Capítulo 1: Lolita
Disclaimer: Todos os personagens são de autoria de SM, mas a história é minha, inspirada nas músicas de Lana Del Rey =)
OBS: Aqui temos uma Bella um tanto amarga, dez anos mais nova que Edward.
I could be yours, I could be your baby tonight –
Lana Del Rey, Lolita
.
Hoje eu queria algo diferente, depois de namorar com a mesma pessoa por quatro meses.
Hoje eu queria sair com minhas amigas, dançar e beber.
Hoje eu queria esquecer o celular em casa, passar o dia em claro.
Por isso estou aqui com Alice, dançando sorrindo e me divertindo. Alice que conseguiu convencer os seguranças nos deixarem entrar, com a carinha de inocente que só ela consegue fazer.
Eu estava me sentindo um pouco Marilyn Monroe hoje, por isso estou com meu vestido branco com a saia leve e decote pequeno.
O decote pequeno não impede alguns olhares dirigidos a mim, e sempre que noto, sorrio.
Não há nada de errado em se divertir um pouco.
Perto do bar, conheci John. Muito simpático, me pagou um drink.
Alice dançava com duas conhecidas na pista de dança, mas sua mente parecia que não estava ali. Eu avisei a ela que não deveria misturar as bebidas...
John colocou seu braço em minha cintura e sussurrou: - Vamos dançar.
Ele cheirava a álcool.
Eu sorri.
— Como você se chama?— ele me perguntou beijando meu pescoço.
— Isabella. Mas isso não importa, não é mesmo, John? – ele riu e subiu a mão por baixo do meu vestido branco.
O gosto de tequila dominava o beijo.
Segurei seus cabelos longos e dei uma leve puxada.
Depois de vários drinks, eu estava me sentindo solta e leve.
— Você precisa avisar suas amigas que vai embora comigo? – parecia que ele só me perguntou isso para tentar ser educado, o que me fez sorrir.
— Não. Elas sabem que sei me cuidar.
Ele me deu mais um beijo, pegou em minha mão e me levou à entrada da casa de shows que estávamos. Entramos no primeiro táxi que apareceu, mas não me lembro ao certo quem começou a beijar quem, nem quem pagou o motorista.
Lembro do meu vestido no chão e o quarto dele bagunçado.
Lembro do toque dele, desajeitado.
Lembro que ele falava coisas incompreensíveis.
Sei que esperei ele adormecer para pegar minhas coisas e sair dali.
Apertei meus braços ao redor do meu corpo, numa tentativa de me aquecer na madrugada de Los Angeles, enquanto me encostava em um poste com a luz piscando para fumar.
Dei uma tragada e suspirei.
Minha cabeça latejava um pouco.
O sol iria nascer apenas daqui a duas horas, mas já via algumas pessoas saindo de casa para trabalhar.
Alguns diriam corajosos. Outros, que eles poderiam escolher qualquer trabalho que não precisasse acordar cedo. Outros ainda, como eu, apenas pensam se são felizes fazendo o que fazem todos os dias.
Meu pai trabalha 24h por dia, folgando aos domingos e feriados. Ele diz que ama ser o CEO da Swan & Walks Company, mas não entendo como alguém pode amar algo que provoca tantos estresses e irritações como esse.
Ele diz que faz parte.
Que sente falta das ligações e cobranças nos domingos.
Eu acho estranho.
Dei mais uma tragada e andei duas quadras, procurando por um táxi. Sentei em um banco e abri minha bolsa, procurando uma barrinha de cereal para comer.
Eu só tinha mais uma semana antes das minhas aulas do primeiro ano na UCLA começar e estava tentando aproveitar o máximo possível, porque, afinal, sou filha do meu pai. Mesmo quando não preciso, eu gosto de estudar.
Estudar para me sair o melhor possível. Para sempre ter sucesso.
Quando vi um táxi se aproximando, dei a última tragada e pisei no cigarro. Pensei ter ouvido um click.
Depois senti um flash.
Olhei ao meu redor e não vi nada, deve ter sido apenas imaginação.
Entrei no táxi e disse meu endereço. Encostei minha cabeça na janela e o vi.
Agachado, segurando uma câmera profissional, entretido vendo as fotos que tirou.
Fotos minhas.
Sorri.
Ele parecia concentrado.
Lindo.
— Bom dia, Bella! Seu café já está na mesa. – Maggie falou para mim assim que me viu descendo a escada. Eu sorri e beijei sua bochecha quando cheguei perto dela.
Maggie é a empregada da família desde sempre. Me criou desde que eu era pequena, antes mesmo da minha mãe partir.
Trançava meus cabelos, brincava de boneca comigo, foi comigo comprar meu primeiro sutiã e me ouviu chorando incontáveis vezes. Maggs é mais minha mãe do que a minha biológica já foi um dia.
Ela mora no anexo da minha casa com seu marido, Liam, o motorista do meu pai. A filha deles, Siobhan, também minha amiga e sete anos mais velha do que eu, mudou-se para sua casa própria um ano atrás e não nos víamos com muita frequência.
