperavas?

Sentia-me apática e sem vontade para grandes conversas, mas não podia sair sem responder, depois dele se ter empenhado em revelar tanto sobre ele. Por ele e pela minha honra respondi da forma mais sincera que consegui.

- Não é claro que não, mas julgo que não seja a única, dificilmente com 19 anos se tem uma verdadeira percepção do que é um casamento, sobretudo quando lutamos tanto para ficar com alguém que amamos mais do que a própria vida e achamos que tudo vale a pena porque no fim vamos ser eternamente felizes e que tudo vai ser um eterno conto de fadas. Logo, a resposta é não é não, não era o que eu esperava.

- E sabendo o que sabes voltarias a casar-te?

- Agora era a minha vez, mas muito bem…sinceramente não sei, talvez sim, muito possivelmente voltaria.

- Porquê tantas dúvidas? Não voltavas a fazer tudo como fizeste?

- Existem sempre coisas que queriamos ou desejávamos ter mudado, mas se efectivamente podesse mudar tenho a certeza que não o faria, porque se o fiz é porque fui motivada a tal e se hoje estou aqui e sou assim é porque fiz tudo o que fiz, acho que isto responde à tua pergunta, certo?

Ele movimentou a cabeça em sinal de afirmação, parecia distante. Olhei em volta para o restaurante e reparei que estavamos completamente sozinhos, não restavam mais clientes. Sobressaltada olhei para o relógio e vi que marcava as três e um quarto da manhã. Levantei-me rapidamente e resgateio-o dos seus pensamentos , virou-se bruscamente para mim e perguntou.

- O que foi?

- É tardíssimo.

Ele olhou para o relógio, confirmando o que eu lhe havia dito.

- Sim é verdade, lamento.

- Vou ter de ir, mas espero que não te esqueças que me deves várias respostas.-disse sorrindo abertamente para ele.

- Fica prometido. Foi no minímo um fim de noite inesperado, não?

- Absolutamente, obrigado pelo tempo.

O empregado vendo-nos aos dois em pé, acorreu até nós, preparava-me para abrir a minha cluntch quando ele proferiu:

- Se pagares vou ficar mortalmente envergonhado.

- Jamais poderia fazer-te isso. E se é assim que queres agradeço e despeço-me.

Ele levantou levemente a mão, em sinal de despedida e eu retribui, virei as costas, vesti o casaco e saí para a rua. Estava de certa forma aliviada por ser assim tarde e por não ter de continuar mais com aquilo, e a uma sensação estranha durante muito tempo desejei saber dele, de voltar a encontrá-lo e no início da noite fiquei-lhe eternamente grata por nos termos encontrado, estava a precisar de encontrar uma cara amiga, mas com o desenrolar da noite, com as coisas que foram proferidas e todas as que eu pensei… estava zangada, furiosa, estava a odiar-me naquele momento por sentir tudo aquilo que não compreendia, era só reencontrar um velho amigo, mais nada… ah…onde raio estão os táxis desta cidade? Estava cada vez mais frio e a cidade estava quase vazia, caminhei durante meia-hora até encontrar um táxi que me levou até ao sítio que agora chamava casa.

Paguei, ao abismado taxista, que com os olhos bem abertos tentava vislumbrar o interior daquela magnifica mansão, e saí. Fiquei muito tempo parada imóvel em frente aos maciços portões, que já haviam sido abertos para me receber.

- Senhora Domyouji, estavamos preocupados consigo.- disse a medo o segurança.

- Lamento, caro Tsubaki.

Fez uma pequena vénia.

- Quer que a levem até à casa?

- Não será necessário, obrigado. Boa noite.- disse virando-me para o porteiro e para os seguranças, fazendo uma vénia

Retribuíram-me com um:

- Boa noite, senhora.

