Coquetel de Desejo
Kathleen O'Reilly
Essa fanfiction é uma adaptação do livro Coquetel de Desejo de Katheen O'Reilly. A história é de autoria dela e os personagens pertencem ao anime Naruto de Masashi Kishimoto.
Um homem, uma mulher, um apartamento...
Sasuke Uchiha: caçula de três irmãos e um dos donos do Prime, o bar mais agitado de Nova York. Ele é o bartender preferido de 10 entre 10 mulheres. E elas costumam dar gorjetas bastante generosas para conseguirem um encontro com ele...
Sakura Haruno: estudante, coração solitário e bartender do Prime. E agora, futura sem-teto. Ainda bem que Sasuke é também o anjo da guarda de Sakura. E ele está decidido a oferecer-lhe o abrigo de seu lar até que ela encontre uma nova casa...
Mas Sakura tem algumas regrinhas básicas para dividir temporariamente um apartamento com seu chefe: eles não terão um caso! De jeito nenhum! Por quanto tempo Sasuke e Sakura cumprirão essa promessa? Façam suas apostas!
CAPÍTULO UM
Quando o verão chegou em Manhattan, o sol quei mava mais forte, os dias ficavam úmidos e quentes, os homens exigiam as cervejas em temperatura glacial e as mulheres queriam seus martinis bem gela dos. O sol estava se pondo em uma corrosiva noite de quinta-feira quando a mulher de meia-idade se apro ximou do longo balcão de mogno, com as bochechas coradas e um sorriso de desculpas na boca. Sasuke Uchiha, dono, bartender e irmão que costumava servir de bode-expiatório, teve a familiar sensação de que um destino cruel e inevitável lhe aguardava.
— Acho que há um problema no toalete feminino. — A mulher começou. — A porta está trancada faz dez minutos e dá para ouvir uns... gemidos vindos de dentro. Alguns de homem, outros de mulher. Acho que algo de libertino está se passando lá dentro.
Sakura Haruno, uma funcionária que Sasuke até conside rava leal, virou-se para ele, tentando controlar o riso.
— O homem é seu irmão.
Ah, sim, o irmão dele. Mais exatamente o efeito co lateral da cerveja, o sedimento do vinho, a minhoca na tequila. E ele estava sendo gentil.
— Não quero reclamar com ele. Não mesmo. — Ha via três irmãos Uchiha, mas Sasuke e Sai eram normais. Itachi, nem tanto.
Sakura lhe apontou um dedo acusador.
— Você é dono deste lugar. Faça seu trabalho. Assim ele foi constrangido cumprir o dever de dono do Prime, o infame bar de Manhattan que a família Uchiha já possuía fazia quase oitenta anos. Hoje em dia, o chão de madeira rangia quando as pessoas caminhavam, mas estavam tinindo de encerados. Ao redor do recinto, haviam três balcões de mogno preto em forma de "U", apoiados em estruturas de latão.
Fileiras de fotografias cobriam as paredes. Algu mas caras famosas, outras nem tanto. Na parte da frente e do meio detrás do bar havia fotografias das últimas quatro nobres gerações dos Uchiha. Um Uchiha servira presidentes, chefões da máfia, Joe DiMaggio e Bob Dylan; e agora, ao que parecia, o belo estabelecimento estava servindo de motel para um certo Itachi Uchiha.
Nossa, mas que decadência.
Sasuke deu uma olhada no bar, imaginando quem era a gatinha que Itachi havia torpedeado desta vez. Len tamente foi lhe ocorrendo exatamente quem havia de saparecido do bar, e então ele sorriu. Tudo bem, quem sabe Itachi não fosse tão mau assim? O que, infeliz mente, não significava que o toalete feminino estives se disponível de novo.
Ele desceu pela escada velha e estreita que levava aos toaletes e deu uma batida forte e cheia de autori dade na porta de uma das cabines.
— Abra a porta. É a polícia. De acordo com a lei número mil e quarenta e três do código municipal de Nova York, é proibido manter conduta lasciva em lo cal público.
Do outro lado da porta veio a voz de Itachi, carrega da de mais paixão do que Sasuke queria imaginar.
