Ele nunca havia se sentido tão decidido em toda sua vida. Não que a certeza absoluta dominasse suas escolhas, mas todas aquelas coisas que vinham acontecendo, mesmo antes da explosão, haviam feito com que uma espécie de conforto atingisse seu corpo sempre que ele pensava em alguma sensação que não fosse aquela insegurança ou o calor daquela cicatriz fervendo em carne viva sobre seu rosto. Ele apenas sorriu de canto; um sorriso cínico, típico. Deu um gole na sua vodca vagabunda e levantou-se do sofá e, a cada passo que dava em direção ao espelho, sentia alguma outra culpa pesar sobre suas costas.
Pensou em todos que deixou para trás, todos que matou e tudo que renunciou para chegar ali onde estava. Ali onde ele não queria estar.
Toda aquela certeza que ele tinha há alguns segundos atrás desapareceu e tudo que lhe restou foi a garrafa, agora estilhaçada, que ele havia jogado contra o espelho. Aquele ser do reflexo sorrindo de volta; o cabelo desgrenhado jogado sobre os olhos; as roupas de couro, estranhamente largas; marcas roxas sobre a pele; uma cicatriz, o sorriso de escárnio. Mello sentiu nojo, sem perceber que era aquilo o que ele havia se tornado. Exatamente o que ele tanto caçava.