Sempre gostei daquela casa, a forma como ela me havia sido aprsentada e como tinha sido comprada especialmente para nós, visto ser impensável viver na casa onde a mãe dele vivia e onde tantas más recordações afloravam na memória. Tinhamos acabado de vir de lua-de-mel, quando fui surpreendida por ele, vendou-me os olhos e disse-me " vem comigo" ao ouvido, apertou-me a mão e levou-me até ao carro. Quando chegamos levou-me pela mão tirou-me a venda e perguntou-me : era isto que sonhavas? Ri perdidamente e ele riu-se comigo, nunca tinha sonhado com nada tão grandioso. Imaginar-me em algo assim era hilariante. Pareciamos as duas crianças, que de facto eramos, corremos pelos jardins, um atrás do outro quando o atirei ao chão e me sentei em cima dele, beijei-lhe a boca e ainda debruçada disse-lhe ao ouvido: "a casa dos meus sonhos só te tinha lá dentro". Ele ficou mudo, mas mostrou-me como tinha gostado, beijou-me de forma a poder sugar-me a alma e a saber de que sabor tinha o meu ser. Gentilmente virou-me e tirou-me a fugral roupa que trazia, deixando-me nua, à luz da tarde, no meio da relva verde e dos perfeitos arbustos, a pele dourada destoava com tudo o resto sendo um alvo fácil,para qualquer predador. Lembro-me exactamente do cheiro do cabelo dele, ao enfiar a mão nos caracoís dele enquanto ele me beijava o corpo…recordo toda a felicidade dos dias em que percorriamos a casa descobrindo todas as divisões e as inauguravamos com demoradas demonstrações de árduo amor. E agora ali estava eu, no mesmo lugar onde tinha rido por ir viver ali e por ir ser tão feliz. A casa era linda, os jardins, as fontes, mas eram apenas representações das nossas limitações, do que nos separava… e hoje estar ali não me fazia rir.

Aproximava-me da grande casa, quando vejo um homem a correr para mim.

- Onde é que tinhas a cabeça, precisavas de fazer uma cena destas?- gritou-me- tudo porque faltei ao encontro, pensaste por acaso que eu podia ter um motivo? NÃO , claro que não, tu fazes tudo, como queres, sem parar para pensar. Eu estava preocupadíssimo, porque não atendes-te o telemóvel?- ele aproximava-se cada vez mais rapidamente, contudo eu não respondi, continuei apenas a caminhar.

Ele alcançou-me e agarrou-me pelo braço e continuou:

- Então?

Eu soltei o braço da mão dele e continuei a andar calmamente e sem olhar para ele respondi-lhe:

- Não atendi porque pura e simplesmente não ouvi o telemóvel.- disse num tom de voz mais normal e formal que consegui.

Ele havia ficado especado perante o meu comportamento. Possivelmente estava a sentir-se ultrajado, por eu estar a diminuir toda aquela situação. Não fiz aquilo com intenção de o provocar apenas não queria ter grandes conversas depois do que tinha acontecido, mas depois de ver a reacção dele confesso que tive um certo prazer em lhe ter causado raiva e despeito, como se fosse uma vingança pelo que ele me tinha feito passar.

Virei-me e num sorriso ironico disse-lhe:

- Ah.. quase que me esquecia. Obrigado pelo presente. E devias ter mais cuidado, da maneira que estamos vou começara a rezar para que nunca mais me apareças à frente para continuara receber os teus valiosos substitutos.

Ele ficou surpreso e disse titubeantemente:

- Lamento, mas tive uma reunião de última hora, inad…

- Oh não precisas de justificar, meu querido. – interrompi – enquanto me continuares a pagar eu não tenho de pedir justificação de nada.

- Pagar? – barafustou ele.

- De forma alguma, não deves estar bem ciente da fortuna que deves ter gasto, só nesta semana, para te "desculpares". – ele permaneceu e silêncio- lembras-te do dia em que me disseste que o dinheiro podia comprar tudo? Mesmo que não te lembres tenho a certeza que te identificas com as palavras, só lamento que não te recordes do que eu te respondi. – acrescentei, supirando e e olhando tristemente para o céu escuro. A indiferença dele provocou-me uma imensa dor, todo o meu corpo parecia feito de chumbo.

Numa atitude de assumida frustação, era assim que eu me sentia, frustada, humilhada, encarei-o:

- Sabes o que mais odeio no meio disto tudo?- era apenas uma pergunta retórica, contudo ele não mexeu um único músculo- O que eu me tornei… sim é isso que me deixa mais frustada. Acordar olhar para o espelho e ver a mulher que olha para mim…- levantei a cabeça e olhei directamente para ele- olha para mim, cheia de frustações, cheia de futilidades…- disse passando as mãos pela minha roupa.

