Não achem ridículo. Simplesmente estou tentando escrever :D

- Como? Me mudar? Tá brincando. Fala sério pai, eu não saio de Seattle nem que me façam arrancar os cabelos, minha vida é aqui pai! - Ele não podia estar fazendo isso comigo. Justo hoje que eu tinha feito prova de física e das grandes, daquelas em que o professor soca o zero na sua cara. Era o fim, ou o começo da tragédia, como preferir...

- Não temos como discutir isso Catty. Você sabe que como eu trabalho com banco eu teria que me mudar de qualquer jeito, e como se acostumou aqui vai se acostumar lá também. Então não vamos discutir mais e, por favor, arrume suas coisas o mais rápido possível, quero que semana que vem estar no avião indo para lá. Agora vou trabalhar a gente conversa mais a noite.

E bateu a porta. Assim sem explicação, simplesmente foi trabalha e levando minha vida embora em apenas dois minutos. Acho que foi por isso que minha mãe separou dele dois meses atrás, na verdade ele tem vários defeitos, mas acho que esse é o pior. Ele me avisou que a gente ia viajar com UMA SEMANA PRA ME ARRUMAR! Eu realmente to sem palavras, essa superou todas as expectativas...

Tudo por causa da minha mãezinha linda. Ah, que raiva!

Mas está muito na cara o que ela queria. Ela não quer ficar com um pobre desempregado, é isso. Meu pai foi quase despedido do banco sem motivo e começou a ganhar menos, e a dona Fiona não quis ficar com o meu pai e foi morar com o amante dela pelo que ficamos sabendo recentemente pela minha tia que foi autorizada a contar como ela estava vivendo agora. Papai parecia que já sabia que ela estava tendo outro, pois não demonstrou nenhuma reação sobre o caso de minha mãe com outro, já eu foi totalmente diferente. Dei um sermão na minha mãe falando de como o pai fez tudo pela gente e ela ainda aprontava uma dessa com ele, ele que alimentou ela, vestiu ela e você viu como ela agradeceu tudo isso? Ficando com o amante dela.

Hoje, o bancário Fredderic estava tendo um ataque, porque ele falou que a gente vai se mudar e num tom grosso demais para o meu gosto, para um pai na verdade. Tudo por causa daquela lá. Mas e agora como vou viver sem a Jéssica? Ela é tudo. Sabe como é... melhor amiga. Ou melhor, única amiga. Só porque minha mãe tem outro cara as pessoas começaram a me encarar e me achar estranha como se eu tivesse meleca por todo corpo, mas tipo ela é a minha mãe e eu não sou ela - graças. Na verdade eu sou bem diferente dela em muitos aspectos, principalmente nesse, e a única que notou que eu não tenho nada a ver com ela foi a Jé. A gente sempre foi amiga desde o pré, meu pai deve estar brincando não é possível, eu vou ter uma conversa muito séria com ele hoje a noite e se ele decidir em mudar mesmo, acho que eu vou morar com a Jé. Não posso ter minha casa própria, porque não sou maior de idade, mas eu sei muito bem me virar sozinha, tudo por causa da minha mãe dedicada que nunca estava do meu lado quando eu precisava, só pegando o dinheiro e indo gastar em toda a loja existente em Seattle.

Tem tarefa. Vou fazer e deixar tudo pronto para amanhã, afinal eu tenho uma batalha hoje à noite.

- Ah, brinco! Não vou mesmo. - Finquei pé. - É do outro lado do país... Como você quer que eu fique tranqüila? – Ele conseguiu me tirar do sério, mesmo. Se eu não estou surtando ainda daqui a pouco eu vou estar.

- Se você parar de gritar eu acho que posso falar.

Ele estava calmo. Como ele pode estar calmo?

- Fala então, to esperando.

Ele se sentou e fez um gesto para eu sentar na cama. Esparramei-me, mas com postura, não queria demonstrar nenhum tipo de debilidade perto do meu pai. Principalmente agora.

