Capítulo 1 - O Monstro que Saiu da Tela do Computador

Tóquio, 1998

Noguchi Masuyo era um menino de doze anos de idade, cabelo azul, baixo, que tinha poucos amigos e era considerado pelos seus pais e professores como um aluno medíocre. Na verdade, ele não se esforçava para ser um grande aluno, e para ele aquilo não importava. Não tinha pretensões nem grandes ambições. De vez em quando se pegava olhando para fora das janelas da escola onde estudava, perto de Tóquio, e imaginando algum outro lugar, um lugar bonito, do outro lado do horizonte azul.

Numa tarde quente de verão, Masuyo estava em uma aula de Língua Japonesa, tentando fazer uma atividade. Estava tendo considerável dificuldade em desenhar os kanjis, pois não se lembrava de uns, e tinha dúvidas se um representava peixe ou rio. Sentiu alguma coisa atingir sua nuca. Virou-se e viu Yudi, um garoto gordo, de cabelo verde, rindo para ele do fundo da sala. Olhou para o chão e viu um bola de papel caída. Masuyo pegou a bola e jogou a de volta.

- Noguchi! O que está fazendo? – Masuyo ouviu o professor dizer.

Ele virou-se para encarar o professor, um homem de meia idade com um rosto grande e um olhar de desaprovação.

- Noguchi! Vá agora para a sala do diretor! – disse o professor.

- Droga! – disse Masuyo baixinho.

Masuyo pegou sua mochila e se dirigiu à sala do professor.

...

Estava começando a escurecer em Tóquio. Masuyo desceu do metrô a duzentos metros de sua casa. Se dera muito mal na escola. Iria ter serviço extra de limpeza por uma semana. Suspirou enquanto caminhava pela rua. Um multidão estava andando àquela hora. Viu duas jovens ganguro, com seus rostos maquiados para ficar exageradamente escuros. Alguma música tocava nas ruas.

Finalmente chegou ao edifício em que morava. Subiu correndo e ainda correndo, entrou em casa e foi direto para o seu quarto. Sua mãe gritou que a escola tinha ligado, mas ele não respondeu e só entrou no seu quarto e fechou a porta. Dentro de seu quarto, Masuyo respirou fundo. Pretendia se jogar na cama, mas um som vindo do computador chamou sua atenção.

O computador estava ligado e havia um ovo bem no meio da área de trabalho. Era um ovo grande como um ovo de avestruz, verde, com desenho geométricos que estava no meio da tela, como um programa.

- O que é isso? – Masuyo se perguntou.

Outro barulho veio da caixa de som e uma rachadura surgiu no ovo. Está rachando, Masuyo pensou. Mais um barulho e uma rachadura, seguido de outra, e outra e outra, e então a tela piscou com uma luz branca. Depois de um instante, a luz desapareceu e a área de trabalho voltou. Não havia mais sinal de ovo. Porém, havia outra coisa na tela.

Parecia uma almofada de pelúcia, inspirada num dragão, com asas e chifres, mas com uma expressão de bebê, muito kawaii, Masuyo pensou. O dragãozinho sorria para ele. Masuyo acreditava que aquilo era um jogo, porém, não conseguia interagir com a criatura usando o mouse ou o teclado.

A criatura parecia olhar diretamente para ele.

- Como posso brincar com você? – Masuyo pensou em voz alta.

Mais tarde, ao terminar o jantar, Masuyo agradeceu ao pai por ter instalado o jogo no seu computador, antes de voltar correndo para o seu quarto. O pai virou para a mãe, e perguntou, confuso:

- Do que ele está falando?

...

No dia seguinte, Masuyo voltou da aula e foi direto para o seu quarto. Para sua surpresa, o ser na tela do seu computador estava diferente. Ainda guardava traços de sua forma anterior, mas agora parecia-se com um cavalo marinho, com a cabeça mais parecida com a de um dragão e chifres maiores e com ramificação.

- Como eu devo chama-lo? – Masuyo se perguntou, sentado diante de seu computador.

Para sua surpresa, a criatura respondeu.

- Babydmon! – veio o som chiado das caixas de som, ao mesmo tempo que o ser na tela mexeu a boca.

- Você pode falar? – Masuyo questionou incrédulo.

- Posso falar. Seu nome?

Deve ser algum tipo de inteligência artificial, disse Masuyo, num palpite que não estava muito longe da realidade.

- Eu me chamo Masuyo. Muito prazer em conhecê-lo... Babydmon. – disse o menino.

- Prazer... em conhece-lo. Masuyo! – respondeu Babydmon.

Masuyo admirou o pequeno dragão por um breve instante.

- O que você é? – perguntou Masuyo.

- O que eu sou? – repetiu o dragão, parecendo achar a pergunta estranha – Eu sou Babydmon.

Nesse instante o pai de Masuyo bateu na porta. Masuyo levantou-se e abriu. Seu pai lhe avisou que o jantar estava pronto, e ele disse que já ia descer. Quando o pai foi embora, Masuyo virou-se para observar a tela do computador, mas ela estava vazia. Quando viu o que estava na cadeira diante dela, Masuyo tomou um susto.

Babydmon era um ser real no mundo real, e estava na cadeira onde ele estava há poucos instantes.

Por um instante, Masuyo sentiu temor. Mas esse sentimento passou num piscar de olhos, e no lugar veio uma excitação juvenil, algo que ele nunca tinha sentido antes. Por mais impossível que parecia, havia um bebê dragão no seu quarto. Nada poderia tirar dele o êxtase que estava sentindo.

Masuyo se ajoelhou diante da cadeira onde Babydmon estava.

- De onde você veio? – o garoto perguntou.

- O que você quer dizer? Eu vim do seu computador.

Sem conseguir pensar em nenhuma razão para discordar daquilo, Masuyo ficou quieto.

- Eu preciso jantar agora, mas eu volto para ficar com você. E te trago comida. – ele disse, depois de um tempo.

- Comida? Oba! Eu estou com muita fome! – declarou Babydmon.

...

No dia seguinte, Masuyo estava no metrô, voltando da escola. Estava empolgado para chegar logo em casa e ver Babydmon, quando encontrou o menino que encrencava com ele, Yudi. Ao ver Masuyo, ele veio em direção a ele com um sorriso de bully.

- Noguchi cérebro de geleia! Como vai o serviço extra de limpeza? – ele debochou.

- Talvez você precise de serviço extra no seu cérebro, porque ele está cheio de merda! – retrucou Masuyo.

O sorriso na cara de Yudi se demanchou e virou uma careta.

- Você vai se arrepender! – o valentão ameaçou.

Yudi avançou na direção de Masuyo, mas nesse momento um homem alto de sobretudo passou esbarrando em Yudi. O menino se desequilibrou e caiu no chão.

Yudi se machucou feio, e seus amigos, que estavam ali perto, ajudaram a levantá-lo e carregar ele para longe dali. Enquanto era levado, ele lançou uma ameaça a Masuyo. Masuyo riu da própria sorte. Nesse momento o metrô chegou, e ele se encaminhou para a porta, mas havia uma aglomeração de pessoas na sua frente com o mesmo objetivo. Ele pareceu captar alguém observando-o pela sua visão periférica e virou-se para ver o que era. Do outro lado da estação, o homem de sobretudo que esbarrou em Yudi estava olhando para ele. No mesmo instante, ele virou-se e foi embora.

- Que estranho. – Masuyo disse para si mesmo.