Wherever you will go - The Calling
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Capítulo 1 - Conversas à meia-noite
A noite caía chuvosa pelas janelas da sala comunal da Grifinória. Mal Harry colocou os pés pra dentro e todos que estavam nela silenciaram. Ele sabia o porquê. Não tinha nem conseguido dormir direito, por causa daquele zum-zum-zum que não saia de sua cabeça. No dia anterior, Harry 'voara' para cima de Ernesto, o monitor da Lufa-Lufa, só porque o garoto cochichou alguma coisa como "... mais esquisito ultimamente..." com seu colega. Na verdade, Harry não tivera a intenção, estava acostumado com as pessoas o olhando atravessado, cochichando ao seu redor e abafando risinhos. Mas ultimamente ele andava sentindo raiva a todo o momento. E ia crescendo à medida que as pessoas se aproximavam dele. Tornara-se mais agressivo com palavras e sentia que estava se afastando de Ron e Mione. A verdade é que doía lembrar que tinha sido jogado às moscas - e aos Dursley - durante quatro semanas, e as únicas cartas que recebia só diziam que justamente não podiam dizer nada. Depois de ter passado noites em claro pensando na audiência do Ministério da Magia, ele nem ao menos consegui chamar a atenção de Dumbledore. Depois de ter desejado imensamente voltar para Hogwarts, rever Ron e Mione, de repente tudo o que ele mais queria era a solidão do seu quarto escuro, na Rua dos Alfeneiros, 4. Harry não entendia por que Dumbledore sequer olhava pra ele, ou por que sentia tanto ódio das pessoas que tentavam entender o que ele estava sentindo. Ele tinha certeza que a única pessoa que lhe entenderia sem lhe fazer parecer mais idiota do que já se sentia, era o padrinho, Sirius.
Outra coisa que também não entendia era por que não acontecera nada com ele, diante do ocorrido da noite passada. Depois de ter voltado a si, saído de cima de Ernesto, berrado algumas desculpas e ter ido se deitar, com olhares espantadíssimos em sua nuca, o mínimo que ele esperava era uma expulsão. Mas na verdade o que aconteceu foi uma McGonagall apavorada entrando na sala comunal da Grifinória, e o levando para sua sala, acompanhados pelos gritos escandalosos de Pirraça. A professora entrou, seguida por Harry, fechou a porta com um estalo e se sentou diante dele. Por um momento - que pareceu a Harry uma eternidade - ele pensou que a professora iria lhe confessar que apenas a expulsão não seria o suficiente, que a situação fugira a seu controle e que daquele momento em diante, ele deveria seguir sozinho o caminho que ele mesmo traçara e que o esperava repleto de coisas terríveis e desumanas. Mas com um ruído de porcelana se espatifando no chão, Harry foi puxado de volta à tona. O barulho viera da xícara que a professora tentava - à toa - segurar com as mãos trêmulas. Harry sabia que a professora era muito equilibrada e quase nunca deixava transparecer por completo seus sentimentos e já estava começando a ficar levemente enjoado por pensar o que seria tão horrível para deixá-la naquele estado, quando a voz da professora invadiu seu cérebro. Ele olhou para ela. Suas narinas não estavam abertas como costumavam ficar quando a professora ficava nervosa e ela tampouco estava com os lábios contraídos. Na mesma hora Harry finalmente compreendeu que não se tratava das piores notícias seguidas dos piores castigos. A professora criou coragem e, virando-se para ele, disse:
- Estou muito preocupada com você, Harry.
Ele sentiu que não era hora para interrupções, então só ouviu.