- Tenho uma sugestão para você. Sua prima Thabita está mudando para uma cidadezinha aqui perto de Seattle, Rainier não é uma cidade que possa se dizer 'caramba que cidade', mas ela é perto de Seattle e como sei que você não vai deixar de vir aqui eu pensei que poderia ficar com a sua prima. O que você acha?

Isso sim é notícia boa e direta. Thabita é uma pessoa razoável, da para conviver com ela apesar de que pouco nos vimos nos últimos... cinco anos. A última vez que a vi, ela estava indo embora de Seattle e a vi uns 5 minutos antes de sair, então não me lembro como ela é. Não muito. Sei que é morena, alta e bonita. Vai ser um inferno se um monte de menino for perseguir ela na casa em Rainier, mas acho que isso não vai acontecer. A cidade parece que é um ovinho de páscoa, nem sei se chega a ter 5 mil habitantes.

A verdade é que eu iria gostar e muito. Sem pai nem mãe só eu e minha prima – que espero não dar muito trabalho no futuro – fora o negócio dos meninos e ter que vir pra Seattle a cada semana para comprar alguma coisa – o que era tudo o que eu queria – estava ótimo. Perfeito. Comecei a falar esperando que eu não estivesse equivocada em alguma parte do meu raciocínio rápido, tudo o que eu queria é que desse certo essa minha nova vida.

- Até que não seria nada mal. Já falou com ela, sobre mim?

Ele pensou por um segundo e logo olhou para mim preocupado.

- Não queria deixar você sem mim. Sua prima tem 24 anos, está fazendo cursos em Seattle e iria te deixar sozinha na casa durante o dia. E não sei se ela tem uma cabeça muito boa para cuidar de alguém então você teria que se arranjar sozinha e ter uma vida com sua prima a partir de agora, porque eu não sei quando vou poder voltar e vou estar muito longe para vir ver se você está bem. Tem certeza que não quer mudar comigo?

Sei que meu pai não se importa que eu vá junto, ele e Fiona nunca foram muito para serem pais, e ele não se incomodaria em me deixar com Thabita. Ele sabe que eu me viro, afinal eu me virei todos esses anos.

- Pai, sei que agora vai começar tudo novo para você e não sei se me encaixaria com você em outra cidade grande. Tudo o que sei está aqui, e para me virar em Dallas iria ser um grande sufoco então eu acho que poderia ficar com ela, sem nenhum problema. Além disso, está pertinho de Seattle, e eu não perderia essa oportunidade de ficar aqui por nada desse mundo.

Vi um clarão nos olhos dele. Parece que eu fiz um favor a ele, e se ele se sentia assim não voltaria atrás.

- Se é assim que você quer... Não tenho porque falar não. Só o que vou sentir é saudade. Venha aqui.

Ele me abraçou como nunca tinha feito antes, e sei que ele vai sentir saudade como eu também vou. Apesar de tudo o que ele e Fiona tem feito como pais não tenha sido muito bom, sempre estava presente para cuidar deles e tentar ser imparcial para não dificultar a vida dos dois e eles sempre me admiraram nessa parte. Meu pai sempre foi o mais decente, aquela lá não merece nada, nem mesmo algum tipo de sentimento. Mas Fredderic era um pai sem instrução, só isso. Depois de um tempo aprendi a gostar dele, eu realmente iria sentir saudade.

- Vamos comer antes que esfrie.

E daqui uma semana eu estaria longe de meu pai e começar tudo de novo, mas com uma diferença. Era minha prima que teria que me agüentar.

O resto da semana foi de despedidas. Jéssica veio na minha casa um dia da semana e dormiu aqui para relembrar os velhos tempos, nós não iríamos ficar longe em distancia, mas não ver uma pessoa que você esta acostumada a ver todos os dias é bem diferente. Todos os sábados eu pretendia ir a Seattle visitar ela e fazer compras, porque Rainier era realmente pequena.