- Eu nunca precisei de nada disto- disse tirando o anel, que trazia, e atirando-o para ele. Que para meu espanto e raiva permaneceu imóvel, o que será que lhe passava pela mente, não estaria ele a compreender o meu sofrimento? Estaria ele assim tão diferente que todos os meus sentimentos lhe fossem completamente indiferentes? Tentei ver-lhe os olhos mas não consegui, as sombras da noite escondiam o que ele poderia estar a sentir.

- Quando me conheceste eu vestia rocco barrocco?...ahahaha- ri-me friamente e acrescentei- nem sabia o que era, tenho a certeza que se me perguntassem iria dizer que se tratava de um período estilístico e literário . E agora…oh e agora…- despi o casaco e atirei-o para o chão. Descalcei-me, tirei os collants e o vestido atirando-os igualmente para o chão. Fiquei apenas em lingerie olhando directamente para ele e disse:

- Patético, não?- ele não respondeu.- Aqui estou eu a fazer uma terrível cena ao grande senhor Domyouji, a importuná-lo com as minhas neuroses de fêmea caprichosa. Por favor, não perca mais tempo comigo entre, vá dormir é tarde e desculpe a minha falta de sentido de oportunidade. - Virei-lhe as costas e comecei a caminhar em direcção à piscina.

Ouvi a voz dele a perguntar-me o que ia fazer, como resposta comecei a correr e mergulhei.

Estava cada frustada, só a água fria me poderia acalmar, a reacção dele havia sido pior do que eu poderia ter imaginado, eu a expor as minhas fraquezas e ele a desprezar-me… e a súbita certeza que ele nunca me amou ou se alguma vez o fez já não o fazia. Hoje eu estava ali apenas para o divertir, para desfilar com ele, no fundo eu não era nada mais nada menos do que uma mulher objecto ou abjecto como lhe queiram chamar, os conceitos no seu verdadeiro sentido eram sinónimos. A água feria-me como mil espadas de gelo, sentia o corpo paralisado pelo frio.. no entanto, sentia-me muito melhor. Desde que havia mergulhado ainda não havia regressado á superficie, preparava-me para o fazer quando sou agarrada pela cintura e puxada até à superfície.

- Tsukasa…-disse espantada- não pensaste que eu me estava a suicidar, pois não?

- Ãh?... claro que não.-estava claramente a mentir- eu pensei que te podias constipar e que o melhor era trazer rapidamente para cima…foi só isso.- disse ele não encontrado nada melhor e tentando desconversar disse - Mas que raio é que te deu, queres morrer e matar-me de pneumonia?

- Ninguém te pediu para entrares na água, eu disse-te para ires dormir.

- Alguém tem que tomar conta de ti….- ripostou ele numa forma muito particular.

Anterior ao banho na piscina, possivelmente teria ficado possivelmente ofendida com as palavras dele, mas aquelas palavras, aquela situação traziam-me uma nostalgia. Ele continuava a agarrar-me pela cintura, mantendo-me junta ele e pela primeira vez, desde os últimos tempos, senti-me protegida, coloquei os meus braços em volta do pescoço dele, entralacei as pernas em volta do corpo dele e enterrei a cabeça no pescoço dele, sentindo o leve roçar dos seus negros caracoís, no meu rosto. Ele posou a mão na minha cabeça, num gesto protector e disse-me baixinho:

- Vamos tirar-te daqui. E começou caminhar em direcção ao extremo da piscina, saimos de água e ele encaminhou-se para uma das camas solares que estavam dispostos em volta da piscina, sentou-se e com a mão que tinha livre agarrou num dos roupões, que estavam dobrados, e tapou-me. Começou a esfregar energeticamente o roupão contra mim, de forma a secar-me… sentia uma ternura tão grande, e sem conseguindo resistir beijei-lhe o pescoço, e enfiei os meus dedos no cabelo dele. Ele deixou de me secar e deixou cair o roupão, abraçou-me e retribuíu as carícias, levou os lábios até ao meu ouvido e sussurrou:

- Desculpa-me.

