Capítulo I
Quando nos formamos em psicologia, ouvimos muitos casos, muitas histórias, algumas histórias de uma vida outras apenas coisas passageiras. Vemos crianças com medo do escuro, adolescentes querendo conselhos sobre os namorados, idosos que chegam só pela companhia e pelo sorriso. Algures em meu passado como psicologo, houve um senhor que vinha só pelo café e sorrisos de Alice, a rececionista do consultório.
Mas existem sempre histórias piores e pessoas que marcam... foi assim com Isabella.
- Bom dia, Alice – cumprimentei sorrindo.
- Dr. Cullen, preciso que assine esses papéis – pediu apontando onde eu deveria assinar – Ah, e sabe aquela senhora que não consegue engravidar?
- Rose? – perguntei levantando o olhar para Alice.
- Então, ela desmarcou, explicou que tem consulta com um obstetra, acho que vai marcar a FIV logo, logo.
Sorri. Rose definitivamente merecia uma criança, mas nunca conseguiu, isso levou a depressões atrás de depressões. Estava se consultando comigo fazia mais de 5 meses. Eu gostava dela, era simpática, timida, quieta no canto dela. Não demorou para falar sobre seus problemas, o que facilitou em muito meu trabalho.
- Pode ser, Dr.? – perguntou Alice.
- Desculpe, o que disse? – pedi voltando à Terra.
- Marquei um dos pacientes da fila de espera no lugar da Rose, tudo bem?
- Sim, lógico que sim – disse sorrindo enquanto fui caminando até meu gabinete.
Hoje seria um dia calmo, sextas sempre são assim, pouca gente entrando e saindo, principalmente logo pela manhã.
Liguei o computador e reli os casos para hoje antes de almoço:
Jasper Whitlock era o primeiro, eu gostava dele, gostava mesmo, era muito calmo, extremamente calmo às vezes. No ínicio os pais pensavam que houvesse alguma coisa psicologica que o estivesse afetando para que fosse tão calmo, mas a verdade é que Jasper sofria de maus tratos na escola desde os 9 anos e nunca tinha dito a ninguém.
Tanya Denali. Aí está alguém que não gosto de atender. É só mais uma pirralha mimada que não sabe o que fazer com tanto dinheiro. Consultar um psicologo foi só uma manobra de chamar atenção dos pais.
Jacob Black. Se juntarmos esse e Tanya numa picadora e picarmos bem, o resultado não dá para fazer nem meia pessoa decente. Jogador de futebol, menino rico e com um grande atraso mental... não, a mente dele está toda funcional, ele só não é muito inteligente. A orientadora da escola o obrigou a frequentar um psicologo graças a seu mau comportamento.
Emmett McCarty. Sofre de Síndrome de Supermasculinidade, o que faz com que seja, por natureza, uma pessoa agressiva. No entanto, essa condição pode ser modificada se a pessoa aprender a se controlar. E era isso que eu e Emmett estavamos fazendo nos últimos meses.
Isabella Swan. A garota nova que vinha no lugar de Rose. Pelo histórico, Isabella tinha 23 anos e o motivo da consulta era um trauma de infância.
Traumas de Infância são muitas vezes os mais complicados e eu soube que o de Isabella era complicado assim que nossa primeira consulta começou.
Ela entrou na minha sala olhando o chão e assim permanceu durante toda a consulta. Nunca disse uma única palavra. Não tirou os óculos de sol. Ficou sentada e encolhida o tempo todo. Na hora de sair, ela simplesmente se levantou, abriu a porta e foi.
Em 3 anos de profissão, eu nunca tinha visto algo assim. Pessoas choravam, outras contavam coisas que não importavam, sempre fugindo do assunto, havia quem não falasse, mas acenasse que sim ou não com a cabeça, mas nunca, nunca houve alguém que se isolasse e me ignorasse por 1h inteira.
Então nunca esperei que voltasse... até um dia, 3 meses depois.
- Dr. Cullen – chamou Alice, batendo na porta para chamar minha atenção – Posso mandar entrar a próxima paciente?
Olhei confuso entre Alice e meu computador, não havia mais ninguém hoje.
- Ela acabou de chegar, eu sei que deveria ter avisado, mas acho que vai querer atendê-la – disse já saindo.
Quando Isabella entrou, tal como tinha entrado há 3 meses atrás, eu não falei. Esperei que se sentasse e me preparei para mais 1h de silêncio.
Vi quando se remexeu na cadeira, quando entrelaçou as mãos e brincou com seus dedos. Alguns minutos mais tarde levou seus joelhos acima e os abraçou com força e... fungou, devagar, quase impercetivel. Eu quis perguntar o que aconteceu. Quis dizer que estava tudo bem, mas então Isabella falou.
- Ele... ele me... bateu – confessou devagar.
Me levantei e caminhei até perto dela, mas Isabella se encolheu ainda mais e eu recuei.
- Tudo bem, eu não vou te fazer mal.
- Você não pode contar isso a ninguém, eu sei que não pode. Qualquer coisa como seu estatuto profissional, se contar eu não volt...
- Eu não vou contar, pode falar – a descansei.
Fungou de novo. Houve um soluço. Silêncio.
- Ele me bateu – repetiu – Antes de morrer.
- Isabella, quem bateu em você? – perguntei enquanto me sentava no chão, encostado à secretária.
- Ele me bateu algumas vezes e... – Então Isabella levantou a cabeça e olhou para mim, seus olhos inchados e vermelhos de tanto chorar.
- Ele tentou algo mais com você? – perguntei.
- Ele... fez, muitas vezes – confessou soluçando ao mesmo tempo – Até que... ele... ele... não sei o que foi, mas ele... até que...
- Tudo bem, Isabella, podemos parar aqui se não quiser contar mais, se não estiver prep...
- Ele levou um amigo com ele, foi muito pior dessa vez. Eles me magoaram... muito. Me humilharam. Esse amigo não foi o único, ele levou mais. E ela nunca quis saber, não ligou, deixou que ele fizesse. Ela tinha medo também. Ele fez isso com ela... sim, ele fez – Isabella falava muito rápido agora e olhava fixamente um ponto na parede – Mas então eles morreram e eu fiquei sozinha, mas tudo estava bem... eu estava sozinha, mas estava bem... sim, tudo bem, melhor... mas ele apareceu... mas não... não... ele apareceu, mas não sabe... não pode saber...
A uma altura o discurso de Isabella deixou de fazer sentido e o choro parou. Então ela se calou, voltou a olhar o chão e esperou até ser hora de sair e saiu, sem dizer mais nada.
Então, essa é a minha primeira fic com toda essa carga dramática. E é beeem complexa. Então, dependendo da resposta das leitoras, eu vou ou não continuar. Ideias eu tenho... muuuuitas, mas escrever para ninguém não faz sentido.
Beijo!
DayDreeamer
