Marvel™, personagens e lugares, não me pertencem.
AVISO! fanfic não recomendada para menores de 16 anos por conter cenas e sexo, violência e linguagem imprópria.
PRÓLOGO
I. O Clube
As mulheres andam de roupas íntimas instigantes. É possível sentir o cheiro sensual no ar, vindo dos espartilhos decotados. Meia fina, salto alto tipo agulha, pode ser bota ou sandália. Elas olham por cima, como se em sua cabeça levassem uma coroa e qualquer momento ela pudesse cair. A coroa da má sorte ou desventura. Elas transitam envoltas em peles, jóias, decotes e corpos esculturais. O penteado retrô remete as histórias de faroeste em que as mocinhas do cancan dançavam. Os cachos ficam presos em lindas presilhas, poucas o usam soltos. Porque faz parte da mágica o soltar do cabelo, que irradia um cheiro fresco de rosas silvestres.
Poucos homens percebem as moças, estão preocupados com táticas de guerra. Acham-se fortes o suficiente para dominar o mundo. E são. Sempre vestidos finamente, em roupas clássicas como paletó e casacas. Fumam charutos dos quais a fumaça deixa um ambiente de névoa em todo o salão.
A música, diferente da aparência antiga do ambiente, é bem atual com tons metálicos de guitarra. Não há bandas nem shows, apesar de nunca ter surgido uma intervenção para isso.
Todas essas reuniões e desfiles acontecem no salão inferior. Mais ao fundo estão os quartos em que algumas mulheres usam, mas não moram lá. Elas vão e voltam todos os dias, de e para sua vida normal monótona de dona de casa, dondoca ou filhinha de papai. Uma escadaria antiga denuncia um 2º andar, onde ficam a biblioteca, um escritório e os quartos principais, como o do rei negro, de sua assistente e de outros hospedes.
Nesse ambiente, nessa casa, esse grupo de pessoas se reúnem constantemente maquinando estratégias, trocando influencias, cuidando de interesses próprios. Estão sempre ocupadas e não conseguem ver o que se passa nos cantos escuros, nas madrugadas frias, quando o efeito do vinho acaba, quando os convidados vão embora, quando os planos são guardados na gaveta... o que fica é solidão.
II. A Memória
Ainda estou confusa. Preciso de mais tempo para refletir. Lembro pouco do que houve, e do pouco que lembro seria melhor não lembrar. Ainda sinto um vazio, um calafrio, um sussuro, voltam as sensações de medo, angústia. E FLASH!
Tudo se apaga como um boot no computador. O reinicio é lento, e aos poucos vou lembrando novamente, sentindo novamente até recomeçar num eterno looping…
Aos poucos vou lembrando as coisas, mas quem as terá apagado da minha memória? Existe um diário. Pelo menos eu acho que existe um diário. As vezes eu tenho certeza que existe e outras, não. Preciso encontrá-lo, ou já encontrei? Será este que escrevo agora?
Novos nomes circulam entre minha mente: Charles e Jean. Meu coração palpita quando penso nesses nomes. Palpitação emocionada, saudosa, mas superficial. Mas o nome que me faz suar, faz o coração saltar a boca, os nervos a flor da pele, é outro. Entretanto, sinto, que por este último tenho mais sentimentos. Talvez amor, talvez ódio…
A lembrança de um toque bruto, mas as vezes realmente suave. Toque esse que me fazia ligar, esquecer, viajar no abismo.
Por alguns instantes, eu era inteiramente dele e ele era meu. Ainda sinto o bafo quente em minha nuca e minha pele ainda se arrepia. Olhava para o lado, fingia não gostar. As vezes não gostava mesmo. E ele chamava meu nome, e dizia palavras doces, planos absurdos, cruéis. Meu peito ardia em ódio! Por que ficar falando aqueles coisas? Só trabalho, só planos infundáveis… Mas nesse mundo, o mundo que ele criou em sua mente, havia um lugar para mim. Eu estaria ao seu lado, como companhia. E em sua cama, como distração. E, talvez, em seu coração. Como o quê, eu não sei. Só sei, que do meu coração, ele ainda faz parte. Isso é o que eu me lembro.
III. Charles Xavier
Charles ou Professor X, como muitos chamavam, tinha uma escola para pessoas especiais. Pessoas que haviam descoberto ter dons diferentes e não sabiam como lidar com eles. E era comum que as pessoas não soubessem também como lidar com esses mutantes, como eram chamados. Lá ele os treinava para serem heróis. Defenderem sua integridade e dignidade, acima de tudo com o mínimo de violência e defendendo aquelas pessoas chamadas "normais".