- Vol... Voldemort está de volta, você corre mais perigo do que nunca e mesmo assim, está se distanciando de tudo o que Ele menos preza! É nessas horas, como nunca antes, que o senhor deveria estar mais próximo de todas as pessoas que demonstram qualquer tipo de afeto por você! Principalmente o Sr. Weasley e a Srta. Granger. Sirius me contou como você está se sentindo. Ninguém te culpa, é completamente natural ficar assim, mas você está se distanciando das melhores coisas da vida! A amizade e a alegria são companheiras indispensáveis para todos nós. Ainda mais em tempos como estes. Seus amigos me procuraram essa semana. Eles estão demasiadamente preocupados com você. Tristes. É como eles se sentem por não estarem te ajudando. E sabe por que eles não estão ajudando? Porque você não os deixa ajudar, Potter! - a professora agora voltara ao seu estado habitual, rígida - Francamente, além de muito preocupada, estou decepcionada com você! Eu realmente esperava que depois de tudo o que vocês três passaram juntos... Achei que eles já tinham provado uma quantidade suficiente de vezes que são completamente dignos de sua total confiança! Sabe, eu leciono aqui há mais de 36 anos, e nunca vi uma história como a de vocês, salvando - claro - a de seu pai, Sirius e Remo. Amigos que ficam juntos até o fim, sem se importar com as regras, desde que estejam unidos. Confesso que fiquei muito surpresa ao ver que mesmo após semanas você ainda continua se sentindo excluído e não está fazendo exatamente nada para reverter à situação! Já lhe disse que ninguém o culpa por estar se sentindo mal, mas se afastar de tudo o que realmente te faz bem não vai levá-lo a lugar algum, a não ser que considere o covil de Voldemort! - O nome de quem Harry mais odiava no mundo pareceu ecoar por todo o castelo. E ele ficou feliz em constatar que a professora não apresentava mais sinais de fragilidade e agora o olhava como se esperasse uma resposta à altura de seu discurso.
- Eu não fiz por mal - disse Harry se sentindo constrangido e querendo se explicar ao mesmo tempo - Deixar vocês preocupados. Eu realmente gostaria de esquecer tudo isso e voltar a andar por aí como se nada tivesse acontecido. Mas simplesmente não consigo. Sinto-me mal o tempo todo e quando tento esquecer por um momento, chega alguém e começa a me falar sobre isso... Seria tão mais fácil se as pessoas simplesmente não tocassem nesse assunto quando eu estou por perto, mas parece que eles estão adorando essa situação! - Erguendo os olhos para a professora, continuou - Desde que entrei para Hogwarts, as pessoas me olham como se eu fosse um animal muito raro que precisasse de muito cuidado e atenção, mas eu nem ao menos sabia o porquê. Quando eu descobri que meus pais não tinham morrido num acidente de carro e que eu era considerado o menino-que-sobreviveu, eu não achei que era um bom motivo pra me tratarem como um herói! Quero dizer, eu nem ao menos sabia como é que eu tinha 'paralisado' Voldemort. Eu me acostumei com as pessoas cochichando às minhas costas. Esse verão eu passei atolado na casa dos meus tios sem nenhuma notícia! - sentindo que sua voz estava atingindo um tom mais grave, não fez nada para fazê-la voltar ao normal. Pela segunda vez, estava estourando com uma pessoa, com o mesmo discurso sobre o verão - Quando eu fui para o Largo Grimmauld, me deparei com um Rony e uma Hermione que passaram as quatro semanas, em que eu fiquei me esgueirando pelas ruas, procurando nas lixeiras algum pedaço de jornal com notícias sobre Voldemort, juntos. Juntos! Com Fred, Jorge, e Gina! Todos juntos, SEM AO MENOS ME MANDAREM UMA DROGA DE CARTA QUE DISSESSE ALGUMA COISA DIFERENTE DE "não podemos dizer nada" - Ignorando os gestos da professora para abaixar a voz, ele prossegui - Eu chego aqui e as pessoas dizem que não acreditam em mim! Que eu inventei tudo sobre Cedrico e Voldemort. O Profeta diz que eu sou um menino idiota, com minhas historinhas heróicas e que quer a atenção toda voltada pra ele! - E de repente, sem intenção, a pergunta que martelava em sua cabeça durante semanas, escapou de sua boca, quase sem querer - E POR QUE diabos DUMBLEDORE ESTÁ ME IGNORANDO?
A professora, para seu espanto, estava calma e, ao final da pergunta de Harry, olhou para ele e disse:
- Alvo NÃO está te ignorando, Harry. Do contrário ele não teria ido à sua audiência no ministério e dado um 'cala-boca' em Fudge. Dumbledore tem suas explicações pra tudo o que faz, e se ele não te procurou ainda é porque a situação está mais séria do que pensamos. Mas não sou eu quem vai lhe explicar o comportamento dele. Agora, eu gostaria de lhe falar sobre Ernesto. - Ela agora olhava pra ele rigorosa como sempre - A minha preocupação maior, devo dizer, é seu comportamento agressivo, Potter! Você mesmo acabou de me dizer que está acostumado com as pessoas cochichando ao seu redor e ataca o garoto só porque ele estava conversando com um colega.