- Shhhh…-respondi-lhe e empurrei-lhe o corpo de forma a ele se deitar e sentada em cima dele, retirei o meu soutien , e mesmo depois de tanto tempo e de tanta coisa o olhar envergonhado e deliciado dele ainda me tocava profundamente, debrucei-me sobre ele e beijei-o. Acho que o resto não será necessário descrever, as mão dele no meu corpo, o sabor da pele dele, os sons de prazer. Ali era a minha casa, a minha casa instável.

O sol estava a nascer quando acordei, estavamos enrolados para combater o frio…como no primeiro dia em que tinhamos dormido juntos. Aproximei-me mais dele e fechei os olhos, ficando a saborear aquela situação, a sentir a respiração dele no meu rosto e a mão dele pousada na minha cintura.

- Atchim…ah…constipei-me.

- Oh meu querido- disse beijando-lhe o nariz e depois os lábios- pronto já passou?

- De facto, a culpa é toda tua, agora vais ter de cuidar de mim.- disse sorrindo e voltando a espirrar.

Levantei-me vesti um roupão, acto que ele prontamente reclamou.

- Não seja um paciente tão instrasigente. Agarrei num outro roupão e sentei-me em cima dele , colocando-lhe o roupão nos ombros. Ele sorriu-me e beijou-me.

Abracei-o e disse:

- Vamos, tens de tomar um banho quente e beber um chá forte.- levantei-me e dei-lhe a mão, ele levantou-se a custo, obrigando-me a puxá-lo. Começámos a andar e de repente ele pará, puxando-me bruscamente para ele, beija-me e diz-me:

- Eu amo-te, mais do que alguma vez possas imaginar.

- Eu também. – abracei-o e assim ficamos durante um bocado.

Ele chegou ao quarto e atirou-se para a cama dizendo que estava exausto. Eu ri-me dele e dirigi-me para a a banheira onde abri a torneira, deixando a água quente começar a inundar a grande banheira de mármore, despejei óleos, sais e gel.

Corri até à cama e, como se ele fosse um bebé, tirei-lhe a roupa e despi o meu roupão. Ele levantou-se e agarrou-me, beijou-me o pescoço e pegou-me ao colo. Comecei a rir e perguntei-lhe:

- Se a nossa toilette não fosse tão pouco convencional poderia dizer que tinhamos acabado de casar.

- Como se tu quando te casaste tivesses audácia para andar "assim vestida"- comentou.

Baixei a minha mão até a nádega dele e dei-lhe uma leve palmada censurando-o pela afirmação e disse:

- Como se tu também estivesses disposto a fazê-lo.

Ele ficou encabulado e respondeu-me como tantas outras vezes, quando ficava envergonhado. Num tom mais alto do que seria necessário disse:

- Como se eu precisasse… eu sou Tsukasa Domyouji.

- Humm… devia ter sido informada disso à mais tempo, queres com isso dizer que o líder dos F4 não precisar de ficar nu, consequentemente não mantem contacto sexual.

Mais uma vez ele ficou atrapalhado e como resposta pousou-me bruscamente na banheira, provocando uma nuvem de espuma.

- Não sejas tão burra.

- À quanto tempo é que não me chamavas isso?- perguntei-lhe, de uma certa forma feliz, da forma como a madrugada tinha começado, confesso que nunca pensei que acabassemos daquela maneira, e tal forma que me culpei por não ter feito nada significativo mais cedo.

- Senão disse foi apenas por falta de oportunidade, porque tu és burra todos os dias e todos os dias merecias que eu te o dissesse.

Ri-me e abrindo a torneira molheio.

- Ah! Tsukasa o burro sempre foste tu, felizmente melhoraste um pouco o teu japonês, mas continuas o mesmo ignorante de sempre ou de outra forma poderias ter previsto este ataque.

- Já que és tão esperta porque não preves o meu?- e acabando e dizer isto saltou para dentro da banheira agarrou-me e beijou-me.