— Este lugar não era público até você meter seu bedelho aqui, seu guarda. E, aliás, não existe nenhuma lei mil e quarenta e três. Eu conheço a lei.
— Está insultando uma autoridade de Nova York?
— Não, estou insultando meu irmão mais novo. Agora vá embora e dê a seu irmão uns bons sete... Ah, querida, assim está perfeito... Na verdade, quinze minutos.
— Temos fregueses que estão pagando e querendo usar o toalete.
Fez-se um silêncio incisivo, seguido por mais ge midos tempestuosos. Sasuke se recostou à porta, procu rando ficar à vontade.
— Você contou a ela que é advogado, Itachi? Pois eu não sei por que as mulheres continuam caindo nessa. Deve ser difícil para um homem do ramo de sanea mento atrair certos tipos de mulheres, apesar de que você acabou se casando facilmente. Seria por causa da gravidez? Aliás, como vai Sasame?
Sasuke esperou, contou até três... E finalmente ou viu o murmúrio abafado de vozes alteradas. Mas não estavam suficientemente alteradas, droga. Quem po deria pensar que uma mulher com tamanho poder no departamento de saúde estaria tão desesperada? Não importava; Sasuke podia pegar ainda mais pesado.
— Ligaram da clínica. O teste deu positivo, mas tomando os remédios e indo ao médico você vai con seguir levar uma vida completamente normal.
A voz de Itachi enfim foi ouvida outra vez, um pou co menos firme desta vez:
— Vá embora. E tenha pena de um homem que está para passar sua quarta temporada no exército e não vai ver mulher pelos próximos... Aaah... Nove meses.
Como alguma mulher, especialmente uma fiscal da vigilância sanitária de Nova York, poderia acreditar que Itachi era soldado? Era algo que para ele ultrapas sava o limite da razão. Apesar de que, por algum mo tivo, Itachi e mulheres nunca viessem juntos mesmo. Sasuke bateu na porta. Itachi gritou.
— Você está constrangendo a pobre mulher, Sasuke. Seja cavalheiro e vá embora.
Sasuke balançou a cabeça.
— Tudo bem, mas não pense que vou me esquecer disto — ele ameaçou.
— Em vez de ficar se preocupando comigo, por que não se preocupa com Sakura?
Tão típico de Itachi. Desviar a atenção do assunto em questão. Jogo de cartas com matiz emotivo. Infe lizmente, Sasuke estava sendo ludibriado nesse sentido, pois Sakura já tinha problemas demais para se preocu par, e seria um inferno se alguém mais aparecesse para lhe perturbar.
— O que tem Sakura?
— Os funcionários não vão se consultar com o psi cólogo do programa de TV? Tsc, tsc...
— O que tem Sakura? — Sasuke repetiu, pensando se riamente em derrubar a porta, mas aquela tinha sido trocada fazia apenas três meses, e portas custavam caro, principalmente portas de dois metros feitas sob medida.
— Se você me der mais seis minutos eu conto a história toda, porque é óbvio que ela está fazendo se gredo com você.
Dando um suspiro de frustração, Sasuke pôs um sinal escrito "com defeito" na porta do toalete feminino e subiu a escada. As noites de quinta-feira não tinham o caos do fim de semana, mas quando os Yankees estavam na televisão, a tendência era o pessoal ficar disposto a beber e apostar. Até mesmo alguns fregue ses que costumavam freqüentar o bar de dia também estavam lá. A julgar pelos rostos felizes, os Yankees estavam vencendo.
Constrangedores dois minutos depois, Itachi apare ceu no alto da escada com uma morena alta que usava óculos de diretora de escola. Itachi levou as mãos aos próprios lábios.
— Pelo que entendi, passamos na inspeção, não é? — Sasuke perguntou, mantendo o rosto propositada mente inexpressivo. A fiscal sanitária deu um sorriso abobalhado.
— Com louvor. E que louvor — ela murmurou, e Itachi sorriu, com o ego já inflado aumentando ainda mais. Droga. Às vezes Sasuke tinha vontade de bater no irmão, mas Itachi tinha conhecidos por toda a parte e o bar jamais fora reprovado antes pela fiscalização sanitária.
Tudo bem, ele o perdoaria. Mas no momento ele estava mais preocupado com Sakura.