Maggs acariciou meu cabelo e sorriu para mim.
— Seu pai me pediu para lhe avisar que viaja depois do almoço para Nova Iorque, lass.
De origem irlandesa, Maggie me chama de "lass" desde que eu era pequena.
— Não estava nem lembrada, obrigada Maggs. – eu falei, enquanto colocava geleia em minha torrada.— Siobhan me mandou uma mensagem hoje de manhã, dizendo que estava namorando. – completei, sorrindo.
Maggie coçou a cabeça e suspirou.
— Já é o quarto dos últimos três meses. Ela deveria se acalmar um pouco como você, Bella. – Maggs falou rindo.
Eu ri e arqueei a sobrancelha. Ela sabia que eu não tinha dormido em casa. Peter, o porteiro fofoqueiro, já deve ter lhe contado na primeira oportunidade.
— O que eu vou fazer com vocês... – ela falou ainda rindo, balançando negativamente a cabeça. — Daqui a pouco Liam vem me pegar para irmos fazer a feira. Você quer que eu traga algo para você? – ela pegou a bolsa que estava na cozinha e sentou-se ao meu lado.
Ela sempre me perguntava se eu queria algo, eu sempre dizia que não. Ela sempre trazia.
— Me surpreenda, Maggs. – eu falei sorrindo.
Peter interfonou para avisar que Liam estava chegando, Maggie se levantou, deu um beijo em minha cabeça e saiu.
Olhei meu celular para ver as mensagens não lidas.
Nove e meia.
Terminei de comer e fui ao meu quarto, fazer minhas unhas.
Apenas eu sei fazer do jeito que gosto, por isso não perco tempo em salões já sabendo que vou me estressar.
Além disso, fazer as unhas é terapêutico.
A vontade do dia era a cor roxa.
— Argh, eu não entendo o fascínio por esses filmes. – Angela, nossa amiga da escola, falou entediada, depois de quarenta minutos de Casablanca. – Tudo fica tão sem graça sem cor.
Alice deu um tapa na cabeça dela e eu ri.
Hoje tinha sido minha vez de escolher o filme para a nossa noite do cinema em casa.
Angela odiava quando era minha vez de escolher o filme.
Apenas imagino o motivo.
— Semana passada eu tive que assistir 50 tons de cinza, Ang. Se eu sobrevivi àquilo, tenho certeza que você consegue sobreviver também. – eu respondi, colocando o pote de pipoca no meu colo.
Alice fez "shhh", querendo prestar atenção no filme.
Ainda não consigo entender muito como fiquei próxima de Angela e Alice.
Alice mora na mesma rua que eu, e nos conhecemos desde pequenas.
Ela tem a vibe feliz o tempo inteiro, parece que está sempre com a tomada ligada.
Sempre a otimista, sempre ouvindo músicas pop e dançando.
Filha de um casal rico e feliz, ela não poderia ser diferente.
Foi com ela meu primeiro porre, e fumamos juntas pela primeira vez.
Desde os 12 anos, se apaixona com uma facilidade enorme por qualquer um que sorria em sua direção.
Ela pensa sempre que é para a vida toda.
Mal percebe ela que o amor todo dura apenas uma semana – no máximo.
Já Angela, conheci na escola.
Ela era de Nova Iorque e mudou-se com a família para Los Angeles seis anos atrás.
Sempre direta e sincera, nunca imaginei que ficaria amiga de alguém que assim que nos conheceu falou como éramos superficiais.
Veja bem, ela não entendia que eu e Alice éramos excluídas no colégio porque as pessoas se intimidavam com nossos sobrenomes.
Para Ang, a gente que excluía qualquer pessoa que se aproximasse.
Não que para mim fizesse alguma diferença – nunca fez.
Nunca gostei de conversar com alguém novo e já falar sobre minha vida.
Também não tenho paciência de escutar histórias sobre vidas alheias.
Ela que nos levou para nossa primeira festa.
Que me trouxe o meu primeiro paquera.
Que me trouxe a primeira bronca por parte de Maggie.
Ela que me acompanhou em minha primeira tatuagem, um cisne tribal no tornozelo.
Mesmo assim, sempre senti uma distância com ela. Nunca consegui ficar totalmente relaxada, talvez porque ela adorava meu pai e sinto que ela contaria todos os meus segredos para ele.
Como meu pai adorava Angela, sempre foi mais fácil chama-la para sair, era sempre ela que convencia meu pai a deixar. A conveniência era confortável, e Angela sempre foi uma pessoa fácil de lidar.
Senti Ang encostando a cabeça em meu ombro e sua respiração começou a ficar mais calma. Pelo menos dormindo ela não reclamava de nada.
O filme acabou e Alice me ajudou a levar os potes de pipoca para a cozinha, enquanto Ang dormia no sofá.
Coloquei um cobertor nela e dividi o outro sofá com Alice.
Porque em uma casa enorme, não existe nada melhor do que dormir apertada com as amigas na sala.
No dia seguinte, acordei já com o cheiro do almoço de Maggs.
A perna de Alice estava me prendendo no sofá, e ouvi de longe Angela rindo, provavelmente conversando com Maggie.