Charles me treinava para ser espiã. Decifrar códigos, memorizar senhas, dados, fisionomias e tudo o que fosse útil e pudésse me ajudar nessa missão. Assim fui descobrindo o quanto podia ser ágil, astuta, e tinha orgulho do quão aplicada eu era para os propósitos do professor.
Entretanto, sem ter certeza dos seus objetivos, também não tinha certeza de sua lealdade. Seria ele capaz de me sacrificar para conseguir o que ele tanto queria? O que ele queria afinal, por que me treinava tanto para ser espiã e não para ser heroína? Não seria eu, capaz de tal feito? Seria eu pior ou melhor que os outros? Se Charles pregava a igualdade e o respeito, ao me tratar assim, foi desleal aos seus princípios e ao invés de ganhar minha total confiança, ganhou apenas precauções.
Como boa espiã que fui treinada, meu papel era fingir que jogava o jogo dele, pelo menos enquanto eu não me sentisse segura. E confesso, nunca me senti. Nem mesmo agora, quando recobrei esse pedaço da minha memória.
IV. O Inferno
Charles precisava que eu estivesse treinada o suficiente para lhe ser fiel. Precisava de alguém que pudésse conseguir a confiança de Sebastian Shaw. E isso não foi complicado, principalmente porque eu servia para seus interesses.
Fui literalmente usada por Charles e por Shaw. O que difere mesmo as pessoas boas das más? Pelo menos Shaw sempre deixou claro o que queria de mim.
E claro que eu consegui o que Charles havia planejado para mim. Logo, eu era a assistente pessoal de Shaw no Clube do Inferno. Mas inferno mesmo não era o clube, era minha mente…
Algumas pessoas entram em nossa vida só para nos mostrar o quão forte podemos ser. Algumas nos machucam, nos ameaçam, nos matam, nos faz sofrer, nos usam, abusam, humilham, jogam, iludem. Outras nos alegram, levantam, ensinam, brincam, sorriem, nos fazem sonhar, desejar, conhecer a felicidade.
Hoje vejo que sou forte. Sou forte, porque só de mim depende a minha vida. E não foi ninguém quem me mostrou isso. Isso eu mesma aprendi, quando certas pessoas passaram pelo meu caminho. Terei eu tb, passado pelo caminho dessas pessoas e ensinado algo? O que aprendi trago tatuado em meu rosto.¹
Podem ser lágrimas, podem ser sorrisos. Mas onde ninguém vê, no meu coração, na minha alma, ainda trago medo e esperança, porque isso, ainda não foram capaz de destruir em mim…
V. A Chuva
A cada passo que eu dava, folhas secas voavam entre meus pés. Já podia pressentir pelo vento que sentia em minha nuca: chuva! E ela veio com tudo, um temporal. E eu fiquei lá. Cada pingo em minha face eram como pedras. Eram facas espetando minhas costas. Doía muito. Doía muito mais dentro de mim, onde a chuva não podia alcançar, onde a chuva não podia lavar. Lá onde continua escuro, mesmo quando aqui fora os relâmpagos iluminam as tardes.
A chuva caía como nunca lá fora com riscos de inundação da cidade inteira. Algumas pessoas saem na rua na tentativa de sobrevivência ou de salvar alguém que se encontra em má situação. Nessas horas bate uma tristeza em ver o sofrimento dessas pessoas, lembrar que muitos de nós podiam ajudar mesmo sem poderes. Apenas um estender de mãos, um olhar, um abraço caloroso, uma palavra amiga.
Mas a humanidade ainda tem muito o que aprender, principalmente sobre o respeito. Respeitar a natureza, o próprio ser humano, Deus. No dia que houver respeito, não haverá mais problemas, nem diferenças entre pessoas… e mutantes
A chuva cai e só traz mais melancolia…
Continua...
¹ - Cicatrizes (ou tatuagens) em formas de um rastro de lágrimas feitas por um vilão.
Nota: Essa fic foi começada durante o ano de 2004 em forma de um diário. Durante os anos fui conhecendo pessoas que jogavam uma espécie de rpg apenas de interpretação e começamos a jogar com esses personagens. As histórias vivenciadas nessas interações foram guardadas por mim e agora resolvi reunir todas em algumas histórias. Assim, logo surgirão diversos personagens, Marvel ou não. Isso explica porque a narrativa não segue um padrão de primeira ou terceira pessoa, e também porque a história não é fiel à história dos quadrinhos.
Agradeço a todos que fizeram parte das interações e proporcionaram histórias como as que vou contar aqui.
E a Marvel por criar personagens tão interessantes.