Harry sabia que a professora era muito rigorosa e exigente, mas era também muito justa, então ele respondeu:
- Professora, ele não estava apenas conversando. Ele cochichou para o outro garoto que eu sou estranho!
- Sim, Potter, mas me desculpe dizer, você está estranho ultimamente. Você sabe disso.
- É, mas de qualquer forma, eu não tive a intenção de voar no pescoço dele. Só que quando vi, já estava com a mão a milímetros do nariz dele, então pedi desculpas e fui para o dormitório.
- Fico feliz que você tenha voltado a si, mesmo que suas desculpas não tenham sido tão delicadas assim. Porém, como você não 'concretizou' o ataque, por assim dizer, vou lhe dar apenas detenções. Mas quero deixar registrado que a agressão física não é tolerada em Hogwarts. A decisão do que fazer com um aluno infrator, como você sabe muito bem, cabe ao diretor de cada casa. E, por Merlim! Eu agradeço que tenha sido um aluno da Lufa-Lufa, e não da Sonserina. Sprout gosta muito de você, mas é justa. Sendo assim, se você tivesse acertado o garoto, não seria tão simples contornar a situação. - Harry pensou em Hermione acertando um soco bem no meio da cara de Malfoy e se sentiu agradecido pela professora não saber do ocorrido, senão Mione não estaria em Hogwarts até hoje. Como se a professora tivesse lido seus pensamentos, interpôs - E não pense que eu não fiquei sabendo do caso da Srta. Granger há dois anos. Mas ela própria veio me procurar e como se tratava do Sr. Malfoy, tive certeza que ele não deixaria ninguém - fora vocês três e os dois guarda-costas dele - saber. Então, lhe dei uma chance, só porque sei que ela é uma garota muito sensata. - Vendo que Harry não tinha mais perguntas, continuou - Suas detenções serão revezadas entre mim e Severo. E NÃO adianta fazer essa cara, Potter. Se fosse para você gostar dos castigos, eles não existiriam! Mas eu achei interessante revezarmos, no caso dele pegar muito pesado com você ou de vocês dois declararem a 3ª Guerra Mundial. Portanto, quando for a minha vez de lhe aplicar a detenção, vou reservar um tempo para você me contar sobre as aplicadas por Severo. - E abrindo um sorriso compreensivo para ele, disse: - Creio que ficar duas horas, a cada detenção, nas masmorras, com o seu professor menos querido já será o suficiente. Já combinei com ele, Potter, vocês vão se encontrar todas as sextas-feiras, às 20:00h - E se levantando, ela falou: - O motivo pelo qual eu estava tão sensível agora há pouco, é que eu, embora não fique o tempo todo demonstrando, o quero muito bem. Alvo gostava muito de seus pais e esses, por sua vez, confiavam muito nele. Quando eles morreram, Alvo assumiu o compromisso de proteger você. Onde quer que você esteja e independentemente do que você faça. Quando você entrou para Hogwarts, ele veio até mim, como um pai ao confidente, e me pediu para ajudá-lo. Ele tinha tanta certeza que você entraria para Grifinória e teria o mesmo gênio de seu pai, que apenas me pediu para ficar de olho. Alvo acreditava que Você-Sabe-Quem só estava paralisado e que voltaria a investir contra você pelo menos uma vez. - Ela fez uma pausa e depois continuou: - Eu confesso que fico muito abalada vendo você assim. - Outra pausa e ela foi até ele, segurou-o pelos ombros e continuou: - Nós estaremos com você, Potter. Agora eu quero que você me prometa que vai deixar um pouco do seu orgulho de lado e procurar seus leais amigos. E haja o que houver você vai ficar com eles, unidos, como sempre foram. - E se dirigindo à porta, acrescentou:- E, Potter... Procure não se meter em mais encrencas, principalmente com Dolores. Ninguém aqui está feliz de tê-la no corpo docente. Alvo está fazendo o que pode, portanto, faça o que todos nós estamos fazendo: suporte-a. Pelo menos até conseguirmos dar um jeito nela, está bem? - E segurando a porta aberta para ele, disse: - Acredito que já tomei muito tempo da sua noite. Vá para o dormitório em silêncio, sim? Todos já devem estar dormindo. Boa noite, Potter.