Foi um beijo díficil, pois eu não conseguia parar de rir tamanha fora a surpresa do "ataque" e por muito que ele tentasse manter a postura, não conseguia.

- AH! Tu és imposível.

- Porque sou uma erva daninha.- e dizendo isto mordisquei-lhe a orelha. Ele arrepiou-se, era o ponto fraco dele, aliás ele tinhas dois: um era a sensibilidade nas orelhas e o pavor por cães.

Quando saimos da banheira eram dez e meia da manhã, sem nenhum de nós mencionar que tinha de estar em algum lado. Admito que estava a ser demasiado bom, como à tanto tempo não era que estava com medo que mais um minuto passasse e o encanto se quebrasse. Mais uma vez, não acreditava que depois da cena de ontem nós podessemos estar ali, como à tempos não estavamos. Talvez afinal ele ainda gostasse de mim, talvez tenha ficado assustado com a possibilidade de eu partir para sempre… talvez ele sentisse a minha falta. Sorri para mim mesma com estes pensamentos, é bom depois da tempestade sentir o calor do radioso sol, mas a natureza humana é perversa demais para acreditar e desfrutar da felicidade, e a restia do medo do futuro está sempre presente. E mesmo quando estava com ele na banheira estava com medo do tempo que estava a passar e de que a conversa sobre a noite passada fosse abordada… e sim podem dizer, era cobardia.

Estavamos sentados a tomar o pequeno almoço no quarto, ele sentado num sofá e eu no chão, quando me lembro de quem tinha encontrado na noite anterior:

- Oh!- comecei no intervalo da minha tosta com geleia- não vais acreditar quem encontrei ontem quando saía do restaurante, ontem à noite.

- Quem?- perguntou ele, levantando ligeiramente as sombrancelhas.

- Hanazawa Rui.- respondi, levando a chávena à boca e bebendo um pouco de chá.

Ele engasgou-se e alarmado perguntou:

- Quem?

- Sim, percebeste bem da primeira vez. Ontem encontrei Hanazawa Rui. Ele voltou ao Japão.

- Então foi com ele que estiveste ontem à noite?- interrogou-me parecendo seriamente aborrecido.

- Sim, estive com ele, mas porque tanto espanto, afinal erámos todos amigos, não?

- Sim, sim…- respondeu-me apressada e desinteressadamente- mas ainda não me respondeste o que estiveste a fazer com ele até aquelas horas.

Estava espantada pela reacção dele e não percebia a razão. Confusamente respondi-lhe;

- Sinceramente não entendo a tua reacção, encontrei um velho amigo e convidei-o para comer alguma coisa. Por acaso estás com ciúmes?

- É claro que não.- percebi que não estava a ser totalmente sincero. E com aquela reacção dele, não consegui esconder um sorriso e um posterior riso. Ele reclamou:

-Posso saber onde está a piada?

- Não sabes o quão amoroso ficas quando estás com ciúmes.

- Já te disse que não estou com ciúmes.- resmungou.

- E eu já te disse que és muito estúpido e só mesmo tu para estares com ciúmes do Hanazawa Rui, esqueceste da razão pela qual ele saiu de cá?

Ao contrário do que pensava ele pareceu ainda mais pensativo e finalmente respondeu:

- Sim e é por isso mesmo.

- O quê?- perguntei confusa?- Bateste com a cabeça?O Hanazawa saiu daqui para ir viver com a Shizuka. A última coisa que ele pensou ao voltar para o Japão era ter um caso com uma mulherzita qualquer, depois de ter estado com uma das mulheres mais bonitas do mundo.

- O problema é que tu estás longe de ser um mulherzita qualquer e por muito que me custe assumir tu és uma das mulher mais bonitas que conheço.

Fiquei envergonhada, mesmo sendo um elogio do meu marido, senti-me desconfortável, sabia que não era verdade ele estava a mentir e por isso disse-lhe:

-Por muito bonita e simpática que seja a tua mentira, lembra-te que prefiro mil vezes a mais feia das verdades.