Ele deu uma rápida olhada para ela, conferindo seu estado mental. Tudo parecia normal. Ela estava mis turando drinques com a pose hollywoodiana de sem pre, jogando copos para cima, para deleite da clientela masculina. Mas Sasuke reparou que, quando ela ouvia algum pedido, caía uma reveladora mecha de cabelo sobre o rosto.
Sakura tinha um ímã para atrair confusão, mas isso não importava para Sasuke. Quando os funcionários precisavam, lá estava ele. Especialmente para Sakura.
Sakura sabia reconhecer uma idéia maluca quando ouvia uma, e esta era com certeza uma delas. Ela fu zilou Sasuke com o melhor olhar de menina má, aquele que ela vinha praticando no espelho por quase a tota lidade de seus 26 anos. Toda aquela prática não signi ficava que ela havia melhorado em nada, mas tinha de continuar tentando.
— Não vou morar com você. Você é meu chefe, entre outras coisas. E não acho que vá conseguir me fazer dizer sim me olhando deste jeito, porque estou aprendendo a dizer a palavra não para os homens. Não. N-Ã-O. Não. No. Nein. Posso dizer no idioma navajo: dooda. Viu, sei dizer não.
Para ter certeza que estava se fazendo entender, acendeu um fogo sobre o ardente drinque Jágerbomb que estava preparando, ainda lançando mão do olhar de menina má.
Sasuke levantou uma caçamba de gelo e colocou no depósito, os bíceps ondulando pelo esforço. O bartender mais perfeito do mundo. Compreensivo, atencioso e sexy ao extremo.
— Não é assim, Sa — ele disse, com aqueles olhos negros e sérios cintilando na direção dela. Quatro mulheres suspiravam enquanto o observavam traba lhar. Deus, era como se fosse luxúria sincronizada.
Sakura pegou um chope e empurrou o copo para o freguês pelo balcão. No fundo ela sabia que Sasuke ti nha boas intenções. Sasuke Uchiha era mais do que um simples bartender. Ele foi a tábua de salvação que lhe deu um emprego quando ela foi parar em Ma nhattan após uma separação amarga; porque, afinal de contas, todo mundo sabe que a coisa mais brilhante a se fazer após abandonar todas as posses materiais com o ex-namorado na Flórida é se mudar para a estratosfericamente cara cidade de Nova York, tendo apenas um diploma de segundo grau e um conhecimento en ciclopédico de drinques tropicais.
Sasuke jamais fez pouco dela, e por isso ganhou a total lealdade de Sakura. Mas não era por esse motivo que ela iria morar com ele. Quanto a isso, mantinha-se firme. Inabalável. Infelizmente, ela só tinha cinco dias para arrumar um apartamento.
— Você precisa de um lugar para morar — ele con tinuou, ignorando completamente as recusas dela. — Tenho um quarto desocupado. É a solução perfeita.
—Eu estou procurando um lugar — respondeu uma falsa loura com delineador demais nos olhos.
— Você precisa de uma bebida? — Sakura pergun tou enfaticamente, absorvendo as vibrações de ódio da falsa loura. A loura conseguiria superar aquilo, es pecialmente considerando o jeito que o sujeito atrás dela mirava o traseiro. Então Sakura voltou a atenção para Sasuke. — E você, não tem um bar para tomar con ta? Veja só o pobre Cain, ele está... — Sakura deu uma olhada para a parte de trás do bar, reparou que Itachi havia descartado o paletó e gravata que costumava usar e estava trabalhando ao lado de Cain. Pelo menos uma vez na vida ela tinha de ter razão. Uma vez só. Seria pedir demais?
Quatro sedentos funcionários da companhia de energia de Nova York estavam lado a lado no balcão, e ela preparou quatro mojitos, triturando as folhas de hortelã com um pouco mais de força que o necessário. Pena abjeta costumava deixá-la assim.
— Vou lhe ajudar aqui um pouquinho — ele expli cou, bem quando a garçonete, Lindy, apareceu com um monte de pedidos de bebidas, não deixando espa ço para papo furado.
— Rum Meyer — Sasuke gritou.
— Pode deixar — respondeu Sakura, jogando a gar rafa para ele.