Pesquisei um pouco na internet a cidade e eu percebi o quanto ela é pequena, mas com isso eu não me importava muito, tinha gente demais em Seattle e mudar para uma com menos poluição e pessoas ia ser muito melhor para mim e também uma grande mudança. A cidade tinha uns 4 mil habitantes e tinha só uma High School e uma escola para as crianças pequenas, o resto era um supermercado e lojas de roupas tinha umas duas. Iria adorar ver a cara de Fiona quando souber que eu me mudei para uma cidade que só tem duas lojas de roupas.

No dia da viagem para Rainier levantei me arrastando pelo quarto e indo para o banheiro, iria ser um sábado lotado. Fredderic ia viajar hoje também, lá para o Texas. Abri o chuveiro e me perguntei como toda essa loucura de mudar começou, não devia ter acontecido nada disso e eu já estava esgotada de ter que arrumar tudo. Meu quarto estava vazio, porque nós iríamos deixar a casa para um amigo de meu pai e o filho dele não iria querer nada de uma menina não acha? Peguei minhas cortinas, minha cama, minha escrivaninha e já mandei tudo por um caminhão para a casa da minha priminha que não ligou para mim nenhuma vez, só falou com meu pai todo esse tempo. Talvez ela quisesse se apresentar pessoalmente. Faz tanto tempo e não sei como ela vai agir ao me ver.

Depois do banho desci as escadas e meu pai estava com tudo pronto no carro que iria ficar com minha prima pelo menos o tempo que ele ficar fora. Tinha acabado de colocar a última bolsa no porta-malas e foi até onde eu estava.

- Bom dia.

Meu sorriso saiu meio deformado, mas eu tentei parecer feliz. Ele também fez um sorriso como o meu e apontou a cozinha, eu coloquei na mesa o café da manhã e comemos em um triste silêncio de despedida.

Eu me troquei rápido, colocando uma blusa de mangas compridas e um casaco, porque estava meio frio e fiquei esperando meu pai fechar a casa e entrar no carro. Coloquei um CD que eu gostava e fomos até o aeroporto esperar minha prima que logo estaria chegando e para ver meu pai partir.

Depois de uns dez minutos avisto um ponto no meio de todo o branco do aeroporto correndo em minha direção, era a Jé.

- Achei que não iria dar tempo de vir e me despedir de você batuta. – não me pergunte da onde ela tirou esse apelido, simplesmente pegou. Acho que é porque eu sou um palito e meu cabelo curto e castanho claro era como se fosse a ponta de uma batuta. Criatividade para ela é o que não falta. – Vou ficar com muita saudade sua e não se esqueça de me ligar se não eu tenho um treco.

Abraçamos-nos até não pudermos mais. Ela também deu um tchau de despedida para meu pai e ficamos conversando um tempão enquanto minha prima e o avião não chegavam.

Duas horas depois, o avião de meu pai chegou.

- Thabita ainda não apareceu, e ela devia estar aqui há duas horas. Vou deixar vocês duas aqui conversando sozinhas?

Ele estava meio bravo e então eu o acalmei. Bom eu tentei, e as últimas palavras fizeram que a tentativa se tornasse um sucesso.

- Ela deve estar ocupada e você tem que ir antes que o avião vá sem você. Te amo, pai.

Depois que eu falei isso, ele se virou para mim com ternura e me deu um último abraço, e foi para o avião que iria partir para o Texas. Jéssica estava quase chorando do meu lado, mas eu conti minhas lágrimas que estavam prestes a transbordar. Ouvi um celular tocando e era o de Jé, ela atendeu e se virou para mim com um olhar de desculpas.

- Não posso ficar minha mãe está me esperando no carro. Desculpa, queria muito ficar aqui com você, mas não vai dar. Tchau batuta. Até sábado.

Balancei a cabeça em um aceno e vi-a partir correndo. Aonde estaria a minha prima que não chegou até agora? Tinha problema com horários. Isso era evidente, devia ter perdido o ônibus e pegado outro ou alguma coisa do tipo. Para ficar mais fácil fui até a porta de saída do aeroporto esperar ela.

De repente a vejo, mas não como uma prima comum do jeito que todos esperam ter uma prima. Com certeza iríamos ter problemas com homens.