PRÓLOGO
Era uma noite chuvosa na cidade de Skyville. O elegante casal caminhava pelo estacionamento, cuja pista molhada fazia com que seus passos fossem mais audíveis. À frente do homem e da mulher, duas crianças andavam segurando grandes pacotes.
Era véspera de Natal.
O casal Amamiya, famoso pela sua riqueza e filantropia, estava sempre muito ocupado. Por vezes, não conseguiam comemorar datas importantes no dia correto; contudo, nunca deixavam de celebrar esses momentos, mesmo que fora da data.
Haviam tido muito trabalho, como sempre ocorria, perto do Natal. As empresas Amamiya já ocupavam bastante de seu tempo e a caridade, um outro tanto. Dessa forma, o casal não tinha encontrado tempo para comprar os presentes natalinos para seus filhos.
As crianças não reclamavam; era como se, mesmo em suas tenras idades, já compreendessem a magnitude do que seus pais faziam.
Normalmente, comemoravam o Natal depois que a data cristã já houvesse passado. Entretanto, nesse ano, os pais dos meninos resolveram fazer um esforço.
Pediram que seus secretários descobrissem alguma loja de brinquedos que ainda estivesse funcionando. Conseguiram assim saber de uma bastante longe do centro da cidade, que estava prestes a fechar, devido ao horário avançado.
Ligaram para lá e gentilmente pediram que a loja se mantivesse aberta para eles. Obviamente, disseram que pagariam bem por esse cuidado.
Assim, agora, a família caminhava tranquilamente pelo estacionamento já vazio. A essa hora, as pessoas já estavam em suas casas, comemorando a festiva data; era possível ouvi-las entoando canções natalinas ao longe. E, embora um estacionamento não fosse o melhor lugar para se estar naquele momento, os Amamiyas caminhavam felizes. Estavam juntos e até mesmo poderiam ter um Natal parecido com o das outras pessoas nessa noite. Tão logo chegassem à mansão em que viviam, pediriam à cozinheira que lhes fizesse um delicioso jantar para ceia. As crianças deixariam seus presentes debaixo de uma árvore que só agora teriam tempo de montar. A ideia, aliás, era boa. Poderiam montar todos juntos, enquanto a ceia seria preparada. Seria uma boa noite...
Todavia, esses planos nunca se concretizaram.
Foi tudo muito rápido. Passos apressados, que chamaram a atenção do casal para trás.
Homens, dois ou três, talvez quatro... estava escuro, era difícil enxergar, e foi rápido demais.
Era um assalto. Quiseram as joias, quiseram relógios, quiseram dinheiro, quiseram os ricos e visivelmente caros casacos...
O casal rapidamente tratou de tirar os casacos e tudo o mais que os assaltantes pediam.
E então eles quiseram os pacotes que estavam nas mãos dos meninos.
Nesse momento, o pai se negou. E antes que pudesse negociar ou argumentar qualquer outra coisa, levou um tiro no peito.
A mãe, apavorada, correu para onde estavam os filhos, a fim de protegê-los. O gesto brusco da mulher assustou os homens e eles atiraram nela, pelas costas.
Os homens então se aproximaram das duas crianças, que pareciam estar em estado de choque.
O mais novo tinha os olhos verdes inundados de lágrimas e tremia amedrontado, agarrado ao grande pacote que tinha nos braços pequenos.
O mais velho olhava para os corpos no chão e somente levantou os olhos azuis, muito escuros, quando os homens se aproximaram.
O garoto não demonstrou medo. E, pela expressão de seu rosto, seria possível que ele estivesse pensando em enfrentar aqueles homens.
Porém, nesse momento, um deles tirou o pacote das mãos do caçula, que começou a chorar abertamente. Um outro, imediatamente, apontou a arma na direção do menino mais novo.
Isso fez com que o primogênito dos Amamiya abandonasse seu próprio presente no mesmo instante, abraçando-se ao irmão, como quem buscava confortá-lo e protegê-lo.
O mais velho não saberia dizer quanto tempo durou esse abraço. Apenas quando o menor parava de chorar, soluçando mais calmo, separaram-se e viram que estavam a sós no estacionamento. Os homens haviam fugido e deixado os dois irmãos órfãos sozinhos.
O pequenino correu até os pais e, abraçando-se ora a um, ora a outro, voltava a chorar desconsoladamente.
O mais velho, entretanto, tinha um olhar frio nos olhos.
E, naquele momento, era possível notar em seus olhos que aquela criança acabava de amadurecer rápido demais, tornando-se adulta antes do tempo.
Continua...