Sasuke fez um malabarismo com a garrafa pelas cos tas, pôs o rum na taça e, antes que se pudesse pronun ciar a palavra "exibido", ele já havia misturado um mai tai belamente construído.
Sakura, que nunca foi de deixar por menos, fez cara feia e jogou o copinho de uma dose no ar, fazendo girar quatro vezes e meia, só para garantir. Os caras da companhia de energia aplaudiram com gosto. Ela sorriu diretamente para Sasuke. Sim, ela era capaz. Uma bartender das boas, capaz de fazer milagres. E que estava prestes a se tornar uma desabrigada.
A não ser que ela aceitasse a oferta de Sasuke.
Sentindo a fraqueza momentânea dela, ele se de bruçou sobre o balcão em frente a Sasuke e sorriu de um jeito que era infalível: despedaçava corações e garan tia gorjetas de cinqüenta por cento.
— Você precisa de um lugar para morar, Sakura. Não pode morar na rua.
Sim, faça com que ela pareça que já está na rua da amargura. Sakura afastou o cabelo desgrenhado do rosto e o encarou com dignidade. De mentira, mas com dig nidade, contudo. Sakura era, sem dúvida, orgulhosa.
— Eu poderia ser uma gatinha ou cadela abando nada na rua pelo dono desalmado e você me recebe ria. Você é molenga demais. Conheço você, Sasuke Uchiha.
— Você não é nenhuma cadela abandonada.
— Obrigada pelo elogio.
— Vamos lá, Sakura. Faz sentido.
Ela não precisava daquela conversa no momento, mas tudo bem, se ele queria explorar as miríades de razões por que ela não deveria se mudar para o apar tamento dele, então ela iria enumerá-las. A começar pelo óbvio.
— Você é homem.
Ele não revirou os olhos, mas poderia tê-lo feito.
— Sim. — Sasuke falou com tanta facilidade, como se seus atributos físicos não fossem nada demais.
Mas era isso que o tornava tão irresistível. Cabelos negros e arrepiados; olhos tão negros quanto seus cabelos; não era alto demais e nem baixo demais; não era grandão, mas também não era magro; e os lábios fartos exibiam as curvas de um perpétuo sorriso. Ele se dizia comum. E em comparação ao potente mag netismo animal de Itachi, era mesmo, mas não ha via mulher que não se derretesse por aquele charme simples. Ah, ele sabia muito bem o que causava nas mulheres.
Sakura lhe lançou um olhar cético.
— Eu sou mulher.
Ele entregou três cosmopolitans para Lindy, sem perder o ritmo.
— Aqui está.
— Não podemos morar juntos em tranqüila harmo nia platônica. É impossível. — Sakura já havia dividido apartamento com uma enorme variedade de pessoas, todas elas mulheres. E talvez considerasse a hipótese de dividir com um homem que não fosse lá tão ho mem assim... Mas com Sasuke? Não. Era pedir para ar rumar confusão.
Itachi se inclinou em frente a ela, sentando-se perto de uma morena lindamente vestida.
— Achei que você estivesse trabalhando — disse Sasuke.
— Eu estava lhe fazendo um favor, mas peguei o te lefone que queria e agora não estou mais. Agora estou apenas batendo papo com meus familiares e amigos e escutando essa conversa fascinante sobre as trapalhadas da libido humana. Homem e mulher morando juntos é um grande erro.
Sasuke sacudiu um martini de vodca.
— Com Sakura? Não estou preocupado.
Sakura tossiu, tinha o equivalente emocional de uma bola de pêlo entalada na garganta.
— Não sei como aguento este lugar.
Sasuke lhe dirigiu um sorriso tranqüilo e, por um se gundo, a semelhança entre Sasuke e Itachi ficou indiscu tível. Itachi era maior, mas corpulento, falava palavrão como um marinheiro, tinha um nariz que já fora que brado em duas brigas de bar desde que ela o conhecia, mas de alguma forma ele estava sempre impecável de terno e gravata.
— Você agüenta porque nós gostamos de você e porque você é a preparadora de mojitos mais rápida deste lado do Atlântico — disse Sasuke. — Itachi, diga a ela que deve vir morar comigo.
Itachi apoiou o queixo na palma da mão.
