The Castiel's Trenchcoat

Não era primeira vez, nem a última.

Vestiu o sobretudo, podia sentir o cheiro bom do anjo lá, entrando em suas narinas, o fazendo voltar no tempo, quando Castiel ainda podia aparecer a alguns centímetros de seu rosto.

_Ah, Cas... – suspirou, tomando um pouco de cerveja.

Era assim a maioria do tempo, estava sempre bebendo ou caçando, e não importava o que estava fazendo, estava sempre pensando em Castiel.

Dean nunca deixava que se aproximassem o suficiente, mas com Castiel tinha sido diferente, o anjo apenas chegara tirando-lhe do inferno, invadindo sua vida, tomando-o para si, amando-o com sinceridade.

O caçador tinha se deixado levar pelo anjo, apegando-se a ele, tornando-se cativo de seu amor por vontade própria, amando tudo o que Castiel era.

Então tudo aquilo aconteceu, o seu Super Homem era falho, errou com ele e com todos, se associou a um demônio, perdeu sua confiança, matou inocentes, mas ainda assim... Dean não conseguia culpá-lo, sabia que Castiel estava tentando fazer o melhor para todos, mesmo que de um jeito errado.

Suspirou fundo, enquanto as lembranças tomavam conta de si.

Sempre fora muito ligado as coisas que lhe pertenciam, não se desfazia de absolutamente nada. Então veio todo aquele problema de seu rosto e o de Sam estar sendo usado por aqueles malditos, comedores de pessoas.

Não doeu se desfazer dos nomes falsos que sempre usava, não doeu ter que deixar o Impala de lado, mesmo que amasse o carro, ainda assim, não tinha doído o quanto achou que fosse doer.

Se livrou de tudo, trocou de carro, trocou de identidades, trocou de carteiras, trocou de disfarces, absolutamente tudo, mas quando viu o sobretudo de Castiel seus olhos encheram de lágrimas.

Não podia deixá-lo, aquilo era importante demais para apenas deixar no porta-malas do Impala, não, o sobretudo de Castiel deveria lhe acompanhar, deveria lhe dar esperanças, quando estivesse sem vontade de continuar, porque onde quer que seu anjo estivesse, o sobretudo era uma parte dele, e tudo o que Dean queria era sentir o anjo perto mais uma vez.

Sua mente reproduzia, com riqueza de detalhes, todas as coisas que passou com anjo, desde o momento em que sentiu-se sendo salvo até o fim, quando Castiel afundou na represa.

_Por que eu nunca posso ter um final feliz? – perguntou para o vazio, enquanto passava a mão pelo tecido ainda manchado.

Tinha mantido exatamente como tinha pegado, não queria que nada fizesse o cheiro do anjo deixar a peça. Colocou a garrafa no chão e enfiou o nariz na gola do sobretudo do anjo, respirou fundo fechando os olhos, e depois do que pareceu ser uma eternidade, abriu os olhos de volta.

_Cas... – disse baixinho, mordendo os lábios em seguida, segurando-se para não começar a chorar feito uma garotinha. – Você disse que nunca iria me deixar, seu bastardo. – e apertou os olhos, vendo que mais uma vez tinha perdido a batalha contra o choro.

Ficou mais algum tempo ali, precisou respirar fundo para finalmente criar coragem de tirar o sobretudo. Parecia que o casaco fazia parte de si também, era como se fosse Castiel ali, lhe abraçando e passando conforto.

Tirou-o e dobrou com cuidado, como se fosse um tesouro inestimável, o que de fato era, pelo menos para ele.

Abriu o porta-malas e colocou-o lá, do lado das armas, dos dois galões de água benta e crucifixos. O sobretudo era só o que tinha sobrado, a única coisa palpável que ainda tinha de Castiel, a única parte do anjo que tinha ficado para si e Dean não podia simplesmente deixar o sobretudo para trás, porque fazer isso era o mesmo que aceitar que Castiel estava morto, e isso era algo que ele não podia fazer.

Castiel estava vivo e precisaria do sobretudo quando voltasse, e seria Dean a dar para ele.


N/a: Então é... Esse desafio foi proposto pela Triele (e já faz um tempão -.-'), espero que tenha ficado, pelo menos, bom