Uma segunda chance

Capítulo 1 – E eu achei você

Era mais uma aula chata de química na qual o Prof. Harris tinha o prazer de atormentar Stiles Stilinski com promessas de detenções e humilhações gratuitas.

Isaac tentava em vão se concentrar na experiência que faziam, mas algo estava chamando sua atenção.

Um cheiro forte e extremamente familiar lhe invadia as narinas e sem perceber, ele fungava na direção de onde vinha.

-Por mais que goste do perfume de seus colegas, Sr. Lahey, eu sugiro que preste atenção no que está fazendo antes que exploda o laboratório – disse o prof. Harris, com sua voz ácida, fazendo Isaac parar e prestar atenção no que estava fazendo.

Aparentemente, distraído com o tal cheiro, não percebeu que deixou sua experiência aquecendo tempo demais. Rapidamente desligou o fogo, abanando freneticamente numa vã tentativa de salvar alguma coisa e não tirar zero. Seu rosto corou quando percebeu que muitos alunos o olhavam e alguns até exibiam sorrisinhos jocosos.

Stiles joga um papel em Scott, que como muitos estava rindo baixinho da situação.

-Cara, alguma coisa chamou atenção do Isaac. Está sentindo algum cheiro diferente? – disse murmurando, mas sabendo que estava sendo ouvido perfeitamente pelos lobisomens presentes.

Scott sem perder tempo, começa a cheirar o ar, e olha na direção da porta com a cabeça inclinada. Jackson também, mas com os olhos estreitos. Scott reconhece o cheiro de Derek, mas um pouco diferente.

Ele vira para Stiles, que estava sentado a três bancadas de distância, quase do outro lado da sala e murmura que o cheiro é do Derek, mas que está diferente. Stiles não entende o que ele diz. Jackson, que estava sentado com Danny na bancada ao lado de Stiles, sem perceber consente com a cabeça já que ele também achava que era o Alfa. Scott pede em voz baixa que ele conte para Stiles, ele nega com a cabeça e volta sua atenção para o experimento, com um sorriso.

Scott percebe que ele está fazendo isso de pirraça e o ignora. Stiles fica tentando chamar sua atenção, e ele fica tentando se comunicar com mímica, o que causa alguns risinhos na sala.

-Que diabos está fazendo? Não dá pra entender nada, seu tonto – reclamou Stiles em voz baixa, fazendo Jackson rir, o que chamou atenção de Lydia e Allison, que agora olhavam Scott com uma expressão curiosa.

Vendo que não estava conseguindo se comunicar com suas pobres habilidades em mímica, Scott corta sua borracha vermelha em duas partes e coloca em cima de seus olhos fechados e fica fazendo umas caretas bravas.

Stiles bate na testa quando vê que o professor está do lado de Scott, com cara de poucos amigos. Danny cutuca Jackson que ao virar e ver a cena começa a gargalhar. Logo a classe todo está rindo, e alguns apontando.

Quando Scott ouve as risadas, ele tira as borrachas dos olhos e finalmente vê o rosto do professor, que está furioso ao seu lado, Allison que está tentando conter suas risadinhas, Lydia com um olhar horrorizado pela vergonha alheia e Jackson, que a essa altura já tinha escorregado da cadeira de tanto rir.

Scott fica sem ação e por um instante parece aterrorizado com a perspectiva de uma detenção ou até uma ida à diretoria. Mas a expressão de alívio logo vem quando o sinal bate indicando o final da aula. Sem perder tempo, ele corre de sua cadeira, encontra Stiles na porta e sai arrastando seu amigo porta afora. Jackson tenta achar Isaac, mas percebe que ele também não está mais na sala. Ele então sai correndo também, pedindo para que Danny leve seu material.

-Pra que essa pressa toda? – perguntou Allison para o goleiro, que respondeu que não tinha ideia.

-Venha. Vamos – disse Lydia, arrastando a amiga, que virava pra dar um tchauzinho para Danny.

Assim que saiu da sala, Isaac não perdeu tempo e foi seguindo o rastro que sentiu em aula. Estava com uma sensação ruim, um aperto no peito, pois sabia que o cheiro que sentiu era o cheiro do seu Alfa, mas o cheiro não estava normal. Parecia alterado. Era ele e ao mesmo tempo parecia não ser. Temia que tivesse sido alguma reação ao ataque da Fada que enfrentaram dias antes, e que antes de sumir com uma risada maléfica digna de vilã de desenho, tinha conseguido atingir Derek em cheio no peito.