— Por que eu iria contribuir para isso e perder nossa melhor preparadora âefrozen drinks e principal assis tente de bartender quando Tony falta ao trabalho? Te nho cara de idiota? Ah, não, Sasuke. A questão é pesso al. Eu gosto de Sakura. Quero que ela fique trabalhando conosco e seja bem paga, para que eu possa paquerar as freguesas enquanto ela fica trabalhando feito louca, com esse bumbunzinho bem-feito para lá e para cá. Se ela for morar com você, os dois vão ficar juntos o tempo todo. Vão ficar se apalpando, se afagando... — Itachi ilustrou fazendo movimentos explícitos com as mãos. — Aposto um bom dinheiro nisso.
Sakura estrategicamente evitou olhar para Sasuke.
— Eu devia processar vocês dois. Seus machistas pervertidos.
— Vamos lá, Sá — Sasuke insistiu. — Você sabe que é a solução perfeita. Vai ser temporário.
— Esqueça temporariamente também a idéia de fazer sexo — Itachi acrescentou. — Dividindo aparta mento com a Sakura Coração de Ouro aqui, pode dizer adeus a isso. Mais um motivo para dizer que é péssi ma idéia.
Itachi tinha apenas parte da razão e Sakura corrigiu o ataque ao caráter dela.
— Eu jamais interferiria nas atividades pessoais da pessoa com quem divido apartamento. Hailey, com quem dividi antes de Janice, tinha três namorados e nenhum deles sabia do outro, mas eu sabia de tudo, claro. Eu odiava aquilo. Todas aquelas mentiras e fin gimento. — Ela pôs a língua para fora. — Blargh!
Itachi endureceu a expressão no rosto, passando para um clima totalmente Law & Order.
— Então você chega em casa e Sasuke está se atracan do com alguma coisinha tenra no sofá. O que você faz?
— Que horas são? — perguntou Sakura, servindo um Jack Daniel's puro para um cara estilo Wall Street de olhos gentis.
— Que importa? — perguntou Sasuke.
— É importante. Se ainda estiver de dia, e sob res trições de produtividade da sociedade civilizada; ou seja, hora de Sakura estudar; então não quero saber o que está fazendo quem mora comigo. Fico estudando, senão nunca conseguirei me formar.
— Quanta frieza.
— Você ainda não morou com a quantidade de pes soas que eu morei. E preciso ter regras e ordem, senão você enlouquece. Vocês moram sozinhos. Em breve eu vou morar sozinha também.
Sakura terminou com um suspiro, visualizando-se su bindo os imensos degraus de pedra na portaria do edi fício onde teria o tão merecido apartamento, acenando para o porteiro antes de entrar no elevador antigo e exótico que tremia ao passar do terceiro andar. Após chegar sã e salva ao andar, ela abriria a porta do paraí so solitário onde poderia tocar o CD da Cher, aquele que ela escondia de todo mundo, e se jogaria em uma poltrona coberta por um pano de algodão azul. Um grande gato malhado lhe pularia no colo e se aninharia ao sol da tarde, ronronando como um vibrador, o qual também compraria se morasse sozinha.
Havia muitas vantagens em morar sozinha. A maio ria das pessoas não valorizava isto. Sakura, que sempre tinha alguém por perto para acabar com o leite, valo rizava a solidão como algumas mulheres valorizavam sapatos caros. E no edifício Hudson Towers teria o apartamento que queria, além de poder pagar sozinha o aluguel. Bem, não neste exato momento, mas em muito breve. As economias estavam aumentando, e assim que ela tirasse o diploma, ainda devendo qua renta e seis horas de aulas, estaria pronta.
Sasuke pegou uma garrafa de Grey Goose e serviu uma dose.
— Bem, no momento você precisa de uma pessoa para dividir apartamento, e acho que podia se ajeitar comigo até encontrar alguém que não vá dar no pé de última hora outra vez. Ela balançou a cabeça.
— Você precisa abrigar todas as mulheres que co nhece?
— Precisa, sim — Itachi respondeu, e enfiou um pe daço de aipo na boca.
— Ao menos pense na idéia — Sasuke disse. — E se você está pensando em acampar no almoxarifado até achar um lugar, pode esquecer, Sakura. É contra a lei.
