Em algum lugar deste mundo vive um lobo, e ele se sente só. Sua sobrevivência na natureza não é um problema em si, como já fora aos seus antepassados, pois um grupo de humanos fornece tudo que ele necessita, comida, água e um abrigo confortável. Abrigo este que ele sempre retorna no final de todas as tardes, depois de passar o dia inteiro na floresta, na esperança de encontrar amigos.
Ocasionalmente ele encontrava um animal na floresta. Para não assusta-lo, o lobo sempre se portava de forma inofensiva, afinal não era comida que lhe faltava, e sim companhia. E era tão bom quando o outro animal decidia se juntar a ele para andar pela floresta, os dois passavam o dia inteiro explorando o lugar (apesar do lobo já o conhecer a anos) e sempre acabavam se dando bem no final das contas. No final da tarde, como de costume, o lobo voltava ao seu abrigo para se alimentar da comida e bebida que os humanos sempre o ofereciam e descansar para o próximo dia(seus hábitos noturnos também se foram a muito tempo), ansioso com a nova amizade feita. Porém, o lobo nunca conseguia encontrar seu novo amigo no dia posterior, que lhe deixava muito triste e fazia com que pensasse se tinha agido de forma inadequada em algum momento, mas nada lhe vinha em mente.
Este mundo é habitado por humanos, e um dos vários problemas que eles possuem é o da alimentação. As presas mais suculentas encontram-se quase sempre nas florestas, e o processo da caça estava se mostrando cada vez mais ineficiente, pois demandava de muito tempo. Sendo assim, eles bolaram uma técnica engenhosa: a domesticação de lobos. Eles descobriram que era possível tornar os lobos condicionados a ter um determinado comportamento, alimentando-os regularmente. Com isso, os humanos passaram a ter um lobo em cada grupo, que era alimentado por eles, e mantido sozinho num pequeno abrigo logo após seu nascimento. A partir de certa idade, o lobo era solto na floresta, e devido ao seu isolamento prévio, ele desenvolvera uma necessidade de interagir com outros animais, atraindo-os para fora da floresta, onde sua captura era certa de acontecer. Assim que o lobo voltava para seu abrigo no final de cada dia para poder desfrutar das regalias que ele sabia que não lhe faltariam, o animal que ele tinha atraído para longe de floresta era rapidamente abatido e servia como alimento até o próximo dia.
Sendo assim, o lobo está destinado a viver sozinho para sempre, refém de seus próprios atos, mesmo que inocentes, mas condicionados a lhe deixarem sempre nesta situação. O único jeito de se livrar disso é agir fora do padrão que lhe convém, arriscar-se. E então, será que o lobo consegue fazer isso?