O cheiro vinha agora do refeitório, onde quase todos os alunos se encontravam já que era hora do almoço. Isaac apertou o passo quando percebeu que o cheiro agora tinha um quê de terror. O que poderia estar acontecendo lá que deixaria Derek tão assustado?

Quando chegou ao refeitório, Isaac notou uma balbúrdia perto de uma das mesas do canto. Alguns adolescentes se acotovelavam e se empurravam na tentativa de alcançar algo que uivava e gania debaixo da mesa.

-Mas o que está acontecendo aqui? – perguntou Jackson, que estava parado ao lado Isaac, que tomou um susto ao ouvir a voz. Não tinha percebido a chegada do outro lobo.

Mas antes que pudesse formular alguma resposta, uma bolinha de pelos saiu correndo e pulou em sua direção. Ele, por reflexo, o pegou antes que ele caísse no chão, segurando-o contra o peito.

O silêncio tomou conta do ambiente até que a tia da cantina chegou.

-Tratem de tirar esse cachorro daqui agora mesmo. Isso aqui é um refeitório e não um canil. Vocês não podem sair trazendo seus bichinhos para a escola, seus delinquentes! – ralhou a senhora com cabelos presos numa redinha que brandia uma colher de madeira.

Jackson fechou sua expressão, claramente não habituado a ter sua atenção chamada assim e deu um passo à frente de Isaac, que ficou extremamente vermelho em ver que todos olhavam na direção deles e do filhote em seus braços. Instintivamente, ele usou sua jaqueta para esconder o filhote, virou-se e saiu correndo de lá. Após mais uma olhada feia para a mulher, Jackson o seguiu.

-Dê ele aqui, você vai esmagar ele desse jeito – disse Jackson, com os olhos brilhando, ao tentar pegar o filhote, que se encolheu em Isaac e rosnou para ele.

-Aonde você conseguiu esse filhote? – perguntou Lydia ao se aproximar dos dois e pará-los no corredor.

-Ele é tão fofo! Posso pegar? – perguntou Allison, tentando pegá-lo também, fazendo-o rosnar de novo.

-Olha, eu acho melhor você não mexer nele – disse Isaac, se afastando dela.

-E quem nomeou você o dono dele, Lahey? – perguntou Jackson, com os olhos azuis brilhantes, num tom irritado, chamando atenção de alguns alunos que estavam pelo corredor.

-Oh meu Deus! Esse é o Derek? O que aconteceu com ele? – perguntou Scott, chocado ao finalmente encontrar Isaac e os outros.

-Como eu vou saber? – defendeu-se Isaac, com os olhos amarelos brilhantes.

-Se você não sabe de nada, então não devia tomar conta dele – teimou Jackson, tentando pegá-lo, rosnando.

Logo uma pequena discussão começou entre o grupo, que trocava acusações e provocações, chamando mais atenção ainda para eles. Não aguentando, Stiles, antes que alguém pudesse se opor, agarrou o filhote, arrancando-o de Isaac e saiu correndo em direção ao estacionamento.

-Vejo vocês lá em casa – gritou, indo em direção ao seu carro.

O trajeto de quinze minutos de carro até sua casa foi feito em menos de dez ao cometer várias violações de trânsito. Porém, Stiles podia jurar que aquele foi o trajeto mais longo que já fizera em seu amado jipe.

Controlar o pequeno filhote fora praticamente impossível. Ele passara o trajeto inteiro pulando pelos bancos, tentando escapar peja janela e chegou até a pular em Stiles, fazendo sua cabeça bater no volante. Se ele tinha alguma dúvida se aquele era mesmo Derek, naquela hora teve certeza de que se tratava dele mesmo, e podia jurar que o filhote estava rindo, pelos barulhos estranhos que fazia antes de finalmente sossegar e sentar no banco do passageiro com a língua de fora.

Não querendo dar brecha apara que o filhote fugisse, Stiles saiu rapidamente e deu a volta no jipe, abrindo a porta do passageiro. Pegou o filhote e escondeu o máximo que deu dentro do seu casaco vermelho. Não queria que seus vizinhos enxeridos o vissem entrando em casa com um bichinho.

-Fique quietinho, Derek. Bom garoto – disse, fazendo carinho no filhote, que o encarava com a cabeça inclinada.

- O que é isso que está escondendo aí, menino Stilinski? Seu pai sabe disso? – disse a Sra. Hoffman, a vizinha mais enxerida da rua. Stiles podia jurar que ela sentia um prazer absurdo em dedá-lo para seu pai.