— Em que estado?
— No meu estado. No meu bar. Meu estado. Mi nhas regras.
Sakura jogou uma fatia de limão em direção a ele. Não que fizesse diferença. Ela já estava vendo tudo. A cinco dias de ter de se mudar, realmente não tinha muita escolha.
Sasuke serviu drinques a noite inteira, um monte de cosmopolitans para um monte de mulheres, todas à procura do Homem Certo ou do Homem Errado, e um monte de homens solteiros que ficavam no rastro. Sim, era uma vida dura. Na verdade, era a única vida com que sonhava. O bisavô de Sasuke fizera a coisa certa. Em 1928, a família Uchiha vendia bebidas ilegal mente durante a Lei Seca depois que o bisavô morreu aos 53 anos. Por mais surpreendente que parecesse, a esposa assumiu tudo e dirigiu o local até a lei cair em Nova York outra vez.
Os anos se passaram e gerações de Uchiha tra balharam no bar. Uma geração após a outra tocando o negócio. Durante a Segunda Guerra, a avó de Sasuke dividiu o bar em dois imóveis, ficando com um e ven dendo o outro, que até meses antes tinha sido uma mercearia. O pai de Sasuke, Fugaku Uchiha, igno rou os negócios da família e resolveu ser jornalista até morrer de ataque do coração aos 56 anos.
Sasuke herdara o sonho do bisavô, um sonho que fora passado ao avô, ao tio e, finalmente, a Sasuke. Quan do criança, trabalhava detrás do balcão do bar ilegal mente, o que só tornava tudo ainda mais doce. Onde mais uma criança poderia tirar fotos com Yankees de Nova York e Teflon Don? Só mesmo no Bar dos Uchiha.
Depois da morte do tio, Sasuke teve quatro empregos para poder pagar os impostos atrasados e manter o lu gar aberto e, mesmo assim, precisou da ajuda financei ra dos irmãos. Mas as coisas funcionaram e voilà, lá estava ele. Ele deu uma atualizada na decoração, mu dou o nome de Bar dos Uchiha para Prime e agora estava misturando doses de drinque de gelatina para sete mulheres adoráveis esperando ansiosamente em fila para pagá-lo, dando gorjetas de mais 20 dólares e escrevendo os números dos telefones em guardanapos. E qual seria o próximo passo no império de hospitalida de de Sasuke Uchiha? Restauração completa do bar, incluindo a reaquisição do espaço original ao lado.
Considerando o histórico médico dos genes dos ho mens da família Uchiha, Sasuke percebeu que não tinha tempo a perder.
Piscou para um espécime particularmente adorável de cabelos negros como carvão e olhos cor de mel que eram promessa de bons momentos. Jasmine, ele pen sou, e lhe passou uma taça de vinho.
— Você está linda hoje. Por que não há uma fila de cinco caras querendo lhe pagar um drinque? — Não foi a cantada mais criativa do mundo, mas ele não es tava querendo cantá-la, só queria que ela gostasse do bar dele.
Sakura caminhou por trás dele e lhe deu um tapa no bumbum, e ele, que estava indo pegar um copo limpo, nem se deixou abalar.
— Não ligue para ela. Está loucamente apaixonada, mas continuo dizendo a ela que não.
Sakura murmurou algo incompreensível, provavel mente algum insulto, e foi trabalhar do outro lado. Depois que Jasmine foi embora vieram Amy do cosmopolitan, Lauren do daiquiri de banana, Rachel do kamikaze, Vicki do cosmopolitan e, por um breve mo mento, Todd do uísque Wild Turkey. As horas voaram, como sempre acontecia em noites agitadas, e Sasuke continuava como se não fosse nada.
Houve poucas intervenções, como sempre. Duas identidades falsas, um freguês que resolveu que Lindy precisava mostrar mais generosidade no decote e uma dupla de faz do Red Sox que não entendera que quan do se está em território dos Yankees é melhor calar a boca ou se entupir de cerveja. Previsível, mas jamais entediante.
No final das contas, deu meia-noite no relógio e o bar esvaziou um pouco, ficando menos caótico. Do canto do olho, Sasuke reparou em Cain dando uma nota de vinte para Itachi no fundo do bar, o que só podia significar uma coisa: havia uma nova aposta no quadro de avisos no andar de baixo.
