Esta história se passa no final da terceira temporada e é preciso ter assistido ao episódio 02, "the kids are alright".
Não são levados em consideração os acontecimentos ocorridos após o segundo episódio da terceira temporada.
reviews são sempre bem vindas...
9 a.m. Eldorado, Arkansas.
Sam e Dean estavam sentados frente a frente na mesa da lanchonete. Estavam cansados, mas aliviados. Finalmente o pesadelo tivera fim.
Finalmente haviam conseguido quebrar o pacto. Dean estava livre.
Sam passou um ano tentando. Não importava o quanto seu irmão relutasse, ele jamais teria desistido. Dean sentia orgulho do irmão. Sentia-se feliz, porque ele mesmo havia desistido há muito tempo, mas Sam jamais desistira dele. Nem no último minuto, Nem quando tudo parecia perdido.
No balanço daquele ano, podia-se dizer que até saíram no lucro. Tinham trabalhado mais do que em qualquer outro ano de suas vidas, tinham estreitado os laços entre eles, havia um entendimento que nunca houve antes. Ambos sabiam como era morrer (ou quase isso) e ter sua vida salva em troca da alma da pessoa que mais amavam. Ambos conheciam a sensação de honra, de gratidão, e de culpa que uma coisa assim poderia trazer, e isso era algo que só os dois poderiam entender. Mas no caso de Sam, ele não se sentia livre, apenas aliviado de sua culpa. Eles tinham conseguido salvar a vida e a alma de Dean. Por hora, era tudo que importava...
Mas Sam tinha uma expressão preocupada. Dean ergueu uma sobrancelha, tentando adivinhar o que aquela expressão poderia significar. Enfiou uma batata frita na boca, mastigando com a boca aberta, e com um ar matreiro começou:
- Então, o que vamos fazer agora? Brasil?
- Não sei Dean. Quer dizer, estou muito feliz que esteja tudo acabado. Eu estava morrendo junto com você cara, eu juro. Mas aquilo que o demônio da encruzilhada disse não sai da minha cabeça.
- Pare de se preocupar Sammy. Não se levam em consideração as palavras de um demônio prestes a ser destruído... – Dean foi um pouco reticente. Ele queria acreditar em si mesmo, mas também não conseguia tirar aquilo da cabeça. Depois de tudo pelo que já tinham passado, nada poderia ser pior. Só poderia ser paranóia de Sam.
- Eu só queria ter certeza de que... – Sam foi interrompido quando o celular de Dean começou a vibrar em cima da mesa.
- Alô? – Dean esboçou um sorriso, que se apagou imediatamente enquanto ele ouvia atentamente a pessoa do outro lado da linha. Seus olhos se arregalaram e ele estava tendo uma reação que Sam não sabia entender, diferente de qualquer outra. Eram más notícias, isso Sam podia dizer, seu irmão estava transtornado, em pouco mais de 10 segundos de conversa.
- O quê? Tente se acalmar, por favor, você tem que ficar calmo. – Dean tinha um misto de confusão e desespero em sua voz. Levantou-se e começou a andar em círculos ao redor da mesa. Sam gesticulava, tentando pedir uma pista sobre o que estava acontecendo, mas Dean não estava vendo nada.
- É claro que eu posso ir, estou indo agora! Mas você tem que...Como? Se mudaram pra onde? – a garçonete se aproximava para servir mais café – Você sabe dizer o endereço? – Dean olhou em volta, tateando os bolsos, a mesa, então a garçonete, entendendo do que ele precisava lhe estendeu a caneta. Ele anotou na palma da mão o que a pessoa do outro lado da linha disse. – Você tem que me ouvir. Fique calmo e ligue para o 911, agora! Eu já estou indo!
Ele enfiou a mão no bolso, pegou todas as notas que pode encontrar e jogou em cima da mesa, nem se deu ao trabalho de contar. Pegou sua jaqueta e saiu em disparada em direção ao carro. Sam estava atônito com a atitude do irmão, mal teve tempo de correr atrás dele e entrar no carro antes que Dean saísse cantando pneu.
- Pra onde vamos? Quem era Dean? Porque você está desse jeito?
- Vamos pra Woodstock, na Georgia. Era Ben – disse Dean, com a voz embargada.
- Ben? Você quer dizer seu quase filho Ben? O que houve? Ele está bem?
- Lisa está morta. Ben a encontrou morta. – As frases saiam sem expressão, como se ele ainda estivesse entorpecido com o impacto da notícia.