-Só um cachorro de um amigo. É melhor eu entrar logo, antes que ele faça caca no jardim – disse, fazendo o filhote encará-lo - Dê tchau para a Sra. Hoffman, Derek. Sempre um prazer em vê-la, Sra. Hoffman. Vai pela sombra– pegou a patinha do filhote fazendo um tchauzinho e correu em direção a sua casa.

Suspirou aliviado quando entrou esbaforido em casa e trancou a porta, abraçando o filhote.

-Por favor, me diga que você não roubou esse cachorro – implorou o xerife, quando viu seu filho com um filhote.

Stiles não teve tempo de responder, pois quando ia abrir a boca, a porta de entrada foi arrombada por vários adolescentes irados e levemente transformados.

-Stiles! – gritou Isaac, com os olhos brilhantes, bufando e com as garras de fora. Jackson não parecia muito mais calmo.

Em pânico, a única reação que teve foi levantar as mãos a recuar um passo. Atitude essa que ele se arrependeu quase que instantaneamente, já que quando fez isso, o filhote que estava seguro em seus braços desabou no chão.

Ouviram algo quebrando seguido de um ganido de dor, e tudo que Stiles pôde ver antes de tudo ficar preto foi dois lobisomens irados pulando em sua direção. Scott não perdeu tempo em defender o amigo, enquanto Allison tirou uma mini besta da mochila. Socos e pontapés rolaram soltos, assim como algumas flechas. E nem mesmo o xerife conseguiu colocar alguma ordem ali.

O barulho só parou quando ouviram um choro.

Isaac foi o primeiro a perceber, e correu em direção para verificar. Jackson e Scott foram em seguida.

Eles veem uma criança de mais ou menos quatro anos, nu, chorando enquanto segura um dos dois braços contra o corpo.

-Derek? Você se machucou? – perguntou Isaac, para o menino que chorava encolhido.

O xerife assistia tudo com o rosto pálido e chocado.

-Posso ver? – perguntou Isaac, ao se abaixar, colocando-se na mesma altura de Derek.

-Meu Deus! É realmente o Derek – murmurou Lydia – Quem diria que ele era tão fofo quando era pequeno – comentou, chamando atenção do garoto, que se escondeu atrás de Isaac.

-Derek? Como em Derek Hale? Como ele pode ser Derek Hale? – perguntou o xerife confuso, ao ver que Isaac acalmara o garoto só de tocá-lo, e que o braço que estava quebrado instantes atrás, não estava mais – Podem começar a falar Ninguém sai daqui até que eu saiba exatamente o que está acontecendo – ralhou o xerife, com um tom autoritário que indicava claramente que eles não tinham outra opção.

-Eu também gostaria muito de saber – comentou uma voz, vindo da porta.

Ao ouvirem aquela voz, metade dos presentes ficou extremamente pálida.

Peter, ao notar o desconforto geral, não pôde deixar de um sorriso. Afinal, ele adorava o efeito que causava nos outros. Distraído, não viu o vulto que corria em sua direção até que o mesmo se chocou com suas pernas.

-Tio Peter! – grita Derek, abraçando as pernas do tio e esfregando seu rosto nelas.

Todos ficaram com uma expressão horrorizada ao verem que o tio psicopata de Derek estava tão próximo do vulnerável sobrinho agora. Isaac, Scott e Jackson se aproximavam com cuidado tentando não parecer uma ameaça, com o claro intuito de pegar o garoto.

Peter, por sua vez, também parecia chocado demais para reagir. Parecia não acreditar naquilo. Ele segurou o garoto pelos braços e se abaixou em sua frente. Todos notaram seus olhos brilhando violentamente antes de atacar o pescoço de Derek.

-Não! – gritaram todos horrorizados. Até mesmo o xerife tinha sua arma apontada para Peter.

Porém, não contavam com a risada que se seguiu, no lugar do grito aterrorizado ou do barulho de carne sendo rasgada.

-Faz cócegas – reclamou Derek, tentando se livrar do tio que cheirava seu pescoço e seu rosto.

Peter o abraçou e olhando na direção dos outros presentes.

-Então? Como foi que isso aconteceu? – perguntou ainda abraçado no garoto, enquanto passava os dedos displicentemente por seus cabelos.

Seus olhos estavam claros, e pela primeira vez desde que ele conheceu os adolescentes, ele parecia são.

Fim do cap. 1