- Kakashi-sensei. - Naruto chamou com a voz morosa de quem havia percorrido uma longa distância em um curto espaço de tempo.
- Sim? - o professor falou mas, ao contrário do aluno, não demonstrava tédio na voz embargada pela eterna máscara que usava na parte inferior do rosto. Tampouco retirara os olhos de "Icha Icha Paradise". Havia chegado numa cena interessante onde a protagonista mudava de posição e sentava sobre o.
- Kakashi-sensei? - chamou novamente.
- Ahn? O que foi Naruto? - voltou-se para o aluno, para evitar perder-se novamente na leitura prazerosa.
O loiro suspirou, inflou o peito e repetiu a pergunta que fizera ao mestre desatencioso.
- Não estamos perdidos de novo?
Agora foi a vez do homem suspirar ante a pergunta. Era a décima vez que ouvia aquilo.
- Não estamos perdidos. - respondeu enfim.
O loiro pôs-se a observar a água sob os pés, resignado.
Um minuto de silêncio.
- Kakashi-sensei... - era Sakura, aborrecida, quem chamava.
- Não estamos perdidos.
Um minuto de silêncio.
- ... - Sasuke.
- Não estamos perdidos.
Um minuto de silêncio.
E outro.
E mais outro.
E mais um ainda.
- KAK-
- Olhem! - Sakura apontou à frente, interrompendo a bravata de Naruto.
Por trás de brumas não muito distantes, erguia-se a silhueta de uma pequena cidade portuária. Enquanto Sasuke permanecia indiferente, a animada dupla de genins voltou-se esperançosa para Hatake. Este coçou a cabeça desinteressadamente e retirou um pequeno mapa desenhado a mão das páginas de Paradise.
- Hum - olhou o mapa. Olhou a cidade. Olhou o mapa. Olhou a cidade.
- E então, sensei? - falaram em uníssono Sakura e Naruto.
O jounin riu breve diante da cena. Então, sorriu vendo os dois ansiosos pela resposta afirmativa.
- Sakura - "Sim?", ela respondeu com os olhos mais brilhantes que nunca- e Naruto - "Sim? Sim? Sim?", o ninja estava mais vibrante que o normal -, sinto muito, não é essa a cidade.
Os dois jovens murcharam carrancudos. Kakashi levou a mão ao queixo pensativo.
- Estranho, já deveríamos ter chegado. Não pode estar muito longe.
- Está virado. - Sasuke falou, braços cruzados e olhos fechados, com sua convicção característica, atraindo atenção de todos para si. - O mapa está de cabeça para baixo.
Os três lentamente voltaram o olhar para o mapa.
- Hahahaha - inverteu a carta. Passou o braço por trás da cabeça, esfregando-a, embaraçado - Que coisa... - olhou os rostos continuavam a encará-lo furiosos. - Foram os gatos pretos, eles sempre fazem, eles têm um plano secreto de dominar o mundo e... - a tática de usar os gatos pretos como desculpa não funcionara. Então... - Sakura! Naruto! Tenho uma boa notícia! Chegamos! - falou no tom mais alegre e empolgado que conseguira.
Uma veia saltou na testa de cada um e ambos socaram o sensei que afundou no mar.
Naruto - Cidade de Blair
Capítulo 1: A chegada a Blair
Chegaram a praia de Blair. À frente do litoral, espremiam-se casebres barrocos de madeira apodrecida. Alguns em pedaços, curvados diante do tempo. O ar frio litorâneo castigava-lhes os pés e arranhava suas pernas embora agora fosse em torno de meio-dia.
- Que cheiro! - a garota do grupo levou as mãos ao nariz.
- Parece ovo podre. - Naruto fez uma careta.
Um forte odor de enxofre saturava o ar.
- Vamos em frente. - o mais velho tomou a frente do grupo.
Avançaram pelo cenário atemporal, em busca de chão firme. Trezentos metros adiante, suas pernas ganhavam o piso, ainda mais gelado, de Blair.
O fedor continuava, maculava cada esquina, adulterava cada ruela mal iluminada, permeava cada lasca de pedra no caminho, a ponto de repugnar os visitantes e causar-lhes tonturas. Notaram, entretanto, que a névoa dissipava-se em direção as profundezas do lugar. Era como se temesse algo, ou alguma coisa, ali. Lentamente, o olfato dos quatro assimilava o cheiro, diminuindo as náuseas.