- Ela foi assassinada? Do que ela morreu? Ben te disse?
- Sam, pelo amor de Deus! – gritou o mais velho – O garoto acabou de encontrar a mãe morta! Acha que ele ia contar detalhes por telefone como se estivesse fazendo uma porra de fofoca? – Estava descontrolado, confuso, assustado.
- Me desculpe, é que...
- De todas as pessoas, ele ligou pra mim...- Agora ele usava um tom mais calmo, quase sereno. Estava divagando, perdido em seus pensamentos. Sequer ouvia uma palavra do que Sam dizia. Tinha o olhar perdido num ponto fixo à frente na estrada e o pé direito afundado no acelerador.
5:45 p.m. Woodstock, Georgia.
Já era fim de tarde quando o Impala entrou na rua da pequena cidade. O dia estava nublado, (des)colorindo a paisagem de diferentes tons de cinza. Era fácil adivinhar a casa de Lisa. O movimento era intenso. Pessoas entravam e saiam, curiosos vindos de todos os lados chegavam com tortas e caçarolas, passavam a mão na cabeça de um garotinho na escada, depois voltavam a conversar sobre amenidades.
Dean sentiu um aperto no coração, uma angústia diferente de tudo que já tinha sentido quando viu a figura de Ben, sentado nos degraus da entrada da casa, com o queixo apoiado numa das mãos e o olhar triste, fitando hora o chão, hora a rua, impaciente, como se esperasse sua mãe voltar do trabalho.
Quando ergueu os olhos e viu o Impala estacionando do outro lado da rua, Ben se levantou num pulo e correu na direção do carro, assustando alguns vizinhos, que tentaram segurá-lo, pensando que talvez ele quisesse fugir. Ninguém foi rápido o suficiente, e assim que Dean desceu do carro tinha um garotinho de 9 anos pulando em seus braços, prendendo-se com as pernas ao redor dele.
De pé ao lado do carro, com um garoto que agora se desaguava em lágrimas no colo, sob o olhar de dezenas de curiosos, Dean se sentiu perdido, e ao mesmo tempo se sentiu em casa. Ben enfiava a cabeça em seu peito, soluçando sem parar. Abraçou o menino com força, não sabia se tinha outra coisa que pudesse fazer. Sentiu uma tristeza enorme, bem diferente das outras vezes em que se sentia triste, mais profundo, mais cinza, mais cruel.
Ben chorava muito, com o rosto afundado nos ombros, peito e pescoço de Dean. Chorava como se tivesse esperado o dia todo pra derramar aquelas lágrimas. Como se só aquele homem pudesse compreendê-lo. Como se só dele não tivesse vergonha. Como se só ele merecesse compartilhar de suas lágrimas. Chorava no colo de Dean, como se aquele fosse o único colo que pudesse confortá-lo.
Dean se sentia estranho. Estava triste por Lisa, estava angustiado, queria saber o que houve, mas não conseguiria perguntar. Não ousaria privar aquele menino de uma só lágrima que ele tivesse para derramar. Ele sabia muito bem que segurar as lágrimas na hora da dor era como comer um cachorro vivo, e depois deixar o cachorro comer você por dentro.
Nunca se imaginou numa situação assim. Não tinha planos, não recebido esse treinamento, não tinha decorado como agir. Sammy nunca chorava assim. Ele reclamava, resmungava, choramingava, mas nunca dessa maneira. Quando os dois passaram por essa situação eram pequenos demais pra entender. Dean conheceu muito pouco de sua mãe, jamais conseguiria entender a dor de Ben. Não entendia, mas ao poucos a tristeza tomou conta de sua mente, de seu corpo. Era como se Ben estivesse transferindo para ele toda sua dor, e Dean aceitava essa dor, aceitaria quantas vezes fosse preciso para que Ben não precisasse mais sentir. Não agüentava ver o sofrimento daquela criança. Chorou também. Deixou as lágrimas rolarem por seu rosto. Sem lembrar que havia um mundo ao redor deles. Chorou a dor daquele menino de quem ele desejava de todo o coração ser pai. Chorou sua própria dor ao pensar em sua mãe, e em tudo que havia acontecido em sua vida depois da morte dela. Chorou de um jeito que jamais havia chorado. Sem desespero. Sem pressa. Apenas tristeza. Apenas cinza.
Sam assistia à cena.
Paralisado do outro lado do carro, também tinha os olhos marejados...