- Pára de fazer charme Tsukushi….tens espelhos e olhos para te veres. Sabes bem que és um mulher bastante atraente, por alguma razão fazes furor nas revistas.- disse, num tom bastante ofensivo. E levantando-se e atirou o guardanapo, para cima do sofá, virou-me as costas e dirigia-se para a janela, quando eu me levante e corri para o agarrar de costas. Abracei-me a ele e disse-lhe:

- Amo-te.

Ele não disse nada e fechou as mãos dele nas minhas. Virou-me gentilmente e abraçou-me. Foi um momento de pura ternura e intimidade, aquelas tinham sido as únicas palavras que o podiam ter acalmado, que poderiam controlar a besta selvagem que ele foi, que ele era e que ele sempre seria, porque um animal selvagem nunca pode negar a sua própria natureza. Ali abraçada a ele sentia uma ternura, um amor delicado e perfeito, uma vontade de nunca mais o deixar sair dos meus braços, uma necessidade de lhe mostrar o quanto o amava. Trouxe-o até à cama e vi-lo deitar no meu colo, os caracoís dele rapidamente preencheram os meus dedos e os olhos dele fecharam-se em sinal de prazer. Ah! Como eu gostava de estar assim com ele, de ele ser meu por inteiro, por lhe dar prazer com algo tão trivial como lhe afagar o cabelo ou beijar-lhe levemente os lábios. Estava perdida em pensamentos, de tal forma que não havia reparado que ele estava com os olhos abertos fixando-me.

- Passasse alguma coisa?- perguntei-lhe sorrindo.

- Porque razão não é sempre assim?

Fiquei surpresa com a pergunta, não pela sua natureza, mas sim por ser uma questão melindrosa para ambos, não era por estarmos assim que o nosso casamento tinha deixado de ter problemas.

Com verdade, respondi-lhe:

- Porque se fosse sempre assim, deixava de ser especial.

- Acreditas mesmo nisso?

- Alguma vez te menti?- não, eu não menti. Eu não me lembrava do despeito e da dor que tinha sentido na noite anterior, por isso acreditava.

- Não…

- Então… não te preocupes, não faço tensões de começar.

Ele riu-se e esticou-se para me beijar e desequilibrando-se fez me cair sobre ele, rimos os dois agarrados rebolando na cama, quando de repente o telefona toca. Continuando a agarrar-me pela cintura debruçou-se sobre mim, de forma a alcançar o telefone.

- Sim? – depois de ouvir a resposta virou-se para mim e disse-me: è para ti.- passou-me o telefone e como provocação abriu-me o roupão e começou a beijar-me a pele. No meio de risos coloquei o telefone no ouvido e perguntei:

- Sim?- empurrei o Tsukasa tentando o repelir, sendo um esforço em vão, pois continuou acesamente as suas investidas. Estava de tal forma, envolvida no jogo dele, que não entendi bem quem queria falar comigo, estava entre risos a pedir para ele parar, quando escuto a voz do outro lado da linha:

- Hanazawa Rui?- perguntei surpresa.- Tsukasa ao escutar estas palavras levantou instantaneamente a cabeça e fintando-me rebolou para lado direito e ficou com a cabeça apoiada nas mãos.

Do outro lado da linha era interrogada sobre o motivo da minha surpresa, à qual respondi:

- É apenas estranho receber telefonemas de alguém que não me telefonava a tanto…

"Espero não estar a incomodar."

- De forma alguma.

- " Não tinha a certeza dos vossos números e achei que o melhor era telefonar para a vossa casa."

Ele parecia nervoso, inseguro… e eu estava embaraçada, afinal o Tsukasa tinha feito uma cena por causa do Rui e agora ele estava a querer falar comigo…oh meu deus. Ele continuou:

" Falei com o Akira e com o Soujiroh e combinámos em juntar uma vez mais o F4, ou seja, queria convidar o Tsukasa e a ti, como é lógico, para jantarmos hoje, que tal?"

- Tens a certeza que vocês me querem lá, afinal é o encontro do F4 e eu não faço parte do mundialmente famoso F4- brinquei.

" É claro que tenho, tu és imprescindível"

- Oh que exagero… por mim tudo bem, mas não sei se o Tsukasa estará disponível.