- Não há ninguém nas ruas. - observou Sakura, olhando ao redor.
- Tomem cuidado. - o mestre preveniu, enquanto espiava com seus olhos de águia qualquer sinal de perigo nos raros tufos de grama morta ou nos antigos tijolos emporcalhados de líquenes.
"O que eles fazem aqui?" - um sussurro quase inaudível.
- Hum? - Hatake.
- O que foi Kakashi-sensei? - Naruto perguntou inocentemente.
- Não é nada. - respondeu - Tive a impressão de ter ouvido alguma coisa.
"Isso é coisa do vovô" - um chiado ao vento.
Súbito, para surpresa dos outros genins, Sasuke, sacou uma kunai e arremessou a sudeste de onde estava, contra o vento. A arma cravou no parapeito de uma choupana inacabada.
- Se não sair daí, garanto que não errarei a próxima.
Todos viraram-se para a choça, preparados para o combate. Quatro vultos saíram vagarosamente de trás dela.
- Gaara - Sasuke anunciou.
- Kankurou - Naruto prosseguiu.
- Temari - Sakura finalizou.
- Shinobis de Areia. - Kakashi adicionou.
O ruivo parou impassível diante do quarteto. O mestre títere sorriu debochado e discretamente. A loira fitou-os com seus olhos rudes e absolutos.
- O que a Folha faz por aqui? - Kankurou perguntou - Era exatamente isso que íamos perguntar. O que fazem aqui? - Sasuke encarou-os.
O ventríloquo de Areia fez menção de reclamar, mas Temari cortou-o antes.
- Uma missão Rank A. E vocês?
Os quatro surpreenderam-se.
- Uma missão Rank D... - o loiro comentou.
Kankurou piou desprezível. Naruto desviou o olhar, envergonhado. Nunca o time Kakashi tinha recebido uma missão desse nível A. Havia um abismo de diferença entre os dois grupos.
Em seguida, enfureceu-se com a situação. Aquilo não significava nada, e um dia ele seria o Hokage!
- EU-
- Quem é o amigo de vocês? - o Copy Ninja interveio, cortando a animosidade. Indicava o lugar de onde o trio do País do Vento havia surgido.
- Hey - Kankurou chamou, ou reclamou, ou os dois. - pode sair daí.
Um garoto espiava receoso na parte posterior do casebre, próximo ao parapeito. Apenas a metade direita do seu pálido rosto era visível. Demorou-se alguns segundos para abandonar o esconderijo e ir juntar-se ao grupo. Era alvo como a neve, franzino, possuía cabelos e olhos de um preto difícil de manter na memória e não aparentava ter mais de oito invernos.
- Vocês são os ninjas de Konoha? - aproximou-se, taciturno e albino.
- Sim - Hatake respondeu.
Os olhos do garoto brilharam. Não parecia a mesma pessoa.
- Venha, venham, o vovô está esperando! - correu à frente, passando entre Sasuke e Sakura, saltitando vivaz pelos caixotes posteriores à eles.
O quarteto entreolhou.
- Ele é assim mesmo. - Kankurou deu de ombros - Vamos para a igreja.
A igreja ficava no centro da cidade. Era o lugar mais alto - e profundo - de Blair (embora isso não quisesse dizer muito), ladeada por vivendas feitas de madeira semelhante a das casas beira-mar. Outrora imponente, hoje era um lugar pouco mais que insignificante. Cada vez mais as almas rareavam nos cultos dominicais.
- Vovôôôôôôôôôôô, 'eles' chegaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaram. - o garoto entrava na catedral.
Um senhor ergueu o olhar de cima de antigos textos episcopais. Deveria ter quase um século de existência - tanto os escritos quanto o homem - e dava a impressão de estar prestes a sucumbir diante do peso da idade. Apesar de mais corado, portava traços que inegavelmente remetiam ao pequeno albino. Trajava uma batina surrada e desbotada, rasgada perto da perna esquerda, que trazia o emblema de Blair na área do coração.
-"Eles já chegaram"? - ajeitou os minúsculos óculos de tartaruga - Você os trouxe aqui faz uns minutos.
- Não esses 'eles' - o menino revirou os olhos e deu um tapa na testa - tô falando dos 'eles' da Folha.
O velho ficou surpreso. Ia perguntar algo, mas foi interrompido pelo barulho de vitrais sendo quebrados. Instintivamente, a dupla olhou na direção do som.
