Hermione riu sem esconder a ironia. Tampouco parou de fumar como ele havia pedido tantas vezes. Cada trago era uma lembrança que ela queria reviver e apagar. Esvanecer. Diluir como a fumaça que sua boca tão amargamente expelia.

- Não pode me culpar.

- Você tinha uma escolha – decretou rancoroso.

Tragou vagarosamente. O copo na outra mão. A marca de batom no copo.

- As coisas não são tão simples como você desejaria ela falou após uma longa pausa

- Nem tão complicadas.

- Para você talvez.

- Você tinha uma escolha – ele repetiu. Levantou-se rapidamente e o gesto brusco não a assustou. Nada mais parecia assusta-la. Continuava com seu copo, seu cigarro, a perna cruzada. Perna que balançava lentamente, mas parou quando ele se aproximou. As mãos dele apoiadas nos braços da cadeira – Por que não me escolheu?

- Quando soube que estava apaixonado por mim?

- Krum. Quando foi ao Baile com o Krum – ele ainda próxima. Ela ignorava a careta dele pela fumaça. O idiota que se afastasse.

- E você escolheu? – ele a olhou com interrogação nos olhos. Tudo parecia ter que ser explicado. Tudo tinha que ser explicado para ele – Escolheu gostar de mim? Apaixonar-se? Sentir o que sente?

O homem então se afastou. Enfiou as mãos nos bolsos para depois retira-las.

- Viu? Você não escolheu. Apenas...

- Senti. – falou resignado – Merda! Porra, Hermione! Isso nunca, NUNCA vai entrar na minha cabeça!

- Não posso fazer nada.

- Pode me dar uma chance. Ainda sinto o mesmo – ele voltou a reclinar-se. Hermione apagou o cigarro no cinzeiro que havia na pequena mesa ao seu lado.

- Não sei porque insiste – encarou os olhos azuis.

Ele passou a mão pelo rosto dela.

Ele era mil
Tu és nenhum
Na guerra és vil
Na cama és mocho

- Você precisa esquecê-lo.

- Não quero.

- Ele jamais voltará – Rony falou encarando os castanhos que olhavam para lugar nenhum.

- Não precisa me lembrar disso – qualquer poderia sentir o pesar em sua voz. Rony desceu seus lábios para os lábios dela. Sentiu o gosto salgado das lágrimas. Seria capaz de fazê-la esquecer?

Tira as mãos de mim

Ela o afastou e levantou-se abruptamente.

- Você não percebe? Eu nunca estarei pronta. Eu nunca poderei amar você da mesma forma que eu o amei! Que eu o amo!

- Eu não sou um homem ruim, Hermione! Sou seu amigo há anos! Eu... eu amo você!

Hermione balançou a cabeça de forma negativa. Rony jamais entenderia.

- Você jamais entenderá! – aproximou-se dele – O que acontecia entre nós. Nosso amor. Nossa paixão. Nosso fogo. Quer continuar com isso? Com sua ilusão? – ela pegou a mão dele e colocou sobre seu seio.

Põe as mãos em mim
E vê se o fogo dele
Guardado em mim
Te incendeia um pouco

- Não quero que seja dessa forma! – Ron respondeu nervoso.

- Éramos tudo. O certo e o errado juntos. A tempestade e a calmaria. O bom e o mau. A perfeição e a imperfeição. O amor e o ódio. A grifinória e o sonserino. Sei que ele jamais voltará, só que o que construímos, o que sinto... jamais pode ser desfeito. Enlaçados. Perdidos em um labirinto que nenhum de nós sabia a saída. Que nenhum de nós queria encontrar a saída. A partida dele, não significa o fim do que nos unia.

Éramos nós
Estreitos nós
Enquanto tu
És laço frouxo

- Você pode mudar de ideia – falou sem querer ouvir e segurando a mão. Ignorando o frio da aliança que Hermione insistia em usar.

Tira as mãos de mim

Afastou-se para aproximar. Pegou a mão dele e recolocou sobre seu corpo. Gemido fingido.

Põe as mãos em mim

- Tocar a mim. É tocar a ele, Ronald. Saiba disso. É por ele que meu corpo clama. É por ele que me corpo arde!

E vê se a febre dele
Guardada em mim
Te contagia um pouco

Aparatou de repente. Andou entre os campos verdejantes. Caiu de joelhos e chorou. Sua mão tocando a lápide fria:

Draco Malfoy. Amado filho e marido.