Harry não teve muito que fazer, olhou para a professora parada na frente dele, com a expressão preocupada e não pensou em nada pra falar a não ser "Obrigado." e saiu da sala para o corredor escuro. Harry ficou se perguntando se 'obrigado' teria sido a melhor coisa pra dizer, já que a professora lhe demonstrara tanto carinho, mas não conseguiu ficar pensando nisso por muito tempo. Seu cérebro estava sendo invadido por 'flashes' da conversa com a professora. "Sirius me contou..." Ele confiara em Sirius, não achava uma boa coisa o padrinho ter contado suas conversas para outra pessoa. Mas de qualquer forma, isso lhe ajudara. Mas o que mais o incomodava era como iria pedir desculpas para Ron e Mione. Afinal, a professora estava certa, ele não deveria tê-los tratado assim. Acordou a mulher gorda e murmurou "Tabletes de nugá". O quadro girou - resmungando -, admitindo-o para a sala comunal. O que Harry viu fez suas pernas se transformarem em dois pedaços de chumbo. Ele esperava pedir desculpas aos dois, porém não tão cedo. Ali, diante da lareira, estavam Rony e Hermione, os dois muito quietos e com expressões nervosas nos rostos. Ele foi se aproximando e sentou-se na poltrona vazia de frente para Rony, que estava deitado no tapete. O garoto se sentou de repente e olhou para Harry, como se esperasse ele começar a gritaria que sempre ocorria agora, quando os dois tentavam conversar. Mas quem quebrou o silêncio foi Hermione, sentada na poltrona ao lado de Harry.
- Olha... Nós vimos a professora levando você pra sala dela e... Ahn... Nós meio que... Sabemos o que ela te disse. - Depois de olhar nervosamente para Rony, o garoto deu continuidade:
- Mas não precisa começar a gritar. - Falou depressa. - A gente não pediu pra ela te chamar na calada da noite, nem nada do tipo... Nós só ficamos preocupados com você, cara. E...
- Eu não vou começar a gritar - Harry falou pela primeira vez desde que chegara à sala. Hermione e Rony se entreolharam, surpresos. - Eu... Eh... Queria pedir desculpas por ter sido tão... Ahn... grosseiro com vocês. - Mas mal terminara de falar e foi mergulhado num emaranhado de cabelos castanhos.
- AH Harry! Que Bom! Que bom ouvir isso de você! - A menina parecia realmente comovida - Nós achamos que não íamos ter você novamente, como era antes! Olha, nós realmente sentimos muito...
- Ah Mione, ta tudo bem. Eu entendo vocês.
Agora os amigos se olharam abertamente, ambos com as sobrancelhas bem erguidas.
- Você entende? - Havia um tom de incredulidade na voz dela.
- Caramba! - Rony olhava pra ele com um sorriso nascendo no canto da boca. - A McGonagall deve ser muito boa em conversas noturnas! O que foi que ela te disse pra você mudar de repente?
- AH, podemos falar sobre isso amanhã? - Harry nem se lembrava da hora, mas pelo sono que estava sentindo, achou que já devia passar da uma da manhã. Os amigos não disseram nada e pareciam desconfiados. - Eu não vou mudar outra vez! Amanhã eu conto tudo pra vocês. Vocês me perdoaram, não foi? - E olhando para os amigos, que balançavam positivamente as cabeças, falou:- Então isso já é suficiente para eu ter uma ótima noite de sono hoje, aliás, há semanas que eu não durmo bem. - Agora os três sorriam - Boa noite, Mione. - Terminou ele, e subiu para o dormitório. A garota respondeu com entusiasmo e subiu também, para o dormitório das meninas, deixando um Rony abobalhado lá em baixo.
- AÍ - exclamou ele. - Beleza! - E subiu feliz, atrás de Harry.
