Herói
- Mamãe, conta uma história?
Ginny Potter estava colocando a sua filha, Lily, para dormir. Já era tarde (culpa do James, que escondeu a coruja de pelúcia do Al, e só devolveu depois que o menor correu umas três vezes atrás dele pela casa inteira e depois de muitos gritos da mãe) e ela estava bastante cansada.
- Por favor, por favor, por favor! Ontem você não contou...
- Contei sim, Lily.
- Mas foi o James que escolheu e só tinha monstros na história!Eu não gosto de monstros. Ah, por favor, mamãe...
Ginny suspirou. O que ela não faria pelos filhos dela?
- Tudo bem. Mas uma história rápida. Qual a que você quer?
- Como que você e papai se conheceram?
Normalmente, Lily pedia para que a Ginny contasse fábulas bruxas, ou até mesmo trouxas (influência da Tia Hermione) para ela. Ela nunca havia perguntado nada sobre ela e o Harry...
- Tia Hermione contou para o Hugo que ela e o Tio Ron se encontraram no trem indo para Hogwarts.
Ginny observou a filha. Lily estava segurando o cobertor, sem olhar para ela. Na verdade, ela não sabia o que responder.
- A primeira vez que eu encontrei o seu pai foi também na primeira viagem dele a Hogwarts. Como eu era um ano mais nova, eu só fui acompanhar os seus tios à estação e...
- Você falou com ele, mamãe?
- Não. Na verdade, sua avó Molly o ajudou a passar pela barreira, mas a gente nem sabia quem ele era. Só quando ele estava no trem que descobrimos.
Ginny não pode deixar de se lembrar de sua versão pequena dizendo "Ah, mamãe, posso subir no trem para ver ele, mamãe, ah, por favor..."
- Ele estava sozinho, mamãe?
- Sim, o tio dele o deixou na estação e foi embora.
Lily parecia pensativa.
- Mas por que a Tia Hermione logo conversou com o Tio Ron, mamãe?
- Lily, eles e o seu pai foram para Hogwarts no mesmo ano. Foi mais fácil assim de eles se conhecerem.
- Na sua história também tem trasgos, mamãe? Segundo o Hugo, na dos pais dele tem...
Ginny ficou olhando para Lily por alguns segundos, antes de decidir o que iria falar.
- Não, mas na nossa tem um Basilisco... Serve?
- O que é um Balisisco, mamãe?
- Basilisco, Lily. E você não gosta de monstros.
- Ah, por favor, conta mamãe, conta, conta!
- Essa história fica para depois querida. Já passou da hora de princesas irem para a cama.
- Eu vou perguntar pra Tia Hermione o que é um ba...basi...Basilisco!
Ginny apenas pegou o Unicórnio de Lily e colocou ao lado da menina, dando um beijo na testa dela.
- Bons sonhos, Lily.
E saiu do quarto, apagando a luz.
---
Quando Ginny chegou à cozinha para pegar um pouco de suco, percebeu que Harry já havia chegado a casa. Ele estava preparando um sanduíche.
- Lily te pediu para contar uma história, novamente?
- Sim. Como a linda princesa Ginny encontrou pela primeira vez o príncipe de olhos verdes Harry.
Harry, que tinha acabado de dar uma mordida no sanduíche, engasgou.
- E o que você disse?
- A verdade. Você só precisa se preocupar quando ela crescer um pouco mais e perguntar como que nós ficamos juntos.
- Por quê?
- Porque eu vou ter que quebrar a idéia de príncipe perfeito que ela tem sobre você, e contar como o pai dela pode ser... Han... Meio lerdo.
- Ginny, eu não sou lerdo e...
Ginny apenas arqueou uma sobrancelha.
- Sério. Afinal, quem foi que te beijou na frente do Salão Comunal da Grifinória cheio, inclusive com o seu irmão lá?
- Depois que eu contar toda a história para ela, vamos ver o que ela acha.
- Ela vai concordar comigo, tenho certeza.
- Ah, e se a Lily te perguntar alguma coisa sobre Basilisco, não responda, certo?
- GINNY! O que você andou contando para ela?
- Nada demais.
Quando Ginny estava se preparando para ir dormir, não pode deixar de pensar em algo que aconteceu há bastante tempo atrás...
---
- Papai, conta uma história?
- Ginny, sua mãe disse...
- Ah por favor, por favor, por favor! Só umazinha...
- Certo. Você pode escolher qual é a história de hoje.
- Papai, eu quero que você me conte a história do Harry Potter!
- Mas Ginny, você sabe a história de cor! É até provável que você saiba os detalhes melhores do que eu...
Ginny ignorou o que o pai disse e continuou a falar.
- É verdade que ele tem olhos verdes iguais ao da mamãe dele?
- Sim, ele tem. E no resto, é igualzinho ao pai.
- Qual o nome da mamãe dele?
- Lily. Lily Potter.
- Lily é um bonito nome papai. E rima com Ginny!
Arthur não conseguiu repreender o riso.
- E ela também é ruiva, que nem você.
- Mas o Harry não é ruivo. Harry tem cabelos pretos que são parecidos com um quadro.
- Quadro?
- É, aqueles quadros de aula, que tem em umas gravuras que a mamãe me mostrou.
Era impressionante como que a Ginny gostava tanto de conversar sobre um garoto – ou melhor, o herói não só dela, mas como de todo o mundo bruxo – sem nem ao menos conhecê-lo.
- Quando você se casar com Harry Potter –Arthur falou brincando – você poderá colocar o nome da filha de vocês de Lily.
Ginny cruzou os braços.
- Você pode estar falando isso brincando, papai, mas saiba que eu um dia vou me casar com o Harry Potter!
Arthur cobriu a filha com a colcha e resolveu ficar em silêncio. Ele não gostava quando a filha falava sério assim, mesmo sendo sonhos de uma criança.
- Papai, onde que o Harry está agora?
- Isso poucos sabem.
- Se eu desejar alguma coisa pra ele, ele vai saber?
- Provavelmente sim. Mesmo que seja só indiretamente.
- Espero que ele esteja dormindo em um quarto bem bonito, numa cama quentinha que nem a minha.
Arthur sorriu.
- Ele vai entrar um ano antes que você em Hogwarts, sabia? Ele vai ser do mesmo ano que o Ron.
- É mesmo? Eu não havia pensado nisso! Vou falar com ele!
Ginny já ia levantando da cama, quando Arthur a segurou.
- Nada disso, princesa. Ron já está dormindo. Você pode falar com ele amanhã.
Arthur pegou o Unicórnio de Ginny e colocou ao lado da menina, dando um beijo na testa dela.
- Bons sonhos, Ginny.
E saiu do quarto, apagando a luz.
---
Quando Harry deitou na cama ao lado dela, Ginny imediatamente aproximou-se dele e fechou os olhos. Ela sabia que não tinha casado com o seu herói de infância. Ela não havia se casado com o famoso Menino-que-Sobreviveu.
E sim, ela tinha casado com Harry Potter. Harry com todos os seus defeitos e com todas as suas qualidades. Com seus medos, suas fragilidades e com seus problemas. Com toda a sua coragem, seu amor e sua dedicação.
Ginny havia simplesmente se casado com o seu herói de todos os dias. Quem precisa de um herói perfeito, mesmo?
Notas da autora: Essa foi apenas uma pequena homenagem à família Weasley-Potter. Comentários são bem vindos! Agradecimentos mais do que especiais para a Nanda, por todo o apoio!