Afastei a perna de Alice e fui no meu quarto me ajeitar.
Inadmissível para mim não estar apresentável durante o dia, mesmo que eu esteja apenas em minha própria casa.
Querendo ir à tarde para o Pier, coloquei um jeans curto e rasgado, com uma camiseta solta com franjas.
Quando estava descendo para o almoço, senti meu celular vibrando.
Meu pai finalmente lembrou de mim.
— Bom dia, pai.
— Boa tarde, Isabella – ele disse, enquanto parecia procurar alguma coisa pelo som de papeis se mexendo ao fundo. — Preciso que você encontre para mim uns documentos no meu escritório, está bem? Mandei um email para você dizendo quais são. Preciso disso ainda para hoje.
Claro, tinha que ligar para mim apenas porque precisou de mim.
Para Charlie Swan, ligar para checar como estou é inútil.
Desliguei o telefone e fui procurar os documentos que ele precisava, achando alguns minutos depois. Digitalizei tudo e mandei de volta para ele, mandando mensagem e recebendo de volta um "ok".
Esse "ok" dele é clássico.
Quando eu era pequena, Maggie me ensinou a escrever "saudades" e eu sempre dava um jeito de colocar um bilhete desses nas roupas ou materiais de Charlie.
Ele sempre respondia "ok".
Tão afetivo.
Estávamos eu, Alice, Angela e mais três conhecidos – Jessica, Eric e Mike – sentados na bancada do Píer, bebendo whisky e fumando.
Meus óculos escuros redondos insistindo em ficar embaçados por causa da fumaça.
A música animada advinda do parque do Pier estava baixinha, deixando o ambiente agradável.
Eu deitei na madeira, segurando ainda a garrafa de whisky e admirei o céu claro.
Dei uma tragada no meu cigarro e senti Eric deitando com a cabeça na minha barriga.
Revirei os olhos.
Um ano atrás cometi o erro de passar uma noite com Eric e, desde então, ele tenta repetir.
Sempre me chama para as festas, encontros e eventos.
Eu sempre digo não.
Aparentemente, homens pensam que "não" significam "sim".
Por que não nos deixam em paz?
Dei outra tragada e fechei os olhos.
Devo ter dormido, porque quando acordei, Eric, Jessica e Mike já haviam saído.
Alice conversava baixinho com Angela, e notei que minha cabeça estava no colo desta.
— Olá, Bella Adormecida. – Ang falou sorrindo, assanhando meu cabelo. Eu ri, tirando a mão dela.
— Ang quer ir para outra festa hoje, Bella. – Alice me falou, revirando os olhos. Eu olhei cética para Angela e ela gargalhou.
— Às vezes penso que vocês não se acostumaram comigo ainda – ela falou.
Não estava muito a fim de conversar, então deixei Alice responder o comentário.
Me sentei e peguei a garrafa d'água para beber.
Vi de longe uma barba um pouco ruiva, em um homem entretido na conversa com as pessoas da mesa em um dos restaurantes perto do bar.
Estranhamente, parecia com o fotógrafo que eu tinha visto na noite anterior.
Ele deve ter sentido meu olhar, porque olhou de volta para mim.
Sorriu e levantou sua garrafa de cerveja, como que me cumprimentando, dando para ver seu braço tatuado.
Eu acenei com a cabeça e ele sorriu.
Era ele. O fotógrafo da madrugada.
Eu queria perguntar a ele o porquê de ter tirado foto minha.
Eu queria perguntar se ele trata todo estranho assim, como se já conhecesse.
Eu queria ouvir a voz dele e ver qual a cor de seus olhos.
Eu queria saber a sensação de seus braços ao redor da minha cintura.
Me levantei calmamente e cheguei perto da mesa que ele estava.
Ele se aproximou de mim sorrindo, ainda com a garrafa.
— Você sempre persegue pessoas estranhas e tira fotos delas de madrugada? – Perguntei baixinho, quando ele chegou perto de mim.
— Só de mulheres bonitas, como você. – ele sorriu. – Edward Cullen. – Ele estirou a mão para que eu apertasse, mas apenas olhei.
— Isabella. Sugiro que você pare. Isso é considerado crime em alguns países. – eu disse a ele, tentando ser séria. Mas o sorriso dele venceu, e eu sorri também.
Ele tinha uma leveza na forma que se comportava, como se não se preocupasse muito com as coisas. Os amigos dele, que estavam perto, me encararam de forma duvidosa e comentaram algo em voz baixa sobre mim.
Edward só olhava para mim.
Seus olhos, verdes escuros, davam um charme especial. Todo o conjunto do homem que estava perante a mim, me chamava atenção. Era como se tivesse tantos detalhes, que eu não conseguia parar de encarar.
Eu, com certeza, gostaria de me perder um pouco com ele para observar todos esses detalhes.
Ouvi Alice e Angela me chamarem, então decidi ir embora.
Há certos momentos que precisam ser interrompidos para se tornarem inesquecíveis.
Sorri mais uma vez e me virei para encontrar com as meninas.
N/A: Obrigada por ler!