Sasuke desceu até o porão onde ficavam, além do quadro de apostas, cozinha, escritório, almoxarifado e banheiros. Como era de se esperar, uma folha branca de papel estava pregada e desenhada com uma grade cheia de quadrados com números e letras. Não obstan te, nada que indicasse a aposta. Quando iriam apren der a apostar direito? Amadores.
Enquanto aproveitava a calmaria, Sasuke começou a empilhar engradados de cerveja e logo Cain desceu também, e acrescentou mais um quadrado à grade. Cain era tranqüilo e grandalhão, um bombeiro de Nova York que trabalhava de bartender no fim de semana para sobreviver. Todo mundo imagina que homens que arriscam as vidas entrando em edifícios em chamas ganham bem, mas não. Sasuke não se importava, pois julgava o homem pela rapidez em misturar um martini, e Cain era quase tão bom quanto Sakura. Quase.
— Qual é a aposta? — Ele o perguntou.
— Você não vai gostar de saber — disse Cain, colo cando um monte de copos na lava-louças.
— Vou, sim.
— Foi idéia do Itachi.
O que não era nada animador.
— Qual é a aposta?
— Quanto tempo você e Sakura vão levar.
— Dividindo apartamento?
— Para ir para a cama.
Sasuke sentiu uma pancada na cabeça, em nada dife rente de um soco real.
— Está brincando, não é?
Cain olhou para ele com o rosto inexpressivo.
— Não. Quer apostar?
Sasuke engoliu em seco. Havia mulheres com quem ele tinha ido para a cama, e outras com quem não tinha ido. Na própria cabeça, já havia co berto o corpo de Sakura com um hábito e um véu, afas tando qualquer pensamento suarento e penetrante para bem longe. Viera para Nova York ainda com as cica trizes do último relacionamento. Se você pensa que em quatro anos ela já havia se recuperado, pensou er rado. Sakura não era como as outras mulheres. Tinha objetivos definidos, um foco estranho e peculiar que dava à vida, foco este que excluía os homens, razão pela qual era a única mulher que ele cogitaria para dividir apartamento, e só por causa do hábito de freira e do véu de santa já mencionados. Não era nada difí cil manter as coisas platônicas quando se mora com a Madre Teresa.
Todavia, no momento passava de meia-noite e Sasuke já havia ganhado quatro calcinhas, 17 núme ros de telefone e diferentes propostas sexuais e, tudo bem, tinha de reconhecer, estava um pouco excitado. Sempre acontecia à medida que ia anoitecendo. Nada demais.
Sasuke cobriu Sakura mentalmente com o hábito de freira, ordenou ao volume na região pubiana que vol tasse ao normal e emplastrou o rosto com um sorriso sossegado.
— Vocês não falaram nada com Sakura, não é?
— Está brincando, não é? Ela até fez uma aposta.
Ah, Deus. O hábito de freira e o véu de santa foram caindo lentamente, mas Sasuke manteve aquele maldito sorriso no rosto.
— Pobrezinha, vou ter de decepcioná-la com cuida do. Quanto tempo ela achou que levaria?
— Dia 31 de fevereiro. Última aposta, logo aqui. — Cain apontou para o quadro onde a data 31/02 esta va desenhada caprichosamente com tinta preta.
— Ela disse isso?
— As palavras exatas dela não foram nada ambí guas, mas você tem ego frágil. Quer apostar? O prê mio está aumentando.
Sasuke continuou a empilhar os engradados com im pressionante energia comprimida.
— Não vou encorajar moralmente que façam jogos de azar em meu bar.
— E as apostas do Super Bowl, da Loucura de Mar ço, além daquela aposta de qual freguesa aumentaria os seios primeiro?
Aquele lapso de julgamento custou a Sasuke lindos duzentos dólares. E quem diria que os Yankees iriam se dar mal na última hora?
— Cale a boca, Cain.
— Tenho de subir. Lindy não pode dar conta do bar sozinha.
— Sakura já foi? Eu queria falar com ela antes disso.
Cain deu de ombros.