" Eu não lhe telefonei directamente porque tenho a certeza que a agenda dele está demasiado ocupada para um banalidade como esta. Seria possível tu comunicares-lhe sobre o jantar? E conto com os teus poderes persuasivos, gostava imenso de podermos jantar todos, outra vez.

- Eu também, vou fazer os possíveis. Diz-me a que horas e aonde é que devemos estar?

"Pensamos que o F4 Lounge seria o apropirado, o que achas? E seria às oito e meia."

- Oh perfeito- revelando um claro entusiasmo, que fez com que o Tsukasa cerrasse os lábios.- Posso telefonar-te mais tarde para confirmar?

" Agradecia, precisas que te dê o meu número?"

- Se continuar o mesmo não.

" Sim, ainda é o mesmo. Adeus, então. Fico à espera do teu telefonema."

- OK…Adeus.- disse desligando o telefone.

Virando-me para o tsukasa disse:

- Como deves ter percebido era o Rui, ele estava a convidar-nos para jantarmos todos juntos esta noite. Que tal? Estás livre?

Ele estava claramente de mau humor, com a sombrancelha carregada e com um tom bastante áspero respondeu-me :

- Nâo posso, estou ocupadissimo. Rui ainda pensa que eu sou como ele.. um inútil sem responsabilidades. Não entendia o comportamento dele, era como se de repente o amigo de infância fosse um inimigo mortal. Esta obsessão dele, não tinha motivos, nem causas…não que Tsukasa Domyouji precisasse efectivamente de motivos para se comportar como um selvagem.

- Domyouji, não te comportes como uma criança mimada, são os teus amigos. Faz um esforço para ires.

- Eu não me estou a comportar como uma criança – respondeu-me e levantou-se de repente dirigindo-se para o seu closet.

Não estando disposta a deixá-lo fugir dali, levantei-me de rompante e agarrei-o.

-O que estás a fazer?- perguntou-me furioso.- Concerteza não vais querer medir forças, pois não?

- Claro que não, sei muito bem que tu és muito mais fraco que eu, seria injusto da minha parte. Finalmente tinha conseguido quebrar a barreira, ele estava uma vez mais a rir. Aproveitando atirei-o ao chão, num golpe de perna e torci-lhe o braço atrás das costas.

- Então querido agora quem é o mais forte?

- Tsukushi já chega…- gritou.

- Vais fazer tudo o que eu mandar, certo?

- Só se estivesse doido…- riu.

- Ah sim?

- Sim

- Muito bem- disse, largando-lhe o braço e sentando-me em cima das costa dele e cruzando a perna.- Então acho que vamos ter um sério problema, porque nenhum de nós vai sair daqui enquanto não me garantires que vais ao jantar e que nos vamos divertir imenso. Ah e nada de faltar porque eles são teus amigos e não são a tua esposa, que pode ficar a esperar por ti em restaurantes. Se tu não apareceres eles vão ficar profundamente zangados.

- E a minha esposa não fica, quando eu não vou?

- É claro que fica, furiosa é pouco, mas no fim ela perdoa porque te ama loucamente. E o amor além de cego é estúpido.

- Eu vou ver como está a minha agenda e já te digo se vai ser ou não possível.

Alegremente bati palmas e abracei-o de costas, beijando-as.

- Não tentes comprar-me com carícias, quando sair daqui vais ver o que te vai acontecer.

Tentada a descobrir saí de cima dele e comecei a correr, ele rapidamente se levantou e agarrando-me atirou-se comigo para cima da cama, de tal forma brusca que batemos com a cabeça um no outro.

- ahahahaha- rimos.

- Se soubesse que o castigo era levar uma cabeçada dessa tua cabeça dura tinha ficado quieta, é um castigo demasiado cruel.

- Cabeça dura, tens tu…- ripostou levantando o dedo e empurrando-me com ele a cabeça.

Ficámos a manhã toda a rebolar na cama, almoçamos juntos e combinámos em ir juntos ter com os restante F4, tendo-o ameaçado que se ele faltasse e me deixasse mais uma vez sozinha que ia atrás dele e que o matava, depois espalharia o sangue dele no meu corpo nu e iria passear-me na praça pública assim vestida. Dramática, foi a resposta dele à minha ameaça.