Dois Narutos saltaram por janelas laterais - uma oposta à outra-, colocaram as mãos sobre a bancada mais próxima e, girando os corpos, projetaram-se para a frente, a centímetros um do outro. Um terceiro saltou do segundo andar da igreja enquanto os dois primeiros davam-se as mãos. Pousou confiante com pés nos elos da corrente humana, formando um triângulo vertical.
- Eu sou Naruto - o mais perto do teto falou -, Ninja de Konoha! - cruzou os braços irreverente.
"Eles devem ter ficado impressionados, hihihihi" - pensou enquanto olhava a dupla boquiaberta. - "Nem conseguem pensar em palavras para dizer o quanto sou extraordinário"
O pároco levou o óculos às mangas. Esfregou-o bem. Não deveria estar enxergando bem. Não tinha palavras para expressar o que tinha visto. Colocou-o novamente.
- Você... você é... - começou a falar, a surpresa esvaecendo.
- Incrível? Forte? Maravilhoso? - Uzumaki tremia de antecipação. A sua apresentação emocionara o velho.
- Um delinqüente! Me deve três janelas!
Os kagebushins desapareceram em fumaça e o loiro, surpreso, caiu no chão, de bunda. Levantou-se desanimado, esfregando a poupança.
- Eu avisei. - Sasuke comentava no segundo andar. Estava sentado no resguardo do mesmo; os braços cruzados e os olhos fechados, numa eterna postura de desgosto.
- E q-quem é você? - o idoso pediu.
- Sasuke - abriu os olhos decididos - da Folha.
- ... - o velho calara-se, perplexo, ante a presença que aquele jovem impunha aos outros.
- Cool. Quero ser ele quando crescer. - o albino falou, maravilhado.
- ... Eu te odeio Sasuke - Naruto resmungou defronte as reações similares de avô e neto.
As portas da catedral abriram-se repentinamente. Eram Haruno e Hatake. Este vinha a passos vagarosos, com as mãos nos bolsos da calça, enquanto aquela caminhava inquieta. Sasuke juntou-se aos dois em um pulo. O vigário veio ter com eles.
- Bem vindos a Blair - estendeu a mão. - Sou o padre Athos.
- Hatake Kakashi - apertou a mão do sacerdote. - e estes são Sakura, Sasuke e Naruto. O que a Areia faz aqui? - resolveu abreviar as cordialidades.
O prior puxou um lenço na vestimenta para afagar o rosto. Sentiu um súbito calor subir para o rosto.
- Bem, como devem saber, vocês estão atrasados, esperáv-
- Contrataram a Areia. - Kakashi encurtou a conversa.
- Bem - agora passava o pano pela testa - sim.
- Hum - o experiente shinobi levou os dedos ao queixo, pensativo.
- Mas a missão deles é A! - Sakura interveio - A nossa era D. Não pode ser para o mesmo assunto.
O religioso o auxílio do neto, sentou-se no banco mais próximo pois sentira as forças fugirem de suas pernas.
- Infelizmente - respondeu enquanto guardava o lenço - é para o mesmo assunto. As coisas evoluíram nestas últimas horas.
- Vovô - Naruto chamou e, depois, falou - conte o que aconteceu.
O velho olhou para o marginal e resolveu, por fim, abrir o jogo.
- No início, eram apenas algumas tumbas saqueadas.
Os grupo de shinobis ouvia atentamente.
- Alguém ou alguma coisa estava roubando os mortos de suas sepulturas... mas ontem... algumas crianças... algumas crianças desapareceram... e... desde então... ninguém mais se atreve a deixar as suas casas.
- Quem poderia ter feito algo tão terrível? - a kunoichi queria saber.
O sacerdote abriu a boca para responder, mas engoliu em seco.
- Quem? - Kakashi insistiu.
As mãos anciãs começaram a tremer, nervosas.
- A-as p-pessoas falam q-q-que foi... foi.
- A lenda. - o neto respondeu pelo avô. Ao contrário deste, não demonstrava sentir-se incomodado ao tocar nesse assunto.
- Lenda? - Naruto repetiu, curioso.
O albino assentiu.
- Que lenda? - Sakura pediu.
- A lenda da Bruxa de Blair.
N.A.: Independente de quando leu esta fic, me mande uma review (comentário), mesmo que seja um simples "eu li o seu fanfic".
Desde já, grato.
Ah sim, e Naruto pertence a Kishimoto-sensei.