— O turno dela já terminou. Ela foi. Se você cor rer, talvez a alcance antes que ela chegue à estação do metrô.
Sasuke engoliu o palavrão que quase disse e saiu em direção à longa e solitária escuridão que era Manhat tan à meia-noite. O ar do lado de fora estava frio e revigorante e era delicioso depois de ficar enfiado no bar por tanto tempo.
Virando a esquina e descendo dois lances de esca da se chegava à estação, ocupada pelos fregueses de sempre. Um grupo de festeiros tentando voltar para Jersey. Um saxofonista medíocre tocando o que ele chamava de blues. Uma garotada voltando para casa. Um grupo de turistas estrangeiros tirando fotos. E sim, lá estava Sakura, sozinha, esperando o trem.
— Por que sempre faz isso? Você sabe que um de nós deve trazer você aqui.
— Desde que Giuliani passou a ser prefeito que eu não preciso mais de proteção para caminhar no escu ro. Além disso, tenho meu spray de pimenta. Eles sa bem que não podem comigo.
— Mesmo assim.
— Por que você veio aqui de verdade? — Ela per guntou a ele com bastante paciência. Esta era Sakura. Nunca descompensada. Ele a olhou bem, procurando algum tipo de fraqueza, mas não encontrou nenhu ma, o que por alguma razão sempre o surpreendia. Não que ela fosse dura. Ah, não. Sakura era toda deli cadeza e sorrisos, mas sempre se mantinha a alguns passos de distância do mundo masculino. Inclusive dele.
De toda forma, havia algo de estranhamente vulne rável na combinação dos cabelos cor-de-rosa maltrata dos que jamais viram um corte decente, as maçãs do rosto pronunciadas e afiadas. Como se ela fosse uma pintura semi-pronta ou uma ponte em construção.
Uma obra em progresso. Isso era Sakura também.
Os olhos verde-verão pareciam cansados, mas ela ficava mexendo os pés para frente e para trás, ainda cheia de energia, voltando para um apartamento que deveria ser entregue em cinco dias.
— Quero resolver os detalhes de uma vez antes de você ir para casa. Eu já combinei com Sai e ele vai me substituir na segunda-feira o dia inteiro, en tão acho que podemos ir. — Ele na verdade tinha ido lá para ver se ela estava desconcertada por causa da aposta, mas ela não parecia preocupada. Então se ela não estava preocupada, ele tampouco estaria.
— Você sabe que é temporário.
— Pelo tempo que você precisar. Eu não uso mesmo aquele quarto. Posso pôr tudo no depósito amanhã.
— Não ouse tocar em nada. Não vou ocupar espaço nenhum. Além do mais, é por pouco tempo. Não vou alterar seu estilo. Tudo o que me importa são meus es tudos, Sasuke. Deixei alguns anúncios no campus e na internet, então tomara que algo apareça logo e eu saia da sua cola. Três semanas, no máximo.
— Não importa quanto tempo você vai ficar. Você sabe disso.
— Sim, eu sei disso, e você é um doce de homem, mas preciso tomar conta de mim.
— Não sou um doce de homem, você sabe disso.
— Vai me deixar mudar sozinha, Sr. Amargo? Sasuke enfiou as mãos nos bolsos.
— O que tem de móveis?
— Uma cama de viúva, uma mesa de cabeceira e alguns livros — ela respondeu com um sorriso extre mamente doce.
— Ah, sim, vamos precisar de sete minutos para carregar tudo. Vou pegar o caminhão de Cain empres tado e chego lá às dez.
As luzes do trem apareceram no túnel e ela ficou na ponta dos pés, plantando-lhe um beijo amigável na bochecha.
— Você é mesmo um doce de homem.
— Não sou um doce de homem. Sakura apontou para os trilhos.
— Olhe, aquela velhinha... Está sendo assaltada! Sasuke começou a correr, mas a gargalhada de Sakura o fez parar no meio do caminho.
— Enganei você!
Ele caminhou de volta e lhe deu um tapa no braço.
— Eu ia limpar o lugar para você, mas agora não vou mais.
As portas do trem se abriram e ela acenou antes de entrar.
Sasuke não se deu ao trabalho de retribuir o aceno.
Doce de homem uma ova.
